O pior lugar do mundo (da pandemia) é aqui e agora. O Brasil é destaque no mapa-múndi e teve a terceira semana seguida com mais de 10 mil vítimas fatais da covid-19 em 7 dias. Foram 10,1 mil mortes na 1ª semana de março de 2021, 12,8 mil na 2ª semana e impressionantes 15.650 óbitos na 3ª semana. A situação não está somente dramática, ela está muito ruim e piorando. No dia 16/03, o país registrou o assustador recorde de 2,84 mil vidas perdidas para a covid-19 em 24 horas, o que representa cerca de 2 mortes por minuto. Na semana de 14 a 20 de março o Brasil (com 2,7% da população mundial) registrou 25% dos óbitos globais e teve 3,4 vezes o montante de mortes da China durante toda a pandemia. Com uma situação esdrúxula de ter dois Ministros da Saúde em exercício, fazendo jogral nas entrevistas, o Brasil bateu o recorde da média móvel de infecções, indicando uma pressão contínua sobre o sistema de saúde.
O Observatório Covid-19 da Fiocruz divulgou um Boletim extraordinário, no dia 16/03, alertando para o maior colapso sanitário e hospitalar da história do Brasil. Em meados de março, das 27 unidades federativas, 24 estados e o Distrito Federal estavam com taxas de ocupação de leitos de UTI Covid-19 para adultos no Sistema Único de Saúde (SUS) iguais ou superiores a 80%, sendo 15 com taxas iguais ou superiores a 90%. Em relação às capitais, 25 das 27 estavam com essas taxas iguais ou superiores a 80%, sendo 19 delas superiores a 90%. No dia 18/03, a Fiocruz publicou o Boletim InfoGripe, dizendo que a pandemia ainda deve piorar nas próximas semanas.
O aumento dos casos, a falta de insumos médicos e a crise hospitalar têm tido um efeito devastador no cotidiano das taxas de mortalidade. Nos primeiros 80 dias de 2021 ocorreram a metade das 194,9 mil vidas perdidas do conjunto dos 366 dias de 2020. Entre os dias 21 de fevereiro e 20 de março a média móvel de 7 dias do número de mortes da covid-19 apresentou uma função monotonicamente crescente, isto é, aumentou todos os dias por cerca de um mês, conforme mostra o gráfico abaixo. No dia 21/02 foram 1.037 mortes, em média, e este número mais do que dobrou para 2.236 mortes, em média, no dia 20/03. Este fato inédito, retrata a gravidade do momento atual. O Brasil está no epicentro da pandemia internacional e, além de gerar grande sofrimento interno, no plano externo, virou uma ameaça crescente à saúde global.
Lastimavelmente, o Brasil tem apresentado os mais dramáticos e preocupantes recordes de falecimentos da pandemia no atual mês e caminha para atingir as maiores taxas de mortalidade, não só de toda a América Latina, mas também de todo o hemisfério Sul. Os 6 países com maiores coeficientes (ou taxas) acumulados de mortalidade na América Latina são: México (152 óbitos por 100 mil), Peru (150 óbitos), Panamá (140 óbitos), Brasil (138 óbitos), Colômbia (121 óbitos) e Argentina (120 óbitos), portanto, todos com mais de 120 mortes por 100 mil habitantes (sendo que a média mundial é de 35 óbitos por 100 mil).
Mas considerando o coeficiente diário de mortalidade, o Brasil assumiu a ponta entre todos os países da América Latina (e os EUA), conforme mostra o gráfico abaixo, do jornal Financial Times, com dados até 19/03. O Brasil já possui o maior coeficiente diário de mortalidade das Américas e do hemisfério Sul. Se o Brasil continuar com valores tão elevados, deve ultrapassar, também em números acumulados, passando o Panamá ainda no mês de março e pode assumir a lamentável liderança latino-americana ainda no mês de abril de 2021. Se o Brasil alcançar o topo do ranking do coeficiente de mortalidade acumulado da América Latina, assumirá também o topo do ranking do hemisfério Sul, pois o país da África com maior mortalidade é a África do Sul com 87 óbitos por 100 mil habitantes e, na Oceania, a Austrália e a Nova Zelândia possuem, respectivamente, coeficientes de 3,5 e 0,5 óbitos por 100 mil de habitantes. Desta forma, permanecendo as tendências atuais, o Brasil terá mortalidade menor apenas em relação a alguns países do Norte, de clima frio e com uma estrutura etária muito envelhecida. Por conseguinte, não é de forma alguma uma “situação confortável”, como afirmou o líder do governo na Câmara e ex-Ministro da Saúde, deputado federal Ricardo Barros (PP-PR).
O Ministério da Saúde, enquanto dirigido pelo inominável general Pazuello, não conseguiu deter o SARS-CoV-2, não foi capaz de organizar um processo de prevenção e distanciamento social e muito menos contratou, de forma tempestiva, vacinas suficientes para imunizar a população brasileira. A gestão da política de saúde variou entre o desmazelo e o pesadelo. Pensando em dar uma satisfação para a opinião pública, o presidente da República (chamado de genocida nas redes sociais) trocou o ministro da saúde – mas manteve a mesma política fracassada – sendo que o médico Marcelo Queiroga prometeu dar continuidade às ações que não conseguiram deter a alta mortandade do país. O Brasil conseguiu vacinar apenas 6% da população em dois meses. Mesmo que este ritmo dobre daqui para a frente, o país só conseguirá vacinar toda a população no segundo semestre do ano que vem, talvez até o dia 7 de setembro (nos 200 anos da Independência) ou, quiçá, antes das eleições gerais de 2022.
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