27 de abril de 2024 10:13

Preservação e memória: arte Saramenha, oriunda de Portugal, no século XVII, é declarada como registro imaterial

A Cerâmica Saramenha, oriunda de Portugal, em Alentejo, introduzida no Brasil pelo Padre Viegas de Menezes, no final do século XVII, quando ele descobriu o Barro na região de Ouro Preto (MG), ainda presente em Conselheiro Lafaiete, graças ao Mestre Rosemir Hermenegídio foi declarada pelo CONSELHO MUNICIPAL DE PATRIMÔNIO HISTÓRICO CULTURAL, ARTÍSTICO E PAISAGÍSTICO DE CONSELHEIRO LAFAIETE – COMPHAP- como registro bens imateriais. O estudo do processo foi iniciado ainda em 2020 e concluído no ano passado. O modo de fazer artesanal da cerâmica Saramenha é o 5ª bem registrado na área juntamente como: o Modo de Fazer as Violas de Queluz; Festival de Artes Cênicas – FACE; o Festival de Congado e o Festival de Bandas.

Para o processo de registro de bens imateriais a nível municipal considerou a arte e modo de fazer de proteção permanente pela sua originalidade e o reconhecimento de sua preservação perpetuação às futuras gerações como forma de manter viva a cultura artesanal.

O estudo, de 75 páginas que sustentou o registro, foi elaborado com empresa especializada, Baroque Arquitetura, através da empresa Baroque Arquitetura, contratada através do Fundo de Preservação do Patrimônio – FUMPAC. O pedido de registro da Cerâmica Saramenha enquanto patrimônio cultural do município foi solicitado pelo artista lafaietense, Rosemir Hermenegídio, único mestre-artesão, ainda em 2020. 

Acatado o pedido, a aprovação dos trabalhos de elaboração do registro se deu para o biênio 2021/2022, iniciando-se efetivamente a partir de maio do presente ano. As etapas de coleta de dados e a subsequente elaboração do dossiê ocorreram entre os meses de maio e setembro de 2022.

Na metodologia, foram realizadas pesquisas bibliográficas, pesquisas documentais no acervo da Secretaria de Cultura do Município e no acervo do detentor e recriador desse saber. Foi também utilizada a metodologia de história oral, em entrevista com o detentor e outros sujeitos sociais cujas relações diretas ou indiretas permitiram uma identificação com o bem cultural em questão. Importante destacar que, no aspecto metodológico, foi também realizada pesquisa de campo orientada pela perspectiva etnográfica.

O detentor foi o protagonista na demonstração de cada etapa do processo de produção da cerâmica Saramenha, desde a informação sobre a forma de obtenção do barro, à apresentação de seu ateliê, seus instrumentos, seu acervo documental e de peças, até a etapa de queima da peça de cerâmica e seu encaminhamento posterior – exposições artísticas ou comercialização. Por fim, a pesquisa que direcionou a estruturação deste dossiê permitiu a elaboração de diretrizes voltadas para a salvaguarda e promoção desse bem cultural, uma vez estando o “Modo artesanal de fazer a Cerâmica Saramenha” inscrito no respectivo Livro dos Saberes.

Essas diretrizes foram elaboradas tendo por base os eixos “transmissão da tradição e valorização”, “gestão participativa e sustentabilidade”, “apoio e fomento” e “promoção e difusão”.

O modo de fazer

O modo artesanal de fazer a Cerâmica Saramenha é encontrado no município de Conselheiro Lafaiete, região central de Minas Gerais. Os saberes envolvidos em cada etapa do processo de feitura desse tipo de cerâmica possuem importância cultural local e regional, razão pela qual é contemplado com seu registro, com a finalidade de obtenção de seu reconhecimento enquanto patrimônio cultural imaterial.

O trabalho com o barro enquanto forma de expressar modos de vida, crenças, lugares, entre outras referências culturais, é também encontrado em Minas Gerais.

O discípulo

Rosemir mantém sua oficina e ateliê no Bairro Rochedo em Lafaiete (MG), onde fabrica, expõe e comercializa suas obras de artes. A tradição e gosto pela antiguidade foram herdadas de seu pai que é possuiu um antiquário, na Vila Resende, em Lafaiete, expondo em uma feira especializada em Belo Horizonte, como também de seu irmão, restaurador de móveis antigos.

Desde cedo, aos 22 anos, ele tomou gosto pela arte, mas foi através de Silvestre Guardiano Salgueiro, mais conhecido como Mestre Bitinho, que ele iniciou o aprendizado das técnicas e produção da Cêramica Saramenha.

Durante os anos de 1985 e 1986, o pai de Rosemir investiu no filho quando este se dirigia a diariamente a Ouro Branco para aprender diretamente com o Mestre. Ele foi um o primeiro discípulo mais atuantes de Bitinho. “Ele não gostava de ensinar as técnicas da produção, mas com muita insistência quebramos esta barreira e pude estudar com ele”, contou Rosemir. Bitinho morreu em 1998. Neste período, o artista lafaietense mantinha seu ateliê, mas trabalhava em empreiteiras para se manter quando no ano de 1995 ingressou na carreira militar em 2019 se aposentou como 2º Sargento.

É de produtos da natureza, como a argila, e metais como cobre, minério de ferro, sílica e a terra tabatinga e pedra moída que ele faz sua arte. “É uma alquimia”, sintetizou Rosemir. Após a preparação da argila, ele confecciona a peça no torno de ceramica e leva ao forno por duas vezes para cozinhar e esmaltar quando nascem suas peças em diferentes estilos, cores e uma acabamento final que ilustra sua criatividade. Ele usa o torno elétrico que ele mesmo desenvolveu e criou para a fabricação da Cerâmica. Rosemir produz suas próprias ferramentas.

O processo de produção inclui elementos e práticas antigas como pilão, forno a lenha, dentre outras. Em Cristiano Otoni, ele mantém um forno de lenha para fabricação final de suas peças

Em 2018, Rosemir conseguiu, em uma exposição no Palácio das Artes, seu título de mestre na Cerâmica Saramenha, que guarda com orgulho, satisfação e mérito próprio sua dedicação em manter viva esta cultura e tradição.

A tradição

A Cerâmica Saramenha, oriunda de Portugal, em Alentejo, foi introduzida no Brasil pelo Padre Viegas de Menezes, no final do século XVII, quando ele descobriu o Barro na região de Ouro Preto. O nome veio da 1ª fábrica de louças implantada no país, situada na fazenda do Barão de Saramenha, em subúrbio de Vila Rica hoje atual Ouro Preto.

A fábrica abasteceu de louças inúmeras cidades ao longo da Estrada Real e as peças eram adquiridas pela camada mais pobre da população.
A produção das peças, usadas como utensílios domésticos, se espalhou por diversas cidades da região como Barbacena, Ouro Branco, Congonhas, Caeté, Diamantina. Ao longo dos anos, a fabricação dos artefatos foi proibida pela Coroa Portuguesa, pelo não pagamento de tributos. Foram os oleiros que mantiveram a produção clandestina não deixando a tradição ser extinta.

Feiras e artes

Nos últimos anos, Rosemir participou de diversas mostras e férias em Minas e em outros estados difundindo a arte Ceramista. Além disso, em muitos dessas mostras, uma das características predominantes foi a de “oficina viva”, ou seja, Rosemir não apenas expôs a cerâmica como objeto de arte e apreciação, mas realizou demonstrações durante os eventos, tornando possível a percepção dos saberes e técnicas que um objeto de arte agrega, permitindo a ampla identificação entre artista e objeto, humanizando-o.

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