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Cidade brasileira conhecida como a ‘capital do coco’ cultiva mais de 171 milhões de frutos por ano, aposta em coqueiro híbrido, irrigação de precisão e fábrica própria para água de coco e derivados

Paraipaba concentra hectares de coqueirais e números oficiais que chamam atenção, enquanto irrigação e escolha de variedades definem produtividade e renda. Entenda como a cadeia do coco ganha escala e por que o beneficiamento local virou peça-chave.

No litoral do Ceará, Paraipaba concentra uma das maiores manchas contínuas de coqueirais do país e aparece com frequência em levantamentos e reportagens como o município que sustenta, em escala industrial, a cadeia do coco-da-baía.

A dimensão chama atenção: publicações baseadas em dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) apontam que, em 2023, a safra local ficou próxima de 20 mil toneladas e que cerca de 60 km² do território do município são ocupados por cultivo de coco — o equivalente a aproximadamente 6.000 hectares.

Peso econômico do coco na agricultura local

O peso do fruto no município é descrito como dominante quando se observa o valor da produção agrícola.

Paraipaba lidera o coco-da-baía com 6 mil hectares, quase 20 mil toneladas e irrigação de precisão que sustenta renda, indústria e escala no Ceará agrícola.
Paraipaba lidera o coco-da-baía com 6 mil hectares, quase 20 mil toneladas e irrigação de precisão que sustenta renda, indústria e escala no Ceará agrícola.

Ainda com referência ao IBGE, uma apuração publicada em 2024 indica que o coco-da-baía respondeu por cerca de 75% do valor gerado pela agricultura em Paraipaba, numa soma em que a produção agrícola do município teria alcançado R$ 48 milhões em 2023, com R$ 36,6 milhões atribuídos ao coco.

Dados do IBGE sobre território e população

Paraipaba tem área territorial de 289,231 km² e registrou 32.216 habitantes no Censo 2022, segundo a página “Cidades e Estados” do IBGE.

A combinação de município relativamente pequeno em população e grande em área agrícola ajuda a explicar por que a imagem que costuma circular sobre a região é a de “mar de coqueiros” associado a uma economia local fortemente conectada à fruta.

Reconhecimento oficial como “capital do coco”

O título de “capital do coco” também não se limita a um apelido informal.

Na Assembleia Legislativa do Ceará, há registro de lei estadual que denomina Paraipaba como “Capital Cearense do Coco”, reforçando o vínculo institucional do município com a cultura.

Ranking do IBGE e volumes de produção

Paraipaba lidera o coco-da-baía com 6 mil hectares, quase 20 mil toneladas e irrigação de precisão que sustenta renda, indústria e escala no Ceará agrícola.
Paraipaba lidera o coco-da-baía com 6 mil hectares, quase 20 mil toneladas e irrigação de precisão que sustenta renda, indústria e escala no Ceará agrícola.

Em termos produtivos, a liderança do município aparece de forma recorrente na cobertura baseada na Produção Agrícola Municipal (PAM).

Em 2024, uma reportagem informou que Paraipaba manteve, com base na PAM de 2023, a posição de município que mais produz coco-da-baía no Brasil desde 2020, enquanto o Ceará, no mesmo recorte, teria produzido aproximadamente 520 milhões de unidades em 2023, colhidas em 42,7 mil hectares, com rendimento médio de 12.146 frutos por hectare.

Há diferentes formas de mensurar essa escala.

Outra publicação, também com base em dados do IBGE, apontou que, em 2023, Paraipaba produziu mais de 171 milhões de frutos, figurando entre os poucos municípios brasileiros com produção anual acima de 100 milhões de cocos.

Irrigação e infraestrutura no perímetro Curu-Paraipaba

A sustentação desse volume, porém, depende menos de um “segredo” e mais de uma combinação conhecida no agro: variedade, irrigação e padronização de manejo.

Um estudo técnico do Banco do Nordeste descreveu Paraipaba como maior produtor municipal de coco no Brasil e associou o desempenho local ao uso predominante de coqueiro-anão e ao fato de parte relevante da produção estar ligada ao perímetro irrigado Curu-Paraipaba, instalado pelo Departamento Nacional de Obras Contra as Secas (DNOCS), às margens do Rio Curu.

Na prática, a irrigação aparece como infraestrutura estruturante do polo.

Paraipaba lidera o coco-da-baía com 6 mil hectares, quase 20 mil toneladas e irrigação de precisão que sustenta renda, indústria e escala no Ceará agrícola.
Paraipaba lidera o coco-da-baía com 6 mil hectares, quase 20 mil toneladas e irrigação de precisão que sustenta renda, indústria e escala no Ceará agrícola.

Em nota oficial do DNOCS sobre o Distrito de Irrigação Curu-Paraipaba, o órgão informou que a área concentra o maior cultivo de coco no Ceará, com 2.554 hectares de coqueiro-anão irrigado, produção mensal estimada em 4,5 milhões de frutos e a implantação de uma Unidade de Beneficiamento de Coco voltada à agregação de valor, com maquinário para engarrafamento de água de coco e produção inicial estimada em 5 mil frutos por dia processados em embalagens de 500 ml e 1 litro.

Manejo de precisão: gotejamento e microaspersão

A lógica de “manejo de precisão” entra justamente nesse ponto, porque a produtividade do coqueiro depende de regularidade no fornecimento de água e de condução agronômica consistente, especialmente em sistemas irrigados.

Em uma circular técnica da Embrapa focada na região litorânea do Ceará, há comparação de sistemas de microaspersão e gotejamento em coqueiro-anão-verde, com registro de que plantas irrigadas por gotejamento podem apresentar produtividades similares ou ligeiramente superiores às irrigadas por microaspersão, além de detalhar variações de produção ao longo do ano e indicadores de eficiência do uso da água no cultivo irrigado em Paraipaba.

Coqueiro híbrido, renda e decisões técnicas

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A aposta em tecnologia, no entanto, não se restringe ao “quanto irrigar” e “como irrigar”.

Ela também se estende ao “o que plantar” — e é aqui que o coqueiro híbrido aparece como peça de um debate real sobre renda e destino industrial do fruto.

Um estudo acadêmico publicado na Revista Brasileira de Estudos Regionais e Urbanos avaliou, no estado do Ceará, o impacto do coco híbrido BRS 001 sobre produtores rurais.

O trabalho descreve que, embora o coqueiro-anão se destaque em produção de frutos por hectare, o híbrido BRS 001 apresentou efeito positivo na renda do produtor em 2022, associado ao preço de mercado, e detalha que a amostra analisada incluiu produtores de anão e produtores do híbrido em uma área total de 4.159 hectares, apontando também a presença de assistência técnica e maquinário como variáveis relevantes no manejo.

Esse tipo de evidência ajuda a explicar por que a “capital do coco” convive com duas frentes que nem sempre caminham na mesma direção: a do coco verde, muito associado à água de coco e a cadeias de escoamento rápidas, e a do coco mais voltado à agroindústria do coco seco, em que o híbrido pode ganhar espaço por características agronômicas e industriais descritas na literatura técnica.

A discussão, nesses casos, não é apresentada como escolha abstrata, mas como decisão que envolve produtividade, custo de implantação, destino do fruto e preço recebido pelo produtor, dentro de uma cadeia que depende de assistência técnica e gestão.

FONTE: Click petroleo e gas

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