Na última sexta-feira (03), a Prefeitura de Ouro Preto publicou um decreto informando que Antônio Pereira está na onda vermelha. A medida é válida exclusivamente para o distrito e foi tomada devido ao aumento de casos de covid-19. Sendo que, dos 70 casos confirmados em Ouro Preto, 27 foram registrados no distrito. Apesar de saberem sobre a gravidade do vírus, uma parcela dos moradores de Antônio Pereira não concorda com o fato de só o distrito ter regredido para a onda vermelha.
José Antônio Teixeira, morador de Antônio Pereira, explicou que o fluxo de pessoas entre outros distritos e a sede é muito grande, e que portanto, as medidas deveriam valer para todos. “Não concordo com só Antônio Pereira ter entrado na onda vermelha, pois nós, moradores do distrito, frequentamos muito as cidades vizinhas, então deveria parar tudo, não só aqui. E com certeza isso pode prejudicar, e muito, os moradores financeiramente”, disse José.
A situação também foi apontada por Ana Carla Cota, que também ressaltou o grande fluxo de trabalhadores da mineração no distrito. “Nós fomos pegos de surpresa com esse decreto, temos cerca de 5 mil habitantes. Porém, todos sabem que aqui é um núcleo de extração de minério pela Vale, que nunca parou suas atividades em toda a pandemia. O número alto de casos de covid é justamente por causa do fluxo intenso de trabalhadores nas minas, e eles vêm de toda Região dos Inconfidentes. O poder público tem conhecimento dos ônibus lotados que chegam e saem daqui todos os dias com pessoas de vários lugares. Então é um absurdo nós, moradores, estarmos sofrendo com essa seletividade epidemiológica; nós somos contra isso”, afirmou Ana.
Ana também ressaltou os impactos econômicos que o decreto pode causar em Antônio Pereira. “A maioria dos comércios aqui são de pequenos empreendedores, de famílias que têm filhos para sustentar e 14 dias fechado, é metade da renda de um mês. Então imagina o impacto disso em uma pequena cabeleireira, isso porque nós já estamos sofrendo com impactos do descomissionamento da barragem, cerca de 600 pessoas foram removidas daqui, vários clientes foram embora junto”, explicou.
O decreto determina que durante o período de 14 dias, todas as atividades comerciais deverão fechar das 20:00h às 05:00h, de segunda a domingo, além da proibição da comercialização e distribuição de bebidas alcoólicas durante o mesmo horário. Os bares, restaurantes, lanchonetes e congêneres não poderão funcionar na modalidade presencial, porém, fica autorizada a entrega de produtos em domicílio (modalidade delivery). Entre outras medidas, o decreto também proíbe a realização de eventos e quaisquer festas presenciais, em ambientes abertos ou fechados, promovidos por iniciativa pública ou particular, de qualquer natureza, pelo período inicial de vigência do decreto.
As atividades educacionais, em modalidade presencial, também estão suspensas, exceto as relacionadas aos estágios em saúde, atividades administrativas e os serviços essenciais. Leia o decreto completo AQUI. O Liberal entrou em contato com a Prefeitura para esclarecimentos dos pontos levantados pelos moradores, mas até o fechamento desta matéria não tivemos retorno.
Impactos na mobilização popular contra a Vale
Além dos impactos econômicos, Ana Carla Cota, que é membro da Comissão dos Atingidos por Barragens de Antônio Pereira e membro da FLAMa-MG (Frente Mineira de Luta das Atingidas e dos Atingidos pela Mineração), informou que a onda vermelha pode impactar nas mobilizações dos moradores contra a Vale. “Nós já estávamos nos organizando para uma manifestação antes do Natal e esse decreto é claro que vai impactar. E dentro disso nós percebemos uma discriminação, como que pode uma onda vermelha apenas em um distrito de 5 mil habitantes? Ficamos pensando se isso não é uma forma de inibir a nossa luta por direitos contra a mineradora. Nossas manifestações serão paralisadas, ou seja, mais uma vez o movimento popular será silenciado”, afirmou Ana.
- Fonte: O Liberal (Karina Peres)