Gustavo, que é mineiro, de Belo Horizonte, está morando na cidade natal com a família para onde transferiu a sede de mineração e aços planos da companhia.
Gustavo Werneck, CEO da Gerdau, é o terceiro entrevistado da Temporada Minas S/A Mercados em todas as plataformas de O TEMPO.
Gustavo, que é mineiro, de Belo Horizonte, está morando na cidade natal com a família para onde transferiu a sede de mineração e aços planos da companhia que tem em Minas 60% da sua capacidade produtiva no país.
Maior empresa brasileira produtora de aço, a Gerdau fez 124 anos.
No próximo dia 19 de março, a companhia inaugura mais uma expansão na usina de Ouro Branco (MG), a Gerdau Ouro Branco, ao mesmo tempo em que termina no final deste ano investimentos na Mina de Miguel Burnier, em Ouro Preto (MG), com capacidade para a produção de 5,5 milhões de toneladas de minério de ferro por ano para consumo próprio; além da construção de um mineroduto que vai transportar o minério de ferro de Ouro Preto a Ouro Branco.
“A gente tem colocado cerca de R$ 6 bilhões de novos investimentos todos os anos, a grande parte disso está em Minas Gerais”, calcula o CEO da Gerdau.
A seguir, a íntegra da entrevista com Gustavo Werneck, CEO da Gerdau:
HL: Gustavo, eu queria começar falando sobre a importância dessa transferência da sede da Gerdau das operações de mineração e aços planos de São Paulo para Minas Gerais. Recentemente, Jorge Gerdau (ex-presidente da Gerdau) esteve aqui, fez o lançamento do livro dele e me disse uma frase que me marcou muito, que foi a seguinte “olha, a Gerdau está de corpo e alma em Minas Gerais, que é importantíssima, é um ponto chave para a siderurgia brasileira estar em Minas Gerais”. Essa confiança toda em Minas também parte de você, Gustavo?
GW: Eu, como um bom mineiro, até aproveito a tua colocação e lembro do Milton Nascimento, né, “todo artista tem que ir aonde o povo está”. Então, traduzindo isso paro o negócio, nada mais justo e importante do que voltar para Minas e estar aqui junto dos mineiros, já que a Gerdau, hoje em Minas, representa 60% da nossa capacidade produtiva e dos nossos negócios em Minas Gerais. Então, a gente de fato é mineiro de coração e uma demonstração disso é a decisão que eu pessoalmente tomei de voltar a morar em Belo Horizonte e trazer a minha família comigo, meus filhos já estão na escola aqui em Minas, então é uma alegria grande estar de volta, porque o estado de Minas Gerais, de fato, é o presente e é o futuro da Gerdau no Brasil.
HL: Veio com a (mulher) Adriana e os meninos, está todo mundo aqui, quer dizer, não é só abrir uma sede de parede aqui em Minas, é se instalar em Belo Horizonte, você no comando da operação mundial, estar morando em Belo Horizonte e tomando todas as decisões a partir de Minas, não é?
GW: Porque a vida transcende o horário comercial, então a vida precisa ser vivida além dos horários em que a gente está no escritório. Então, levar meus filhos na escola, viver intensamente os acontecimentos de Belo Horizonte e de Minas Gerais nos finais de semana, então nós temos uma relação, por exemplo, muito forte com o Minas Tênis Clube, a gente patrocina o vôlei feminino. Então, acordar toda manhã cedo, ir lá para o Minas fazer ginástica, fazer academia, conhecer as pessoas, conversar, entender os problemas de Minas, entender as oportunidades, acho que isso é viver intensamente os negócios. Então, estar aqui de volta permite, não só presencialmente estar aqui no nosso novo escritório, mas fora do escritório viver os nossos clientes, entender os problemas da sociedade, entender as oportunidades que a gente tem, então essa realidade que já está presente no nosso dia a dia certamente vai se traduzir em grandes oportunidades para nós aqui no futuro.
HL: É essa cultura da Gerdau de estar sempre conversando com o cliente, olho no olho, nas operações, no que é mais importante. Em Minas, o que eu tenho visto é que vocês estão com um longo ciclo de investimentos, e principalmente na área de mineração, esse final de ano agora, por exemplo, começa mesmo a operação com capacidade total de 5,5 milhões de toneladas de minério de ferro da mina de Miguel Burnier, em Ouro Preto, não é, Gustavo?
GW: Isso é papel também meu nessa volta para Minas Gerais de mudar um pouco, talvez, o sentimento, a impressão que a sociedade tem com as atividades de mineração. Então, nós estamos com um investimento muito significativo de mineração aqui no Estado, mas uma mineração totalmente sustentável, sem uso de barragens, mineração que coloca as melhores práticas disponíveis do mundo a serviço dos nossos negócios, então investimentos muito significativos. A nossa mineração não é para vender minério para outras empresas, não é para exportar, é uma produção para consumo próprio, especialmente na nossa Usina de Ouro Branco, mas o investimento traz não só um ganho econômico para a companhia, mas um ganho social, um ganho ambiental, para nós equilibrarmos todos esses fatores é fundamental. Então, o investimento está agora numa fase mais acelerada, e no final do ano a gente pretende inaugurar esse investimento de mineração, que vai ser fundamental para o crescimento da nossa capacidade, dos nossos produtos de aço, especialmente na nossa Usina de Ouro Branco.
HL: E falando em Usina de Ouro Branco, agora em março, próximo dia 19 de março, tem a inauguração do grande investimento que vocês fizeram lá, de mais de R$ 1 bi lhão para aumentar a capacidade dela, já é a maior usina da Gerdau aqui no Brasil, tem uma importância enorme, e agora ela vem com novos equipamentos para atender mais gente ainda, não é?
GW: Exatamente. O mineiro tem muito orgulho da Açominas. Quando ela foi criada na época pelo Governo Federal, pela Siderbrás, a Açominas foi criada naquele momento para produzir o que a gente chama de produtos semi-acabados para exportação, o grande objetivo era através do minério produzir aço para exportação. Desde a nossa aquisição da Açominas e mudando o nome para Gerdau Ouro Branco, a gente passa por uma jornada de transformar Ouro Branco num polo de produtos de altíssimo valor agregado para atender ao mercado doméstico. Então, a mineração vem com esse objetivo e a gente tem seguido a passos largos na implantação de R$ 5 bilhões de investimento em Ouro Branco. Uma dessas fases de R$ 1 bilhão vai entrar agora. Então, nós vamos produzir uma capacidade adicional de bobinas a quente para atender o mercado doméstico, já é um passo importante para que Ouro Branco se torne uma plataforma muito decisiva no Estado de Minas Gerais para atender todo o presente, o futuro do mercado consumidor de aço que cada vez evolui mais, cada vez tem necessidades de produtos de alto valor agregado, produtos com capacidade técnica cada vez mais elaborada
HL: Esse ciclo de investimento total de R$ 5 bilhões termina agora, Gustavo?
GW: Ele prossegue com mineração e ele vai prosseguir depois dessa fase agora que nós vamos colocar em operação em março. Existem outras etapas desse investimento e o nosso plano, à medida que a gente for encontrando, como a gente vem encontrando o Estado de Minas Gerais muito aberto a investimentos, um Estado que dá peso adequado aos empresários, que consegue equilibrar as necessidades da sociedade à necessidade de empresas privadas estarem aqui, a gente certamente vai continuar com os investimentos, porque o Brasil é o nosso país principal, estamos aqui há 124 anos, Minas Gerais é o Estado principal, então nada mais natural que a gente continue investindo de uma forma muito decisiva aqui no Estado de Minas Gerais.
HL: Na verdade são R$ 7,5 bilhões para mineração e essas renovações das plantas, das usinas da Gerdau no Brasil, não é? Esse investimento continua, porque para colocar em operação depende mais ainda de recursos, não é?
