URBANICIDADE – O TERRAPLANISMO ECONÔMICO DA LEI DO TETO

“Na mídia, impera a lógica da dona de casa. Gasto público significa desperdício, sem nenhum impacto sobre emprego, renda, nível de atividade e, quando na saúde e educação, no bem estar”

Com o título acima o jornalista Luíz Nassif desnuda, explicando de uma forma muito clara, os erros tomados pelo super ministro da economia, o banqueiro Paulo Guedes, na condução dos destinos do Brasil. E ainda fala da completa ausência de jornalismo da grande mídia que não faz o que devia: jornalismo. Jornalismo aqui seria questionar os atos e descaminhos que o país está tomando, mas, na verdade, um órgão da grande imprensa nada mais faz do que divulgar os interessesde seu(s) proprietário(s). Estamos completamente sem rumo e a caminho de sérios problemas que, de um jeito ou de outro, vai cair sobre nossas cabeças. Noves fora a classe rica, todos pagaremos pelos tempos tenebrosos que vivenciamos. Vale lembrar que poucos, se é que os temos por aqui, são aqueles que podem ser considerados “ricos”. Ter uma vida mais ou menos folgada é bem diferente de ser “rico”. Lembrando que depois da última mexida na taxa Selic de juros, a poupança passa a não mais remunerar as perdas da inflação. Ou seja, até isso (poupar um pouquinho para uma velhice digna), foi retirado do cidadão. Destacando que as demais taxas de juros (bancos, cartão de crédito, financiamentos, compras a prazo) continuam num patamar de fazer inveja a qualquer banqueiro do mundo. Teremos muito trabalho depois dessa política de terra arrasada. (Aqui) o link da matéria…

“O ministro da Economia, Paulo Guedes, durante audiência pública na Comissão Mista de Orçamento. Guedes fala sobre o projeto de Lei de Diretrizes Orçamentarias (LDO) 2020.

O Brasil decididamente não é um país racional. Nem se fale da cloroquina, no criacionismo, do fundamentalismo religioso, mas da discussão econômica. Cria-se um determinado discurso, normalmente de fundo ideológico, com as mesmas fórmulas que são repetidas em qualquer circunstância econômica. Ou com a economia bombando, ou em recessão profunda, é sempre o mesmo bordão, monocórdico, repetido por todos os veículos de mídia. Se não respeitar a lei do teto, não virão mais investimentos externos e o país desaparecerá dos mapa.

É tanta loucura tanto a politização de medicamentos, como a ideologização de medidas econômicas. Ora, conduzir a economia é resolver problemas recorrendo da maneira mais lógica possível a todos os instrumentos que se tenha à mão, sabendo concatenar orçamento, ação de estatais, instituições de mercado, economia regional. É terraplanismo puro o liberal que abre mão do papel de estatais, assim como o desenvolvimentista que abre mão de ferramentas de estímulo ao setor privado.

Conduzir uma política econômica é tarefa muito mais complexa do que dominar alguns conceitos macroeconômicos. É saber articular uma engrenagem muito mas ampla, que exige conhecimento setorial, conhecimento dos instrumentos de desenvolvimento, das ferramentas financeiras, dos impactos dos investimentos públicos.

No entanto, toda discussão econômica brasileira se resume a dois pontos: obediência à Lei do Teto; e redução do tamanho do Estado. Se a Lei do Teto for desrespeitado, dizem esses arautos da filosofia da dona de casa, o Brasil será abandonado pelos investidores internacionais.

Não há a menor preocupação em diferenciar investimentos, entre aqueles na ampliação da capacidade produtiva e os meros investimentos de arbitragem. Houvesse um mínimo de sofisticação na análise, se recorreria a um exercício lógico simples, acessível até à simplicidade da discussão pública:

  1. Investimentos externo financeiro interessa apenas quando se trata de fechar as contas externas. Com o nível de reservas cambiais atuais, não há nenhuma necessidade de atrair esse capital financeiro. O que interessa é o investimento produtivo, na ampliação da capacidade produtiva do país, na melhoria da produção, do emprego.
  2. O investimento produtivo depende de vários fatores. O principal deles é a existência de um mercado de consumo robusto, interna e externamente.
  3. Em períodos de recessão, como agora, os gastos públicos são essenciais para a recuperação do nível de atividade, já que a queda de renda e de emprego não permitem nem que famílias, nem que empresas, estimulem a produção.
  4. Se o gasto público ajuda a reativar a economia; se a reativação da economia ajuda a recuperar a receita fiscal, não se pode pretender que arrochando ainda mais a economia, milagrosamente brotarão investimentos externos por todo o país. É uma uma tolice imensurável tratar os gastos públicos apenas na conta da despesa. Se quiser se ficar apenas no plano fiscal, a conta correta é estimar os gastos fiscais e descontar os ganhos fiscais obtidos com a reativação da economia.

Trata-se de uma questão de dosagem, não de condenação a prori dos gastos.

Na fase inicial de gastos, é desonesto o terrorismo fiscal, sabendo-se que há a possibilidade da emissão de moeda na fase de transição, sem nenhum impacto sobre a inflação.

  1. Nem se fale das consequências sociais e políticas do aumento do arrocho.

Todos os países da Europa, da fiscalista Alemanha à quebrada Itália, estão apostando na retomada dos investimentos públicos como elemento central para a recuperação da economia e do equilíbrio fiscal.

Quando o governo não sabe o que fazer, no entanto, recorre à sua cloroquina preferida, as reformas, dito assim de boca cheia AS REFORMAS, sempre apresentada de forma genérica, mágica, assim como a reforma fiscal, a reforma da Previdência, o esvaziamento do BNDES, do FAT, do FGTS. Não há nenhum foco na retomada do crescimento, na amenização da crise.

Na mídia, impera de cabo a rabo a lógica da dona de casa. Gasto público significa gastar o seu, o nosso rico dinheirinho, como se fossem gastos supérfluos, desperdício, sem nenhum impacto sobre emprego, renda, nível de atividade e, quando na saúde e educação, no bem estar dos próprios cidadãos.

A única vantagem do terraplanismo de Paulo Guedes é que, enquanto vigorar seus princípios, não haverá a menor possibilidade do governo Bolsonaro ser bem sucedido.”

URBANICIDADE: “AS DISCUSSÕES BIZANTINAS EM TORNO DA REFORMA FISCAL”

Em cada rodada de discussão de aumento de tributos, levantam-se os diversos argumentos, que compõem um verdadeiro compêndio de autodefesa fiscal do setor financeiro.

Superintendência da Receita Federal, em Brasília.

