Araçuaí e Itinga, municípios do Vale do Jequitinhonha, vão receber investimento superior a R$ 1 bilhão nos próximos 13 anos. A informação foi confirmada nesta quarta-feira (5) pela mineradora Sigma, durante o lançamento do Instituto Lítio Verde.
Os recursos virão da extração do lítio pela empresa canadense. Por lei, a Sigma deve pagar a CFEM (Compensação Financeira pela Exploração Mineral), que corresponde a 2% dos royalties anuais da mineradora. A CFEM é recolhida pelo governo federal e distribuída entre estados e municípios onde ocorre a mineração.
No lançamento, a Sigma anunciou que vai recolher um valor extra – mais 1% dos royalties anuais – e destinar ao Instituto Lítio Verde. Esse valor será retirado do que iria para os acionistas. O dinheiro vai ser gerenciado e reinvestido pelo Instituto. O rendimento desses investimentos vai ser aplicado em projetos sociais na região. Com isso, a expectativa é de que os recursos durem por muitos anos e possam impulsionar investimentos sociais por muitos anos. Ana Cabral-Gardner explica que o recurso pode ser “quase eterno”.
“Você não vende a casa que você aluga, você vive do aluguel. É seu patrimônio. A gente quer dar o exemplo disso no Instituto. Ou seja: o dinheiro que vai entrando é o patrimônio, aí a gente guarda, vai poupando e rende. O rendimento vira investimento”, explicou.
Ações sociais
Nesta quarta também foram anunciadas ações sociais para a região. A escola de Poço Dantas, distrito de Itinga, vai ser reformada e terá um programa de educação em tempo integral. Já o Hospital de Araçuaí vai se tornar parceiro do Instituto Lítio Verde, para receber suprimentos essenciais.
Raul Jungmann, ex-ministro e atual diretor-presidente do Instituto Brasileiro de Mineração (Ibram) participou do evento e falou sobre a importância dos recursos vindos da exploração de lítio no Vale do Jequitinhonha.
“Eu sempre conheci, através dos livros, que o Jequitinhonha era marcado pela pobreza, mesmo com sua cultura rica e seu povo. O lítio tem um peso duplo: de um lado distribui recursos para a comunidade local e ainda impulsiona a luta contra a crise climática. Essa é a preocupação número 1 que devemos ter, na minha opinião.”
“Dona de Mim”
A Sigma já promovia ações antes do lançamento do Instituto. Um dos projetos desenvolvidos pela mineradora na região é o “Dona de Mim”, que oferece microcrédito facilitado para mulheres empreendedoras de Araçuaí e Itinga. Até o momento, cerca de 2 mil mulheres já foram atendidas, e a expectativa é de que o número cresça.
Moradora de Araçuaí, Eliana Santos usou o crédito para investir na produção de salgados e doces para festa. Ela e as amigas criaram uma comunidade para impulsionar o trabalho uma da outra
“Sempre trabalhei com salgadinhos. Eu precisava de um forno novo e não tinha condições. Uma amiga me contou sobre esse projeto, mas eu fiquei na dúvida, pois estava muito ‘fácil’. Fui, fiz a inscrição, fiz uma entrevista e o dinheiro foi liberado em menos de um mês. A gente tá crescendo juntas. Criamos uma rede para falar do produto uma da outra”, contou.
Vale do Lítio
A Sigma extrai lítio no Vale do Jequitinhonha, uma das regiões mais carentes de Minas Gerais e, ao mesmo tempo, rica em recursos minerais. A empresa explica que o material extraído é usado na fabricação de baterias para carros elétricos.
Para evitar tragédias como as ocorridas em Mariana e Brumadinho, a empresa investiu em tecnologias para tornar sua mineração o mais ambientalmente correta possível. A mineradora afirma que não utiliza químicos nocivos, usa energia 100% renovável e recicla a água utilizada no processo. O processo de extração do lítio adotado pela mineradora não utiliza barragens de rejeitos. Um maquinário importado é usado para secar os rejeitos e empilhá-los. O material é usado na própria indústria da bateria elétrica e também para pavimentar estradas.
Em maio, o governador Romeu Zema (Novo) participou do lançamento do projeto Vale do Lítio na Nasdaq, maior bolsa de tecnologia do mundo. Zema afirmou que quer atrair não só mineradoras para o Norte e Nordeste de Minas, mas também fábricas de baterias e investidores de carros elétricos.