16 de julho de 2024 03:13

As majestosas grutas de Minas – um passeio subterrâneo

As grutas de Minas Gerais são um convite para explorar a natureza e a história. Essas incríveis formações naturais guardam segredos sobre a evolução humana, e abrigam demonstrações de religiosidade

Percorrer as grutas de Minas Gerais é bem mais do que uma simples visita a formações rochosas; a experiência proporciona uma imersão na história da terra e em achados científicos que ajudam a explicar a história da evolução humana.

Do Circuito das Grutas às cavernas menos conhecidas, cada visita revela um pedaço do passado e destaca a importância da preservação desse patrimônio natural.

Diferenciando cavernas e grutas

Embora ambas sejam cavidades subterrâneas formadas espontaneamente pela ação da natureza, a diferença é que a caverna tem apenas uma entrada. Usualmente, as grutas têm mais de uma possibilidade de acesso – mesmo que não seja possível atravessá-lo.

De acordo com dados da Associação Mineira de Defesa do Ambiente (AMDA), Minas Gerais tem mais de 10.000 cavernas mapeadas. O estado é também o campeão em concentração de cavidades naturais, com mais de 46% das cavernas do Brasil sendo encontradas em Minas.

Não é de se surpreender, já que o bioma com maior número de cavernas no Brasil é o Cerrado, e é justamente esse o bioma predominante em Minas.

Minas Gerais, lar do pai da paleontologia brasileira

É quase impossível desassociar o nome de Peter Lund, naturalista dinamarquês, ao assunto de grutas e cavernas em Minas Gerais. O pai da paleontologia brasileiro veio da Dinamarca, mas se instalou no estado por muitos anos e faleceu aqui.

Tudo começou quando Lund buscou abrigo no Brasil para fugir do risco de tuberculose, que seria potencializado pelo clima nórdico do seu país. Ele morou em Lagoa Santa em 1835 e, ao explorar as cavernas da região, descobriu milhares de peças que ajudaram a compreender e escrever sobre a história do período pleistoceno brasileiro.

Achados de Peter Lund

Foi também ele quem descobriu as ossadas do chamado Homem de Lagoa Santa. Esse achado ajudou a reconstruir o passado de um período importante da pré-história humana: além de indicar a presença humana em Lagoa Santa há mais de 10 mil anos, pesquisadores acreditam que esses humanos foram contemporâneos dos animais da megafauna.

Os estudos de Lund se estenderam também à arqueologia (estudo das culturas e sociedades humanas do passado) e à espeleologia (estudo das cavernas). Nas suas explorações, também descobriu fósseis de diversos mamíferos – como cavalos, tigre-dentes-de-sabre e o cachorro das cavernas.

Entre suas descobertas, também se destacam os mamíferos da chamada megafauna: gliptodontes (tatus de cerca de um metro de altura), as macrauquênias (herbívoros semelhantes a lhamas com trombas), e preguiças gigantes que alcançavam seis metros de altura.

Atualmente, a Rota Lund contempla locais por onde o pesquisador passou durante suas pesquisas, e inclui as cidades de Belo Horizonte, Cordisburgo, Lagoa Santa, Pedro Leopoldo e Sete Lagoas. A rota é oferecida pelo Circuito das Grutas.

As grutas mais conhecidas do estado: Rota Lund e Circuito das Grutas

A rota destaca grutas, cavernas e sítios arqueológicos explorados por Lund e sua equipe, que carregam grande importância para a ciência e a história natural. A Rota Lund também ajuda a promover o ecoturismo e a valorização do patrimônio cultural e ambiental da região.

As três grutas que integram a Rota Lund são Lapinha, Rei do Mato, e Maquiné.

Gruta da Lapinha

É a gruta da Rota Lund mais próxima de BH. Está localizada no Parque do Sumidouro, em Lagoa Santa (50km da capital).

É considerada uma das sete maravilhas da Estrada Real.

Além das obras de arte criadas pelo tempo e a consistência da natureza, a Gruta da Lapinha é famosa por trazer provas de que Minas já teve mar – devido às formações da rocha calcária.

A extensão total da gruta é de 510 m, dos quais 300 são abertos à visitação do público.

A Gruta da Lapinha é formada por 12 salões que criam caminhos e labirintos, e recebem milhares de visitantes por ano. Entre eles, um está não totalmente finalizado: trata-se de um salão com gotejamento de água permanente, que não cessa nem durante o período sem chuvas. O gotejamento faz com que essa seção da gruta da Lapinha esteja em constante formação.

Gruta do Rei do Mato

Está em Sete Lagoas, pouco mais de 60 km de distância de Belo Horizonte.

Trata-se de uma das cavernas mais visitadas do Brasil, já que abriga formações raras de estalagmite e estalactite, e vestígios arqueológicos.

