Dezenas de notas de repúdio, abaixo-assinado e questionamentos jurídicos marcam reação; caso ganha repercussão nacional
Conselheiro Lafaiete parou diante das declarações do pastor e ex-deputado federal Marcos Feliciano durante o evento “Celebrai”, realizado no último sábado (13) com recursos públicos da Prefeitura. As falas, gravadas em vídeo e amplamente divulgadas, atacaram diretamente religiões de matriz africana, em afronta à liberdade de crença garantida pela Constituição. As reações se multiplicaram de forma inédita. Foram dezenas de notas de repúdio e lamento, não apenas de povos de terreiro, mas também de outras tradições religiosas, lideranças comunitárias e parlamentares.
A vereadora Damires Rinarlly declarou. “Estou vereadora em Conselheiro Lafaiete e estamos tomando as providências cabíveis diante desse caso. Intolerância religiosa é crime, ainda mais em um evento pago com dinheiro público. Todas as religiões merecem respeito!” O vereador Pedrinho também adotou posição firme contra Feliciano. Já a vereadora Gina Costa lembrou em outras ocasiões que “o debate não é em torno de religião, mas de direitos humanos. Aqui não é espaço para discutir crenças religiosas, mas para defender vidas e dignidade.”
Reações
O Fórum de Religiões de Matrizes Africanas de Conselheiro Lafaiete (FORMA) foi um dos primeiros a se pronunciar, em nota pública. “Repudiamos veementemente as declarações intolerantes de Marco Feliciano. Nossa nota surge em defesa do respeito às tradições religiosas e da convivência plural. Reafirmamos nosso compromisso com a diversidade, o diálogo inter-religioso e a liberdade de crença.” A Casa de Ogum, o Arerê e outras casas reforçaram a indignação, num movimento de união em defesa da diversidade religiosa da cidade.
Abaixo-assinado amplia mobilização
Além das notas, um abaixo-assinado coletivo circula pela internet para consolidar assinaturas contra a intolerância religiosa. O formulário reúne nome, entidade representada, telefone, cidade e e-mail dos participantes e será usado para protocolar a manifestação junto às autoridades.
👉 O abaixo-assinado pode ser acessado pelo link: clique aqui para assinar.
O objetivo é fortalecer juridicamente a cobrança por responsabilização, exigir retratação pública e reivindicar políticas permanentes de valorização da diversidade religiosa. Nas redes sociais, lideranças já falam em milhares de adesões ao documento.
O debate jurídico e os custos do evento
Juristas locais lembram que a Constituição Federal assegura a liberdade de crença como cláusula pétrea, e que atos de intolerância religiosa configuram crime previsto em lei. O fato de o pregador ter sido contratado com recursos públicos levanta dúvidas sobre a responsabilidade da administração municipal.
Embora a Prefeitura tenha divulgado uma nota tentando se eximir de culpa, especialistas avaliam que caberá apuração sobre o uso do dinheiro público e a responsabilização pelos ataques discriminatórios.
E o impacto financeiro do “Celebrai” impressiona: mais de R$ 60 mil foram pagos a Marcos Feliciano; os cantores contratados somaram quase R$ 200 mil. Além disso, houve gastos com campanha publicitária, palco, aparelhagem de som, iluminação e banheiros químicos — valores que aumentam ainda mais a polêmica sobre a destinação de recursos públicos.