Quatro anos após renomear o Facebook para Meta e apostar na realidade virtual, Zuckerberg enfrenta pressão por resultados, prepara redução de gastos e tenta reposicionar a empresa com inteligência artificial e óculos inteligentes.
A Meta, dona de Facebook, Instagram e WhatsApp, estuda cortar em até 30% o orçamento do seu braço de metaverso em 2026, em uma tentativa de conter um projeto que já acumulou mais de US$ 70 bilhões em prejuízos desde o início de 2021. A possibilidade inclui demissões a partir de janeiro de 2026, segundo relatos publicados nesta primeira quinzena de dezembro.
A discussão marca um ponto sensível para Mark Zuckerberg: o metaverso foi anunciado como a grande aposta para o futuro, com a promessa de migrar interações do celular para experiências imersivas em realidade virtual e realidade aumentada. Na prática, o avanço ficou aquém do esperado, e a conta cresceu trimestre após trimestre.
Ao mesmo tempo, a empresa tenta mostrar ao mercado que aprendeu com a era de “gastar primeiro e explicar depois”. Após a notícia sobre cortes, as ações chegaram a reagir positivamente no dia 4 de dezembro de 2025, movimento interpretado como sinal de alívio de parte dos investidores.
O reposicionamento mais visível é o foco crescente em inteligência artificial, tanto para produtos quanto para eficiência em publicidade. A Meta também mira dispositivos “vestíveis” como um caminho intermediário entre redes sociais e computação de próxima geração.
De Facebook a Meta: por que o metaverso virou prioridade em 2021
Em 2021, o então Facebook adotou o nome Meta e reorganizou sua narrativa pública em torno do metaverso. A mudança não foi apenas estética: ela sinalizou que a empresa pretendia liderar a próxima plataforma de computação, com ambientes virtuais, avatares e encontros em 3D.
A aposta se concentrou na divisão Reality Labs, responsável por hardware e software de realidade virtual e aumentada. É ali que entram os headsets da linha Meta Quest (antiga Oculus) e serviços como o Horizon Worlds, um espaço social em realidade virtual.
A proposta era ambiciosa, mas exigia duas coisas difíceis ao mesmo tempo: criar um novo “ecossistema” de conteúdo e convencer milhões de pessoas a usar um dispositivo ainda caro e pouco prático no dia a dia.
Reality Labs no vermelho: os números que explicam a pressão por cortes
Nos relatórios financeiros, a Meta separa a operação em “Family of Apps” (as redes sociais e publicidade) e “Reality Labs” (metaverso e dispositivos). É nessa segunda área que as perdas se acumulam.
No balanço do 3º trimestre de 2025, a Reality Labs registrou prejuízo operacional de US$ 4,432 bilhões no trimestre. No acumulado dos nove primeiros meses de 2025, a perda operacional somou US$ 13,171 bilhões, segundo o comunicado oficial de resultados da empresa.
Somados a anos anteriores, esses resultados ajudam a explicar por que fontes de mercado descrevem o esforço como um dos mais caros da indústria de tecnologia. Reportagens apontam que a divisão já passou de US$ 70 bilhões em perdas desde 2021, número que virou referência quando o tema volta ao noticiário.
Parte do problema é de produto. Mesmo com melhorias, o metaverso ainda é visto como algo de nicho, sem um “motivo” forte o bastante para substituir o smartphone, seja para socializar, trabalhar ou consumir entretenimento.
Outra parte é de experiência. Há críticas recorrentes sobre usabilidade, falta de “conteúdo imperdível” e dificuldade de reter usuários, o que torna mais difícil justificar gastos crescentes por muito tempo.
Demissões e redução de orçamento: o que pode mudar em 2026
Segundo a Reuters, com base em informações atribuídas à Bloomberg, a Meta discute reduzir em até 30% o orçamento do metaverso na construção do planejamento anual de 2026. O desenho inclui a possibilidade de demissões já em janeiro de 2026, caso o corte seja aprovado e implementado.
O debate ocorre em um momento em que a empresa, além do metaverso, também amplia investimentos em outras frentes caras, como infraestrutura e talentos de IA. Isso aumenta a pressão por escolhas mais duras, com priorização de áreas que tragam retorno mais previsível.
Uma pista do novo tom apareceu em comunicações internas relatadas pela imprensa: executivos discutem elevar preços de dispositivos de realidade virtual e buscar um modelo de negócio mais sustentável, além de desacelerar a cadência de lançamentos de hardware.
Esse tipo de movimento sugere que o metaverso não necessariamente “acabou”, mas pode entrar em uma fase mais pragmática, com menos apostas simultâneas e metas mais curtas de eficiência.
IA e óculos inteligentes: a Meta tenta trocar a narrativa sem abandonar o sonho
Enquanto o metaverso perde espaço como promessa central, a inteligência artificial avança como prioridade. A Meta já usa IA para recomendação de conteúdo e anúncios, e tenta expandir isso com novos modelos e produtos, buscando melhorar engajamento e desempenho comercial.
No hardware, o foco mais “palatável” ao público tem sido os óculos inteligentes Ray-Ban Meta. A Reuters reportou que as vendas de smartglasses triplicaram em 2025, mas o produto ainda é tratado como um gadget de nicho, com barreiras como preço, conforto e preocupações de privacidade.
Zuckerberg também passou a divulgar mais números do dispositivo. Em uma reunião interna, ele afirmou que a Meta vendeu mais de 1 milhão de unidades dos óculos Ray-Ban em 2024, de acordo com o The Verge.
A relação com a fabricante da Ray-Ban também parece mais estratégica. A Reuters noticiou que a Meta teria uma participação de pelo menos 3% na EssilorLuxottica, em meio ao aprofundamento da parceria em wearables com IA.
A lógica é clara: se o headset ainda não virou “o novo celular”, os óculos podem ser um passo intermediário. E, no curto prazo, a IA reforça o motor que já paga as contas da empresa: publicidade nas redes sociais.
O que muda para o público brasileiro e para o mercado
Para o Brasil, o impacto direto não é um “fim do Facebook”, e sim a forma como a Meta vai escolher onde colocar dinheiro e atenção. Um metaverso mais enxuto pode significar menos novidades rápidas no Horizon Worlds e em experiências sociais em VR.
Por outro lado, um foco maior em IA e wearables tende a acelerar mudanças no Instagram, Facebook e WhatsApp, com mais automação, recomendações e recursos inteligentes, e também debates sobre privacidade e transparência.
No fim, a pergunta que fica é se o metaverso será lembrado como visão de longo prazo que só precisava de tempo, ou como o exemplo mais caro de uma big tech tentando “forçar” uma nova plataforma antes do público querer.
E você, acha que o metaverso ainda vai virar realidade para todo mundo ou foi um erro bilionário de Zuckerberg que deveria ser encerrado de vez? Comente o que você espera da Meta em 2026 e se a empresa deveria priorizar IA, óculos inteligentes ou insistir na realidade virtual.




