O Instituto Histórico e Geográfico de Congonhas (IHGC), em parceria com o Instituto Histórico e Geográfico de Minas Gerais (IHGMG) realizou neste sábado, 20 de julho, mais um passeio cultural pela região limítrofe a Congonhas. O destino foi a aprazível cidade de Belo Vale e seus encantos. O primeiro ponto de parada foi no alto da Serra dos Mascates – no “Pico do Bandeira” a acerca de 1.600m acima do nível do mar. Neste local contemplamos toda a exuberante beleza da região e onde os municípios de Congonhas, Belo Vale e Ouro Preto se “encontram” geograficamente.
Em seguida rumamos para a Comunidade da Boa Morte, constituída ainda no século XVIII. Seus habitantes são descendentes de escravizados que trabalhavam nas fazendas locais. Ali contemplamos a bela Igreja devotada à Nossa Senhora da Boa Morte, cujas obras de construção se iniciaram em 1731 e concluídas em 1760, atribuída à bandeira de Gonçalo Álvares e Paiva Lopes. Na igreja ainda se encontram as imagens de Nossa Senhora do Carmo, Santa Efigênia, São Sebastião, São Benedito e Santo Antônio. A comunidade foi reconhecida pela Fundação Cultural Palmares como sendo quilombola em 2005.
Fizemos uma pausa para o almoço no restaurante “Sabor do Quilombo”, na comunidade vizinha da Chacrinha dos Pretos. Lá fomos recebidos pela chefe de cozinha e proprietária “Tuquinha” (Maria Aparecida Dias). Resgatando a culinária quilombola e de origem africana, ela faz comida caseira no fogão à lenha. Durante o almoço, Tuquinha nos contou como resgatou a culinária dos povos antepassados, além de mencionar alguns pratos servidos no restaurante: carapiá, saborosa, broto de bambu, umbigo de banana, ora-pro-nóbis, farinha torrada, frango caipira, linguiça caseira, carne de lata, broa, cuscuz, cubu, João deitado.
Após o almoço Tuquinha nos levou às ruínas da antiga fazenda da Chacrinha e nos contou a história de como e por quem ela foi edificada, além de narrar a trajetória da comunidade, no qual é líder comunitária desde 1999. A Comunidade da Chacrinha, permeada por uma vasta área verde natural e banhada pelas águas do rio Paraopeba, é reconhecida pela Fundação Palmares como sendo quilombola.
Após a visita à Chacrinha seguimos para o Museu do Escravo, localizado na área central de Belo Vale. Criado em Congonhas nas dependências da Basílica do Senhor Bom Jesus de Matosinhos pelo padre José Luciano Jacques Penido (natural de Belo Vale) em 1975, o Museu foi transferido para a fazenda da Boa Esperança em Belo Vale em 1977. Em 13 de maio de 1988, em comemoração ao centenário da abolição da escravatura brasileira, o museu foi transferido para a cidade de Belo Vale, onde fora inaugurado em suas atuais dependências – um prédio em estilo colonial. O Museu é composto por seis salas em seu pavimento superior, onde é possível contemplar peças e utensílios ligados a “Casa Grande” que eram de uso e posse dos senhores da época. No pavimento inferior, observa-se um grande pátio e ao centro a estátua de um escravo sendo açoitado no pelourinho. Ladeando esse pátio observa-se senzalas que, no seu interior, guardam peças ligadas ao período da escravidão. São peças de trabalho e castigos que eram aplicados contra os escravizados. Também podemos contemplar artefatos ligados aos indígenas que viveram na região. No total, o Museu possui mais de quatro mil peças que traduzem o período da escravidão vivido em nosso país ao longo de 358 anos. Vale a pena visitá-lo.
Após um dia de aprendizados e de compartilhamento de conhecimentos, retornamos à Congonhas contemplando do alto da serra dos Mascates o esplêndido e magnífico pôr-do-sol, um autêntico Belo Vale.
Fotos: Sandoval de Souza, Guilherme Fontainha, Newton Emediato, Jonathan Reis, Domingos Costa, Welerson Athaydes Fernandes