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DESEMPREGO. FECHAMENTO DA USINA DA GERDAU ASSUSTA CIDADE: Prefeito faz desabafo, critica empresa e calcula mais 1 mil pessoas atingidas com paralisação de siderúrgica; “foi equivocado”, diz

Com uma tradição quase centenária na indústria siderúrgica, a cidade de Barão de Cocais, na região central de Minas Gerais, está bem próxima de uma ruptura com a sua história. Na última segunda-feira (27), a empresa Gerdau comunicou — de maneira repentina e sem “aviso prévio” — a paralisação da sua usina no município, o que deve resultar na demissão em massa de 487 colaboradores diretos — e outras centenas de trabalhadores indiretos, cujas atividades estavam, de alguma forma, ligadas às operações da companhia.

Assim como toda a cidade, o prefeito de Barão de Cocais, Décio Geraldo dos Santos (PSB), foi informado sobre a decisão da Gerdau apenas na segunda-feira — e, naquela mesma data, em um vídeo nas redes sociais, classificou o comportamento da empresa como “traição”.

Passados dois dias do baque inicial, o chefe do Executivo cocaiense conversou com a reportagem do portal DeFato e falou sobre os custos econômicos da paralisação da usina siderúrgica e, principalmente, do impacto social que a medida causará no município. Além de traçar estratégias para lidar com a situação. Confira a seguir!

DeFato: Décio, para entender essa questão envolvendo Barão de Cocais, em que todo mundo foi surpreendido com esse anúncio da paralisação da usina siderúrgica, a Gerdau, em datas anteriores, não chegou a conversar com a prefeitura sobre essa “hibernação”?

Décio dos Santos: Não. Ela hora nenhuma nos procurou para falar da estratégia dela, do que ela está pensando, do mercado… Enfim, o motivo pelo qual ela tomou essa atitude. Hora nenhuma! Eles só chegaram aqui no meu gabinete [na segunda-feira] e anunciaram que a Gerdau iria hibernar a empresa. Só isso.

DeFato: Como você vê a condução da Gerdau nesse processo? Já que a gente está falando de uma situação que envolve os trabalhadores, suas famílias e a comunidade de Barão de Cocais como um todo.

Décio dos Santos: Pra ser sincero, eu achei que a empresa fez isso de uma forma muito equivocada. Se você tem ideia, Barão de Cocais tem essa tradição de siderurgia. No ano que vem, em 2025, vai fazer 100 anos que nós temos uma siderurgia dentro do município.

Eu falo que aquela siderurgia faz parte até da nossa paisagem, faz parte da nossa cultura, é o coração da nossa cidade. Então eu acho que a condução foi muito errônea. Não dá pra deixar todo mundo despreparado, sobretudo os funcionários dela, que são funcionários extremamente qualificados, são pessoas que dão sangue pela empresa — sempre fizeram isso, sempre tiveram orgulho de falar que trabalham na Gerdau, que trabalham na siderurgia.

Então faltou muita transparência, não só com a gente, com o município, mas com o sindicato [dos Metalúrgicos de Barão de Cocais] e também com os funcionários dela. As pessoas precisam se preparar pra receber uma notícia dessas, as pessoas precisam se preparar pra ter um desligamento. Então, assim, nós achamos que a condução foi feita de maneira muito equivocada por parte da empresa.

DeFato: Foi uma falta de transparência dentro desse processo? Diálogo zero tanto com a prefeitura quanto com a comunidade?

Décio dos Santos: Honestamente, isso aqui é um desabafo. Eu, como prefeito, estou mais preocupado com o cidadão, estou mais preocupado com o funcionário, com o pai de família que trabalha na Gerdau, com a mãe de família que trabalha lá, com as empresas terceirizadas, que são várias que atendem lá, estou preocupado com o comerciante. Muito mais preocupado com essas pessoas do que propriamente com o município, com a arrecadação do município.

Nós trabalhamos muito, desde 2017, para conseguir licenciamentos ambientais [para mineradoras], para desenvolver a cidade. Então, tem impacto financeiro para o município, mas a gente consegue absorver esse impacto porque nós conseguimos desenvolver bastante o município. Temos várias mineradoras trabalhando aqui.

Então, a minha preocupação não é nem tanto com o município e sim com as pessoas que trabalham na Gerdau, com o pai de família e com a cidade. A minha preocupação, hoje, é mais com o lado social do que com tudo.

DeFato: São de 487 pessoas que devem ser demitidos nesse processo. Como a prefeitura pretende apoiar esses trabalhadores?

Décio dos Santos: Bom, primeiramente, a gente vai tentar reverter isso. Nós não podemos aceitar isso de forma passiva. Tá marcada uma reunião com o diretor da Gerdau na terça-feira, a gente quer entender e participar do processo. Achamos que temos que tentar reverter essas demissões.

Acreditamos que a empresa tem saúde financeira e tem que continuar tocando esse projeto de Barão de Cocais. Ela fez um grande investimento [na usina] no ano passado. Sabemos que o problema é muito maior, não é só aqui. A política federal precisa apoiar os produtores de aço, de gusa, sabemos disso — e estamos marcando reunião com o Senado, com o [Rodrigo] Pacheco [PSD-MG], estamos marcando reuniões com deputados federais para tentarmos também fazer com que o governo federal fortaleça a siderurgia nacional.