GW: Exatamente. A gente tem colocado cerca de R$ 6 bilhões de novos investimentos todos os anos, a grande parte disso está em Minas Gerais, então aqui a gente não anuncia não só os investimentos do ano, mas um programa de médio prazo. Então, esses R$ 7 bilhões em Minas Gerais é um programa de alguns anos, parte dele está sendo inaugurada, mas nessa jornada de transformação de Ouro Branco num enorme polo de produção de aço de alto valor agregado, a gente tem outros passos, outros sonhos que certamente serão implantados nos próximos anos num Estado que nos acolhe tão bem como é Minas Gerais.
HL: É, tem muita coisa ainda por vir.
GW: Especialmente os investimentos sociais, porque nesse amadurecimento que nós tivemos como empresários ao longo dos anos, Helenice, você citou o Jorge Gerdau, uma grande inspiração ao longo de toda sua história empresarial, a gente aprendeu muito com ele e está dando passos ainda mais avançados para entender que o ganho econômico que a Gerdau tem investido num Estado como Minas Gerais precisa ser revertido para melhoria social, para melhoria ambiental. Aí, a gente cria de fato as condições para a empresa prosperar e criar longevidade, e criar seu futuro num produto tão importante para transformação do mundo que é o aço.
HL: E devolver para a sociedade tudo que ela teve até hoje, não é? Tudo que a Gerdau conquistou nestes 124 anos de Brasil, o que não é pouca coisa. Ter longevidade num país como esse, com tantos desafios, é o dia a dia de se manter vivo, e ter essa essa entrada na sociedade, o que pode ser feito na sociedade. Tem algum sonho, assim, para você, que você quer agora morando aqui em Minas, vendo a situação mais de perto, que você queira implementar?
GW: Nós temos muitos sonhos, né, e a gente tem traduzido esses sonhos em projetos práticos no dia a dia, porque não adianta a gente só sonhar, a gente tem que sonhar grande, mas especialmente a gente tem que ter a capacidade de traduzir esses sonhos em realidade, em ações. Então, uma das coisas, por exemplo, que me afligem aqui em Minas Gerais é a questão de perceber que existe uma faixa etária de jovens profissionais entre 18 e 24 anos que têm tido dificuldade de ingressar no mercado de trabalho. Quando a gente olha o extrato de desemprego no Brasil, se a gente olha só a média, a gente tende a achar que não tem problemas graves de desemprego, mas quando a gente olha, por exemplo, o extrato de jovem de 18 e 24 anos, ele é alarmante, é acima de 20%, e por outro lado tu pega empresas brasileiras de forma geral, elas têm hoje disponíveis mais de 300 mil vagas para profissionais de tecnologia. Como a gente faz essas coisas conversarem? Então, um programa que nós temos desenvolvido aqui em Minas Gerais, com a Fundação Dom Cabral, é melhorar os programas de Jovem Aprendiz, que por força da lei todas as empresas tem que colocar um percentual do seu quadro de funcionários como jovens aprendizes, e muitas vezes as pessoas não são preparadas adequadamente, não recebem um treinamento, não são inseridas nas empresas como profissionais, e quando acaba esse ciclo, elas não estão preparadas para entrar no mercado de trabalho que está cada vez mais com necessidades diferentes. Então, coisas como essas, assim, são sonhos, é ver a juventude entrando no mercado de trabalho, prosperando, nos ajudando, isso é um sonho que nós estamos transformando em realidade, assim como o sonho da habitação. É difícil andar numa cidade igual a Belo Horizonte hoje e ver tantas pessoas que vivem em condições inaceitáveis, e ao mesmo tempo, nós produtores de aço para construção civil, a gente olha aquilo ele fala “nossa, não podemos aceitar mais isso”. Então, a gente vem desenvolvendo, por exemplo, projetos como o projeto Reforma que Transforma, que com recursos próprios da companhia a gente seleciona famílias que vivem condições inaceitáveis de moradia, sem um teto adequado, sem um saneamento, sem uma água potável, e a gente faz investimentos com recurso da companhia para que essas famílias possam viver numa situação melhor. Então, coisas como essas são fundamentais para a gente poder, na nossa presença no Estado, contribuir com os diversos atores que estão na sociedade para que a gente resolva problemas como esse. Então, meus sonhos estão sempre relacionados a cada vez a Gerdau prosperar como companhia, cada vez melhorar seus resultados financeiros, mas especialmente em como reverter esses resultados para melhoria social e melhoria da condição de vida das mineiras e dos mineiros.
HL: É, porque a sociedade crescendo e melhorando, a empresa também só sobe, tem um ambiente de negócios muito melhor, não é, Gustavo?
GW: Esse é o grande círculo virtuoso que a gente aprendeu ao longo da nossa história de 124 anos, que quanto mais condição a gente dá, por exemplo, a uma família melhorar sua moradia, esse é o primeiro passo da dignidade. Depois da moradia vem um emprego, com emprego vem a renda, com renda ela vai comprar produto da Gerdau, ela vai se qualificar e aí vira um ciclo virtuoso que no longo prazo transforma as comunidades. Então, a gente tem que promover, assim, que esse ciclo rode, que ele continue vivo e ao longo dos 124 anos, a gente viu isso acontecer e continua vendo, então manter essa roda girando é meu papel e certamente a gente quer ter protagonismo de influenciar outras empresas também para que façam o mesmo.
HL: É o papel social também de um CEO, hoje, que não dá mais para dissociar essas imagens, ele tem que performar para a empresa, tem que reportar dividendos para os acionistas, mas ele também tem que ter um olhar para a sociedade, né? É um morador de rua, o que pode ser feito, conversar com os agentes públicos, é ter todo esse sincronismo.
GW: Exatamente. Aí reforço a nossa conversa inicial da importância de estar presente aqui, porque só pelo presente que tu tens oportunidade de entender problemas como esse, de interagir com os agentes públicos, de interagir com a sociedade e fazer essa roda virtuosa. Então, não cabe mais num papel de empresário, de líder, de executivo, a gente fechar os olhos pra essas coisas, nós temos que ser protagonistas, o empresário brasileiro tem que ser protagonista nessas transformações, tem que ser protagonista nessas mudanças, eu me julgo assim e me coloco como um grande cidadão, líder que pode contribuir de forma decisiva para influenciar outras pessoas para que façam o mesmo, aí a mágica acontece.
HL: Vai inspirar outros, é um efeito dominó aí, não é? Em outros CEO’s também, outros dirigentes.
GW: Porque no fundo, a gente não lidera pelo que a gente fala, a gente lidera pelos exemplos. Desde criança a gente aprende isso na nossa casa, o exemplo faz mais diferença do que a palavra, então estar aqui dando exemplo, a gente quer muito inspirar outras pessoas e outras empresas para que façam o mesmo, porque imagina a capacidade ilimitada que nós temos de trabalhar em conjunto, toda a sociedade civil, sociedade privada, as empresas privadas para contribuírem para isso. Então, não dá mais, nesse mundo, para um empresário, para um executivo fechar os olhos para as dificuldades e para os problemas que a gente enfrenta no nosso dia a dia, nas cidades onde a gente vive, onde a gente trabalha, onde a gente tem os nossos negócios
HL: E falando em negócios, quer dizer, vocês têm um impacto enorme, a Gerdau, nas cidades onde ela atua, Ouro Branco, Divinópolis também, vocês estão fazendo um investimento lá de R$ 100 milhões, essa região de Ouro Preto que vai mudar a cara com a mina de Miguel Burnier. O que a gente pode pensar de impacto em produtos, em geração de valor para o Brasil a partir desses novos investimentos da Gerdau?
GW: As contribuições são ilimitadas, muitas vezes a gente olha só o impacto econômico de pagamento de impostos, né. Quando a gente olha a Gerdau, por exemplo, no Estado de Minas Gerais, só de ICMS a gente recolhe acima de R$ 700 milhões por ano, é muito importante para girar a economia, mas os impactos transcendem esses pagamentos de impostos ou a contribuição econômica. Vou dar um exemplo prático, assim, que é um tema muito importante para as pessoas que circulam ali na região da BR-040: esse investimento nosso em mineração, nós tomamos a decisão de construir um mineroduto que vai ligar a nossa mina na Usina de Ouro Branco. Com esse mineroduto nós vamos tirar por dia 400 caminhões que circulam nessas estradas.
