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Ouro Branco celebra o primeiro Manifesto LGBTQIAPN+:quando o diálogo se transforma em história


Havia algo diferente no ar de Ouro Branco nos dias 7 e 8 de novembro. Talvez fosse o som que ecoava das vozes coloridas, talvez o vento que, insistente, trazia o cheiro de recomeço. O fato é que, entre o auditório do IFMG e a praça de eventos, a cidade testemunhou o que há tempos parecia distante: a concretização do primeiro Manifest LGBTQIAPN+ de Ouro Branco, um evento que não nasceu fácil, mas nasceu verdadeiro, e isso, por si só, já é histórico.Antes de se tornar festa, o Manifesto foi pauta, foi conversa, foi embate e reconciliação. Após um primeiro cancelamento por parte da Prefeitura, o Conselho Municipal de Cultura reafirmou sua deliberação sobre o uso dos recursos culturais, garantindo a autonomia que a lei lhe confere. Foi um gesto de coragem e compromisso coletivo, que devolveu à cidade o direito de celebrar sua diversidade. A partir daí, o que poderia ser um impasse se transformou em diálogo, unindo comunidade, Conselho e Legislativo em torno de um mesmo propósito: fazer da escuta um caminho e da pluralidade um valor.

Com tudo certo e acordado a organização ficou a cargo da Associação de Dança, Músicae Teatro de Ouro Branco que em parceria e apoio, do movimento Transcender em Sociedade, idealizado pelo ativista Fabrício Fernandes, equipe de Cultura e eventos e do gabinete da Vereadora Bruna D’Angela e outros voluntários, trabalho não deu trégua para que tudo acontecesse conforme o esperado.

E foi com essa energia que a primeira noite de evento tomou forma no IFMG. Sob o tema do letramento e da conscientização, a ativista Val Andrade, idealizadora do Coletivo Ideias Coloridas de Conselheiro Lafaiete, abriu as falas trazendo à tona a importância de compreender a origem, a composição e o sentido profundo da sigla LGBTQIAPN+. Falou sobre o papel do coletivo na sua cidade e sobre o poder transformador de ocupar espaços com amor, empatia e cidadania.

A movimentação em Ouro Branco foi um marco de visibilidade e coragem. Ver e poder participar ocupando espaços institucionais e culturais com suas nossas vozes, histórias e afetos é sinal de avanço coletivo. Foi um momento de aprendizado mútuo e de reafirmação de que a luta por equidade é feita com diálogo, acolhimento e presença. A força do movimento está na coletividade, ninguém caminha só. É importantíssimo continuar em cena ocupando espaços, criando pontes e mostrando que o amor e o respeito transformam cidades inteiras. O coletivo Ideias coloridas estará sempre apoiando o movimento! – Val Andráde | Coletivo Ideias Coloridas Na sequência, Thiago Santos, Coordenador da Rede Afro LGBT MG e Secretário Nacional de Juventudes da ABGLT, conduziu o público, com muito bom humor e irreverência a uma verdadeira viagem pela história dos movimentos sociais LGBTQIAPN+, desde as primeira articulações até o eco das ruas de Nova York em 1969, quando a Revolta de Stonewall
marcou o início do movimento moderno pelos direitos da comunidade. Com uma fala firme e inspiradora, Thiago lembrou que resistência é também uma forma de educação, compartilhando experiências que mostram que ainda resistir é uma necessidade, seja nos grandes centros como no interior.


Participei com muita felicidade desse momento histórico de Ouro Branco, uma cidade diversa e com um movimento organizado, parlamentares que apoiam a causa. Como
conselho eu deixaria a necessidade de se aderir o nome de Parada do Orgulho, entendendo a força e o legado internacional do movimento LGBT+, ainda aderir afinal de contas o tripé de Políticas para a População LGBTQIA+, disse Thiago ao Portal Tabloide. Entre o público, nomes do Legislativo e do Executivo marcaram presença: as secretárias Carla Barbosa (Educação), Sabrina Martins Bueno (Cultura), Silvania Martins (Governo), o vereador Nelinho do Esporte, além da vereadora Bruna D’Ângela, que foi uma das articuladoras para que o evento se tornasse possível. Ao lado de representantes do Conselho Municipal de Cultura, como Heleniara Amorim Moura e Míriam Faria.

Foi uma noite de aprendizado, escuta e consciência. Daquelas em que quem chega por curiosidade sai tocado por algo maior , uma compreensão mais ampla, um olhar mais
empático, uma disposição nova para acolher o outro. E se a primeira noite foi de reflexão, a segunda foi de pura celebração. Nem mesmo a chuva que ameaçou o início do evento conseguiu conter o brilho do primeiro Manifesto LGBTQIAPN+ de Ouro Branco. Bastaram alguns minutos para que o tempo abrisse espaço à festa, e à história. A segurança não deixou a desejar com o apoio da Guarda Municipal e Policia Civil, e a boa comida e bebida gelada a equipe do Via Sabores e seus food trucks. O cantor e ativista João Faioli deu o tom da noite com um show vibrante, costurado entre clássicos da MPB e composições autorais. Depois, o DJ Rick assumiu o palco com batidas contagiantes, acompanhado do grupo Savage, que incendiou o público com performances de street dance e vogue , uma mistura pulsante de cultura, arte e resistência.

O concurso que encerrou a noite foi um espetáculo à parte: Roberta Mendes foi coroada Miss Diversidade, ALUA conquistou o título de Miss Simpatia, e as princesas Ivy Lopes e Beth trouxeram beleza, talento e alegria em performances que animaram o público. O encerramento ficou por conta da irreverente Orquestra Mineira de Brega, que transformou a praça em um baile de glitter, cor e hinos da música popular brasileira. A celebração também foi acompanhada por autoridades que reconheceram o valor simbólico daquele momento: as vereadoras Bruna D’Ângela e Nilma Silva, as secretárias Sabrina Martins Bueno e Carla Barbosa, o secretário Eduardo Lourenço Viana, e vereadora de Conselheiro Lafaiete Damires Rinarlly, ativista e apoiadora do movimento.

No fim, o que ficou foi a sensação de que algo mudou. O Manifesto não foi apenas um evento, foi um marco, um gesto inaugural, um sinal de maturidade de uma cidade que começa a compreender que governar é ouvir, e ouvir é incluir. Ouro Branco abriu um caminho que não pode mais retroceder. E talvez, no futuro, quando se falar de 2025, se diga que foi nesse novembro, entre chuva, cores e aplausos, que a cidade aprendeu a se olhar com mais verdade, e a entender que diversidade não é exceção: é a própria essência da vida.

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