16 de julho de 2024 03:47

Produção de cachaça é dominada por agricultores familiares em MG

Levantamento revelou que 87% dos alambiques de cachaça mineiros são de pequeno porte

Minas Gerais é o Estado que mais produz cachaça de alambique no Brasil, com 13,5 milhões de litros por ano. E esse processo tradicional de fabricação é dominado por agricultores familiares do Estado, é o que mostra um diagnóstico do setor, realizado pela Secretaria de Agricultura, Pecuária e Abastecimento de Minas Gerais.

O levantamento revelou que 87% dos alambiques de cachaça mineiros são de pequeno porte, com uma produção de até 800 litros da bebida por dia. E 45% dos alambiques têm menos de 5 hectares cultivados com cana-de-açúcar.

“A maior parte da produção da cachaça do Estado, como acontece na produção do queijo, está nas pequenas propriedades, com nossos micro e pequenos produtores”, afirmou o vice-governador de Minas Gerais, Mateus Simões (Novo), à Globo Rural. Ele observou que o diagnóstico foi feito para conhecer melhor a cadeia produtiva e definir políticas públicas para estimular o desenvolvimento do setor.

O estudo analisou as respostas de 106 estabelecimentos de cachaça de alambique registrados no Ministério da Agricultura e Pecuária. De acordo com o Estudo, Minas Gerais é o Estado com mais cachaçarias legalizadas no país, com 504 estabelecimentos registrados, o que equivale a 41,4% das cachaçarias do país.

No ano passado, foram abertos em Minas Gerais 36 novos estabelecimentos, aumento de 7,7% em relação a 2022. O município com maior número de alambiques é Salinas, com 24 unidades. Em seguida está Alto do Rio Doce, com 20 alambiques, e Rio Espera, com 16. No Brasil, o número de cachaçarias avançou 7,8%, para 1.217 estabelecimentos, de acordo com o Anuário da Cachaça 2024, divulgado pelo Ministério da Agricultura e Pecuária na semana passada.

Para o vice-governador, o diagnóstico indicou a importância do Estado continuar investindo no fortalecimento da assistência técnica, capacitação e certificação dos pequenos produtores. “Precisamos de uma atuação firme e presente da Emater, da Epamig, do IMA, ao lado da nossa Secretaria, para que o setor da cachaça seja o nosso novo setor da cerveja artesanal, seja agora um foco para a gente continuar expandindo a capacidade de geração de renda da pequena propriedade em Minas Gerais”, afirmou.

Simões acrescentou que há ainda muita informalidade na produção de cachaça de alambique e ele associa esse cenário à dificuldade de acesso dos produtores aos meios de formalização da atividade. “O pequeno produtor só é informal porque ele não tem acesso aos meios de formalização, como era no café, como era no queijo, no leite. Quando [o pequeno produtor] se formaliza, ele tem um aumento considerável do valor de venda do seu produto, porque ele já tem qualidade, o que falta é a certificação”, afirmou o vice-governador.

Rosilene Campolina, curadora da Feira Minas + Doce — Foto: Carla Costa Fotografia
Rosilene Campolina, curadora da Feira Minas + Doce — Foto: Carla Costa Fotografia

Expocachaça

O diagnóstico do setor da cachaça em Minas Gerais será divulgado pelo governo mineiro nesta quinta-feira (4/7), durante a Expocachaça 2024, que será realizado no Centerminas Expo, em Belo Horizonte, entre os dias 4 e 7 de julho. Em sua 33ª edição, o evento tem por objetivo proporcionar acesso ao mercado para pequenos produtores de cachaça e produtores artesanais de vinhos, cervejas, doces e azeites. Ao todo, 250 expositores participam da exposição, levando em torno de 2 mil produtos.

Pela segunda vez, a Expocachaça vai abarcar a Feira Minas + Doce, que terá a participação de produtores de doces mineiros artesanais, com destaque para os doces feitos em tachos de cobre, aulas shows com chefs renomados, e apresentação de 48 produtores de vinhos.

