O frio da manhã de sexta-feira se fez pálido; a manhã não nasceu, aconteceu desbotada… Mal a cidade se preparava para se despedir da manhã, Geraldo Lafayette adentrou às sombras do mistério da não existência; saiu de cena, de uma cena muda. Está fora de cena, fora do ar; saiu em respeitoso silêncio, calado… Cumpriu o seu dever: e como CUMPRIU! É assim mesmo tenho de escrever, em CAIXA ALTA, em MAIÚSCULAS que gritam de dor contra a violência da cerimônia do adeus.
São tempos sombrios: ora e outra o azul do dia se faz noite e o nome de alguém fica estacionado no ar. Hoje foi o nome do mais dinâmico secretário de cultura de Lafaiete que parou no ar, no nada das nuvens, e ecoa… Olhamos para o alto na tentativa de ver além, mas o além é um infinito de anos-luz intocável. E com uma raiva comedida tentamos arranhar o ar num pedido de explicação. Quem buscou Geraldo? Para onde? Por que desde os tempos do início das células, desde a época do fogo das cavernas estamos entregues à essa indagação?
Para Lafayette não havia hora certa para acariciar a cultura: saia de sua casa, da Casa de Teatro, da Secretaria de Cultura de mangas arregaçadas para pôr a mão na massa, essa massa que é o serviço, massa que é o povo. Como tinha energia para se integrar ao povo e ser povo. Não era homem para gabinetes, para poltronas macias. Era gente que tinha na pele a humildade e a força incomum de se manter firme às suas raízes. Carregava um cenário, varria um palco com a mesma elegância de quem, com uma caneta de ouro, assina um documento oficial. Por isso raro, elétrico, parceiro, dinâmico… humano sujeito, sujeito às chuvas e às tempestades.
Geraldo sumia e reaparecia nos locais, buscava forças ocultas em suas mãos de mestre e distribuía belezas e serviço, e se punha a trabalhar dispensando ternos, gravatas, sapatos de grife… O universo da futilidade nunca esteve nos seus planos. Era ele, o menino do bairro São João que galgou seu trono sem falsos adornos. Era Geraldo, era Lafayette.
Vai ele, fica o FACE, herança luminosa sempre acesa. Vai na sua profundeza calada que nunca decifraremos com a devida claridade.
- Por escritor e professor Paulo Antunes