Nesse artigo, Luíz Nassif (aqui) critica a proposta de reforma tributária proposta pelo ministro Paulo Guedes. Acho que vale a pena ler seus argumentos. Boa leitura!

“Há uma discussão bizantina sobre a tributação brasileira e sobre os propósitos da proposta Paulo Guedes de reforma fiscal.

Os princípios nos quais se monta um sistema tributário são conhecidos:

  1. No caso de pessoas físicas, quem ganha mais, deve pagar proporcionalmente mais.
  2. Entre os setores da economia, a tributação deve incidir sobre os setores com mais capacidade tributiva.

Em torno desses princípios, há algumas tecnicalidades, como o impacto dos custos fiscais sobre a cadeia produtiva, sobre os preços, sobre a geração de empregos etc.

Sob qualquer parâmetro que se analise, o setor financeiro é o mais rentável, o mais sólido e o de menor impacto da tributação sobre o custo final do produto – o crédito – tal a dimensão do spread (a diferença entre custo de captação e de empréstimo). Além disso, com a ampliação das operações online, cada vez menos será um gerador de empregos.

No entanto, quem se atrevesse a assistir às discussões sobre o tema na mídia, ficaria com a impressão de que os maiores responsáveis pelo déficit público são as pequenas e micro empresas optantes do Simples.

Paulo Guedes está apresentando um projeto de reforma fatiado. Juntando as duas pontas, no entanto, vai haver um aumento da carga tributária e a tentativa de jogar a conta acabando com a maioria dos fundos constitucionais.

Na primeira parte, a proposta é substituir o PIS e o Cofins por um Imposto Sobre Valor Agregado de 12,5%, de forma não cumulativa. Isto é, em cada fase da cadeia, a empresa paga seu IVA mas desconta o IVA que foi pago por seus fornecedores. Essa alíquota impacta setores em que não existe essa cadeia de fornecedores, como o de serviços e comércio, e, portanto, não há impostos a serem compensados.

Hoje em dia as empresas pagam 1,65% de PIS, mais 7,6% de Cofins, 9,25% no total. Pulam para 12%, um aumento de 30%.

No caso dos bancos, propõe-se a substituição da tributação atual – 0,65% de PIS e 4% de Cofins – por uma alíquota de 5,8%. Em princípio, uma tributação maior, mas bastante inferior a empresas de outros setores sem imposto a compensar.

Em cada rodada de discussão de aumento de tributos, levantam-se os diversos argumentos, que compõem um verdadeiro compêndio de autodefesa fiscal do setor financeiro.

  1. Departamentos econômicos de bancos levantam o mapa das isenções fiscais para outros setores. A discussão fica focada nesses setores “privilegiados”, pequenas e micro empresas optantes do Simples e não mais entre maior ou menor capacidade contributiva.
  2. Deblatera-se contra o excesso de despesas, atribuindo todas as mazelas do país ao tamanho do Estado. Como se a ausência de Estado fosse a alternativa para a ineficiência do Estado. Redução de estado significa menos atendimento à saúde, à educação pública, à segurança, aos programas sociais. Mas aceita-se a fórmula mágica sem nenhum questionamento. Basta acabar com todos os fundos constitucionais que revertem para a população, para a população ser melhor atendida.
  3. Sustenta-se que ninguém suporta mais aumento de impostos, uma forma prática de tratar aumentos de impostos de forma genérica, na qual o mercado coloca-se na mesma condição de comerciantes, industriais, consumidores e grandes bancos.
  4. Afirma-se que aumento de impostos encarece o crédito, como se houvesse qualquer correlação entre custos de captação e de empréstimo, para o país com as mais altas taxas de juros do planeta.

Aí se entra uma segunda parte do projeto, não explicitado ainda por Guedes: o Imposto de Renda. Segundo andou divulgando, a ideia seria reduzir as alíquotas de IR sobre as empresas para 15%.

Estudos feitos por auditores fiscais mostram o seguinte:

  1. Conforme o Relatório anual da  Febraban, o lucro líquido do setor bancário em 2018 foi de R$ 93,3 bilhões. Com a tributação atual, os bancos  pagaram 34% de imposto de renda e contribuição social sobre o lucro, num total de R$ 31,72 bilhões.
  2. Pela proposta do ministro Guedes, os bancos pagariam somente 15%, o que daria R$ 13,99 bilhões. A diferença de R$ 17,72 bilhões, por ano, seria apropriada pelos donos dos bancos. A parte que os bancos distribuírem como dividendos aos sócios seria tributada na ordem de 20%. Mesmo assim, a tributação do setor seria R$ 14,176 bilhões a menos.

O país padece, mas não apenas de insuficiência de receita fiscal, mas de jornalismo aprofundado.”

URBANICIDADE – XADREZ DO GOLPE (A nítida aposta de Bolsonaro na guerra civil)

Achei muito forte essa análise da conjuntura feita por Luíz Nassif (aqui). Na minha idade me permito a não sofrer por antecipação por aquilo que ainda está no campo das hipóteses, mas nem por isso deixaria de trazer aqui, pois estamos num momento bastante conturbado de nossa história. Que cada um tire suas conclusões.

O país corre o mais sério risco da sua história, de ser efetivamente controlado por organizações criminosas.

No dia 8 de maio de 2019, publiquei aqui o “Xadrez do gole a caminho”, mostrando que jká era nítida a estratégia de armamento da população, de criação de milícias, para substituir as Forças Armadas na defesa do regime.

No dia 2 de fevereiro de 2020, um segundo capítulo, ficando cada vez mais clara essa intenção.

As declarações de Bolsonaro, na reunião dos Ministros, é a comprovação definitiva.

O que precisa mais para as instituições se mexerem?

Peça 1 – O fator Olavo de Carvalho

Depois das últimas escaramuças, não resta dúvida de que a alma do governo Jair Bolsonaro são seus filhos Carlos e Eduardo. E, por trás de ambos, Olavo de Carvalho. Conforme foi possível conferir ao longo desses meses iniciais, todas as loucuras ditas por Olavo e pelos filhos de Bolsonaro têm consequências políticas. Não são meramente bazófias e grosserias. Têm que ser interpretadas ao pé da letra.

Três opiniões relevantes para compor essa primeira peça

A opinião de Olavo sobre os militares

É evidente que, para Olavo, os generais representam o maior empecilho para a guerra final contra o marxismo cultural.

A opinião de Eduardo Bolsonaro sobre o armamento para a população

Em mais de um Twitter, Carlos e Eduardo Bolsonaro deixaram claro que armar a população é condição essencial para a libertação do país. Deram como exemplo os EUA dos pioneiros e a Venezuela da Maduro. Se a população tivesse armas, Maduro não imporia sua ditadura.