HL: Que é um grande problema, um grande gargalo.
GW: Então, não dá para a gente fazer um investimento desse se a gente não tiver um olhar muito profundo para os impactos. Então, tem o impacto social, do ponto de vista da segurança das pessoas, tem um impacto ambiental no que tange a redução de emissão de gases de efeito estufa. Então, os impactos são ilimitados, porque a gente quer muito que com esse investimento a gente desenvolva as comunidades locais, a gente quer que as pessoas que trabalham com a gente vivam ali, sejam qualificadas, então para nós esse olhar mais completo daquilo que se chama de ESG, de sustentabilidade, que faz parte da nossa vida de muitos e muitos anos, isso está cada vez mais maduro na companhia e cada vez mais a gente quer gerar valor, quer que ele ultrapasse a geração de valor econômico. Então, para nós esse olhar, assim, está muito presente no nosso dia a dia.
HL: Gustavo, me conta um pouco mais, já que você falou do mineroduto, ele sai da mina de Miguel Burnier, em Ouro Preto, e ele vai até onde? Qual é a extensão dele? Ele vai levar esse minério até onde?
GW: Então, nós estamos construindo em cima de um ativo minerário que nós temos em Miguel Burnier um novo investimento que vai ter uma capacidade de 5 milhões de toneladas de geração de minério, e esse minério produzido precisa ser levado para a nossa Usina de Ouro Branco, porque a gente produz minério para consumo interno. Então, a gente tinha a alternativa de movimentar esse minério via caminhão, você colocaria o minério num caminhão e levaria. Só que nós tomamos a decisão de fazer um investimento adicional para construir um mineroduto, na verdade uma grande tubulação que pega esse minério junto com a água, sai da mineração e vai para Ouro Branco. Lá a gente tira a água, põe o minério para utilização e essa água é recirculada para trazer de novo. Então, o impacto ambiental, do ponto de vista de utilização de recursos naturais, é mínimo, porque essa água é toda recirculada. Então, são esses cuidados que a gente precisa ter para utilizar a máxima tecnologia disponível, aquilo que realmente é viável para a gente poder construir projetos que tragam, não só, como eu comentei, impactos na competitividade e maior valor agregado para os nossos produtos, mas a sociedade olha e fala assim “a empresa está fazendo o que é certo, ela está contribuindo de forma decisiva para a qualidade da minha vida, para a vida da minha família”. E aí a comunidade olha para a empresa e fala “é uma empresa que eu aceito estar aqui do lado como vizinha, porque ela está fazendo as coisas certas, está de fato contribuindo para minha vida, para a melhoria da vida da minha família”. Então, esse olhar humano é muito importante que as empresas tenham, porque no fundo é cada pessoa, é cada família que vai olhar para nós e falar assim “que bom que a Gerdau está aqui do nosso lado”. Então, essa preocupação está muito presente no nosso dia a dia.
HL: Ela está fazendo a diferença na vida das pessoas e não só na teoria, né, é na divulgação de resultados ali para ela e para o mercado.
GW: E as pessoas olham cada vez mais, e no meu ponto de vista essa licença para operar, que cada negócio tem que ter, não só um negócio industrial como o nosso, cada vez mais as empresas precisam olhar isso, porque se alguém levantar a mão e falar assim “essa empresa não está fazendo o que deveria ser feito”, vai haver um questionamento e as empresas vão ter dificuldade de lidar com isso. Então, a gente quer trabalhar previamente ouvindo as comunidades, ouvindo as pessoas para que de fato crie valor para a vida de cada ser humano que vive ali nos locais onde a gente atua, aí sim a gente vai fazer nosso papel como empresário.
HL: É a imagem da empresa, né. Como vocês estão fazendo com os rejeitos? O que vocês pensaram para o rejeito da mineração, que gera mesmo e não temos mais as barragens a montante? Como vai ser lá, o que vocês pensaram?
GW: A própria palavra rejeito, assim como a palavra siderurgia, eu venho descontinuando ao longo do tempo, porque ela remete a sentimentos, talvez, do passado. Então, a siderurgia, quando tu fala, por exemplo, sobre a siderurgia para uma pessoa, ela lembra daquela produtora de aço cinza, soltando fumaça, talvez da época da Segunda Guerra Mundial. Hoje, a gente entra numa planta produtora de aço, por exemplo a base de sucata, se colocar alguém lá ela vai falar “onde é que eu estou? O que isso produz?”, de tão, limpo, tão tecnológico. Então, essa questão, para nós, desses cuidados, ela é fundamental, mudar essa imagem, para nós, é muito importante. Então, onde no passado as pessoas achavam que é rejeito, para nós, hoje, é um co-produto, porque a gente está buscando o limite de tecnologia para que cada antigo rejeito vire matéria-prima para outra Indústria, ele seja reutilizado. Então, hoje nós estamos nesse caminho de, por exemplo, desenvolver o antigo rejeito de mineração para que, hoje, ele vire um tijolo para ele ser utilizado na construção de uma casa para uma pessoa que vivia numa condição inaceitável, então essa busca é interminável, da gente cada vez mais transformar os rejeitos em co-produtos. E nesse processo de produção do minério, antigamente quando se levava isso para a barragem, a tecnologia a gente já mudou há alguns anos, então esse investimento nosso é todo do que a gente chama de empilhamento a seco, que ao invés de tu colocar água, tu cria um rejeito, ele é colocado numa pilha com um risco ambiental muito diferente do que era anteriormente, e podemos, à medida que as tecnologias forem evoluindo, no futuro usar todo esse rejeito de fato num co-produto que pode virar matéria-prima para uma enormidade de aplicações. Então, existem muitas pessoas, muitos professores, muitos acordos com instituições de ensino, buscando cada vez mais utilizar esse rejeito para virar co-produto. Então, essa é uma jornada em que a gente está muito enfronhado e eu tenho certeza, no futuro, que a gente vai chegar quando todo o antigo rejeito seja co-produto.
HL: E isso impacta até no custo da produção de uma obra, que tem todo um detalhe aí de inflação cada vez maior. Então, quer dizer, vai popularizando e democratizando, né?
GW: Sim, e ele pode ser utilizado para resolver esses problemas habitacionais no Brasil. Nós já temos plantas piloto produzindo isso, então, por exemplo, você vai num Projeto Germinar, que é um projeto ambiental que nós temos ali em Ouro Branco, a gente já construiu uma casa feita com isso para as pessoas entenderem, então agora o objetivo é a gente cada vez mais colocar a tecnologia para que isso escale, para que se torne uma realidade. E o nosso objetivo principal, com investimentos como esse, não é competir com outras tecnologias maduras na construção civil, é que a gente possa utilizar isso como investimentos sociais para que a gente possa resolver esses problemas que a gente vem comentando aqui, da gente não poder aceitar mais a condição que algumas pessoas, hoje, vivem no Brasil sim.
HL: Gustavo, em Ouro Branco vocês inauguram essa nova fase do laminado para bobinas a quente, e como vai ficar a usina com esse investimento?
GW: É mais um passo para a gente deixar de exportar produtos semiacabados, então essas 250 mil toneladas a mais de bobina a quente hoje são exportadas como produto semiacabados, como produtos de menor valor agregado. Então, é mais um passo de tirar um volume que a gente tem e traduzir esse volume em produtos de maior valor agregado, que é a bobina quente, para atender clientes nossos no mercado doméstico que tem essa exigência, tem essa necessidade.
HL: E é um tíquete maior também, é um produto mais elaborado, não é?