Sabemos que tem um problema: a China consegue entrar com aço no País com um preço mais barato do que a gente produz aqui, mesmo com o minério na nossa mão. Então a gente tem uma política a nível nacional que precisa mudar, mas a gente quer entender isso junto com a Gerdau. Queremos pedir, implorar a ela que não pare a atividade no nosso município.

Ela fechou uma unidade em Sete Lagoas, fechou uma unidade no Ceará. Mas o impacto de fechar uma unidade em Sete Lagoas, por exemplo, pode ser muito menor que o daqui. Então eu quero sensibilizar a empresa para repensar isso, para continuar a atividade aqui. Esse é nosso plano A.

Eu quero tentar reverter isso de todas as formas. Vou lutar muito pra isso, mas se não for possível, temos que pensar na siderurgia, manter ela aqui e fazer parcerias com outras siderúrgicas. Já me procuraram, já pedi pra olharem siderúrgicas que estão interessadas e estamos fazendo contato, tentando reuniões. Não queremos que a siderurgia morra aqui dentro da cidade. Esse é o nosso plano B.

Mas se tudo isso não for possível, estamos fazendo peregrinações nas empresas que estão aqui, como as mineradoras, para tentar absorver essa mão de obra da Gerdau, que é muito qualificada, muito capacitada. Esse é o nosso plano C.

Mas o nosso plano A é, realmente, continuar com a atividade [da Gerdau] aqui dentro do município.

DeFato: Ontem vocês fizeram uma reunião com o sindicato, trabalhadores e a comunidade. O que que vocês tiraram desse encontro?

Décio dos Santos: Ontem foi uma reunião em que eu convoquei todos os representantes de classe do município, empresários, mineradores, presidentes de associações comerciais, lideranças religiosas da cidade, funcionários e o sindicato. Foi um momento em que eu me senti na obrigação de formar uma unidade, nós temos que dar as mãos, que juntar forças para enfrentarmos tudo isso.

Saímos da reunião com algumas demandas e diretrizes importantes. Já estamos marcando uma reunião com a diretoria da Gerdau; e estamos conversando com empresas que estão aqui dentro do município para tentar absorver essa mão de obra.

Então foi um momento de unidade, pois temos que coordenar as ações. Foi bom que a gente trouxe o sindicato, que tenho certeza que vai ter uma força muito grande com a empresa, até mesmo para resguardar os direitos dos trabalhadores. Foi um momento de demonstrar que não tem mais política, não tem lado A ou lado B, não pode ter divergências de forma alguma.

Agora é pensar no funcionário da Gerdau, pensar no pai de família, pensar no comerciante, pensar no prestador de serviços, que são vários aqui. Inclusive o sindicato está liderando um movimento — e a gente está apoiando — na sexta-feira (31), às 8 horas da manhã, quando vai ter uma caminhada em que vamos sair do Santuário São João Batista e vamos até a porta da Gerdau. Isso pra gente mostrar força, a população toda junta com o mesmo objetivo.

DeFato: Você falou da questão do impacto social que envolve essa paralisação da Gerdau, mas eu também queria que você falasse um pouco sobre o impacto financeiro em Barão de Cocais. Vocês têm uma projeção de como isso vai influenciar a arrecadação do município, a circulação de recursos na cidade?

Décio dos Santos: Para o município, e eu queria até que você destacasse isso, a gente vai ter uma perda de arrecadação, deve girar em torno de uns R$ 4 milhões [por ano], mas, hoje, o município consegue absorver isso. É óbvio que esse impacto é para o município, mas o impacto é muito maior para os prestadores de serviço. Tem várias vários prestadores de serviço, vários colaboradores que vão ter um impacto muito grande, pois eles trabalhavam quase que exclusivamente para a Gerdau.

Então o impacto financeiro para a cidade é muito maior do que isso [R$ 4 milhões]. Hoje estou me preocupado não com o município, mas com esses prestadores de serviço, com o comércio local, com o pai e mãe de família que trabalham lá diretamente para a empresa e os que trabalham também de forma indireta.

DeFato: Tem a perda da arrecadação, mas tem um impacto indireto no município porque além desses 487 trabalhadores que estão perdendo o seu posto de trabalho na Gerdau, tem aqueles que também podem perder o seu emprego nas terceirizadas e prestadoras de serviço e em outros segmentos em Barão de Cocais?

Décio dos Santos: Essa cadeia aí, se a gente for olhar o comércio local, a diarista e outros setores, certamente deve passar de mil pessoas [impactadas pela paralisação da Gerdau]. Diretamente são os 487 que ela anunciou, mas, indiretamente, a gente passa de mil pessoas, com certeza.

DeFato: Décio, tem mais alguma coisa que você acha importante destacar?

Décio dos Santos: Eu não vou me acovardar de forma alguma. Nós enfrentamos diversas crises, essa aqui também é uma grande crise, e a gente vai enfrentar de cabeça erguida, vamos olhar no olho do funcionário, vamos olhar no olho dos diretores da empresa e vamos tentar reverter isso, que é o meu plano A.

Se de tudo isso não for possível, a gente vai tentar os outros planos que temos, mas a minha principal preocupação, hoje, é com os funcionários da Gerdau, com o comércio local — e se Deus quiser conseguiremos reverter isso.

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