Erguido em 1954 e projetado para receber 45 mil pessoas, o monumental estádio está fechado desde 2013 e hoje enfrenta abandono total, com mato, rachaduras e entulho dominando sua estrutura em ruínas no centro de Porto Alegre.
Durante quase seis décadas, o Estádio Olímpico Monumental foi mais do que um simples campo de futebol: tornou-se parte fundamental da identidade de gerações de torcedores e do próprio futebol brasileiro.
Inaugurado em 19 de setembro de 1954, no bairro Azenha, em Porto Alegre, o estádio acompanhou o crescimento do Grêmio Foot-Ball Porto Alegrense e foi palco de mais de 3.500 gols e conquistas memoráveis.
Entre os momentos mais marcantes vividos no “Velho Casarão”, como ficou conhecido, estão grandes títulos, como a conquista da Copa Libertadores de 1995, que consolidou o clube no cenário internacional.
O estádio não era apenas um local para partidas: era um símbolo de paixão, pertencimento e glória para milhões de torcedores.

O fim de uma era e a chegada da nova casa
O ciclo do Olímpico começou a se encerrar quando a diretoria gremista, já nos anos 2000, iniciou estudos para a construção de um novo estádio.
O objetivo era acompanhar a evolução estrutural e comercial do futebol mundial.
Apesar de inicialmente considerar a reforma ou reconstrução do estádio no mesmo local, fatores como o alto custo de manutenção, deficiências de segurança, estacionamento insuficiente e adensamento populacional ao redor tornaram a modernização inviável.
Assim, em 2007, iniciou-se a busca por parceiros e recursos para erguer uma nova arena.
A construtora OAS foi escolhida para liderar o projeto, e em outubro de 2009 o clube comprou um terreno no bairro Humaitá, próximo ao Aeroporto Salgado Filho, por R$ 50 milhões.
As obras começaram em setembro de 2010 e, em um gesto simbólico, o ex-capitão Hugo De León plantou um pedaço da grama do Olímpico no local.
A nova casa, a Arena do Grêmio, foi inaugurada em dezembro de 2012, e a última partida no antigo estádio aconteceu em fevereiro de 2013.

O projeto que não se concretizou
Com a transferência dos jogos para a Arena, o plano era transformar o terreno do Olímpico em um empreendimento imobiliário.
A área seria transferida à OAS como parte do acordo pela construção do novo estádio. No entanto, a proposta nunca saiu do papel.
Mais de uma década depois, a estrutura do Olímpico continua de pé, mas em completo abandono.
O mato tomou conta das arquibancadas, o concreto apresenta rachaduras e ruínas, e o local passou a simbolizar o contraste entre o passado glorioso e o presente decadente.
A situação preocupa moradores da região, que relatam insegurança e impactos negativos no entorno. Sem capacidade de conter invasões e ocupações irregulares, o espaço virou abrigo para moradores de rua e usuários de drogas, além de alvo de furtos e pequenos crimes.
Impasses jurídicos e administrativos
A indefinição sobre o destino do Olímpico decorre de um complexo emaranhado jurídico envolvendo o Grêmio, a OAS e a Prefeitura de Porto Alegre.
A transferência do terreno nunca foi formalizada, e novas iniciativas para o espaço não avançaram.
Pendências contratuais e descumprimento de obrigações por ambas as partes paralisaram o processo, levando inclusive a prefeitura a cogitar a desapropriação do imóvel.
Um breve retorno em meio à tragédia
Durante as enchentes de 2024 que devastaram o Rio Grande do Sul, o Olímpico reabriu temporariamente para servir como centro de coleta de doações e apoio às vítimas.
A iniciativa reacendeu debates sobre o potencial de reutilização do espaço e seu valor simbólico para a comunidade.
Desde então, várias ideias foram discutidas, desde projetos imobiliários até a conversão do estádio em um centro comunitário. Nenhuma, porém, avançou de forma prática.