Algumas atrações da Gruta do Rei do Mato são especialmente chamativas e atraem a atenção de pessoas apaixonadas pelo que a força da natureza é capaz de criar.

Uma delas são as chamadas Torres Gêmeas: duas colunas posicionadas de forma paralela, com as mesmas dimensões (12m de altura e 25cm de diâmetro), criadas de forma totalmente natural. No mesmo salão onde estão as Torres Gêmeas está uma uma estalactite gigante, que pega 1 tonelada.

Fora da Gruta do Rei do Mato, mas ainda dentro do seu complexo, está a Grutinha. Lá, os destaques são pinturas rupestres e um esqueleto preservado de um animal – que mostra que a gruta foi usada, no passado, como um local de caça ou moradia.

O bioma predominante é do cerrado, mas a vegetação do entorno também conta com vestígios de Mata Atlântica. Por isso, existem várias espécies que compõem a flora do local, como ipê amarelo, bromélia do cerrado, gonçaleiro, pindaíba-vermelha, peroba-rosa, macaúba e coco-de-quaresma.

Gruta do Maquiné

Está no município de Cordisburgo, terra natal de Guimarães Rosa, a cerca de 120km de BH. Guarda algumas das formações naturais mais belas, e é uma das grutas mais populares entre visitantes.

Foi descoberta em 1825 pelo fazendeiro Joaquim Maria Maquiné. Passou a ser estudada em 1834 por Peter Lund. Nos dois anos de exploração que se seguiram, foram descobertos esqueletos de aves fossilizadas com curvaturas de até três metros.

Por esse tipo de achado, o local é considerado o berço da paleontologia brasileira. Na parte interna, estão sete salões com formas arquitetônicas. As esculturas naturais estão espalhadas pelos 650m da caverna, enfeitando o teto. A iluminação interna ajuda a destacar as diferentes formas das estalactites.

Os salões são divididos em temas, sendo eles: Salão do Vestíbulo, o Salão das Colunas, do Trono, do Carneiro, dos Lagos, das Fadas e do Dr. Lund.

Outras grutas por Minas Gerais

Conheça outras cavernas que, além de belezas, guardam lendas e demonstrações de devoção religiosa.

Gruta de São Thomé

Uma gruta repleta de lendas e histórias fantásticas a respeito da sua origem.

As teorias contemplam elementos como a aparição de seres extraterrestres, um local de refúgio de um homem escravizado, e um portal para Machu Picchu (no Peru).

O fato é que existem pinturas rupestres na Gruta de São Thomé. Além disso, é considerado um local que proporciona grande despertar espiritual, e é uma das atrações turísticas mais famosas da cidade.

Gruta do Salitre

O sítio arqueológico está perto da cidade de Diamantina – 9km de distância de lá, e a 1km do distrito de Curralinho.

Além de receber visitantes interessados em ver de perto as belezas da gruta esculpida em rochas quartzíticas, também é um local visitado para estudo técnico e também alunos em idade escolar.

Outro diferencial é o uso do local para realização de concertos, já que a acústica é considerada perfeita para apresentações musicais.

A Gruta do Salitre está em propriedade particular, mas visitas podem ser agendadas.

Gruta do Funil

Localizada na Serra do Funil, a cerca de 18km do município de Rio Preto. O ponto mais alto da caverna chega a ter 1.000 m de altitude.

Além da beleza natural que cerca a gruta, uma curiosidade espera os visitantes: no interior da Gruta do Funil foi construída uma capela católica, onde está a imagem de Nossa Senhora da Boa Morte.

No espaço interno da gruta, existem 8 salões que podem ser visitados, mas exigem o uso de lanterna.

O local também é conhecido como igreja da gruta por alguns locais.

Grutas de Nossa Senhora de Lourdes

Embora o nome faça referência à aparição original, que aconteceu na cidade francesa de Lourdes, a devoção à Nossa Senhora de Lourdes se espalha por diferentes diferentes grutas com o mesmo nome pelo estado.

Uma das mais representativas está no Santuário do Caraça, onde está entronizada uma imagem de Nossa Senhora de Lourdes, considerada a padroeira dos enfermos.

Assim como acontece na capela do Santuário do Caraça, ter a imagem da santa no interior de cavernas e grutas é significativo porque retoma às origens das primeiras aparições de Nossa Senhora de Lourdes.

Em uma das 17 aparições feitas a uma jovem de 17 anos, Nossa Senhora pediu que a menina cavasse no chão da gruta de Massabielle. De lá, brotou uma fonte de águas tidas como milagrosas. Atualmente, este mesmo local é onde está o Santuário de Lourdes.

Outros locais com grutas nomeadas em homenagem à Nossa Senhora de Lourdes: Itaúna; Oliveira; Pará de Minas; Piranguçu e São Francisco do Glória.

FONTE ITATIAIA

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