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Cometa interestelar 3I/ATLAS acelera a mais de 100 mil km/h rumo a uma perigosa aproximação com Júpiter, cruzando o Sistema Solar após bilhões de anos vagando sozinho desde as regiões mais antigas da galáxia

Visitante interestelar raro atravessa o Sistema Solar em alta velocidade e se aproxima de Júpiter em 2026, oferecendo chance única de observação científica.

O cometa 3I/ATLAS, terceiro objeto interestelar já confirmado, atravessa o Sistema Solar em uma órbita hiperbólica, a algo em torno de 200 mil km/h em relação ao Sol nas proximidades do periélio, e segue agora em direção a uma passagem sensível pela região dominada pela gravidade de Júpiter, prevista para março de 2026.

Modelos numéricos indicam que esse encontro não representa risco para os planetas, mas deve modificar de forma mensurável a trajetória final do objeto, antes que ele seja lançado de volta ao espaço interestelar.

Ao contrário dos cometas comuns, que pertencem à Nuvem de Oort ou ao cinturão de Kuiper, o 3I/ATLAS não está ligado gravitacionalmente ao Sol.

Sua órbita é tão aberta que confirma a origem externa ao Sistema Solar, o que faz dele um raro mensageiro de outros sistemas planetários.

As efemérides atuais mostram que o cometa não se aproximará da Terra a menos de cerca de 1,8 unidade astronômica, algo em torno de 270 milhões de quilômetros, distância quase duas vezes maior que a separação média entre a Terra e o Sol.

Trajetória e velocidade do cometa 3I/ATLAS

O 3I/ATLAS foi descoberto em 1º de julho de 2025 pelo sistema de varredura ATLAS, no Chile, inicialmente como um objeto de trajetória muito excêntrica.

À medida que novas observações foram incorporadas, astrônomos confirmaram que se tratava de um cometa em rota de passagem única, com velocidade de aproximação interestelar da ordem de 58 km/s, a maior entre os três visitantes de fora do Sistema Solar já identificados.

Durante a aproximação ao Sol, o cometa cruzou a órbita de Marte e passou a pouco menos de 0,2 unidade astronômica do planeta em 3 de outubro de 2025, antes de atingir o periélio, em outubro, ligeiramente dentro da órbita marciana.

Em seguida, passou a cerca de 0,65 unidade astronômica de Vênus, sempre longe de qualquer cenário de colisão, mas suficientemente perto para que sondas em Marte e no entorno de Júpiter aproveitassem a oportunidade de observação.

Telescópios como o Hubble, a rede ATLAS e instrumentos em Marte vêm refinando a órbita e monitorando a atividade do cometa conforme ele se afasta do Sol.

Mesmo no melhor momento visto da Terra, o brilho estimado do 3I/ATLAS se mantém em torno da magnitude 11, invisível a olho nu e acessível apenas a telescópios amadores de médio porte ou a instrumentos profissionais.

Isso faz com que boa parte da investigação dependa de observatórios espaciais e de campanhas coordenadas de grandes telescópios em solo.

Origem antiga e percurso pela galáxia

Estudos recentes combinando dinâmica orbital e propriedades da população estelar sugerem que o 3I/ATLAS pode ter se formado em um sistema planetário associado ao disco espesso da Via Láctea, região marcada por estrelas mais antigas e menos ricas em elementos pesados.

Análises independentes estimam que o cometa tenha entre 7 e 14 bilhões de anos, o que o tornaria potencialmente mais antigo que o próprio Sistema Solar.

Ao reconstruir o caminho do objeto no espaço, pesquisadores verificaram que ele entrou na vizinhança solar vindo da direção da constelação de Sagitário e deve sair aproximadamente na direção da constelação de Gêmeos.

Isso implica uma trajetória que corta o disco galáctico em ângulo significativo, coerente com um objeto que passou grande parte da existência orbitando a galáxia em caminhos mais inclinados que os de estrelas como o Sol.

Essa longa jornada provavelmente foi marcada por múltiplas passagens pelo plano galáctico e por encontros distantes com outras estrelas, que alteraram gradualmente a órbita do cometa até que ele cruzasse o caminho do Sistema Solar.

A partir de agora, a combinação da gravidade solar com o campo gravitacional dos planetas, em especial o de Júpiter, definirá o rumo definitivo do 3I/ATLAS rumo ao espaço profundo.

