Moradores de distritos próximos denunciam riscos ambientais e cobram garantias de proteção aos recursos naturais, empresa garante diálogo
Na noite desta quinta-feira (31), moradores, lideranças comunitárias, representantes da sociedade civil e autoridades se reuniram na Escola Municipal Engenheiro Oscar Weinschenck, no bairro Matriz, em Congonhas, para discutir o Projeto de Expansão da Ferro+ Mineração S.A. durante audiência pública organizada Fundação Estadual do Meio Ambiente (FEAM).
O objetivo da reunião foi a apresentação do Estudo de Impacto Ambiental (EIA) e do Relatório de Impacto Ambiental (RIMA), documentos que subsidiam o processo de licenciamento do novo empreendimento minerário. O projeto visa estender as atividades da Ferro+ até o ano de 2052, ampliando sua área de atuação para mais de 170 hectares nos municípios de Congonhas e Ouro Preto, nas proximidades dos distritos de Pires e Mota, região situada a cerca de 75 quilômetros de Belo Horizonte, com acesso pela BR-040. Os terrenos explorados são da própria empresa e arrendados da Vale.
De acordo com os representantes da empresa, a atual lavra tem capacidade de produção até 2027. Com a expansão, a Ferro+ Mineração, pertencente ao Grupo J. Mendes, pretende manter a produção anual de cerca de 4,5 milhões de toneladas de minério de ferro de alta qualidade, abastecendo tanto o mercado interno quanto o externo. A área de expansão contempla terrenos próprios da empresa e áreas arrendadas da mineradora Vale.
Segundo o material técnico (Processo SLA 100/2025), o projeto prevê extração a céu aberto, construção de pilhas de estéril e rejeito, disposição de resíduos em cavas, reaproveitamento de material já depositado e ampliação da Unidade de Tratamento de Minerais. Ainda conforme os responsáveis, estão previstas ações de mitigação e compensação ambiental pelos impactos causados à fauna, flora e às comunidades próximas.
A empresa, que atua há mais de 25 anos na região, garantiu diálogo com a comunidade, reposição de água, transparência e espírito participativo e colaborativo.
Tensão
Apesar do tom técnico da apresentação, a audiência foi marcada por momentos de tensão e protestos. Moradores do distrito de Pires, uma das localidades mais afetadas, compareceram em peso ao evento e expressaram forte preocupação com possíveis danos ambientais, sobretudo relacionados à contaminação de nascentes, à geração de poeira e à proximidade das atividades com áreas residenciais — algumas localizadas a menos de 1,5 km da área do empreendimento.
Com cartazes, palavras de ordem e denúncias, a população cobrou transparência, empatia e respeito. De outra parte, defensores do projeto também reagiram aos protestos defendendo os empregos e a geração de empregos. Houve momentos de gritaria como embate entre os dois lados opostos.









O clima foi de indignação, com manifestações contrárias à ampliação do projeto e críticas aos impactos. “Nosso medo é a assoreamento de nossas minas, inclusive a João Batista”, disse a moradora Marlene Sousa. “A gente precisa de mais empatia e de olhar mais humano para nossa comunidade”, analisou o representante do Movimento Atingidos pelas Barragens.
A Prefeitura de Congonhas se posicionou de forma cautelosa. O Secretário de Gestão Urbana, Paulo Policarpo, afirmou que o projeto passará pela análise de diversos conselhos e destacou a importância da participação popular nas decisões. Já o Secretário de Meio Ambiente, João Lobo, garantiu que a comunidade do Pires será ouvida e que serão exigidos estudos de impacto de vizinhança e hidrogeológicos como condicionantes para o avanço do licenciamento.
A audiência pública não encerra o processo, mas evidencia a necessidade de diálogo permanente entre empresa, poder público e população, além da realização de estudos técnicos rigorosos e atualizados. A continuidade do projeto dependerá do atendimento às exigências legais e da capacidade da mineradora em garantir segurança ambiental e social às comunidades afetadas.