Uma das instituições mais importantes de Lafaiete, com vocação hospitalar regional, vive um momento dramático.
Desde que o prédio foi requisitado pelo Município para abrigar o Hospital de Campanha – COVID-19 de Conselheiro Lafaiete, a diretoria, que tomara posse em setembro de 2019 e vinha colocando as contas em dia, sentiu o baque da decisão com a queda acentuada no faturamento.
Isso porque, na antiga sede, o hospital dispunha de estrutura de 50 leitos, bloco cirúrgico, o que permitiria a sustentabilidade financeira e ampliação dos serviços com atendimento de convênios particulares e SUS.
Com o altruísmo e voluntariado, a direção aceitou a coabitação com o Hospital Queluz, porém a estrutura oferecida, com apenas 10 leitos, reduziu drasticamente atendimento desencadeando uma queda na receita.
Até então, a diretoria vinha mantendo as negociações de dívidas herdadas plenamente em dia e quitando débitos, através da mobilização de seus diretores, com leilões e ações sociais junto a comunidade. “A gente já estava saindo do sufoco e preparando investimentos para 2020”, afirmou a diretoria. Mas a atual realidade está impondo um regime de guerra e uma engenharia contábil para mante em funcionamento o hospital.
Parcela
Com queda na receita, surgiram as incertezas e os planos de investimentos ficaram para trás e um novo desafio imprevisto tomou de surpresa a diretoria.
A luz vermelha acendeu e o fantasma das dívidas veio Somente em janeiro e fevereiro, o déficit acumulando deve chegar a quase R$145 mil. O cenário prevê que em março saldo negativo alcançará a assustadora quantia de mais de R$250 mil.
Sem logística
Mas as dificuldades não são apenas financeiras, mas de logística. Com a falta de espaço físico, a diretoria conseguiu, de maneira gratuita, uma casa emprestada no Bairro Santo Antônio, há cerca de 200 metros do Queluz, onde funciona a parte administrativa.
Lá também estão armazenados, em quartos, os gêneros alimentícios, roupas de cama e material de higiene. A lavanderia, para piorar, está ainda no Hospital Campanha. “A toda hora temos que deslocar funcionários para levar e trazer produtos gerando grandes transtornos”, relata diretoria.
Negociações
Ao assumir a parcela de responsabilidade no enfrentamento do covid-19, o contrato com o Município previa que a coabitação duraria 6 meses. Diante do quadro, a diretoria vem conversando com as autoridades de saúde do Município. Nas 4 ultimas reuniões realizadas, quando expôs a realidade financeira e administrativa vivida desde abril de 2020, não houve avanços na tentativa de socorrer a cinquentenária instituição a sair desta tempestade que pode ser transformar em tsunami e levar às ruínas o São Camilo.
Para a diretoria só existem 2 caminhos: ou retornar imediatamente a antiga sede ou a prefeitura disponibiliza recursos financeiros, além é claro, de apresentar um “Plano B” para nosso retorno.
Porém a indignação toma conta da diretoria. Há 20 dias, um relato da situação do hospital foi enviado a Secretaria Municipal e ao Executivo, mas a resposta foi falta de boa vontade e a desinteresse. “Esperávamos um ambiente de diálogo mútuo e aberto na busca conjunta de uma alternativa para o Hospital, principalmente que o São Camilo contribui diretamente para o enfrentamento do covid-19 em Lafaiete e região, mas não fomos reconhecidos”, comentou a diretoria que também cobrou mais transparência da prefeitura nas interlocuções.
O cenário beira ao colapso. “Se a situação não for resolvida em breve, vamos entregar as chaves. Os maiores prejudicados serão os mais pobres”, desabafa a diretoria do Hospital São Camilo
Mobilização
A diretoria do São Camilo vem mobilizando diversos atores sociais e na empreitada de sensibilização esteve reunida com os vereadores. Em conversa esta semana, a Câmara hipotecou apoio a diretoria e buscará uma interlocução com o Executivo e a Secretaria.
Estrutura desumana e precária levada ao MP
Nossa reportagem esteve no espaço físico onde funciona provisoriamente o São Camilo. A situação é precária, alas pequenas e quartos apertados. A estrutura é inadequada para o funcionamento, sem conforto ou dignidade aos usuários e pacientes.
Na parte superior onde ficam os vestiários dos funcionários, há goteiras, mofo e infiltrações. “Deixamos claro que a culpa não é do Hospital Queluz. Foi uma situação que nos foi imposta pela administração municipal”, afirmou a diretoria que adiantou a dificuldades na contratação de médicos diante da falta de estrutura.
Há relatos de dificuldades de entrada de macas dentro dos quartos. Em outros momentos, os enfermeiros têm de interromper o atendimento para a troca de balas oxigênio.
Mortes de covid-19
Mesmo sem estrutura física e sanitária, diversos pacientes encaminhados ao São Camilo evoluem para o covid-19. Nos últimos 15 dias, foram confirmados 4 casos e um óbito.
A diretoria reclama de dificuldades em transferir pacientes de covid-19 para a rede municipal de saúde em Lafaiete.