Pastor e cantor recebeu R$ 60mil, do poder público, pelo show e atacou religiões
No último sábado (13), o evento religioso “Celebrai”, financiado pelos cofres públicos, realizado em Conselheiro Lafaiete, foi palco de uma polêmica que gerou forte reação de comunidades de matriz africana na cidade e dezenas de segmentos de direitos humanos, já repercutindo nacionamente. O pastor Marcos Feliciano, deputado federal e uma das principais atrações do encontro, fez declarações consideradas ofensivas à Umbanda e a entidades cultuadas na religião. O religioso demonizou as religiões.
Em vídeo amplamente divulgado nas redes sociais, Feliciano afirmou: “Não sobrará em Conselheiro Lafaiete, Zé Pelintra, Zé pilantra, Exu Caveira, Tranca Rua, Preto Velho, nenhuma obra de feitiçaria. Não governará mais essa cidade, porque a presença de Deus eterna pode modificar os nossos corações”.
As palavras foram recebidas com indignação pelas comunidades de terreiro da região, que classificaram as falas como um claro caso de intolerância religiosa. Em nota, a Casa Pai Jacó do Congo, tradicional templo de Umbanda no município, repudiou a postura do pastor e destacou que os guias e entidades citados representam símbolos de fé, resistência e cuidado para milhares de brasileiros.
Segundo a manifestação, os ataques de Feliciano não atingem apenas a Umbanda, mas também a memória e a espiritualidade de um povo, além de reforçarem o racismo religioso que ainda persiste no país. “A Umbanda é religião de paz, de acolhimento, de caridade e de amor. Nossa fé não oprime, não invade, não ameaça. Pelo contrário: abre os braços a quem sofre, consola quem chora e fortalece quem luta”, diz o texto.
A comunidade umbandista ainda lamentou que, em pleno século XXI, discursos que buscam criminalizar ou apagar religiões afro-brasileiras continuem a ganhar espaço em eventos públicos. “Enquanto outras tradições religiosas são protegidas pelo manto do respeito, a Umbanda e as religiões de matriz africana seguem sendo alvo da ignorância, do racismo religioso e do preconceito”, completou a nota.
O terreiro reforçou que não aceitará calado novas tentativas de demonização das entidades espirituais, lembrando que a Umbanda resiste há mais de cem anos no Brasil, mesmo diante de perseguições e discriminações históricas. Além disso, pediu providências das autoridades municipais, estaduais e nacionais para coibir atitudes que incentivem a intolerância e a violência religiosa. “Conselheiro Lafaiete deve ser território de diversidade, respeito e convivência pacífica, não espaço de ódio, desinformação e exclusão. Em nome de nossos ancestrais, de nossos guias e de nossa fé, manifestamos nosso mais veemente repúdio às palavras do pastor Marcos Feliciano e reiteramos: a Umbanda é luz, é amor e é resistência”, finalizou a nota.
Nota da Prefeitura
A Prefeitura Municipal de Conselheiro Lafaiete, por meio da Secretaria de Cultura, manifesta-se publicamente acerca das declarações proferidas no evento religioso “Celebrai”, realizado no último sábado, 13 de setembro de 2025, que atingiram de forma desrespeitosa as religiões de matriz africana. Reafirmamos, diante de toda a sociedade, nosso compromisso inegociável com a diversidade, a liberdade religiosa e o respeito a todas as manifestações culturais e espirituais que compõem a identidade de nosso povo.
Conselheiro Lafaiete é uma cidade plural, construída pela força do encontro de diferentes tradições, credos e expressões culturais. Nesse sentido, repudiamos veementemente qualquer forma de intolerância, preconceito ou discriminação — seja religiosa, racial, de gênero ou de qualquer outra natureza.
A fé deve ser espaço de acolhimento, solidariedade e paz, jamais instrumento de exclusão, ataque ou ódio. A cultura e a religião, em suas múltiplas expressões, são patrimônios vivos que merecem ser valorizados, protegidos e respeitados. Reiteramos que Lafaiete é e sempre será território de diálogo, de convivência pacífica e de respeito às diferenças. Somente assim construiremos uma sociedade justa, plural e democrática, em que todos os cidadãos e cidadãs possam viver com dignidade e liberdade.
Até o momento, o pastor Marcos Feliciano não se manifestou sobre as críticas.

