Foto: Tarcísio Martins, 2017. Interditado, por supostas questões relacionadas à estrutura de piso interior, bem como, por ataque de xilófagos – cupins – edificação poderá ser reaberta, em 2025.
Há um ano, desde setembro de 2024, o emblemático prédio – Casarão dos Araújo – localizado na Praça da Matriz, em Belo Vale, está interditado. O setor Jurídico municipal que ocupava o andar superior foi transferido, e a loja de artesanatos que funcionava no térreo foi suspensa, devido a possível risco interno. A princípio, um suposto motivo foi apontado: um ataque por xilófagos – insetos que se alimentam de madeira, a exemplo de cupins -, que estariam comprometendo a estrutura de um dos cômodos do piso superior, o qual foi concebido com madeira torta, mas sem comprometimentos para a estrutura.
Análise técnica da engenheira Karina Karla Santos Silva constatou que os barrotes de madeira, especialmente nas junções com as paredes externas, apresentam deterioração visível, configurando risco potencial de colapso. Diante disso, foi recomendada a interdição preventiva do imóvel e a instalação de escoramento emergencial, visando garantir a segurança até que as intervenções corretivas sejam realizadas.
Empresa A3 – Restauros contesta ataque de cupins
O suposto ataque de xilófagos foi contestado pela “A3 Atelier de Arte Aplicada Ltda.”, na pessoa do sócio e restaurador Adriano Luiz de Souza, quem executou as obras de restauro no período de 2016 a 1017. Em 08 de maio de 2025, Adriano encaminhou à Prefeitura Municipal de Belo Vale, Oficio nº. 01/2025, no qual relatou sua vistoria técnica. O documento ressalta que o segundo cômodo da edificação apresenta, originalmente, uma inclinação – já consolidada e existente no período do restauro, a qual não indica qualquer abalo estrutural ou ocorrência de recalque. Os barrotes da edificação são, originalmente, hiperdimensionados, e aqueles que apresentavam comprometimento foram substituídos. Todo o madeiramento foi submetido a tratamento imunizante, e as peças que apresentavam pequeno grau de ataque por xilófagos, mas ainda se encontravam em boas condições, foram devidamente reforçadas, com o intuito de evitar intervenções de maior impacto que pudessem comprometer as paredes internas do casarão, já bastante fragilizadas.
A empresa relata que na inspeção foram identificadas pequenas trincas no reboco do primeiro pavimento. Do ponto de vista arquitetônico e visual, Adriano pontua que as trincas observadas são superficiais, classificadas como trincas de reboco, sem evidências de comprometimento estrutural. E recomenda a elaboração de um laudo estrutural detalhado, visando dirimir quaisquer dúvidas acerca do sistema estrutural, especialmente considerando que, visualmente, o imóvel não apresenta risco iminente de colapso. – Não existem cupins e a interdição atual não deveria ter sido feita, pois as peças estavam perfeitas e aguentariam toda a carga do prédio; afirmou o restaurador.
Prefeitura Municipal prevê reabertura da edificação, em 2025
A reportagem do Correio de Minas foi à Secretaria Municipal de Obras, conversou com o Secretário Adjunto Sr. Gilmar Braga da Silva. Procurou por informações com outros secretários ligados à questão do Casarão dos Araújo, a fim de identificar o motivo que ainda mantém a edificação interditada. Gilmar Braga, em conversa telefônica com a engenheira Deneb Oliveira Bejar, apurou que o Memorial Descritivo e Planilha Orçamentária estariam sendo executados com previsão de término em 15 dias. O Secretário Municipal de Fazenda, Ademir Fernandes Gonçalves Dias confirmou que foi aprovado orçamento no valor de R$ 30 mil, para execução dos reparos na estrutura da edificação. – O projeto está sendo finalizado; há previsão de que a obra seja licitada, realizada e entregue, ainda no ano de 2025; pontuou o Secretário.
Casarão tornou-se primeira prefeitura da cidade, em 1939
Imponente, em estilo eclético, o ‘Casarão dos Araújo’ construído entre os anos de 1923 e 1929, trata-se de um tipo raro de habitação e elemento marcante que constitui referência e origem da cidade. Em 1º/01/1939, foi palco de uma grande festa com ampla participação popular, para instalar a cidade e consagrar o Dia do Município, após Belo Vale tornar-se independente de Bonfim, em dezembro de 1938. O prefeito nomeado Joaquim Rodrigues Silva presidiu a Sessão Cívica realizada no primeiro Paço Municipal da cidade.

O Casarão dos Araújo foi o primeiro prédio tombado pelo Município, através de Decreto 08/2008. Por sua representação histórica e cultural na paisagem do centro histórico da cidade, merece ser tratado com prioridade, a fim de que se perpetue para as futuras gerações. Sugere-se que edificações dessa natureza sejam destinadas para as manifestações culturais e entregues para uso da comunidade. O prédio é o espaço ideal para que se torne o necessário e fundamental Arquivo Público de Belo Vale, e que no andar térreo seja instalada a sede da Banda de Música Santa Cecília.
Tarcísio Martins, jornalista, ativista cultural e membro do Conselho Municipal de Cultura.