GW: Exatamente. O Brasil vem crescendo, cada vez mais necessitando de aços mais leves, aços mais tecnológicos, então a Indústria Automobilística é um exemplo, a Gerdau não produz o aço para chapa do carro, mas a Gerdau é o maior produtor brasileiro de aço que vai na transmissão, que vai nos motores, que vai em peças de segurança fundamentais. Então, os nossos clientes diariamente nos ligam pedindo aços mais leves para reduzir o peso do veículo, no caso dos carros híbridos, como aumenta de peso, porque você coloca uma bateria, você tem a necessidade de buscar uma redução de peso para que o carro seja mais econômico. Então, essa busca por aços tecnológicos é cada vez maior, nós estamos agregando essa tecnologia nesses aços para que a gente possa atender não só o presente, mas o futuro de uma Indústria que está em altíssima transformação, que é a Indústria Automobilística.
HL: E isso tudo vai ser feito em Ouro Branco?
GW: Ouro Branco e outros investimentos que a gente tem feito no Brasil também. A gente tem uma complementaridade de Ouro Branco que produz aço através de outras rotas que são muito competitivas no que tange a emissão de gases de efeito estufa. Então, por exemplo, Divinópolis é uma Usina que produz aço com carvão vegetal. A Gerdau é uma grande reflorestadora há muitos anos, nós temos em área disponível para plantação no Estado de Minas Gerais 250 mil hectares, então a gente planta o eucalipto, transforma em carvão vegetal e a gente utiliza em Divinópolis. Então, ele por si só traz uma competitividade muito grande no que diz respeito a emissão de CO2, mas a Gerdau é muito conhecida no Brasil também pela reciclagem de sucata, 75% da nossa capacidade produtiva é da sucata.
HL: Legal, já está em 75%?
GW: 75%. Então, é uma rota produtiva que emite até 10 vezes menos gases de efeito estufa, CO2, do que um processo tradicional. Então, aquela bicicleta velha, aquele fogão que ninguém mais usa, a gente recolhe isso. E muitas vezes a gente está nas ruas, a gente está vendo aquele catador de sucata e às vezes ele está ali recolhendo a sucata e a gente fica chateado que ele está atrapalhando o trânsito e buzina, mas existem 1 milhão de pessoas que vivem nessas atividades de reciclagem, pessoas que muitas vezes estão na informalidade. Então, enquanto às vezes a gente vê um problema, toda vez que eu vejo sucata, eu abro um sorriso, porque é a nossa principal matéria-prima, e além de ser uma matéria-prima importante para nós, é uma matéria-prima que produz com baixa emissão de CO2, e são pessoas que estão tirando o seu sustento, tirando a sua renda de uma atividade de pegar aquilo que é descartado por alguém que não precisa, e com todo carinho eles trazem essa bicicleta velha, esse fogão, trazem para nós, e quando a gente recebe isso, a gente sorri, põe no nosso forno e no momento seguinte está virando um aço para Construção Civil, para construir um avião, para construir um trator que vai estar na agricultura, para construir um instrumento que vai estar numa cirurgia no hospital, então é a capacidade infinita de reciclagem do aço, através da sucata.
HL: Fora as pessoas naquela família que estão sendo impactadas por esse recolhimento da sucata metálica reciclada.
GW: Quando nós fizemos, por exemplo, Helenice, a parceria com o Rock in Rio de construir o maior palco da história do festival, às vezes me perguntam qual objetivo de fazer aquilo, e é porque eu queria contar a história, contar a história desses 1 milhão de brasileiros e brasileiras que estão vivendo disso. Então, quando nós levamos ali, após o palco construído, uma dessas sucateiras e ela chegou lá, viu e falou assim “isso foi feito com a minha sucata, com as minhas mãos?”, aí a gente quis contar essa história, porque são histórias que precisam ser contadas, os brasileiros precisam entender que esse país tem muita coisa que funciona, tem muita coisa que dá certo, a gente tem que ter orgulho de coisas como essa. Então, contar histórias como essa e mostrar a importância do aço no presente, no futuro, faz parte também da nossa necessidade, por isso que conversas como essa, de ter a oportunidade de contar essas histórias e mostrar a importância do aço, mostrar a importância da Gerdau para o Estado de Minas Gerais, para nós, assim, é uma enorme alegria, porque são parcerias que a gente constrói de falar de coisas boas, de coisas que funcionam, de coisas que dão certo.
HL: Benignas, de ambientes de negócios, desenvolvimento, né, Gustavo. Você falou aí do Palco Mundo lá do Rock in Rio, e as pessoas olham e quando elas ficam sabendo que é um aço brasileiro, de uma empresa brasileira, elas olham e falam “mas é mesmo aquele palco ali?”, dá uma alegria e um orgulho nas pessoas de ver que aquilo ali está fazendo parte da vida delas.
GW: Exatamente. Ao mesmo tempo que a gente está falando disso, toda a necessidade de transformação no mundo, no que diz respeito a mudanças climáticas, vai passar pelo aço. Não dá para fazer, por exemplo, um aerogerador, que o Augusto chama lá de cata-vento gigante, para produzir energia eólica, aquilo é aço, desde a fundação é aço da Gerdau, toda aquela coluna a gente faz com aço aqui de Ouro Branco, aquelas pás gigantes a gente faz com aço que a gente produz lá no município de Pindamonhangaba, em São Paulo. A transição energética via fazendas solares, toda a parte de suporte dos painéis solares é feita com aço da Gerdau. Então, o futuro da humanidade vai passar pelo aço, o aço é o produto mais importante que existe no mundo, ele é insubstituível, outros produtos vão conviver com aço ao longo do tempo, por exemplo, a gente faz investimentos em grafeno, é um produto que ele coexistir com aço para reduzir peso, para aumentar durabilidade, para aplicações mais severas, mas ele vai coexistir, então não tem um produto na humanidade mais importante que o aço exatamente. E contar essa história e mostrar a presença do aço no dia a dia, em tudo que a gente faz, essas histórias precisam ser contadas, porque a gente tem que ter orgulho disso.
HL: Sim. Você estava falando em energia limpa, não é, e aí, eu pesquisando para fazer a entrevista, vi que a Gerdau é a quinta maior consumidora de energia do país. Quer dizer, ela agora está também numa jornada de caminhar para construir usinas eólicas, fazendas solares, vai inaugurar também em breve aqui em Arinos, em Minas Gerais, um mega investimento, já investiu R$ 3 bilhões, quer dizer, essa jornada tem que continuar cada vez mais para essa geração também de energia limpa?
GW: Sua pergunta é importante, Helenice, porque ela me dá oportunidade de reforçar que em todo esse debate atual que está acontecendo sobre o sistema de sustentabilidade, a pergunta é “a Gerdau vai continuar?” E ela vai continuar, porque sempre, para nós, isso teve uma busca de performance de curto ou médio prazo, ou econômica ou social, ambiental, então os investimentos que a gente tem feito em energia renovável a gente não faz só porque é moderno, porque é bonito, porque as empresas têm que falar, esses investimentos trazem, de fato, um benefício de curto e médio prazo para a companhia. Então, esses investimentos, por exemplo, que nós estamos fazendo aqui no município de Arinos, em Minas Gerais, de enormes fazendas de energia solar, trazem como benefício uma redução de custo de energia, já que nós somos empresas eletrointensivas, consumimos muita energia elétrica, então a gente ter essa capacidade sendo gerada dentro de casa, com energia renovável, traz todas as questões ambientais, todo o ganho ambiental, mas ela traz uma economia de custo para nós também. Então, a gente vai continuar nessa jornada ao longo dos próximos anos identificando oportunidades de investir em energia renovável, porque isso é bom para o planeta, mas ela também é boa para os nossos resultados, essa é uma jornada que vai continuar presente no nosso dia a dia.
HL: E falando em resultados, eu estava vendo a divulgação, até o 3° trimestre do ano passado você já tinha conseguido economizar R$ 1 bilhão. É uma jornada também da empresa para melhorar a produtividade, melhorar os ganhos e passar uma imagem para o mercado de que está de olho ali nos custos, né, quer dizer, isso é muito bom também para gastar no principal, no core business da empresa, que é a produção de aço.