A hora do enfrentamento, segundo Olavo

De todos os tuites de Olavo, o que mais chamou a atenção foi o que ele avisa para deixar para mais tarde a briga com o general Villas-Boas. Quem o avisou foi “o anjo da guarda”. Não é necessário muito tirocínio para intuir quem é o tal de anjo da guarda.

É evidente que o sentido da frase embute a questão da correlação de forças. Mas o que impediria, neste momento, se o próprio Bolsonaro deixou claro que, entre militares e Olavo, fica com Olavo? Certamente não é a correlação de forças políticas dentro do governo Bolsonaro, onde Olavo saiu vitorioso. É a correlação entre o bolsonarismo e as forças externas – incluindo aí, os generais.

Peça 2 – o decreto de Bolsonaro

Portanto, é ingenuidade supor que o decreto de Bolsonaro, ampliando desmedidamente o direito às armas seja mero lobby dos clubes de tiro ou da indústria de armas dos Estados Unidos.

É um posicionamento político para impor-se amparado pelo poder das milícias, dos ruralistas, pelas armas nas mãos de seus seguidores, pelos aliados nas empresas de segurança e, provavelmente, por sua influência junto à média oficialidade das Forças Armadas.

As ligações de Bolsonaro e do PSL com as milícias são óbvias. E há evidências de monta sobre sua proximidade com os mercadores de armas. Dono de um arsenal de 120 armas pesadas, o ex-PM Ronnie Lessa era vizinho de condomínio de Bolsonaro. Ligado a tantos milicianos, colega de tantos ex-militares que vieram dos porões, é impossível que Bolsonaro não soubesse das atividades de Ronnie Lessa

Aqui o primeiro mapa feito mostrando essas ligações.

Peça 3 – as ligações com a indústria de armas dos EUA

No artigo “Xadrez da indústria de armas e o financiamento da direita” mostrei as estreitas ligações entre o lobby das armas e o avanço da ultradireita no mundo. Mostra também a associação dos Bolsonaro com a NRA, a associação dos fabricantes de rifles dos EUA.

Leia também:  Bolsonaro evidencia intenção em militarizar Ministério da Saúde

 

Dizia a matéria;

No dia 10 de novembro de 2018, o site da America´s 1st Freedom, da NRA, dizia (https://goo.gl/F7mkKV):  “Tiremos o chapéu para Bolsonaro por ver a situação pelo que realmente é”.

Um ano antes, em 2017, Jair e Eduardo Bolsonaro foram recebido com todas as regalias pela NRA, conforme reportagem da Bloomberg (https://goo.gl/KWcMhy):

“Enquanto estavam lá, eles experimentaram uma AK-47 e outras armas de assalto. Depois, Eduardo, vestindo uma camiseta “F — ISIS”, segurou cartuchos de grande calibre para a câmera e expressou consternação por eles poderem “ter um problema” se tentassem trazer a munição para o Brasil.”

Quando entrou em crise, depois de ter defendido o armamento para a população dias antes da chacina e ela passou a ser alvo generalizado de críticas, inclusive do prefeto de Nova York, a saída foi invocar Deus:

A reação da NRA veio através de seu líder, Wayne LaPierre, alertando contra uma “agenda socialista” por trás das campanhas contra o desarmamento. E dizendo que o direito às armas “é garantido por Deus a todos os americanos como direito de nascença” (https://goo.gl/QKwpaa).

A atuação política da NRA é fundamentalmente contra as instituições, das quais a mais visada é a imprensa.

Peça 4 – o fator Wilson Witzel

O governador carioca Wilson Witzel está claramente preparando sua polícia – civil e militar – para a guerra. Pode-se supor que seja contra as organizações criminosas adversárias das milícias. O que aconteceria com essa estrutura armada, caso o bolsonarismo decidisse peitar a hierarquia das Forças Armadas?

É mais uma evidência do posicionamento dos bolsonaristas.

Peça 5 – o caos que se avizinha

Não há a menor possibilidade da economia melhorar. A equipe econômica conduzida pelos inenarráveis Paulo Guedes e Mansueto de Almeida, parecem determinados a inviabilizar o país, a pretexto de cumprir a Lei do Teto. E sempre com a promessa impossível de que tudo irá melhorar, em um passe de mágica, se for aprovada a reforma da Previdência.

Todas as medidas tomadas parecem ter o intuito de promover a reação da população. Pode ser mera miopia política, de economistas desvairados, pode ser a busca do álibi para o confronto final contra o tal do “marxismo”, que os bolsonaristas vêem até nas Forças Armadas.

De qualquer modo, a cada dia que passa o desalento será maior, assim como a corrosão na popularidade de Bolsonaro. Isso explica a pressa em acelerar providências, a pretexto de recuperar o contato com a base.

O país corre o mais sério risco da sua história, de ser efetivamente controlado por organizações criminosas. Seria relevante que caísse a ficha das instituições – STF (Supremo Tribunal Federal), Forças Armadas e Congresso, antes que seja tarde.

 

URBANICIDADE: E AGORA? O QUE FAZER?

O jornalista e escritor Luiz Nassif traz aqui um artigo onde ele propõe caminhos a seguir, diante da previsão de caos que se avizinha. Acredito que serve como parâmetro de debate, pois algumas destas propostas são bem interessantes e compreensíveis até para muitos leigos, assim como eu. É interessante lembrar que a grande maioria das pessoas não tem a mínima idéia do que seja a administração pública, seus problemas, suas amarras legais, suas consequências. Para se exercer o Poder Executivo (prefeitos, governadores e presidente) por exemplo, o cidadão que está na titularidade do cargo esbarra numa série interminável de leis, protocolos e regras que praticamente engessam suas ações, gerando uma demanda reprimida e um descontentamento em geral da população, que se acha desassistida. Na área de engenharia exemplarmente, uma Lei de Licitações já comprovadamente obsoleta (colocando isso de uma forma resumida e simplificada) determina que sejam vencedores aquelas empresas ou profissionais, que detenham o menor preço. Ora,  a qualidade dos serviços exigem uma melhor remuneração tanto dos materiais empregados quanto da mão de obra, acarretando com isso inúmeras obras mal feitas, muitas inacabadas, gerando uma cadeia incrível de problemas e insatisfações, chegando até a contaminar o nível salarial de toda a cadeia, resultando até na ridícula remuneração dos engenheiros e a impossibilidade de um avanço tecnológico de toda a engenharia. Aliás, esse assunto merece um artigo especial e penso em voltar nele em breve. Bem, leiam o artigo de Nassif e que se abra uma sadia e democrática discussão. Vamos lá.

