O caso de Encefalopatia Espongiforme Bovina (EEB), conhecida como “mal da vaca louca”, identificado pelo Instituto Mineiro de Agropecuária (IMA) e confirmado pelo Ministério de Agricultura, Pecuária e Abastecimento (Mapa) em Belo Horizonte, pode provocar um baque na balança comercial brasileira. Isso porque, por questão contratual, a exportação de carne bovina foi suspensa temporariamente para a China, principal mercado externo do produto.
A situação fica ruim para o produtor, que fica impedido por um tempo de exportar a carne com o preço do dólar alto, mas pode trazer um bom efeito para o bolso do consumidor brasileiro. De acordo com o economista e professor de finanças Cleyton Izidoro, o produtor vai preferir vender o produto para o mercado interno do que correr riscos tentando exportá-la – ainda mais porque o caso de vaca louca pode interferir na venda da carne para outros países.
Com mais carne disponível no mercado interno, a tendência é do preço cair. “Não tem como ficar com a mercadoria parada, o boi tem um prazo para ser abatido. Tem que vender essa carne. Muitos produtores vão comercializar para o mercado interno e a tendência é de queda no preço da carne para o produtor final”, explica o economista.
O efeito já pôde ser percebido na quarta-feira (1º), quando houve o anúncio público do caso em um frigorífico de Belo Horizonte. Naquele momento, o preço da arroba do boi gordo na Bolsa de Valores de São Paulo caiu 4%, chegando a R$ 297,65. Pode cair ainda mais, porque além do caso em Minas, outro foi confirmado em Mato Grosso pelo Mapa.
Ainda não é possível prever qual vai ser o impacto nos açougues, porque há muitos fatores em questão – se a suspensão pode abarcar outro país ou por quantas semanas a exportação para a China vai estar parada, por exemplo. “A questão é que, em meio a uma pandemia, tudo que é relativo a protocolo sanitário ficou muito mais severo. Inclusive, a carne que estava para ser embarcada, teve de voltar”, diz Izidoro.
Importante deixar claro que o caso de vaca louca identificado pelo ministério não é transmissível, não provoca prejuízo para o gado e para a população. Ou seja, isso não interfere na qualidade da carne oferecida no país, que passa por intensa vigilância sanitária.
“É um caso atípico, não tem problema para a saúde pública e o ministério vai tomar todas as providências devidas. Quando esses casos são achados, é porque estamos verificando. Se não estivéssemos, não achávamos. Neste ano tivemos [ocorrências] na Espanha, na Bélgica. Há dois anos, nos Estados Unidos”, afirmou a ministra da Agricultura, Pecuária e Abastecimento do Brasil, Tereza Cristina, em evento realizado no Mato Grosso do Sul.
Caso não deve abalar relação comercial
Apesar dessa situação, os produtores não perderam o otimismo e continuam confiantes nas relações comerciais com seu principal parceiro comercial, afirma Pedro Leão, secretário-executivo do Fórum Minas-China. “A medida começou a valer no sábado e vai durar até que haja inspeções de autoridades locais e internacionais. Acredito que em poucas semanas a situação será resolvida e o mercado recupera rápido”, aposta.
Segundo ele, o mundo reconhece que o Brasil é muito rígido em relação à vigilância sanitária, especialmente quando o assunto é carne bovina e não há desconfiança entre os importadores chineses. “Isso também não abala a confiança do produtor brasileiro, pois sabe que o mercado chinês vai continuar ampliando a compra de carne bovina ao longo dos anos. É um país com 1,2 bilhão de pessoas e uma classe média crescente”.
Procedimentos estão em andamento
Por meio de nota, o IMA afirma que iniciou imediatamente as investigações epidemiológicas na propriedade de origem do animal positivo, com a realização da interdição dessa, e começou a realizar ações para mitigar o risco de disseminação da doença.
De acordo com o instituto, o caso atípico de Encefalopatia Espongiforme Bovina (EEB) ocorreu em um bovino fêmea de aproximadamente 10 anos de idade. A confirmação do diagnóstico ocorreu no dia 3 de setembro de 2021, após emissão de resultado pelo laboratório de referência da Organização Mundial de Saúde Animal (OIE), localizado no Canadá. “A EEB atípica ocorre em bovinos de forma aleatória, espontânea e esporádica, e não está relacionada à ingestão de alimentos contaminados”, diz o IMA. ( O Tempo)