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A história incrível e real de Minas Gerais: o estado brasileiro que já teve praia e um mar vermelho que virou serra e minério de ferro

Minas Gerais fica longe da praia, mas um dia foi fundo de mar e ricos em ferro que chegaram a ficar avermelhados. As rochas e fósseis do estado brasileiro contam essa virada gigante na história da Terra. Você já olhou para o mapinha do Brasil e pensou “coitado de Minas, nem uma prainha pra chamar de sua”? Pois segura essa: o estado brasileiro de minas já teve praia sim, e não foi uma vez só. Em diferentes capítulos do tempo geológico, áreas que hoje são serra, caverna e minério já foram mar raso. E, num passado ainda mais antigo, esses mares carregavam tanto ferro dissolvido que a água podia ganhar um tom de mar vermelho. Parece roteiro de filme, mas tá escrito em pedra. Literalmente.

Minas já foi mar e isso não é força de expressão!

Vamos por partes. Muito antes do Brasil existir, e antes mesmo do oceano Atlântico abrir do jeito que a gente conhece hoje, boa parte do que viria a ser Minas estava ligada a antigos continentes e supercontinentes como o Gondwana. Em fases do Neoproterozoico/Ediacarano, há algo em torno de 600 a 540 milhões de anos, o norte e o centro do estado ficaram sob mares rasos, como plataformas quentinhas e pouco profundas.

Esse mar deixou um registro claro no Grupo Bambuí, especialmente na Formação Sete Lagoas, cheia de carbonatos e estruturas típicas de ambiente marinho raso depois de uma grande transgressão.

O “último litoral de Minas” fica em Januária

A prova mais pop (e mais fácil de imaginar) desse mar vem de Januária, no norte mineiro. Lá, pesquisadores encontraram fósseis de Cloudina e Corumbella, criaturas marinhas do fim do Ediacarano. Ou seja: aquele paredão de pedra no interior já foi fundo do mar. A própria Pesquisa FAPESP descreve esse cenário como o “último litoral de Minas”, porque esses fósseis marinhos marcam um mar raso que cobria a área há cerca de 550 milhões de anos

E tem uma fala ótima pra humanizar isso: o geólogo Lucas Warren (Unesp) explicou que esses bichinhos “só viviam em mares rasos” e aparecem em várias partes do mundo sempre em rochas marinhas. 

Mas e o tal “mar vermelho”? Isso é bem mais antigo

Agora vem a parte que parece ficção científica. Há bilhões de anos, os oceanos da Terra eram praticamente sem oxigênio livre e cheios de ferro dissolvido. A água era um “caldão” químico. Só que microrganismos fotossintetizantes (tipo cianobactérias) começaram a produzir oxigênio. Esse O₂ reagiu com o ferro na água, formando óxidos como hematita e magnetita, que precipitaram no fundo do mar. 

Resultado?

  • o ferro saiu da água e foi parar no fundo do oceano;
  • a água ficou com coloração avermelhada em muitos lugares, pelo excesso de minerais;
  • e, aos poucos, o oxigênio parou de ser “gastado” com ferro e começou a sobrar na atmosfera.

É um pedaço central do Grande Evento de Oxigenação, por volta de 2,4 bilhões de anos atrás, um divisor de águas para a vida deixar de ser só microscópica e ganhar complexidade. 

Quadrilátero Ferrífero: o mar antigo virou montanha… e minério

E onde Minas entra nesse “mar vermelho” global? Nas rochas. O Quadrilátero Ferrífero guarda algumas das formações ferríferas bandadas (BIFs) mais importantes do planeta. Elas são aquelas camadas alternadas de óxidos de ferro e sílica que se depositaram no fundo de mares primitivos.

Em Minas, depois de metamorfismo, elas aparecem como itabiritos, base das grandes jazidas de ferro do estado.  Um trabalho da UFMG reforça a natureza dessas rochas e mostra como o itabirito do Quadrilátero é altamente oxidado, dominado por hematita. 

Como o mar sumiu e a “praia mineira” virou serra

Depois que esses sedimentos se acumularam no fundo do mar, o tabuleiro da Terra mudou de novo. Placas tectônicas se mexeram, continentes se chocaram, e o que era leito oceânico foi dobrado, levantado e exposto. Com milhões de anos de erosão, virou o relevo montanhoso que a gente conhece hoje.  Esse soerguimento teve um efeito colateral gigante: trouxe o ferro pra superfície. E aí entra a relevância econômica moderna de Minas: essas antigas camadas marinhas hoje sustentam um dos maiores polos mineradores do mundo. 

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