“O caminho é reciclar a indústria brasileira para produzir equipamentos de saúde
Trata-se de uma equipe de governo que se divide entre o terraplanismo mais inconsequente, e a mediocridade ampla. O Ministro da Economia pertence ao segundo grupo. Ele é incapaz de conceber projetos grandiosos, mesmo no plano meramente do conceito. Menos ainda, executá-los. Daí a necessidade imperiosa para que o Congresso assuma a iniciativa de juntar um conselho nacional, da sociedade civil, para coordenar as ações.

O primeiro ponto é entender o que se passa.

A crise atual em nada se parece com a crise de 2008. Aquela foi uma crise de liquidez. Explodiu a bolha financeira, deixando bancos e seguradoras inadimplentes. As indústrias foram afetadas pelo componente financeiro do negócio, pelo desaparecimento da liquidez, não pela queda da atividade em si, que veio a seguir.

Na ocasião, o foco correto seria um enorme esforço para reduzir o endividamento de empresas e de famílias. Decidiu-se pelo caminho politicamente mais fácil: injetar dinheiro nas empresas.

Essa, aliás, é uma das enormes fragilidades das políticas públicas contemporâneas. As grandes empresas, e os grandes financistas, assumiram tal poder financeiro, transformado em poder político, que toda decisão de política econômica acaba prejudicada por seus próprios interesses.

Em 2008, as empresas americanas receberam o dinheiro e passaram a recomprar suas próprias ações. Ganharam os executivos – principais responsáveis pelas loucuras que colocaram as empresas em risco – e os acionistas.

Agora, o jogo é outro.

Não há uma crise de liquidez, mas uma ameaça efetiva de desmoronamento do nível da atividade real. E o inimigo a ser vencido, o centro de toda a desestabilização, é um vírus. Portanto, a batalha central é de ordem sanitária. Justamente por isso, não são os remédios de 2008 que servirão agora.

Vive-se um quadro similar ao das guerras.

Guerras criam duas prioridades a serem trabalhadas. A primeira, enfrentar o inimigo. A segunda, reciclar a economia para o novo quadro, sempre tendo em vista a primeira prioridade.

Agora se tem uma guerra, mas diferente. É uma guerra com três desafios:

  1. O desafio sanitário, de vencer a doença.
  2. O desafio social, de criar redes de proteção para as populações mais vulneráveis e minorar o desemprego.
  3. O desafio econômico de manter a economia funcionando.

Como a China fez? Conforme mostrei na Coluna Econômica de ontem, promoveu um enorme esforço para criar um parque industrial voltado para a fabricação de equipamento de segurança – máscaras, luvas, ventiladores. O maior estímulo, além dos incentivos fiscais e creditícios, foi a garantia de compra da parte do governo. Atendido o mercado local, abriu-se enorme oportunidade de exportação.

Ontem, nos Estados Unidos, diversos conglomerados se ofereceram para essa reciclagem. A General Motors e a Ford Motor comunicaram à Casa Branca sua disposição de produzir ventiladores, caso haja interesse do governo em mobilizar as empresas privadas para a fabricação de equipamentos de enfrentamento da doença.

A elas se juntou Elon Musk, da Tesla, que garantiu que sua empresa poderia produzir ventiladores, “se houver escassez”. Imediatamente o prefeito de Nova York, Bill de Blasio, garantiu que a cidade estava interessada em comprar ventiladores.

Foi um movimento similar ao da Segunda Guerra. Na época, GM, Ford e Chrysler direcionaram a produção de carros para a fabricação de armas e outros suprimentos de guerra. A Ford produziu os bombardeiros B-24; a GM fabricou tanques Sherman.

Além disso, há uma questão política relevante, em discussão nos EUA e certamente por aqui. Qualquer medida de apoio às empresas tem que beneficiar fundamentalmente a produção e os empregos.

Na década de ouro do liberalismo, o jogo era outro.

Em 2008, a ajuda financeira do FED, sem atacar as causas reais da estagnação econômica, serviu para as empresas recomprarem suas ações, beneficiando seus acionistas. No Brasil de FHC, Lula e Dilma, houve sucessivas políticas fiscais de estímulo à indústria, sem nenhuma contrapartida de metas de produção, exportação e geração de emprego.

Agora, a própria natureza da crise exigirá, cada vez mais, isonomia no tratamento dos perdedores. Portanto, o caminho passa por um enorme esforço de abrir espaço para as indústrias brasileiras reciclarem sua produção para a grande guerra da saúde.”

 

FIM DOS TEMPOS?

Hoje em dia é muito difícil fazer alguma análise da situação do nosso país em geral. São muitas nuances envolvidas e a geração de informações em tempo real comprometem a capacidade de captação da essência dos fatos de alguém de fora, distante do contexto, em analisar nossa atualidade de forma fiel e isenta. Isto posto, preferi, e tenho compartilhado matérias de articulistas e jornalistas que estejam na centralidade dos fatos. Desta feita, divido com vocês parte desse artigo de Luíz Nassif, que faz uma contundente crítica ao aloprado ministro da economia atual, Paulo Guedes, que espero contribuir para o bom debate. Vamos lá.

“(…) A função dos Ministros da Economia é a de viabilizar planos de governo. Bolsonaro não tem planos. E Guedes tem a visão ideológica dos fanáticos. Quer destruir o Estado esperando que do caos nasça uma nova ordem, fundada apenas no setor privado.

Em outros tempos, seria internado. Na era Bolsonaro + irracionalismo do mercado + cegueira da mídia recebeu gás até o limite da inviabilidade política e econômica de suas teses.

A economia está sem nenhuma das alavancas para recuperação – consumo das famílias, investimento privado, choque de crédito -, só poderia contar com o investimento público como elemento de recuperação.

Mas esse ideologismo terraplanista do mercado definiu que a recuperação dependia apenas do equilíbrio fiscal.

Como o objetivo de Guedes é a destruição final do Estado, vai cortando, cortando, derrubando os gastos, impedindo a recuperação da economia, obrigando a novos cortes, até cair de maduro.

Para implementar seu programa, há todo um manual de manipulação da opinião pública: campanhas maciças prometendo um futuro que nunca acontecerá. Se vier a reforma trabalhista, haverá empregos para todos; se vier a reforma da Previdência, haverá um futuro de abundância; e aí por diante.

Há um porém nessa estratégia: se o governo não entregar um mínimo de crescimento em horizonte visível, não haverá campanha que continue mantendo iludida a opinião pública, especialmente quando o mal-estar afeta a maioria da população.

