Lafaiete perde a grande chance de transformar a cultura em pólo indutor de desenvolvimento e geração de renda e empregos; Lafaiete tem 60 entidades culturais, 85 eventos por ano e 15 mil pessoas em circulação; entre 2024 a 2025, orçamento do setor caiu maius de R$2 milhões
Na noite de terça-feira, 9 de setembro, a Tribuna da Câmara Municipal de Conselheiro Lafaiete foi palco de um ato raro e carregado de simbolismo. Não foram políticos a tomar a palavra, mas sim a própria voz da cultura local. Reunidos pela Turma do LafayArte, artistas, fazedores de arte e fomentadores culturais se organizaram em torno de um discurso coletivo, lido com firmeza e emoção por Márcia Rocha, da Associação Alforria.
O pronunciamento não foi um desabafo isolado. Foi um grito. Um manifesto. Uma declaração de resistência que deixou claro o quanto o setor cultural está cansado de promessas e da instabilidade na condução das políticas públicas da cidade. “A arte de Lafaiete não aceita mais ser silenciada. Não somos invisíveis. Nós existimos, nós resistimos e exigimos respeito”, disse Márcia Rocha, sob aplausos de quem acompanhava a sessão. Em seguida, reforçou: “Precisamos de uma política de cultura séria, permanente e que seja prioridade.”
texto, lido na tribuna por Marcia Rocha e contextualizado por Osmir Camilo e Paulo Antunes, defende a arte e a cultura como pilares de identidade e desenvolvimento econômico da cidade.
A dor dos artistas de base
A fala de Márcia foi atravessada por exemplos concretos de como a cultura de base sofre em Lafaiete. Ela citou nomes, histórias e dificuldades. Um dos momentos mais fortes foi quando mencionou a situação do artista Paulinho Demolidor, conhecido no meio cultural por seu talento, mas também por enfrentar condições precárias para manter vivo o seu trabalho. “Até quando artistas como Paulinho Demolidor terão que criar sem apoio, sobrevivendo de improviso, sem espaço, sem recurso, sem incentivo? Quantos Paulinhos ainda terão que resistir para provar que a arte é essencial?” questionou. A lembrança emocionou parte do plenário, pois a trajetória de Paulinho simboliza a luta diária de tantos outros que, mesmo diante da falta de estrutura, continuam a produzir, a emocionar e a transformar vidas.

União que faz força
O ato mostrou que a classe artística está organizada e unida. A Turma do LafayArte, a Associação Alforria e outros coletivos culturais provaram que, quando a gestão vacila, a sociedade civil reage. Márcia Rocha ressaltou isso em suas palavras. “A cultura é feita por mãos que muitas vezes não têm recurso algum, mas que transformam dor em beleza, pobreza em arte, invisibilidade em resistência. É hora de reconhecer que sem essa base não há cidade viva.”
Investimento
O Lafayarte argumentou que a cultura não deve ser vista como um custo, mas sim como um investimento para a administração pública. A “economia criativa” foi mencionada como um fator econômico fundamental que garante o sustento de muitos cidadãos, incluindo poetas, músicos e artesãos. Um dos pontos mais críticos do documento foi a perda de aproximadamente dois milhões de reais no orçamento do setor cultural na transição de 2024 para 2025, o que, segundo o grupo, sacrificou o funcionamento já precário do setor.
Segundo dados, Lafaiete tem 60 entidades culturais, 85 eventos por ano e 15 mil pessoas em circulação. Com o olhar mais carinhoso do poder público, a cultura pode ainda mais amplicar sua base agregadora com desdobramentos na cadeia produtira.
Conquistas e Convite à Participação
O movimento listou uma série de conquistas, incluindo a realização do primeiro Encontro Municipal de Cultura Popular em 12 de julho, que reuniu um grande número de formuladores culturais da cidade. O grupo também realizou o primeiro censo e mapeamento cultural de Conselheiro Lafaiete e apoiou o movimento LGBTQIA+ na aprovação de uma pauta igualitária na Câmara.
Olhando para o futuro, o Lafayarte anunciou a realização de um segundo Encontro de Cultura Popular para o final de 2025 e a organização da Primeira Virada Cultural da cidade. O documento encerrou com um apelo direto aos vereadores: que se permitam “acreditar” no trabalho dos fazedores de cultura e que participem do “ciclo renovador de Cultura Popular de Conselheiro Lafaiete”. As reuniões do grupo acontecem todas as segundas-feiras, às 19 horas, no Solar Barão de Suassuí, e a comunidade é convidada a participar
Márcia convidou os lafaietenses a engajarem neste movimento mobilizar e a se juntarem ao grupo, que se reúne às segundas-feiras, às 19h, no Solar Barão de Suassuí.