Renato Lisboa
Neuropsicanalista, Socorrista Mental e Jornalista
O Botafogo de Futebol e Regatas passou por uma transformação notável nos últimos anos, ascendendo de quarta força no Rio de Janeiro a um candidato a títulos nacionais e internacionais. Essa mudança se deve, em grande parte, à venda da SAF e aos investimentos que proporcionaram a aquisição de jogadores talentosos e uma comissão técnica de alto nível. No entanto, a postura do presidente da SAF, John Textor, também exerceu um papel crucial nesse processo.
Textor, um dirigente polêmico e corajoso, confrontou dirigentes e cartolas do futebol brasileiro, mas foi além: investiu na contratação da empresa francesa Good Game! para monitorar as partidas em tempo real e fornecer ao clube “uma visão computadorizada das decisões de arbitragem para cada apito do jogo”. Essa iniciativa, inédita no Brasil, gerou controvérsias e levantou questões sobre a influência que esse monitoramento pode exercer sobre a arbitragem.
A “Pulga Atrás da Orelha” da Arbitragem:
A contratação da Good Game! por parte do Botafogo, em abril de 2024, certamente causou impacto no psicológico dos árbitros. Afinal, saber que suas decisões estão sendo analisadas minuciosamente e podem ser questionadas com base em dados concretos gera uma pressão adicional.
É natural que, em situações de dúvida, o árbitro se questione sobre qual decisão tomar, considerando a possibilidade de ser “flagrado” por essa nova tecnologia. Essa “pulga atrás da orelha” pode influenciar, mesmo que inconscientemente, na tomada de decisão.
Pressão Psicológica x Imparcialidade:
No futebol brasileiro, a pressão sobre a arbitragem por parte de jogadores e comissão técnica é comum. No entanto, a iniciativa do Botafogo adiciona um novo elemento a essa equação: a pressão por meio de dados e análises detalhadas.
Embora os relatórios da Good Game! possam não ter validade legal em processos desportivos, o impacto psicológico sobre os árbitros é inegável. Afinal, o “medo da punição”, mesmo que apenas social ou midiática, pode influenciar o comportamento humano.
Profissionalização da Arbitragem: Uma Necessidade:
Diante desse cenário, a discussão sobre a profissionalização da arbitragem no Brasil se torna ainda mais urgente. A contratação de empresas como a Good Game! por outros clubes pode gerar um equilíbrio na pressão exercida sobre os árbitros, garantindo que a influência emocional venha de ambos os lados em disputa.
A profissionalização, com a implementação de treinamentos mais rigorosos, o uso de tecnologias auxiliares e a criação de mecanismos de acompanhamento e avaliação mais eficientes, é fundamental para garantir a imparcialidade e a qualidade da arbitragem brasileira.
A iniciativa do Botafogo de contratar a Good Game! levanta questões importantes sobre a influência da tecnologia e da pressão psicológica na arbitragem. É preciso que o debate sobre a profissionalização da arbitragem seja retomado com seriedade, buscando soluções que garantam a isenção e a justiça nas decisões dos árbitros.