“Tudo foi construído para unir a tradição à inovação, mostrar a doçaria do aspecto tradicional e também o quanto ela avançou e inovou. E não pode faltar o tacho de cobre que é nosso símbolo”, afirmou Rosilene Campolina, chef, professora e curadora da Feira Minas + Doce.

Elcileny Caldas, produtora rural e representante da Associação de Vinícolas Mineiras — Foto: Divulgação
Elcileny Caldas, produtora rural e representante da Associação de Vinícolas Mineiras — Foto: Divulgação

Vinícolas mineiras

E pela primeira vez, a Expocachaça vai receber 20 vinícolas mineiras. “Ficamos felizes com o convite para participar da exposição, estamos animados e ansiosos por esse evento”, afirmou Elcileny Caldas, produtora rural e representante da Associação de Vinícolas Mineiras.

Em Minas Gerais, são 122 vinícolas. Caldas disse que, há três anos o número não chegava a 20. A explosão no número de vinícolas no Estado deve-se principalmente à técnica de dupla poda desenvolvida pela Epamig, que permite trocar o ciclo da videira, para que a colheita seja em julho.

“Para nós traz muita satisfação permitir que esses pequenos produtores possam ter acesso a novos pontos de venda, porque o evento atrai muitos supermercados, empórios e outros estabelecimentos”, afirmou José Lúcio Mendes, presidente da Expocachaça. Ele estima que a edição do evento deve atrair em torno de 20 mil visitantes e gerar negócios da ordem de R$ 30 milhões.

Além da exposição de cachaças, fabricantes de equipamentos para destilarias também apresentam as últimas novidades do setor. Mendes disse que a instalação de uma destilaria completa pode custar de R$ 2 milhões a R$ 10 milhões, dependendo do porte e das tecnologias adotadas.

José Lúcio Mendes, presidente da Expocachaça — Foto: Divulgação
José Lúcio Mendes, presidente da Expocachaça — Foto: Divulgação

Cachaça gaúcha

A Expocachaça também contará com a participação de dez produtores de cachaça do Rio Grande do Sul, que se apresentarão em um estande coletivo patrocinado pelo governo gaúcho.

O Rio Grande do Sul tem uma peculiaridade. Os produtores usam técnicas de destilação alemã e de envelhecimento da indústria vinícola italiana, que dão características diferenças à nossa cachaça”, disse Paulo Ramos, presidente da Associação dos Produtores de Cachaça do Rio Grande do Sul (Aprodecana).

Enquanto a cachaça mineira é envelhecida em barris de madeira de jequitibá, no Rio Grande do Sul, usa-se a madeira da grapia, que causa um amargor maior à bebida e cor mais acentuada, acrescentou Ramos.

Imposto do pecado

O evento é realizado no momento em que os produtores demonstram preocupação com a reforma tributária, mais especificamente com a regulamentação do imposto seletivo, também conhecido como ‘imposto do pecado’, que impõe uma carga tributária maior para produtos considerados supérfluos, incluindo bebidas alcoólicas, cigarros, bebidas açucaradas, entre outros. “Enquanto a gente tiver carga pesada de impostos, o crescimento nunca vai ser exponencial. E quanto mais aumenta a carga tributária, mais produtores vão para a informalidade”, disse o vice-governador.

Simões acrescentou que esse aumento na carga tributária deve ser avaliado com certo cuidado. Isso porque, dos destilados consumidos no Brasil, apenas a cachaça é fabricada majoritariamente no país, com uma produção de 1,3 bilhão de litros por ano, representando 68% do mercado de destilados. Outros segmentos, como uísque e vodca, são compostos em sua maioria por itens importados.

“A gente espera que o governo federal tenha sensibilidade para entender que a gente não pode tratar da mesma forma produtos, ainda que considerados supérfluos, mas que são produzidos essencialmente no Brasil, da mesma forma que a gente trata aqueles que vão ser trazidos do mercado estrangeiro, sob pena de matar o mercado de exportação brasileiro que ainda é nascente”, afirmou Simões.

FONTE GLOBO RURAL

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