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De rivalidade à estratégia regional: a nova aliança entre Lafaiete e Barbacena

A histórica rivalidade entre Conselheiro Lafaiete e Barbacena, cidades vizinhas no Campo das Vertentes, parece estar dando lugar a uma nova era de cooperação institucional — ao menos na superfície. Impulsionada pela ascensão de prefeitos jovens e pragmáticos, essa aproximação está sendo celebrada publicamente como um passo em direção ao desenvolvimento regional. Mas, por trás dos discursos de boa vizinhança, também se movem velhas engrenagens da política mineira.

Os prefeitos e seus perfis

Leandro Chagas, 31 anos, empresário e novato na política institucional, foi eleito prefeito de Lafaiete pelo Partido Renovação Democrática (PRD). Carlos Du, de 33 anos, é natural de Barbacena e reeleito para seu segundo mandato pelo PSD. Ambos mantêm discursos modernos, presença ativa nas redes sociais e um tom de “superação de rivalidades”, muito bem embalado para o público.

Convergência nas redes sociais, nos discursos e nos encontros

Nas redes, os dois falam em tom de parceria e progresso regional. “A união entre Barbacena e Lafaiete é fundamental para o desenvolvimento regional. Juntos, podemos alcançar mais”, postou Carlos Du. Já Leandro Chagas cravou: “Estamos deixando de lado antigas rivalidades para focar em projetos que beneficiem nossas populações.” O mesmo discurso tem ecoado em eventos públicos — como no Festival do Trabalhador, em Lafaiete, onde Carlos Du foi ovacionado como se fosse da casa.

Uma nova política ou um velho método?

Apesar da aparência de cooperação administrativa, a aproximação entre os dois prefeitos parece fazer parte de uma estratégia mais clássica: a de abrir terreno para candidaturas de fora. Leandro Chagas vem sendo apontado como o principal articulador local da possível candidatura de Carlos Du a deputado estadual, além de manter proximidade com Doorgal Andrada, que almeja voltar à Assembleia Legislativa ou voar mais alto, rumo à Câmara Federal.

A fila local e a multidão de forasteiros

Enquanto isso, em Lafaiete, o número de pré-candidatos locais também é significativo: o vereador Erivelton, a vereadora Damires, o ex-prefeito Mário Marcus, o ex-deputado Glaycon Franco, entre outros. Mas com tanta divisão interna e o campo aberto para forasteiros bem relacionados com a prefeitura, a cidade corre o risco de sair das eleições de 2026 com zero representantes eleitos.

O súbito amor por Lafaiete — e um silêncio incômodo

Nas últimas semanas, uma avalanche de deputados estaduais e federais “descobriu” Lafaiete. Visitas, fotos com lideranças locais, promessas vagas e muita conversa de ocasião. Mas há silêncios que falam mais do que os discursos.

É o caso do deputado federal Nikolas Ferreira, o mais votado do Brasil em 2022, que obteve mais de 7 mil votos em Lafaiete. Passados quase três anos, a pergunta permanece: qual foi o valor de emendas destinado por Nikolas à cidade? O eleitor merece saber se aquele voto teve retorno — ou foi apenas estatística.

O foco de Leandro Chagas

Mesmo com o discurso de neutralidade, é sabido nos bastidores que o prefeito tem dois nomes preferenciais: Doorgal Andrada e Samuel Viana. Ambos transitam com naturalidade em eventos municipais e ocupam espaço de destaque nos bastidores da administração.

Conclusão óbvia

A aliança entre Lafaiete e Barbacena pode gerar boas políticas públicas. Mas está longe de ser só sobre gestão. É também sobre poder, território e 2026. Cabe à população e às lideranças locais entenderem o jogo, para não virar apenas cenário de uma disputa em que os protagonistas vêm — e vão — conforme as urnas mandam. Porque há alianças que constroem pontes — e outras que apenas deslocam os centros de poder.

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