Em 1992, uma simples perua Fiat Elba se tornou um dos símbolos mais emblemáticos de um escândalo político que culminou na renúncia do primeiro presidente eleito por voto direto após a redemocratização do Brasil. Décadas depois, resta a pergunta: o que aconteceu com a Fiat Elba de Collor?
O que aconteceu com a Fiat Elba: No início dos anos 1990, o Brasil ainda vivia o entusiasmo da retomada democrática, após décadas de ditadura militar. Em 1989, o país realizou sua primeira eleição presidencial direta em quase trinta anos, e Fernando Collor de Mello foi eleito presidente da República. Dois anos depois, em 1992, o mesmo presidente veria seu governo ruir sob o peso de denúncias de corrupção que envolviam seu nome e o do ex-tesoureiro de campanha Paulo César Farias, o famoso PC Farias. No centro desse escândalo, uma peça improvável: uma Fiat Elba Weekend 1.5, modelo 1991.
Segundo as investigações, a perua foi adquirida com recursos oriundos de contas fantasmas controladas por PC Farias, em nome do próprio presidente. A compra foi considerada um dos principais indícios de desvio de recursos públicos para uso pessoal, e a Fiat Elba se tornou prova material no processo de impeachment.
O que aconteceu com a Fiat Elba: de carro urbano a evidência de um escândalo histórico

A Fiat Elba, lançada pela montadora italiana no Brasil no final dos anos 1980, era a versão perua do popular Uno. Versátil, prática e com bom espaço interno, a Elba rapidamente se tornou uma opção interessante para famílias e pequenos empresários brasileiros. Sua produção ocorreu entre 1985 e 1996.
O modelo envolvido no caso Collor era uma Fiat Elba Weekend 1.5, de cor escura, registrada originalmente com placa amarela (padrão da época). Com motor potente para a categoria e um visual robusto, o carro era considerado moderno para os padrões da época — embora estivesse longe de ser um veículo de luxo.
O próprio Collor, em conversa com seguidores em sua conta no Twitter, chegou a comentar sobre o carro:
Justamente por ser um carro popular, a utilização de dinheiro público para adquiri-lo gerou ainda mais revolta na população. Afinal, tratava-se de um símbolo do cotidiano transformado em evidência de abuso de poder.
O que aconteceu com a Fiat Elba de Collor?
Após a renúncia de Collor em 1992, o destino do carro se tornou um mistério. O veículo, então sob posse do ex-presidente, teve baixa solicitada pelo próprio Fernando Collor no Detran, o que significa que não está mais autorizado a circular em vias públicas. Isso indica que o carro pode ter sido enviado para sucata, ou permanece guardado em local privado, sem uso autorizado.
Fotos que circularam na internet alguns anos atrás mostram o que seria a Fiat Elba já bastante deteriorada, com pintura desgastada e placa cinza, parada em local não identificado. A imprensa procurou a assessoria do ex-senador para esclarecer o paradeiro exato do veículo, mas nunca obteve resposta oficial.
Esse sumiço apenas reforça o status lendário da Elba no imaginário político brasileiro: um carro que “desapareceu” da mesma forma que provocou a queda de um presidente — de forma inesperada e silenciosa.
O escândalo PC Farias e o caminho até o impeachment
O episódio envolvendo a Fiat Elba foi apenas a ponta de um iceberg muito maior. Paulo César Farias, conhecido como PC Farias, operava um esquema de arrecadação ilegal de recursos em nome do presidente. Diversas empresas faziam depósitos em contas fantasmas controladas por ele, em troca de favores e benefícios fiscais.
As denúncias vieram à tona em 1992, por meio de reportagens da imprensa e investigações da CPI. A compra da Fiat Elba com dinheiro dessas contas foi um dos elementos centrais da acusação formal, pois ligava diretamente o nome de Collor ao uso de recursos ilícitos.
Em setembro de 1992, a Câmara dos Deputados aprovou, por 441 votos a favor e apenas 38 contra, a abertura do processo de impeachment. Collor renunciou dias depois, mas o Senado manteve o julgamento e decretou sua inelegibilidade por oito anos.
Collor foi inocentado?
Sim. Apesar da condenação política, o Supremo Tribunal Federal absolveu Fernando Collor duas vezes: em 1994 e novamente em 2014. A Corte alegou falta de provas para condená-lo por desvio de recursos públicos.
No entanto, o dano político já estava feito. O nome do presidente ficou eternamente associado ao episódio da Fiat Elba e à figura de PC Farias — que mais tarde seria encontrado morto em circunstâncias misteriosas, em 1996.
Quanto vale hoje uma Fiat Elba?
De acordo com a Tabela Fipe, uma Fiat Elba Weekend 1.5 ano 1991, idêntica à do caso Collor, tem valor médio de R$ 6.198 em 2025. Isso, claro, se estiver em bom estado de conservação, o que é raro após mais de 30 anos.
Esse valor simbólico contrasta fortemente com o peso histórico do modelo. Poucos veículos no Brasil foram tão falados — e tão politicamente decisivos — quanto a Fiat Elba de Collor.
O fim do Fiat Elba: saída silenciosa das ruas
Produzida no Brasil entre 1985 e 1996, a Fiat Elba deixou de ser fabricada por diversos motivos:
- A Fiat passou a investir em modelos mais modernos e com apelo familiar, como o Palio Weekend.
- O design da Elba ficou defasado frente aos novos concorrentes.
- Mudanças nas preferências do consumidor e nas regulamentações de segurança e emissões.
Apesar de seu desempenho sólido, espaço interno e durabilidade mecânica, o fim do Fiat Elba foi inevitável diante das transformações do setor automotivo brasileiro nos anos 90.
Mesmo com o passar das décadas, a Fiat Elba permanece como símbolo do colapso de um governo. O carro é lembrado constantemente em reportagens, livros de história, charges e debates sobre ética política no Brasil.
Em um país onde escândalos políticos são recorrentes, é curioso que um carro tão simples tenha se tornado o ícone de um dos episódios mais marcantes da história republicana. O caso da Elba foi diferente: não havia superfaturamento, luxo ou grandes cifras envolvidas — mas a quebra da confiança pública, sim.
Repercussão cultural: da sátira ao estudo político
O impacto da Fiat Elba foi tão forte que ultrapassou os limites da política. A perua virou:
- Tema de charges nos principais jornais do país;
- Referência em programas humorísticos;
- Capítulo em livros de história contemporânea brasileira;
- Tópico de estudo em faculdades de jornalismo, direito e ciência política.
A Elba virou sinônimo de escândalo político, assim como o triplex do Guarujá em tempos mais recentes. Ela mostra como objetos aparentemente banais podem se tornar provas materiais decisivas.
Onde está a Fiat Elba hoje?
A pergunta permanece sem resposta oficial. Há registros no Detran de que a baixa foi solicitada, o que significa que legalmente, a Elba de Collor não pode mais circular. No entanto, não há confirmação se ela foi desmontada, vendida ou permanece guardada em algum lugar da “Casa da Dinda”, mansão do ex-presidente em Brasília.
Enquanto isso, a mística em torno do carro cresce. Talvez a Elba tenha mesmo virado sucata. Ou talvez esteja escondida, preservada por alguém que reconheceu seu valor histórico. O que se sabe é que a Elba deixou um legado que vai além da política ou da indústria automobilística: ela moldou o destino de uma nação.
FONTE: CLICK PETRÓLEO E GÁS