O esforço ingente de transformar qualquer indicador positivo mínimo em prova de recuperação, não resistiu à dura realidade. Vem daí a informação de que Bolsonaro intimou Guedes a entregar ao menos 2% de crescimento – uma mixaria, depois das quedas dos últimos anos.”

“Ao contrário do senso comum, feriados fazem bem à economia”

Nesse artigo o jornalista Luíz Nassif (aqui) consegue desmanchar um mito que há muito tempo vem iludindo e mistificando o consciente (e o inconsciente) de grande parte da população. É a falsa questão de que o(s) feriado(s) “quebra(m)” a economia, divulgado insistentemente na imprensa em geral. De minha parte, venho há décadas tentando mostrar o maléfico papel da grande mídia, seja ela escrita (jornais, revistas), falada (rádio), televisada e, por último tecnologicamente falando, da mídia veiculada pela internet (portais, redes sociais, e as famigeradas fake news viralizadas pelo whatsapp, telegram, etc) na vida das pessoas. Somos bombardeados o tempo todo com falsas informações disfarçadas de jornalismo. Nunca devemos nos esquecer que antes de informar, o veículo de mídia tende a impor o pensamento de seu proprietário, ou de seus acionistas controladores. Nesse artigo, Nassif mostra o outro lado da moeda qual seja, a montanha de dinheiro que corre nos dias considerados “feriados”. Talvez até, um provável benefício para muitas pessoas em diversas atividades. Demonstra também, posso concluir, que a economia não é uma ciência pois existem muitas nuances não determinadas e que a divulgação de números e as análises dos fatores econômicos não conseguem captar, nem destrinchar seus efeitos na vida do cidadão e, por conseguinte, de toda uma sociedade. Não podem e nem devem orientar os destinos de uma Nação. Que este artigo, que escrevo no último dia de um ano de enormes perdas que podem comprometer o nosso futuro sirva de reflexão e ajude-nos a imunizarmo-nos contra as toxinas emanadas pelos donos de nosso dinheiro. Vamos ao texto…

“No Japão, estudos comprovam que reduzindo em um dia a semana de trabalho, a produtividade aumentava pela maior disposição e menor estresse dos trabalhadores.”

“Na cobertura econômica, uma das grandes tolices reiteradas consiste na síndrome dos dados numéricos. Qualquer tolice, se acompanhada de uma estimativa numérica, passa facilmente pelo filtro do jornalismo econômico, como demonstrou a pesquisa-fantasma da Alshop (Associação dos Lojistas de Shoppings), que tirou um número da cartola, que foi aceito imediatamente pela mídia, sem que nenhum veículo tivesse a curiosidade de analisar a metodologia e os dados. Pior, nem se deram conta de que a Alshop sequer apresentou os dados da pesquisa.

Repete-se a mesma bobagem com os cálculos de supostos prejuízos do comércio e indústria com os feriados prolongados. Essa prática vem dos anos 90, quando Antonio Ermírio de Morais resolveu levantar a bandeira do fim dos feriados prolongados.

Os chutes sobre as perdas vêm de diversos lados e em cima da mesma falácia:

  1. Pegam o volume estimado de faturamento do comércio e dividem pelo número de dias úteis.
  2. Depois descontam desse valor o faturamento-dia correspondente a cada feriado prolongado, como se as perdas com as vendas não efetuadas nunca mais fossem recuperadas.

Por que é um besteirol? Simplesmente porque se a loja estiver fechada no feriado, grande parte dos consumidores vai consumar a compra antes ou depois do feriado. É óbvio. Preciso de uma geladeira nova, mas como a loja estava fechada no dia em que resolvi comprar, nunca mais vou comprar uma geladeira nova.

Vamos a um exercício simples de lógica, começando pelo comércio.

As vendas do comércio

Há dois tipos de gastos dos consumidores:

  • Parcela A – Os recorrentes, que integram os orçamentos familiares.
  • Parcela B – Os extraordinários, que ocorrem em circunstâncias especiais.

Os feriados não afetam os gastos recorrentes, mas estimulam um gasto extraordinário com toda uma cadeia produtiva que gira em torno dos feriados: viagens, hotéis, restaurantes, compras de brindes, cinemas, eventos, shows, etc.

Segundo o Ministério do Turismo – mencionado na reportagem -, no ano passado, feriados prolongados resultaram em 13,9 milhões de viagens domésticas, injeção de R$ 28,84 bilhões na economia.

Voltemos à velha lógica. Se a Parcelas A permanece a mesma e a Parcelas B aumenta, obviamente o resultado final será maior. E esses gastos beneficiam especialmente os centros turísticos, dos quais um dos maiores continua sendo o Rio de Janeiro.

No entanto, veja como as associações de classe do Rio de Janeiro embarcam nessas falácias.

  • A Federação do Comércio do Rio de Janeiro estima perdas de R$ 4,8 bilhões em 2002.
  • O presidente da Federação do Comércio vai além e estima perdas de R$ 3 bilhões por dia parado.
  • O Centro de Estudos do Clube de Diretores Lojistas do município (CDL-Rio), diz que cada dia parado representa perda média de R$ 405 milhões.

As vendas da indústria

No caso da Indústria, repete-se a mesma falácia. E o mesmo vício do economista brasileiro de não conseguir ir além das estatísticas básicas, de não buscar uma análise sistêmica dos feriados.

É o caso do economista-chefe da Confederação Nacional da Indústria (CNI), Flávio Castelo Branco, com uma conta sem nuances.  Sua lógica é pegar a produção do ano e dividir pelo número de empregados e, depois, pelo número de dias úteis. Se há menos dias úteis, supõe ele, há uma queda da produtividade.

Vamos pegar um exemplo bem simples para demonstrar a falácia do argumento:

  1. Uma linha de montagem produz 2.000 equipamentos por mês, contando com 50 funcionários. Se o mês tiver 22 dias úteis, a produtividade de cada trabalhador será de (2.000 / 50) / 22 = 1,82 equipamentos dia.
  2. Como, por hipótese, se tem 22 dias úteis, a produção do mês será de 40,04 equipamentos por trabalhador.
  3. Se o número de dias úteis cair para 20, a produção do mês cairá para 36,40 por trabalhador. Logo, houver uma redução da produtividade.

Onde estão os sofismas:

  1. Os feriados reduzem o número de dias para 20 no mês. Mas a demanda continua sendo de 2.000 equipamentos. Se a indústria estivesse operando em plena capacidade, haveria a necessidade de alguns turnos extras para compensar o feriado. Quando não se trabalha a plena capacidade, significa simplesmente que os mesmos 2.000 equipamentos serão produzidos em 20 dias, e não mais em 22. E se há capacidade ociosa, há espaço para aumento da produção.

