Tombado pelo Iepha-MG há 50 anos, o patrimônio histórico, em Belo Horizonte, quase foi demolido para dar lugar a uma torre de vidro projetada por Oscar Niemeyer
Primeiro bem protegido pelo Instituto Estadual do Patrimônio Histórico e Artístico de Minas Gerais (Iepha-MG), o Palácio da Liberdade, na Praça da Liberdade, em BH, tem uma passagem tanto curiosa como assustadora. Pois não é que faltou pouco para o prédio de 1897, ex-sede do governo estadual e atual equipamento cultural, sumir do mapa e ser substituído por uma torre de vidro de 80 metros de altura? Quem assinava o projeto era o arquiteto modernista Oscar Niemeyer (1907-2012).
No documento datado de 1966, que acompanhava o projeto, Niemeyer escreveu: “O atual palácio do governo de Minas Gerais apresenta tais deficiências, que nos surpreende não ter sido até hoje substituído. São deficiências de toda ordem, nas áreas úteis, na circulação mal distribuída, nos ambientes inadequados para as funções nele exercidas. Na verdade, esse prédio não constitui um verdadeiro palácio, mas uma casa sem maior importância”.
Exatamente para impedir a construção do “palácio monumento, vertical, lógico e imponente”, conforme as palavras do arquiteto carioca, foi criado o Iepha-MG. Com o instituto nascido na gestão (de 1971 a 1975) do governador Rondon Pacheco (1919-2016), a então sede do governo de Minas conseguiu escapar da queda e virou um herói da resistência. Igualmente curioso é que, mesmo com o projeto arquivado, Niemeyer estaria para sempre ligado à sede do governo de Minas, sendo o responsável pelo projeto da Cidade Administrativa, inaugurada em 4 de março de 2010.
Importante destacar o trecho de uma entrevista concedida ao EM pelo ex-presidente do Iepha, Octávio Elísio Alves Brito (1940-2022): “Havia, na época, um furor modernista. Mas, precavido, o governador, que tinha entre seus consultores o historiador Affonso Ávila (1928-2012), enviou projeto de lei à Assembleia Legislativa, o qual foi aprovado em tempo recorde”. Sem o Iepha, acrescentou Octávio Elísio, a destruição do patrimônio teria sido grande em BH, e não só o Palácio da Liberdade desapareceria da paisagem, como muitas edificações do início da construção da capital.” O tombamento do Palácio da Liberdade ocorreu em 27 de janeiro de 1975.
Restauração
Concebido pelo arquiteto José de Magalhães para ser residência oficial e sede do governo de Minas, o Palácio da Liberdade tem estilo arquitetônico eclético, trazendo ao classicismo romântico francês as influências do neobarroco e do renascentismo italiano. Aberto à visitação desde 2019, o equipamento cultural recebeu no ano passado 373,6 mil visitantes.
Administrado pela Secretaria de Estado de Cultura e Turismo (Secult), com programação a cargo da Fundação Clóvis Salgado, o Palácio da Liberdade recebe atualmente o maior investimento em restauração da sua história: mais de R$ 10 milhões. Fruto de medidas compensatórias, os recursos provêm do Ministério Público de Minas Gerais (MPMG), via Programa Minas para Sempre.
“Um país se faz…
A frase entre aspas, legado de Monteiro Lobato (1882-1948), me veio à cabeça quando vi o retrato do vandalismo. Talvez na calada da noite ou mesmo à luz do sol, “alguém” danificou um livro e quebrou um dedo da estátua de Bernardo Guimarães (1825-1884), na praça recém-inaugurada em Conselheiro Lafaiete. Revoltante é o mínimo que se pode dizer, mas se torna necessária uma reflexão, com base na frase de Lobato: sem educação, não se constrói nada. Na verdade, só se destrói.
…com homens e livros”
A inauguração do monumento de concreto armado em honra ao escritor mineiro Bernardo Guimarães, cercado de livros, deu início, no final do ano passado, às comemorações do seu bicentenário de nascimento. Ainda em 2025 são celebrados os 150 anos de publicação do famoso romance “A escrava Isaura”. Assim, se torna essencial que, nas escolas, a educação patrimonial seja levada a sério, mostrando aos jovens que “um país se faz com homens e livros”. E também com respeito, dignidade e preservação do patrimônio cultural.
FONTE: ESTADO DE MINAS