GW: Helenice, não é fácil empresariar no Brasil. Nós estamos há 124 anos aqui e a gente vem acompanhando, ao longo do tempo, como tem sido difícil a decisão do empresário de investir, de produzir no Brasil. A gente falava de energia, nós temos, por exemplo, aqui no Brasil, uma dificuldade muito grande com o custo do gás natural, enquanto em média nos Estados Unidos a gente paga 3 dólares por milhão de BTU, aqui no Brasil a gente paga 16 dólares, quatro vezes mais. Então, imagina o quanto de oportunidade, de economia eu tenho que fazer, tem que ser, assim, acordar pensando nisso, dormir pensando nisso, porque eu não consigo competir quando dá uma diferença tão grande assim de preço, citando só o exemplo do gás natural.
HL: E a gente tem gás, né.
GW: Então, o Brasil, se tivesse mais disponibilidade de gás natural, se tivesse um gás natural de custo competitivo, isso seria absolutamente revolucionário do ponto de vista da Indústria, na sua competitividade, na sua capacidade de exportar, mas também do ponto de vista de transformação ambiental, porque o gás natural nos permitiria emitir muito menos CO2 do que outras fontes de energia não renováveis. Então, esse R$ 1 bilhão a mais que a gente teve é um esforço adicional que nós fizemos buscando o limite do que a gente pode de tecnologia, de inteligência artificial, de algoritmos, de preditivos para a gente melhorar nossa performance e poder competir. Essa luta de competir no Brasil é diária, porque não é fácil a gente empresariar aqui no Brasil. Então, para nós, buscar diariamente oportunidades de ser mais competitivos faz parte da nossa vida, porque senão a gente morre, a gente não sobrevive.
HL: Inclusive também no endividamento vocês têm índices incríveis, 0,32 vezes o Ebitda. Tem empresa com mais de uma vez e já está comemorando, quer dizer, vocês estão com o endividamento baixíssimo, alavancagem baixíssima, R$ 3,7 bilhões, isso também dá uma robustez e uma sensação no mercado de que a empresa tem muito ainda por fazer, né, Gustavo?
GW: Toda a evolução cultural pela qual a gente passou nos últimos anos, a gente procurou incorporar os atributos culturais de uma empresa centenária, aquelas coisas que nos ajudaram, mas também colocando cada vez atributos mais modernos que a gente possa, ao mesmo tempo, utilizar o passado e o presente como elementos da cultura que nos permitam evoluir. Então, um atributo importante da nossa cultura foi ter mais tolerância ao erro, a gente ser uma empresa mais ágil, que a gente possa corrigir as nossas rotas ao longo do tempo, então a gente sempre pensa o seguinte: não tem problema errar, mas não vamos cometer os mesmos erros. Então, nós aprendemos há muitos anos que trabalhar com uma empresa muito alavancada, com um nível de dívida muito alto pode trazer problemas, então pega um cenário agora de juros mais alto, imagina a gente navegar agora numa empresa produtora de commodities com balanço muito alavancado. Então, a gente buscou, e não foi fácil chegar, foram quase 10 anos de desinvestimentos, de só buscar estar nos países que realmente a gente faz a diferença para a gente chegar agora com balanço, talvez, dos mais saudáveis da história da companhia. Então, a gente está com um nível de endividamento muito baixo, a empresa está absolutamente saudável, muito bem-preparada para o futuro, o que nos abre, também, a oportunidade de pensar em novas avenidas de crescimento. Então, a gente aprendeu, a gente passou por períodos difíceis há 10 anos, com balanço alavancado, nível de dívida maior, nós vimos um longo e penoso trabalho para reduzir dívida, a gente chega agora e a gente não vai deixar a empresa se endividar de novo, vamos ser muito austeros, a gente vai ser muito diligente no sentido dos investimentos que nós fizemos no futuro, eles de fato precisam trazer benefícios para a gente melhorar os nossos resultados e para a gente não trazer uma alavancagem alta como a gente teve no passado, então o momento agora mostra a importância da gente ter feito isso.
HL: E o mercado, agora, vai também mostrando outras demandas, outras necessidades de investimentos. Você falou aí das placas de aço para carros híbridos e elétricos, uma coisa que vocês já estão aí com uma demanda boa nos Estados Unidos, a usina lá de Michigan, de produção de aço especiais, já está com essa demanda. Isso também demanda um investimento alto e o mercado quer é isso agora, quer esse tipo de aço?
GW: Cada vez mais, e aí os desafios que nós enfrentamos no dia a dia, porque a gente não pode esperar o cliente pedir para a gente investir, o investimento de uma nova tecnologia numa produtora de aço demora 3, 4 anos, então a gente coloca o dinheiro na frente, e o capital não é barato, a gente tem que colocar bastante investimento para poder fazer uma transformação dessa, tecnológica, a gente coloca esse investimento num país que tem dificuldade, como eu comentei, de investir, de competitividade, esperando que o mercado venha na frente. Então, não é fácil tocar um negócio onde tu coloca bilhões de dólares adiantado para preparar uma Indústria, uma transformação esperando que o teu cliente lá na frente te traga o pedido, mas a gente aprendeu a fazer isso. Então, a gente nunca pediu proteção para ninguém, nunca pediu um favor para Governo, porque a gente quer ter condições de competir de igual para igual. Então, nós estamos agora colhendo os frutos de investimentos que nós concluímos no passado para deixar a nossa produção absolutamente atualizada para atender um mercado que agora é realidade, a gente acredita que o segmento de veículos híbridos vai crescer bastante no Brasil. Então, hoje nós temos uma capacidade altamente atualizada para atender essa demanda de aço para um mercado automobilístico que se transformou muito.
HL: Você já está sentindo essa demanda aqui no Brasil ou é só lá na operação que vocês têm nos Estados Unidos?
GW: Diariamente. Cada vez mais os clientes pedem uma especificação nova de aço, é a importância da tecnologia e da transformação digital. Há alguns anos, o cliente pedia um determinado aço, para eu responder para ele se eu poderia ou não entregar esse aço, às vezes eu fazia uma corrida no forno, aquilo não funcionava, aquilo virava uma sucata para mim. Hoje a gente tem um nível de preditivos com inteligência artificial que eu consigo fazer uma simulação muito detalhada e consigo dar uma resposta muito rápido para o meu cliente, se do ponto de vista tecnológico, de custos e de preço eu consigo ou não atender aquela demanda. Então, o número de pedidos de clientes do mercado automobilístico com novas solicitações cresceu de forma exponencial nos últimos anos, já é uma realidade essa indústria automobilística, elétrica, híbrida.
HL: Já tem que estar preparado. Você falou aí de trabalhar em condições iguais e a gente vem com uma jornada, que a gente viu, começou no ano passado, em maio, o Governo aumentou o imposto de importação do aço em 25%. Agora, o setor já está falando que isso aí já não está resolvendo, a China continua inundando o mercado com aço. Teria a necessidade de passar para 35%? Você acha que seria o ideal e existe essa abertura de diálogo com o Governo?