A visão sistêmica

Um dos grandes problemas desse tipo de análise econômica é a ausência de análise sistêmica, por falta de dados e de metodologia. Por exemplo, todos os trabalhadores de folga são consumidores dessa grande economia dos feriados.

No Japão, estudos comprovam que reduzindo em um dia a semana de trabalho, a produtividade aumentava pela maior disposição e menor estresse dos trabalhadores.

Mas ainda não surgiu um indicador de bem estar para a indústria em geral, menos ainda os reflexos sobre a produtividade do trabalho.

Mesmo sem dados mais apurados, feriados ajudam a aquecer a economia.”

 

Urbanicidade: EXTRA! Já estão usando até a escravidão para dinamitar cláusula pétrea

Mesmo não sendo advogado ou militante na área jurídica, às vezes, assim como quase todo mundo, a gente se transveste e se transforma em um causídico. Fica ainda mais em evidência essa tendência quando encontramos um bom artigo. É o caso deste artigo de Lenio Streck, publicado aqui. Divirtam-se…

 Abstract: Para  Cristovam Buarque, vai um trecho de Rei Lear, de Shakespeare: “Tu não devias ter ficado velho antes de ter ficado sábio”.

“Há um conceito novo na praça. Muniz Sodré, em belo artigo na Folha de S.Paulo, conta-nos: “A distopia televisiva Years and Years (HBO), onde o mundo parece posto de cabeça para baixo, é amostra curiosa de um fenômeno ainda em busca de interpretação, que escolhemos designar como sociedade incivil”. Tempos de raiva, de anti-intelectualismo e quejandos.

Um bom exemplo dessa incivilidade foi o Twitter do ex-senador Cristovam Buarque sobre cláusulas pétreas, que bem demonstra o buraco em que estamos metidos:

“Perguntas brasileiras: e se nossa primeira Constituição tivesse colocado a propriedade de escravos como cláusula pétrea, por sua importância fundamental na economia da época?”

Sim, ele postou isso. Mas não é o primeiro e nem o único. Grupos de WhatsApp — as novas células terroristas das neocavernas — disseminam esse tipo de asneira ofensiva. Não me surpreende que Cristovam não tenha sido reeleito. Manchou sua história como professor. Que feio. A resposta ao ex-senador veio fulminante, pela voz do advogado Silvio Almeida: “Senador, sinto-me, como negro que sou, profundamente ofendido com sua comparação ridícula, sem sentido e desrespeitosa. O senhor tornou-se um homem triste e vulgar. Que a história trate de colocá-lo em seu devido lugar”. Amém, Silvio. And I rest my case.

Eis uma boa amostra destes tempos de incivilidade, em que um professor, ex-senador, ex-governador, diz uma barbaridade destas. Ele não deve ter amigos ou alguém em casa que o aconselhe. Será que não tem nenhum parente que tenha estudado Direito ou que tenha lido algum livro de Direito Constitucional? Mesmo um livro de Direito Constitucional facilitado ensinaria ao ex-senador (e aos outros disseminadores dessa nesciedade).

Sigo. O Brasil deve ser o único país do mundo em que as garantias constitucionais e processuais são vistas como inimigas. Pior: quem dissemina mais essa lenda é gente da comunidade jurídica.

Veja-se a reação raivosa dessa gente ao julgamento do Supremo no caso das ADCs. Uma advogada do RS disse que os filhos e filhas dos ordinários ministros deveriam ser estuprados. Outros posts em Twitter e Facebook incentivam o ódio. Gente do direito — e alguns do parlamento — pedindo que o STF seja fechado. Gente do MP pró-sociedade fazendo uma ode ao uso desmesurado do meio ambiente para fazer a felicidade de cada pessoa, afora outras coisas desse quilate (ver meu MP Pró-sociedade chama Lei do Abuso de Lei do Bandido Feliz). Eis o paradigma da incivilidade.

Ao lado disso tudo, o exercício da advocacia tem se transformado em uma corrida de obstáculos. Tem de matar dois leões por dia, desviar das antas, cruzar por um fosso de jacarés, beijar um leão e, ainda por cima, cuidar para não ser esnobado pelo meirinho.

Bom, esse é o trivial do cotidiano pelo qual passam centenas de milhares de causídicos. Mas, nos últimos anos, há um fenômeno novo, o da criminalização da advocacia. Advogados que fazem pareceres como procuradores de município ou autarquias são enquadrados como criminosos e, quiçá, membros de orcrim.

Escritórios são violados. Constantemente a OAB tem de recorrer ao STF — e tenho sido protagonista em alguns casos por indicação do Conselho Federal da OAB —, buscando medidas, especialmente reclamações, para proteger o exercício da profissão. Chegamos a esse ponto.

Eis a tempestade perfeita: juíza mede o tamanho das saias das advogadas, o que demonstra, simbolicamente, o grau de autoritarismo que se encalacrou nas instituições. Advogados são pressionados para que seus clientes façam delação. Advogados são vetados em delações. Querem alterar até o conceito de coisa julgada, afogando Liebman no rio de história.

Sobre tudo isso temos de refletir. Agora mesmo há um movimento nacional — até com passeatas em ruas e praças — pela aprovação de Emenda(s) Constitucional para alterar o julgado do STF nas ADC 43, 44 e 54. Vi um ex-senador do RS falando, efusivamente, que o parlamento deve salvar o país (leia-se: para ele, só com a alteração da Constituição é que poderemos livrar o país da impunidade proporcionada pelo STF). Nem vou falar de deputados boquirrotos que dizem barbaridades e depois pedem desculpas, prática, aliás, muito comum nesta terra patrimonialista. Faz o mal.. e pede desculpas. Já propus até que se ampliasse o artigo do Código Penal que trata das exclusões de ilicitude: “o pedido de desculpas”.

Um ponto em comum na maioria (falei maioria) das manifestações bizarras e reacionárias: elas vêm de gente (de)formada em… Direito. Sim, o Direito é locus privilegiado do reacionarismo. As faculdades estão formando reacionários e aprendizes de fascistas. As ofensas maiores que recebo por defender as garantias constitucionais vem de gente da área do… Direito. Claro. Não me admira que 57% da população que não toma vacina age desse modo porque se informa em células terroristas de WhatsApp. E, é claro, 25% das pessoas acreditam que Adão e Eva existiram.

