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Exames e óculos de graça são oferecidos para crianças em Minas Gerais; entenda

Problemas de vista e audição podem impactar o aprendizado e o desempenho escolar

Descobrir um novo mundo que, sequer, era imaginado. Essa é a realidade vivida por crianças que por anos viram, ouviram e sentiram o universo que as rodeia sem ter a dimensão de que ele era muito mais do que pensavam. Para mudar essa realidade, só faltavam simples — mas às vezes inacessíveis — acessórios: óculos e aparelhos de audição. Em Minas Gerais, o programa Miguilim tem atuado para mudar essa realidade. 

Criada pelo governo do Estado no ano passado, a iniciativa vai até os pequenos alunos nas próprias escolas, onde é feita uma triagem. Depois, os estudantes são levados para atendimento médico e, se necessário, recebem gratuitamente óculos para ‘redescobrir’ a vida. Os investimentos ultrapassam R$ 30 milhões.

Mais do que uma ajuda ‘física’, a ação levanta uma questão importante que, conforme profissionais, muitas vezes ainda é negligenciada na vida das crianças e adolescentes. Problemas de visão e de audição não diagnosticados e tratados podem trazer diversos danos, tanto psicológicos como também no âmbito da educação formal. Sem entender que precisam de auxílio, os pequenos, muitas vezes, são incapazes de acompanhar bem os estudos ou até mesmo de interagir adequadamente com os professores e com os colegas. Em algumas ocasiões, essas crianças não conseguem desenvolver as mesmas atividades que os colegas realizam por que, muitas vezes, não conseguem entender a proposta. Por sempre terem enxergado e ouvido o mundo de uma forma diferenciada, não reconhecem o problema de saúde.

“Os problemas de visão em crianças são uma das principais causas de mau desempenho escolar. Algumas nunca enxergaram bem. Já outras, foram perdendo a visão aos poucos e não percebem isso. Essas crianças podem já não ver sentido nas aulas, porque não atraem a atenção delas”, explica o oftalmologista João Neves, do Centro de Oftalmologia do Hospital Evangélico — um dos hospitais que fazem parte da iniciativa.

Além disso, conforme o médico explica, se alguns problemas de visão não forem tratados ainda na infância, os resultados podem se fazer presentes ao longo da vida da criança. Neves esclarece que os olhos se desenvolvem até os 8 anos de idade. Um estrabismo não tratado, por exemplo, pode terminar com a perda da visão. “É preciso sempre procurar atendimento médico para o tratamento adequado”, diz Neves.

Enxergando bem

“Peguei os óculos preto e cinza”, fala empolgado Heitor Vasconcelos, de 6 anos. Foi através do Programa Miguilim que ele foi pela primeira vez ao oftalmologista. Após ser submetido ao exame no Hospital Evangélico, ele se viu rodeado de opções de armações de óculos para escolher. Testou várias, até achar a preta e cinza, “com as cores do Batman”, como ele gosta de falar. O diagnóstico do menino foi 2,5 graus de hipermetropia.

O exame para crianças precisa de uma atenção toda especial, já que elas não verbalizam as dificuldades para enxergar como os adultos. Porém, com o atendimento certo, elas fazem bonito e percebem que podem ver de uma maneira diferente. “Vou enxergar melhor”, diz Heitor.

A mãe dele, a teledigifonista Gabriela Vasconcelos, de 30 anos, conta que o filho nunca disse que não estava vendo bem. Por isso, ficou satisfeita de ele ter recebido acompanhamento e de a hipermetropia ter sido identificada. 

“Ter essa oportunidade de olhar tudo em um dia só já melhora para os pais que trabalham e não conseguem ir com frequência ao posto de saúde, (não consegue) ficar procurando para agendar, ficar cobrando para agendar mais rápido”, diz ela. Conforme Gabriela, o fato de ganhar os óculos é muito bom. “Não está barato”, aponta.

Investimentos

Conforme o governo de Minas Gerais, 753 municípios aderiram ao programa Miguilim no Módulo Saúde Ocular, em outubro e em novembro de 2023. No mês seguinte, as cidades receberam R$ 21.442.877,94. Ainda em dezembro do ano passado, 68 microrregiões de saúde que pactuaram 78 Serviços de Saúde Auditiva na Infância (SSAI) receberam R$ 7.555.782 para a compra de equipamentos audiológicos. 

“A SES-MG também fez o repasse de custeio complementar, pleiteado pelas microrregionais que já possuíam serviços audiológicos instalados. No total, 15 microrregiões de saúde, que pactuaram o total de 20 Serviços de Saúde Auditiva na Infância (SSAI), receberam um montante de R$ 1.074.597,33”, diz o governo de Minas.

Até meados de julho deste ano, cerca de cinco mil profissionais passaram por capacitação para a execução do programa. As aulas envolvem normativas gerais, estratégias de promoção e prevenção da saúde ocular, procedimentos de triagem, fluxos de atendimento e registro de atividades.

Belo Horizonte

O governo de Minas também informou que em Belo Horizonte foram pactuados seis Serviços de Saúde Auditiva na Infância, resultando em um repasse de  R$ 581.214 para a compra de equipamentos e mobiliários para estruturar os serviços. Já o recurso de custeio, no valor de R$ 474.911,13, foi pago para os beneficiários com serviços de saúde auditiva instalados, com equipamentos audiológicos e profissionais contratados. No que diz respeito ao módulo saúde ocular, até o momento foram destinados R$ 2.460.345,78 para a capital mineira, Belo Vale e Moeda, considerando o período de 13 meses para o módulo.

Mutirão

Além do Programa Miguilim, os alunos de escolas municipais de Belo Horizonte também são assistidos pelo Mutirão Oftalmológico, iniciado em 2023. A iniciativa foi viabilizada por emendas parlamentares impositivas indicadas pela vereadora Marcela Trópia (Novo). Até o momento, foram atendidas mais de 104 mil crianças.

“O Mutirão Oftalmológico tem uma causa muito nobre. Muitos alunos têm dificuldades de aprendizado decorrentes de problemas de visão. Às vezes o problema de visão não é identificado por falta de tempo dos pais, falta de dinheiro para uma consulta particular, falta de orientação da família e falta de vagas em hospitais públicos, onde as filas são enormes. O Mutirão resolve esse problema, atendendo todas as crianças do ensino fundamental da escola pública”, diz Marcela Trópia.

A vereadora espera que o Mutirão Oftalmológico vire uma política pública perene da prefeitura. “Espero que a gente possa tirar de vez o obstáculo da falta de óculos para o aprendizado pleno de crianças. Também defendo que o próximo passo seja atingir o sistema de Educação de Jovens e Adultos, composto por estudantes que já sofrem com a falta de assistência e que buscam correr atrás dos sonhos através da educação”, afirma.

FONTE O TEMPO

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