GW: Esse é um dos caminhos, porque o que a gente vem conversando com o Governo Federal não é nenhum tipo de proteção, a gente quer ter condições de competir de igual para igual. É importante esclarecer isso para a sociedade, porque às vezes a sociedade pensa que trazer um aço importado mais barato para o Brasil causa benefícios de curto prazo, mas na hora que tu traz um aço mais barato desse para o Brasil, que não compete de igual para igual, que não segue as premissas da Organização Mundial do Comércio, tu está deixando de ter investimento no Brasil, tu está deixando de ter renda, tu está deixando de ter emprego. Então, isso é muito complexo no médio prazo, porque o Brasil empobrece, o país fica com dificuldades. O que está acontecendo hoje é uma transformação grande da China, que a China concluiu o seu ciclo de investimentos em infraestrutura, concluiu seu ciclo de investimentos em construção civil e a China está buscando, dentro dos seus planos futuros, ter uma economia que seja mais verde, que incentive o consumo doméstico. Então, essa transição da China é muito complexa, ela não é rápida, a única maneira da China preservar o emprego dos chineses é através de subsídios do Governo para manter as suas empresas operando. Então, ela compra minério de ferro do Brasil e a gente, incrivelmente, vê aço chegando no Brasil mais barato do que o minério de ferro que foi para lá, essa conta não existe, a conta está negativa. Então, isso não está alinhado às práticas da Organização Mundial do Comércio, a gente já aprendeu, nós estamos há 124 anos, eu olho todos os dias, me comparo com qualquer produtor para ver se eu estou pior ou melhor, em condições isonômicas de competitividade a gente consegue competir com qualquer produtor, mas na forma como está sendo hoje a gente não compete. Então, o que nós estamos pedindo para o Governo Federal, assim como diversos outros países já fizeram, para citar aqui, o México, a União Europeia, os Estados Unidos, eles colocaram tarifas para trazer essas condições em pé de igualdade, é isso que a gente quer. Então, no ano passado o Governo implantou uma primeira medida, um compromisso de avaliar a efetividade, está claro que não foi efetivo, continua entrando um volume absurdo de aço no Brasil com problemas de competitividade, como eu comentei, e a gente está sendo altamente prejudicado por isso. Então, nós estamos em debate com o Governo Federal para que eles entendam o que está acontecendo e a partir daí, dados e fatos, tudo registrado, esses números estão todos disponíveis, eles conhecem, a gente possa fazer um outro movimento de colocar novas medidas que possam trazer esse aço importado em condições de igualdade, é isso que a gente quer, condições de igualdade, de competir, porque aí podem nos cobrar, desde que as condições sejam iguais. O interessante é que mesmo com toda essa dificuldade, aí volta a nossa conversa inicial, nós estamos mantendo todos os investimentos no Brasil numa crença de longo prazo, que a gente tem, de que o Brasil tem conseguido equilibrar coisas como essa. Então, a bola agora, eu diria, está com o Governo Federal e a gente espera que eles sejam céleres para colocar novas medidas para trazer as condições de igualdade, de isonomia, que a gente vem solicitando há bastante tempo.
HL: Vamos um pouquinho lá para fora, eu fiquei olhando a divulgação dos resultados também, 53,4% do ebitda consolidado da Gerdau, ele da operação que ela tem nos Estados Unidos, quer dizer, isso surpreende e vê que ambientes de negócios quando são bons, a empresa brasileira se desenvolve em qualquer lugar do mundo. Como está essa conta? A operação nos Estados Unidos, agora com o Trump de volta à presidência dos EUA, o que a Gerdau está enxergando lá nos Estados Unidos?
GW: A gente passa muito longe de querer fazer algum debate político, algum debate ideológico, porque não é a nossa expertise. A nossa expertise é produzir aço e vender aço de qualidade, então a gente sempre olha essas questões macroeconômicas para poder tomar nossas decisões. A nossa decisão de ir para os Estados Unidos é de mais de 30 anos atrás, porque a gente já via as dificuldades de ser competitivo no Brasil. Então, nós encontramos um acolhimento nos Estados Unidos, no Canadá e até no México para que a gente tivesse um ambiente de negócios mais favorável. Hoje, a Gerdau opera nos Estados Unidos e produz aço nos Estados Unidos como um produtor local, nós somos uma empresa que funciona como uma empresa americana.
HL: Vocês têm 14 unidades na América do Norte, né? Estados Unidos, Canadá e México.
GW: Exatamente. Então, para nós estar nos Estados Unidos há 30 anos vem fazendo muita diferença para os nossos negócios. O que nos surpreendeu, Helenice, foi porque a gente não esperava, não estava assim nos nossos cálculos mais otimistas, que um dia a gente ia gerar resultados financeiros nos Estados Unidos, na América do Norte, maiores do que do Brasil, é surpreendente. Isso mostra a dificuldade que a gente enfrenta de ser competitivo no Brasil, e mostra, como eu comentei, que independente de debates ideológicos, a gente não entra nisso, tu criar uma condição de competitividade, uma condição em que as indústrias possam se desenvolver, como é que isso traz resultados. Então, nós somos produtores locais na América do norte, a gente produz aço especialmente para clientes lá, a gente não exporta do Brasil para lá e não exporta de lá para outro lugar, então com todo o desenvolvimento nos Estados Unidos dos últimos anos, implantação do Governo Federal, por exemplo, que eles chamam de infrastructure bill, que é todo o pacote de investimento em infraestrutura, isso tem se traduzido numa demanda adicional de aço para nós
HL: Mais de 1 trilhão de dólares, né?
GW: Exatamente. Os investimentos do Governo Federal em incentivar o que eles chamam de reshoring, trazer capacidades produtivas de chips, de semicondutores da Ásia para os Estados Unidos, isso demanda aço.
HL: E as empresas estão voltando para lá, né.
GW: Então, vê como vira um ciclo positivo.
HL: E a pandemia, né, que a gente não quer ver isso de novo, chip e semicondutor tudo na mão só da China, que aconteceu. E aí vocês também estão tendo uma demanda enorme, também, nesse mercado para as Usinas de produção de chip, não é?
GW: Exatamente. Então, para nós, assim, o aço que vai na construção dessas novas fábricas é uma realidade. A gente olha, hoje, o que a gente chama de nosso backlog, nossa carteira de pedidos, tu sabe claramente para onde esse aço está indo, então ele tem ido muito para painéis solares, as estruturas dos painéis solares, para energia renovável, para fábricas de produção, chips semicondutores, então, assim, como é que a Indústria é importante para um país. Os Estados Unidos é um país maduro, primeiro mundo, economia sólida, tu vê como que a Indústria é importante para o crescimento do país, e o que a gente se assusta muito, é uma grande lamentação nossa, é que um país de economia ainda não desenvolvida como o Brasil vem transferindo a Indústria e se tornando um país mais de serviço sem estar maduro para isso. Grande parte hoje, por exemplo, de impostos federais, a Previdência Social é sustentada pela Indústria.
HL: Os salários maiores são da Indústria.
GW: Exatamente. Então, o Brasil vem se desindustrializando, e por isso que a gente fala, assim, que não são os governos, os administradores atuais, precisam ter políticas de Estado que possam criar condições competitivas para a Indústria no Brasil não desaparecer. Então, a nossa grande jornada é isso, os Estados Unidos é um exemplo, olha os resultados que a gente tem feito lá.
HL: Eu estava vendo, até a sucata metálica reciclada lá vocês conseguem reciclar 98%, né? Quer dizer, aqui ainda tem uma jornada aí, mas não é porque vocês não querem, é o ambiente. Dá para a gente pensar nisso também, de conseguir chegar a esse patamar aqui ou as condições lá são melhores mesmo?
GW: À medida que os países vão enriquecendo, eles vão gerando mais sucata, então o país enriquece, as pessoas trocam os automóveis com mais frequência, elas trocam os seus eletrodomésticos, então tu olha hoje, quando a gente compara, por exemplo, a sucata que a gente recolhe nos Estados Unidos com a sucata do Brasil, é uma sucata mais rica, é uma sucata mais nova. Os Estados Unidos é um grande exportador de sucata, porque ele gera mais sucata do que ele consome, então ele exporta a sucata. Então, o Brasil também crescendo sua economia, se tornando um país mais rico, tendo mais Indústria, porque no processo de produção do automóvel existem ali retalhos das chapas que a gente recolhe e volta para o processo produtivo, é tudo co-produto, como eu comentei, então para nós, assim, o enriquecimento do Brasil se transforma, também, em competitividade para nós. Então, a sucata dos Estados Unidos é muito rica quando a gente recolhe, é bem diferente a realidade desse negócio de reciclagem de sucata num país desenvolvido como os Estados Unidos se comparado ao Brasil.