O terraplanismo jurídico venceu. Bom, para um país em que os alunos já não levam livros para aula e ficam conferindo o que o professor diz revirando a Wikipédia, o que mais pode nos surpreender? Ninguém se operaria com um médico que estudou por livros do tipo “cirurgia cardíaca mastigada”, pois não? Mas no Direito tudo pode. Resumos, resuminhos, mastigados. Viva o macete. Depois dá nisso que estamos vivendo. O sonho de parte da comunidade jurídica é fechar o STF e prender o réu já em primeiro grau. E suspender a garantia de habeas corpus. E permitir uso de prova ilícita de boa-fé (como, aliás, constou no pacote de Dallagnol). O que houve com a comunidade jurídica?

Do jeito que vai a coisa, o símbolo da justiça — a balança — será substituída por um ovo, que é o personagem Humpty Dumpty, de Alice Através do Espelho, que dá às palavras o sentido que quer.

Por isso, coisa julgada é. aquilo que quero; cláusula pétrea é cláusula dúctil, fofinha… com a qual se pode dizer qualquer bobagem e fazer qualquer tipo de comparação hedionda. E assim por diante”.

“A conspiração para acuar Bolsonaro e entronizar Guedes”

Gostei desse artigo de Luiz Nassif e explico o motivo. Em seus textos Nassif procura sempre analisar a situação embasado em informações mais profundas e com os anos de jornalismo investigativo tem em suas fontes autoridades em todos os níveis. Gente que não tem medo de expor a verdade e assim ele nos oferece informações fidedignas, diferente daquelas que saem na grande mídia, que defende apenas os interesses corporativos de seus proprietários e acionistas. A grande mídia, hoje personificada pelos três grandes impérios que são a Globo, Folha de São Paulo e Estadão, trazendo a reboque o Grupo Record de Edir Macedo, Grupo Abril (Veja), SBT de Silvio Santos e Band, dos Saad, nada mais fazem do que manipular informações e notícias (são diferentes os significados) ao bel prazer de seus interesses financeiros. E fazendo milhões de bobos e mal informados. Bom, pelo menos aqueles que não procuram se informar por outras fontes também. O artigo original pode ser encontrado aqui. Vamos lá.

“Há uma imensa dificuldade de alguns setores de entender melhor a mecânica dos movimentos políticos que envolvem muitos setores e atores políticos. Pensa-se em uma sala fechada onde, na penumbra, senhores misteriosos planejam as jogadas.

Esse tipo de imagem é utilizado pelos crédulos em conspiração, e pelos céticos, para desacreditar a hipótese de conspiração.

É o caso atual dos movimentos da mídia em relação a Bolsonaro. Morde, avança, acua, mas quando está prestes a dar o soco final, recua. Por mídia entenda-se a primeira divisão, sistema Globo, Folha e Estadão.

Há uma lógica por trás disso.

Antes, uma pequena explicação sobre como se dão essas articulações sincronizadas entre veículos que, à falta de melhor denominação, pôde-se chamar de movimentos conspiratórios. Obviamente, não há as salas secretas. O mundo moderno já consagrou modos de comunicação bem mais eficientes, como telefones, Skype, web conference. E as práticas ancestrais dos encontros sociais nos quais, ao longo de décadas, se estreitam as relações e as conversas sobre economia e política e Poder.

O chamado poder do mercado tem muitas linhas de transmissão.

A mídia, através da qual consolida a ideologia do neoliberalismo anacrônico da Globonews.

Partidos políticos e lideranças do Congresso.

Contato com altos escalões do Poder..

São conversas em contatos sociais, eventos, visitas, telefones, nas quais vão se firmando consensos aos quais a mídia adere.

A visão sobre Bolsonaro, a estratégia de acuá-lo, acelerar o carro e, depois, recuar, com ele à beira do abismo, obedece ao seguinte raciocínio.

De fato, Bolsonaro é intimamente ligado às milícias, tem relações diretas ou indiretas com os assassinos de Marielle, é uma ameaça à democracia.

Por outro lado, é o presidente que está viabilizando o desmonte final do estado social, e a implantação do modelo chileno de Paulo Guedes.

Nem vamos discutir a fragilidade do modelo para o país, nem o completo desconhecimento das estruturas de funcionamento do Estado e da sociedade pela equipe de Guedes. Fixemo-nos apenas na tática.

A ideia central é manter Bolsonaro acuado, enfraquecido, mas no poder. E fortalecer a ideia de Paulo Guedes e de suas reformas como âncora do governo. É o que está ocorrendo, ou não?

Por essa tática, seria um roteiro simples.

Primeiro, viabilizam-se as reformas. Quando Bolsonaro não tiver mais serventia, tiramos da gaveta o caso Marielle, o porteiro, obstrução de Justiça, as dezenas de quebras de decoro e o colocamos para fora. E entronizamos Luciano Hulk no seu lugar.

Dá para entender o silêncio sepulcral de Luis Roberto Barroso, o quiromancista do mercado, ante todos os abusos éticos e morais de Bolsonaro?

É evidente que a visão prospectiva não faz parte do receituário desse pessoal. Suponha-se que a economia comece a engatar. Quais os reflexos da recuperação na imagem de Bolsonaro e, por consequência, no seu poder político, ele que já controla as milícias, os ruralistas, os clubes de tiro, o baixo clero da polícia e milhões de fanáticos terraplanistas que lhe garantem voto?

Não exija desse pessoal nada que vá além dos próximos balanços. A maioria pensa no balanço trimestral. O máximo de longo prazo que enxergam é o balanço anual.

Sorte é que não são os únicos agentes desse jogo fundamental da civilização contra a barbárie.”

Urbanicidade:“Gás de cozinha – a Petrobras tem raiva de pobre”

Reproduzo aqui um artigo do jornalista André Mota Araújo a respeito da política dos preços do insubstituível gás de cozinha na vida das pessoas. É uma crítica pesada que atinge a nova administração federal, principalmente ao ministro (minúsculo) Paulo Guedes, aquele que quer destruir um país para deixar a carniça para os seus, ou seja, para os banqueiros. Realmente, passamos por um mau momento. O original pode ser lido aqui.

“O preço do botijão de gás é PESADO para quem ganha salário mínimo ou nem isso e é IRRELEVANTE para famílias de renda mais alta, portanto é muito mais impactante para as classes C, D e E

Foto UOL

A Petrobras acaba de anunciar o aumento do preço do gás de cozinha, componente essencial do custo de vida da população pobre do Brasil, isso após a violência da revolta chilena causada por incompatibilidade entre a renda dos mais pobres e a elevação absurda de preços essenciais para a vida.

A insensibilidade dos atuais dirigentes da economia não tem nenhum limite. A PETROBRAS está importando da Bolívia menos da metade do gás que dispõe a preços controlados por um Tratado, sendo dela o gasoduto GASBOL, preferindo importar gás LNG a custo que é o triplo do gás boliviano.

