Em busca de combater as taxas de suicídio e de agressão sexual de seus militares, a Força Aérea dos Estados Unidos testa um novo programa baseado em realidade virtual (VR) para reforçar os treinamentos de prevenção de suas tropas.
A criação do programa não surge por acaso. Entre 2014 e 2019, a taxa de suicídio para todas as tropas ativas americanas aumentou de 20,4 para 25,9 ocorrências a cada 100 mil militares, de acordo com dados do Pentágono. No último trimestre de 2020, os eventos triplicaram de 14 para 39 em comparação com o mesmo período de 2019.
Paralelamente, o Departamento de Defesa dos EUA reportou, em 2019, 7.825 relatos de agressões sexuais envolvendo militares como vítimas. O número apresentou um aumento de 3% em relação aos dados de 2018.
Para diminuir o número de ocorrências, o exército americano já conta com treinamentos e palestras para auxiliar soldados que tenham vivenciado algumas das experiências. No entanto, usar tecnologias como a realidade virtual, fazem com que o aprendizado seja muito mais dinâmico e imersivo, especialmente para os militares mais jovens que já estão inseridos em um contexto digital avançado.
“Foi melhor do que sentar-se em uma sala de instrução e esperar para assinar uma lista. Algumas das respostas eu não teria pensado em dizer, como ‘Você já pensou em suicídio?’ ou ‘Você tem uma arma?’”, destacou Annette Hartman, aviadora sênior.
![Ilustração de militar com problemas de saúde mental Ilustração de militar com problemas de saúde mental](https://img.olhardigital.com.br/wp-content/uploads/2021/05/Militar-1024x682.jpg)
Programa baseado em VR visa dar suporte à militares vítimas de depressão e de agressões sexuais. Foto: Photographee.eu/Shutterstock
A medida visa auxiliar a abordagem de soldados que depararem-se com alguma das situações, tendo em vista que perguntas ou conselhos errados podem piorar o cenário já conturbado.
Além disso, o treinamento baseado no programa de realidade virtual pretende quebrar barreiras, especialmente com intervenções contra indivíduos de patente superior.
“Se alguém é de nível superior, você pode ser mais tímido para dizer algo. A Força Aérea se esforçou muito para deixar claro que nada de negativo acontecerá se você intervir”, afirmou Carmen Schott, gerente do Programa de Prevenção e Resposta a Ataques Sexuais do Comando de Mobilidade Aérea da Força Aérea americana.
Como funciona
Na prática, os soldados colocam os dispositivos VR e “conversam” com um ator virtual suicida ou vítima de violência sexual, em uma espécie de simulação.
![Programa de realidade virtual da Força Aérea Americana Programa de realidade virtual da Força Aérea Americana](https://img.olhardigital.com.br/wp-content/uploads/2021/05/VR-Militar-1024x768.jpg)
A tecnologia permite que os militares acessem dicas para uma abordagem e intervenção mais efetiva, sem ofender a vítima. No ensaio comportamental baseado em realidade virtual, os participantes recebem pontuações de “empatia” e o próprio ator virtual reage com expressões para indicar se a conversa está seguindo bem.
Até o momento, a tecnologia VR mostrou-se um sucesso: dos mil membros da Força Aérea que participaram do programa, 97% disseram que recomendariam o treinamento e os trainees relataram um possível aumento em intervenções com pessoas em crise. Entre militares de 18 a 25 anos, o impacto aumentou em sete vezes.
As autoridades pretendem treinar, pelo menos, 10 mil aviadores até o fim deste ano. Não é certo se a medida baseada em realidade virtual vá diminuir os casos de suicídio e de agressão sexual de suas tropas. Mas os testes apontam otimismo para reduzir o número de eventos, com melhor suporte às vítimas.
Fonte: The New York Times