HL: A gente tem muito mercado aqui, né, Gustavo, a Indústria Automobilística, por exemplo, é 1 carro para cada 4, 5 pessoas aqui no Brasil. Lá fora já está 1 para 1, né? E essa questão de capacidade instalada, nos Estados Unidos vocês estão com mais de 90% da capacidade instalada. Dá uma inveja na gente, viu, porque eu vejo aqui setores que não tem isso.
GW: Então, é uma pena, a gente estava falando agora desse investimento de R$ 1 bilhão que nós vamos inaugurar agora em março, que garantia eu tenho que eu investi R$ 1 bilhão e eu vou trazer os resultados financeiros que pague esse investimento? Pega todo o custo de capital, o custo de oportunidade desse dinheiro, eu poderia estar fazendo outra utilização. Então, a gente investiu 1 bilhão na frente esperando que o mercado venha, então quando olha hoje, assim, só para as pessoas que estão nos ouvindo entenderem, da capacidade que eu tenho hoje instalada nos Estados Unidos, os investimentos que a gente fez, 90% está rodando no dia a dia produzindo aço, e aqui no Brasil está 60%. Então, eu tenho, hoje, capacidades que são caras, como eu comentei, são investimentos de bilhões de reais que nós investimos e tu olha hoje e está tudo parado, não tem uma pessoa lá trabalhando, está tudo apagado, porque não tem mercado, e esse mercado que era para estar lá gerando riqueza, gerando renda, está sendo suprido por um produto chinês que não compete em condições isonômicas, está lá uma pessoa na China, hoje, trabalhando, trazendo dinheiro para a sua casa, e aqui a gente assim. Então, são essas coisas que eu tenho muita dificuldade de aceitar, de entender, por isso essa inquietação da gente mostrar para a sociedade, mostrar para as empresas privadas e para o Governo, principalmente, de que tem muito sentido a gente criar condições para a Indústria brasileira competir. Então, criou-se uma falsa impressão, uma falsa narrativa, de que a Indústria brasileira não é competitiva, que ela precisa de subsídio. Ela não precisa, eu vivo isso aí no meu dia a dia há muitos anos, a gente é muito competitivo dentro de casa, a gente tem as melhores práticas do mundo, a gente tem profissionais extraordinários, só que quando a gente tira o aço, sai do muro da nossa Usina, saiu do portão, aí a gente começa a ter problema. É porto, é estrada, são os impostos, ainda bem que a Reforma Tributária está vindo agora para nos ajudar, o que não vai ser uma coisa simples. Um indicador que eu sempre uso pra comparar são empresas de tamanho semelhante a nossa. A Gerdau na América do Norte e a Gerdau no Brasil, eu tenho 122 pessoas trabalhando na área tributária aqui no Brasil, e eu tenho 2 na América do Norte, empresas do mesmo tamanho, eu tenho 120 pessoas a mais lidando na minha área de tributos no Brasil, olha que confusão que é, e até não a Reforma Tributária, em 10 anos, eu imagino que vão colocar 50 pessoas a mais para lidar com dois termos ao mesmo tempo, isso é insano, isso é irracional. Então, competir no Brasil exige a gente acordar mais cedo, buscar novas oportunidades, essa é uma imagem que a gente quer mudar, porque a indústria brasileira é muito competitiva, ela não precisa de ninguém para nos ajudar, desde que crie condições da gente competir de igual para igual.
HL: E aí você vai lá pra Davos, que tem o Fórum Econômico Mundial, na Suíça, todos os anos, a Gerdau já vai a segunda vez, agora vocês fizeram, junto com várias outras empresas, a Casa Brasil para exatamente fomentar esse tipo de negócio, mostrar que o Brasil é benigno para negócios. Você gostou, você achou que deu resultados? É um monte de ideias novas, né, eletro mobilidade, aquele índice lá da felicidade… quando você vê todos esses movimentos, deu para chamar a atenção para o Brasil?
GW: Eu gosto muito desses bate papos, porque eles criam a oportunidade de a gente desmistificar algumas coisas. Então, se criou também uma narrativa, não sei de onde veio, de que Davos é um local onde são grandes ideias que não são implantadas, um debate teórico e tal, isso não é Davos. Davos é um local onde, atualmente, se respira negócio, tem a área central onde são os grandes debates, por exemplo, o debate da empregabilidade, dos profissionais que perderão seus empregos com a Inteligência Artificial, isso é um problema, as empresas têm que cuidar disso. Então, hoje, nós uma empresa produtora de aço altamente tecnológica, como é que eu requalifico aqueles profissionais que vão precisar trabalhar de forma diferente?
HL: Vocês criaram até uma escola de Ciência de Dados, né?
GW: Sim, temos uma escola de Ciências de Dados interna. Então, eu tenho que me preocupar com isso, porque eu não posso simplesmente abrir mão de profissionais que nos ajudaram durante muitos anos, então esses debates me interessam muito. Alguns debates desses, práticos, eu participo na área central de Davos, mas saindo da área central, onde as empresas criaram, como a gente criou a Casa Brasil, ambientes de negócio, onde a gente se conecta com outras empresas, a gente vê as tendências. E no caso do Brasil, o ponto que eu acho que nós devemos melhorar é ter mais presença de autoridades brasileiras.
HL: Você acha que faltou?
GW: Eu acho que faltou, eu acho que a presença deles nos ajudam, no mínimo, em conversas com outras empresas, a gente não perder metade do tempo explicando sobre o Brasil.
HL: Chancela, né. Olha, a gente está aqui e nós estamos querendo que vocês venham investir.
GW: Porque os não brasileiros têm muita dificuldade de entender o Brasil, então metade da conversa, eu diria, é eles tentarem entender o que acontece no Brasil. Então, se tivesse mais presente dos governos, dos governantes, eles me poupariam metade do meu tempo que é explicar o Brasil para eles primeiro. Então, é sentir a segurança que o Brasil, apesar das dificuldades, é um país que tem as suas qualidades, que tem a sua estabilidade, então ajudaria, porque eu já pegaria e passaria a falar dos meus negócios, das minhas oportunidades.
HL: E não ter que explicar geopolítica, está com inflação alta, mas tem renda, tem emprego, tem consumo, né? Até explicar isso para uma multinacional… todo executivo fala isso comigo “como é que eu explico o Brasil lá fora?”
GW: São coisas que eu acho se o Governo tivesse, nos ajudaria a mover para um próximo passo da conversa. “Ok, Brasil, vamos fazer negócio?” Então, são coisas, assim, que estar lá em Davos permite essas oportunidades. Eu tive a oportunidade, também, de rever um grande amigo, que é o atual primeiro-ministro do Butão, o Tshering, que no primeiro mandato dele, o tema da felicidade bruta se desenvolveu muito naquele país, tive a oportunidade de buscar conhecimentos adicionais sobre o tema, que são muito importantes para mim. Então, a gente está nessa jornada, e eu vejo algumas empresas falando “vamos criar uma diretoria da felicidade”. A felicidade, no meu ponto de vista, a própria tradução para o português é uma coisa meio efêmera, o que nós queremos é cuidar da saúde mental das pessoas, é dar bem-estar para as pessoas, que é um desafio e é um problema que cresceu assustadoramente no pós-pandemia. Eu meço esses indicadores antes da pandemia, meço os indicadores de saúde mental e percebi claramente por indicadores, não é sentimento, o quanto isso se deteriorou. Para vocês terem uma ideia, no ano passado, de pessoas, colaboradores, colaboradoras e familiares que ligaram para o nosso telefone de ajuda, que transcende o plano de saúde tradicional, saúde física, foram 5 mil ligações no Brasil, e os problemas que eles relatam e pedem ajuda, eu consigo saber um extrato detalhado disso. Então, a grande maioria das pessoas ligou pedindo ajuda em problemas de ansiedade e depressão, e aí a gente faz uma intervenção individual com especialista, porque imagina, um profissional qualquer que seja, entra para trabalhar e ele está com a cabeça na casa dele, porque a filha está em depressão, não funciona, não vai dar certo. A empresa, além de não poder utilizar o máximo potencial criativo, ela não está cuidando de um sofrimento que está lá presente, não dá para a gente fechar os olhos para isso.