Segue a mesma lógica do diesel e da gasolina, que prefere importar dos EUA invés de refinar no Brasil, enquanto exporta óleo cru de valor muito menor.

Depois alega condições de mercado para aumentar o preço do gás de cozinha, afrontando a lógica econômica sob a capa de uma “racionalidade” de conveniência. É mais racional aumentar o preço do gás de cozinha do que pagar US$2,9 bilhões a um grupo de advogados de acionistas minoritários em Nova York, em um acordo mal explicado, mal negociado, mal discutido? Ou pagar 400 milhões de Reais a escritórios de advocacia americanos para ações de compliance, valor que nem a maior empresa do planeta pagaria sem discutir até o último centavo? Quer dizer, a PETROBRAS é de uma sovinice cruel quando se trata de não favorecer em míseros reais os pobres do Brasil, mas é super generosa quando do outro lado do guichê estão americanos chiques?

E nem se alegue que as refinarias brasileiras da PETROBRAS não podem refinar aqui o diesel e a gasolina, elas estão operando muito abaixo de sua capacidade e, se ajustes forem necessários, por que não se faz? Refinar aqui gera empregos aqui, impostos aqui, gera riqueza no Brasil e não no Texas.

O neoliberal governo tucano do Presidente Fernando Henrique foi atencioso com os pobres do Brasil com o VALE GAS, criado em 2001 para que as famílias mais pobres pudessem comprar o gás de cozinha mais barato. A ausência do poder de compra do gás leva as famílias a usarem LENHA para cozinhar, uma crueldade com elas e com o País, lenha vem de floresta e torna-se um risco para as pessoas e para o meio ambiente, risco de incêndio nas comunidades.

O preço do botijão de gás é PESADO para quem ganha salário mínimo ou nem isso e é IRRELEVANTE para famílias de renda mais alta, portanto é muito mais impactante para as classes C, D e E, para os desempregados, subempregados, o conjunto de 180 milhões de pobres do Brasil, não afeta os ricos.

Para completar a injuria, o AUMENTO do preço do gás de cozinha foi MAIOR (4,8%) do que o aumento do mesmo gás para as empresas (2,9%), por quê?

A origem do gás é exatamente a mesma, por que os pobres devem pagar um aumento maior do que as empresas? Parece de proposito, a PETROBRAS tem mesmo raiva de pobre, gosta de acionista minoritário de Nova York para quem não regateia e paga o que pedem, adora os engravatados do compliance americano que viajam de classe executiva, PAGA PELA PETROBRAS e faturam horrores todo mês para monitorar a empresa, afinal tudo é pago pelos brasileiros, especialmente os de baixa renda, aqueles que carregam nas cotas cansadas os botijões de gás agora mais caros.”

Urbanicidade: “A batalha perdida de Paulo Guedes contra as Santas Casas”

Uma das piores tragédias prenunciadas pelo mais inepto governo federal da história do Brasil chama-se Paulo Guedes. É esse ministro colocado lá pelos “donos” do mercado financeiro e avalizado por um presidente completamente néscio, que será reconhecido pelos nossos filhos e netos como o responsável pelo atraso de gerações, de séculos talvez. Paulo Guedes será lembrado pela história pela ignorância e irresponsabilidade no trato de um sensível ramo da administração pública: a economia de um povo, a possibilidade de sobrevivência de uma Nação. Como ultimamente fico desmotivado de escrever ao deparar com uma situação que antevê o caos geral, coloco aqui um pequeno artigo de Luíz Nassif a respeito da milésima atuação de um elemento que teve como único mérito na vida, servir de laranja e fantoche de banqueiros e pesados investidores alienígenas. Arrancaram nacos de dinheiro da coisa pública que agora querem desmanchar para serem os únicos a aproveitar da carniça. Até quando? Como larvas que parasitam insetos vivos deixando-os como zumbis para sugá-los durante algum tempo, esses invisíveis operadores do “mercado” não enxergam que atrás de uma economia de um país existe milhões de vidas que sem uma economia organizada e a elas direcionada, que sem um Estado que equilibre as distorções de um sistema imperialista que visa engolir “mercados” pelo mundo afora e criar colônias em pleno século XXI, levarão o país a se deteriorar em tribos violentas que procurarão sobreviver num ambiente de autofagia e destruição da natureza. Sem o amparo de uma saúde pública e sem a consciência de que só uma educação abrangente consegue, não haverá como aglutinar milhões de pessoas concentradas em sua grande maioria em urbes falidas. É o prenuncio de um “deusdará”. Vai ser um inferno…

“A BATALHA PERDIDA DE PAULO GUEDES CONTRA AS SANTAS CASAS”

https://jornalggn.com.br/noticia/a-batalha-perdida-de-paulo-guedes-contra-as-santas-casas-por-luis-nassif/

“Paulo Guedes não é apenas um executivo mambembe, sem experiência de liderar equipes ou administrar organismos minimamente complexos. É também um impulsivo, que não se guia por um planejamento racional das ações. Vai lançando ideias, como coelhos da cartola, parecendo que sempre escolhe a primeira que lhe vem à cabeça. À medida em que as ideias se revelam inviáveis, não dá uma pausa para uma análise de situação, continua despejando novas ideias sem nexo.

Insistiu ideologicamente na questão do teto de gastos. Apostava que, cortando todos os recursos, a Nação viesse de joelhos avalizar sua proposta de desvinculação total do orçamento – acabando com as vinculações obrigatórias para educação e saúde.

Descuidou-se completamente da queda da demanda, impedindo qualquer recuperação mais consistente da economia. Veio com a história da fada da confiança, a ideia de que, concretizadas as reformas, os investimentos voltariam para o país. Pior: acreditava no que dizia.

Quando se deu conta do fracasso de suas estratégias, Guedes recorreu aos mesmos erros de Dilma Rousseff, pretendendo desonerações como forma de estimular investimentos. Mas, para as desonerações de folha, precisava de um reforço de caixa. Propôs então a volta da CMPF.

Quando a CMPF dançou, com a recusa de Bolsonaro, Guedes ficou com a broxa na mão. Sua próxima investida, agora, é a tentativa de taxar instituições filantrópicas. Taxar igrejas, nem pensar porque Bolsonaro não deixa.

Significará inviabilizar toda a rede de Santas Casas que, na maioria das pequenas cidades, impede o desmoronamento final da saúde, depois dos cortes de gastos no SUS (Sistema Único de Saude).

Não surpreende a insensibilidade de Guedes com a saúde pública. Apenas sua supina ignorância de não se dar conta que sua proposta não terá a menor viabilidade política.”

 

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