Aproximação com Júpiter em 2026

Entre os encontros planetários previstos, o mais relevante ocorre com Júpiter, em 16 de março de 2026.

Nessa data, o cometa deve passar a cerca de 0,36 unidade astronômica do planeta, algo em torno de 54 milhões de quilômetros, distância suficiente para que o gigante gasoso exerça efeito apreciável sobre a órbita do visitante interestelar.

Cálculos envolvendo a massa de Júpiter, sua distância ao Sol e a extensão da esfera de Hill indicam que o 3I/ATLAS passará muito próximo do limite dessa região de influência gravitacional.

Simulações publicadas por pesquisadores do Physical Research Laboratory (PRL), em Ahmedabad, e do Instituto Indiano de Tecnologia de Gandhinagar apontam que a passagem deve alterar a velocidade relativa e o ângulo de saída do cometa após o encontro.

Os modelos mostram ainda que Marte praticamente não modifica a órbita do objeto.

Júpiter, por outro lado, responde pela maior parte da mudança prevista nos parâmetros orbitais, reforçando o papel central do gigante gasoso como modelador de órbitas no Sistema Solar.

Embora o cometa permaneça em órbita hiperbólica e deixará o Sistema Solar, pequenas forças adicionais podem alterar de forma mensurável o rumo final do objeto em direção à periferia da galáxia.

Forças não gravitacionais e comportamento do núcleo

Além da gravidade, o movimento de cometas é afetado por forças não gravitacionais, ligadas principalmente à liberação de gás e poeira à medida que o gelo da superfície sublima sob a luz solar.

Esses jatos funcionam como pequenos foguetes naturais, capazes de acelerar o núcleo do cometa em direções específicas.

No caso do 3I/ATLAS, diferentes valores de acelerações foram testados em estudos recentes.

Se essas forças forem muito fracas, o efeito na órbita pós-Júpiter será pouco relevante.

Valores mais altos, porém, podem alterar de maneira significativa o rumo final do cometa ao deixar o Sistema Solar.

Como as acelerações reais ainda não são conhecidas com precisão, novas observações fotométricas e espectroscópicas serão essenciais para restringir os modelos.

O que telescópios e sondas já encontraram

As observações acumuladas desde julho de 2025 mostram que o 3I/ATLAS é um cometa ativo, com núcleo gelado envolto por uma coma de gás e poeira e caudas visíveis em diferentes comprimentos de onda.

Dados do Hubble, de telescópios terrestres e de instrumentos no espaço indicam que o objeto é particularmente rico em dióxido de carbono (CO₂), com quantidades menores de água, monóxido de carbono e outras moléculas voláteis.

Campanhas internacionais detectaram também emissões associadas à água em grandes distâncias do Sol, implicando uma superfície altamente ativa ou grãos de gelo na coma funcionando como fonte estendida de vapor.

Medições fotométricas mostram variações de cor e brilho que ajudam a comparar o 3I/ATLAS com cometas do Sistema Solar e a avaliar até que ponto ele se diferencia dessas populações.

Instituições como o PRL registraram imagens em falso colorido e espectros que contribuem para mapear a composição química do cometa.

Esses dados complementam observações feitas por sondas em Marte e por missões em rota para o sistema joviano.

Juno terá janela privilegiada para observar o cometa

Enquanto o 3I/ATLAS se aproxima da órbita de Júpiter, a sonda Juno, que estuda o planeta desde 2016, desponta como uma das plataformas com melhor geometria para acompanhar a passagem.

Simulações apontam que, entre 9 e 22 de março de 2026, a nave estará em posição particularmente favorável para observar o cometa.

Mesmo sem manobras específicas, a combinação da linha de visada, da distância mínima de cerca de 54 milhões de quilômetros e dos instrumentos ainda operacionais pode permitir imagens e medições do ambiente de plasma e partículas ao redor do cometa.

Para observadores na Terra, o fenômeno permanece restrito a telescópios de médio e grande porte, já que o brilho do 3I/ATLAS não é suficiente para observação a olho nu.

Ainda assim, trata-se de uma oportunidade rara para acompanhar como um objeto formado em outro sistema estelar interage com a gravidade, a radiação e o vento solar do nosso Sistema Solar.

Que tipo de missão ou estratégia de observação você acha que a humanidade deveria priorizar para investigar melhor encontros com objetos interestelares como o 3I/ATLAS?

FONTE: CLICK PETRÓLEO E GÁS

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