O impacto do abandono na comunidade
A deterioração do Olímpico também tem impacto direto na vida dos moradores do bairro Azenha.
Com boa parte da estrutura retirada para uma demolição que deveria ter ocorrido em 2013, o espaço hoje se resume a escombros.
A degradação favoreceu o aumento da criminalidade e a presença constante de moradores de rua.
O descaso transformou o que antes era motivo de orgulho em motivo de preocupação, com o estádio se tornando símbolo de abandono urbano em uma região densamente habitada de Porto Alegre.
Os bastidores da construção da Arena
A decisão de deixar o Olímpico para trás começou a ser desenhada ainda nos anos 2000, quando a diretoria avaliou que a modernização era inviável.
A busca por parceiros para a construção de um novo estádio resultou na escolha da OAS em 2007, com as obras iniciadas em 2010 e concluídas dois anos depois.
Apesar de toda a expectativa com a nova arena, o processo foi acompanhado por polêmicas. Parte da torcida demonstrou revolta com a decisão de abandonar o “Velho Casarão”.
A transição também foi marcada por promessas não cumpridas, como a rápida demolição do estádio antigo e a construção de um novo complexo no local — promessas que jamais se concretizaram.
Novos movimentos em 2025: a esperança de um desfecho
Após anos de impasse, um novo capítulo começou a ser escrito em 2025.
Em julho, o empresário Marcelo Marques adquiriu dois terços da dívida relacionada à construção da Arena, pagando R$ 80 milhões para assumir parte do débito, enquanto o clube desembolsou R$ 20 milhões.
A mudança de gestão representou um avanço significativo.
Com Marques e o Grêmio se tornando credores principais e sem interesse em executar a dívida, a Arena deixou de estar alienada judicialmente.
A baixa da penhora foi encaminhada, e segundo o vice-presidente do clube, Eduardo Magrisso, é apenas “questão de tempo” até que o processo seja concluído.
Negociações em andamento e incertezas persistentes
Segundo reportagem do GE, apesar do avanço, ainda existem obstáculos. A OAS 26 busca definir suas obrigações financeiras antes de assinar a permuta. Há discussões sobre quem será responsável por melhorias na infraestrutura do entorno da Arena.
As empresas sugeriram ceder parte do terreno do Olímpico à Prefeitura de Porto Alegre em troca de que ela execute as obras. O Ministério Público acompanha de perto essas negociações.
A proposta inicial é construir prédios residenciais no local, permitindo que as empresas recuperem parte do investimento. Contudo, os detalhes desses projetos só devem ser definidos após a oficialização da permuta.
Outro desafio é a falta de capital da OAS 26 e da Karagounis para arcar sozinhas com os custos das obras. A solução mais provável envolve parcerias com outras construtoras para viabilizar o investimento.
Posição da prefeitura e próximos passos
Em nota oficial, a Prefeitura de Porto Alegre afirmou que “as negociações com todas as partes envolvidas, inclusive com a participação do Ministério Público, seguem em andamento. O objetivo da prefeitura é ter iniciativas que representam intervenções de interesse coletivo para a cidade”.
Embora não exista uma definição concreta sobre o destino do Olímpico, a expectativa nos bastidores é que o imbróglio seja resolvido ainda em 2025.
A assinatura da escritura e a troca de chaves entre o clube e as empresas representariam o primeiro passo para uma transformação definitiva da área.
Um monumento silencioso à espera de um novo destino
Hoje, o Estádio Olímpico Monumental permanece como um símbolo vivo de um passado glorioso e um presente de incertezas.
As arquibancadas que já vibraram com grandes conquistas agora estão silenciosas, tomadas pelo mato e pela deterioração.
Mais do que um problema urbano, o espaço representa uma ferida aberta para torcedores e moradores, um lembrete constante de promessas não cumpridas e de uma era que se encerrou sem um final digno.
Se as negociações avançarem conforme o esperado, o local poderá, enfim, ganhar um novo propósito — seja como empreendimento imobiliário, seja como espaço de convivência urbana. Até lá, o “Velho Casarão” segue resistindo ao tempo, à espera de que o futuro finalmente chegue ao endereço onde a história foi escrita.
FONTE: CLICK PETRÓLEO E GÁS