2 de maio de 2024 12:25

Brasil tem recorde de extrema pobreza com 14,5 milhões de famílias na miséria

Há dois meses, a desempregada Niedja da Silva, 29, deixou o barraco onde vivia na favela da Vila Emater, em Maceió, para morar com o marido e as duas filhas na praça do Conjunto José Tenório, no bairro da Serraria, em Maceió. Embaixo de uma lona, pede ajuda a quem passa.

A família dela é uma das 14,5 milhões registradas no CadÚnico (Cadastro Único do governo federal) vivendo em extrema pobreza.

O número alcançado em abril é o maior de famílias na miséria desde o início dos registros disponíveis do Ministério da Cidadania —a partir de agosto de 2012— e representa mais de 40 milhões de pessoas. Antes da pandemia, em fevereiro de 2020, no país havia 1 milhão a menos: 13,4 milhões.

Família em extrema pobreza é aquela com renda per capita de até R$ 89 mensais, de acordo com o governo federal. Em regra, são pessoas que vivem nas ruas ou em barracos de favelas. Há ainda 2,8 milhões de famílias vivendo em pobreza (com renda entre R$ 90 e 178 per capita mensais).

Durante a entrevista ao UOL em sua “casa”, ou seja, embaixo da lona montada na praça à beira do asfalto, Niedja da Silva é chamada pelo motorista de um carro. Recebe três pacotes de massa de milho para cuscuz.

O marido de Niedja estava fora no momento em que a reportagem a visitou, catando material reciclável nas ruas. Ela conta que o homem foi demitido no início do ano passado por uma empresa de material

A família conseguiu manter o pagamento do aluguel do barraco em que vivia (pagando R$ 180 por mês) graças ao auxílio emergencial. Entretanto, a situação de miséria chegou com o fim do benefício em 2021 —beneficiária do Bolsa Família, a família recebe R$ 130 por mês— e foi despejada do imóvel.

“Não dava mais para pagar pela casa. Meu marido passa o dia fora e só volta quando termina de conseguir algo. Mas vale muito pouco o que ele cata, é só uma ajuda mesmo com coisas básicas”, afirma ela, que pede para não ser fotografada de frente. “Tenho vergonha de foto”, diz.

Neste mês diz que começou a receber R$ 375 do novo auxílio emergencial. “Ajuda, a gente consegue comer pelo menos duas vezes por dia, mas ainda é muito pouco, não dá para pagar para morar em um lugar digno”, conta.

Recessão e queda

Segundo o professor e pesquisador na área de economia popular Cícero Péricles de Carvalho, da Ufal (Universidade Federal de Alagoas), o aumento no número de famílias na extrema pobreza pode ser explicado pela recessão e pelo baixo crescimento da economia, aliados aos limites das políticas sociais do governo.

“A situação atual do mercado de trabalho explica parte desse crescimento: são 14 milhões de desempregados, 6 milhões de desalentados [trabalhadores que desistiram de procurar emprego] e mais 7 milhões de subocupados, num total de 27 milhões de brasileiros sem renda ou com renda parcial do trabalho. Esse conjunto tem quase o mesmo número das famílias inscritas no CadÚnico [29,6 milhões]”, diz.

Para Carvalho, isso amplia a desigualdade do Brasil, o que gera uma massa de pessoas não só em extrema pobreza. “Temos ainda mais 2,8 milhões de famílias pobres, ou seja, mais 8,5 milhões de brasileiros com uma renda entre R$ 89 e R$ 178. Parece algo incompreensível, no sentido econômico, para um país que é a oitava economia mundial”, diz.

O cenário para os próximos meses, diz, ainda é incerto por conta da pandemia. Mas Carvalho espera uma redução nos números da covid-19 deve aliviar a situação da pobreza.

“Espera-se que, na economia da pós-pandemia, ocorra um período de crescimento das atividades que sejam grandes empregadoras, como a construção civil, agricultura familiar, comércio, serviços e indústrias intensivas de mão de obra. E espera-se também o crescimento dos negócios das micro e pequenas empresas, geradores da maioria dos empregos no Brasil, e não apenas os microempreendedores, na sua ampla maioria trabalhadores penalizados pelo desemprego”, diz.

Fonte: UOL

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