HL: Não dá para dissociar, né, “olha, eu vou fechar a porta agora, eu vou trabalhar”, isso não existe.
GW: Então, a gente faz uma intervenção com especialistas para poder solucionar problemas como esse. A gente viu, por exemplo, o tema das bets, os jogos, no ano passado ele cresceu muito, eram colaboradores pedindo ajuda, porque utilizaram o salário que ganham no jogo e estavam desesperados, não tendo comida para colocar em casa. Então, a minha busca por esse tema no Butão e a busca por essas conversas não é criar aquela felicidade, é de fato em como a gente pode colocar abordagens profundas para ajudar as pessoas a terem mais felicidade no sentido de bem-estar. Por exemplo, a gente aprendeu que quanto melhor é o sono das pessoas, mais feliz elas são. Então, como é que a empresa pode criar planos para ajudar as pessoas a dormirem melhor? As pessoas que fazem voluntariado, que usam seu tempo livre para ajudar os outros são mais felizes, então cada vez mais a gente criando situações em que os nossos colaboradores possam ser voluntários para ajudar as pessoas que precisam. São pequenas coisas, assim, que a gente olha e fala “cara, faz a diferença, né?”.
HL: E faz a diferença no time, não é? Faz a diferença na empresa, porque a empresa é gente.
GW: Exatamente, e assim o segmento empresarial teve evoluções muito significativas nos últimos anos. Por exemplo, gestão de projetos, gestão de riscos, mas para mim o tema que menos evoluiu é o tema gestão de pessoas. Há 100 anos atrás, tu pega, talvez o pai da administração, Peter Drucker, ele já falava “cultura deve vir antes da estratégia”, ele já colocava a importância das pessoas. O livro mais lido de gestão até hoje de toda a humanidade é um livro de quase 100 anos atrás, que se chama Como fazer amigos e influenciar pessoas, do Dale Carnegie, o livro é sensacional, e a gente fica gerando novos conhecimentos e deixa de fazer o básico bem-feito, que é cuidar das pessoas. Lá nos Estados Unidos chama carrying, o cuidar das pessoas. Imagina o potencial que as empresas perdem de acessar a criatividade, o máximo potencial do ser humano? E, da mesma forma, as pessoas enxergarem que as empresas estão devolvendo o valor para elas também, então, para mim, é essa fronteira que precisa ser vencida, explorada pelas organizações dos próximos anos, aí nós vamos encontrar um lugar onde a gente não encontrou ainda, onde vale a pena a gente viver, onde a gente encontra o ambiente onde a gente trabalha e seja feliz sim. Davos permite esses pensamentos, então tem sido muito útil no sentido de abrir possibilidades, de explorar situações, explorar locais, explorar potenciais que eu acho que as empresas ainda estão muito distantes de chegar.
HL: Desconstruir esses estigmas, né, que eu acho que é bem difícil, não é de uma hora para outra, mas vai, tem que ter iniciativas assim.
GW: Precisa de coragem.
HL: É verdade. Gustavo, a gente já está terminando, mas eu ainda queria passar por uma questão que também faz muito parte da cultura da Gerdau, que são as artes. A gente tem, desde Iberê Camargo, lá no Rio Grande do Sul, onde nasceu a Gerdau, aliás, desafio enorme no ano passado que foi ajudar a reconstruir a região toda atingida pelas chuvas, né, vocês investiram muito lá, muito além do dinheiro, dos mais de R$ 40 milhões, mas, assim, de participar daquela reconstrução, eu vi várias visitas que você fez. E aqui em Minas também, com o museu MM Gerdau de Minas e do Metal, que agora está completando 15 anos esse ano, é incrível. Essa jornada toda tem que ser constante, não é?
GW: Constante. Eu, agora de volta a Belo Horizonte, esses dias eu subi na rua da Bahia e tive uma recordação de infância de ir com os meus pais no Museu de Mineralogia. Se eu não me engano, atualmente aquele prédio é o Museu da Moda, pelo que eu passei lá e vi. Então, essa recordação me fez ter certeza de que esse investimento que a gente faz de manter o Museu das Minas e do Metal vivo está diretamente relacionado ao coração mineiro, porque Minas Gerais respira minério, respira o metal, até aproveito para fazer um convite para aquelas pessoas que não visitaram o museu, vale a pena visitar, aquilo conta a história de Minas. Então, para nós, assim, manter vivo essas lembranças, a presença no Estado através da cultura, através dos nossos antepassados, de a gente contar as histórias, os aprendizados e promover as oportunidades de a gente ser melhor ainda no futuro faz muito parte do nosso dia a dia. Tem os investimentos em esporte que a gente faz aqui em Minas Gerais, que no fundo, assim, quando tu vai olhar cada investimento desse que a gente faz no esporte, no Vôlei, por exemplo, no Minas, que vai completar 90 anos esse ano, o Minas é a maior instituição esportiva do Brasil disparada, e o investimento nosso no vôlei, por detrás disso, ele tem escolinhas de vôlei que são colocadas com a metodologia do Minas Tênis Clube nas cidades onde a gente atua para formar jovens atletas, que no futuro serão aplaudidos nos jogos Olímpicos, mas a oportunidade de tirar jovens que estão muitas vezes em situação de vulnerabilidade social e dar oportunidade para eles, para nós isso é fundamental.
HL: Quer dizer, você com a escolinha lá, o Carlos Henrique me falou sobre isso, o Presidente do Minas, ele falou que vê jovens que nunca teriam condição de alçar um desafio desse sem esse apoio da escolinha, desse trabalho da Gerdau junto com Minas, né.
GW: A gente vai no jogo do Atlético, no jogo do Cruzeiro, no jogo da América, a gente fica lá torcendo, assim, mas se a gente colocar uma lupa, cada atleta daquele teve uma história, muitas histórias difíceis, eles começaram na categoria de base, então muitos meninos vêm do interior de Minas Gerais para tentar a vida no esporte, e menos de 1% dos jovens, das crianças que vão para a categoria de base continuam no futebol, então não faz sentido uma criança dessa, um jovem vim para uma cidade como Belo Horizonte e ele não aproveitar o período que ele está num clube para ele se desenvolver como cidadão, porque caso ele não consiga se tornar um atleta, ele volta melhor do que ele era.
HL: Com certeza.
GW: E, aí, ele voltando melhor, ele pode ajudar lá também a se desenvolver. Então, para nós, no fundo, quando eu estou no estádio de futebol vibrando, eu estou olhando cada jogador e estou vendo uma história de um jovem, de uma criança que veio e conquistou um espaço ali no time profissional, e quantas histórias que não se tornaram realidade? Essas histórias que a gente tem que cuidar.
HL: É, cada semente que você vai colocando, você vai criando uma nova raiz ali que vai replicando na cidade dela, acho que isso também é a função da empresa. Gustavo, tão boa a conversa, mas a gente já tem que terminar nossa maravilhosa conversa, acho que a gente vai ter várias outras, agora com você morando aqui…
GW: Tenho certeza de que a alegria vai ser do meu lado (risos)
HL: (risos) E mais investimentos que nós teremos, então, assim, que você faça mais desenvolvimento e use todo esse acesso à informação, tecnologia que você tem para fazer esse país crescer mais, que sirva de inspiração para outras pessoas. Obrigada.
GW: Nossa força coletiva é ilimitada, se a gente trabalhar junto não tem desafio que a gente não possa vencer. Muito obrigado pelo bate papo.
HL: Manda um abraço para a Adriana, que também faz parte dessa jornada toda.
GW: É outra mineira que voltou para casa e certamente vai contribuir muito também com a capacidade dela de melhorar a vida das mineiras e dos mineiros.
FONTE: O TEMPO