Como a Coreia do Sul, menor que o Ceará e devastada pela guerra, virou potência global em tecnologia, indústria e educação, impulsionada por Samsung, Hyundai e LG.
Quando a Guerra da Coreia terminou em 1953, o sul da península era um dos lugares mais pobres do planeta. O país inteiro havia sido destruído pelos bombardeios, a infraestrutura estava em ruínas e a economia dependia quase integralmente de ajuda humanitária. Boa parte da população sobrevivia com menos de um dólar por dia, e a fome era uma ameaça constante. Hoje, menos de 80 anos depois, essa mesma nação com apenas 100 mil km², território menor que o estado do Ceará, transformou-se em uma das economias mais sofisticadas do mundo, referência tecnológica e lar de conglomerados que influenciam o consumo global. É um salto histórico que fascina economistas, educadores e especialistas em inovação.
A ascensão sul-coreana não foi obra do acaso. Ela mistura políticas industriais agressivas, investimento pesado em educação e uma integração ao comércio internacional que mudou o destino de um país geograficamente pequeno, pobre em recursos naturais e com uma história recente marcada por conflitos. A virada foi tão profunda que hoje a Coreia figura consistentemente entre as nações mais inovadoras do planeta, segundo rankings internacionais como o Bloomberg Innovation Index.
Do país devastado à economia organizada: o início do milagre coreano
Nos anos que sucederam a guerra, o governo sul-coreano percebeu que não possuía petróleo, grandes reservas minerais ou vastas planícies agrícolas. Com território limitado, a única saída seria apostar na industrialização e, posteriormente, em tecnologia.
Para isso, adotou uma política nacional conhecida como “developmental state”, em que o Estado coordena e direciona o crescimento econômico.

Na década de 1960, o presidente Park Chung-hee iniciou a transformação ao identificar setores estratégicos como aço, automóveis, construção naval, eletrônicos e depois semicondutores. O governo fornecia incentivos, crédito subsidiado e metas rígidas de exportação. Nascia a base dos chaebols, os conglomerados familiares que hoje dominam a economia do país.
Samsung, Hyundai, LG e SK Group foram impulsionadas nesse período, crescendo de pequenas empresas locais para gigantes globais.
Ao mesmo tempo, a Coreia investiu pesadamente em educação básica. Em menos de duas décadas, alcançou índices de alfabetização superiores a 95%.
Essa combinação de disciplina industrial e qualificação da população — pavimentou o caminho para o que ficou conhecido como “Milagre do Rio Han”, uma referência ao rio que atravessa Seul e simboliza a prosperidade coreana.
A economia que aprendeu a exportar tecnologia para o mundo
A partir dos anos 1980, a Coreia virou o jogo no setor que definiria seu futuro: os eletrônicos avançados. A Samsung passou a investir bilhões de dólares em pesquisa e desenvolvimento, apostando na fabricação de semicondutores quando o mercado ainda era dominado por americanos e japoneses.
Décadas depois, a empresa seria uma das maiores produtoras de chips de memória do mundo.
A Hyundai fez movimento semelhante no setor automotivo. Antes conhecida por seus carros simples, investiu em engenharia, design e qualidade até se tornar uma marca global disputando mercado com Toyota, Volkswagen e GM.
A LG ampliou seus projetos em telas, eletrodomésticos e baterias, tornando-se líder mundial em diversos segmentos.

No início dos anos 2000, a Coreia não era apenas fabricante era inovadora. Seus investimentos em pesquisa e desenvolvimento chegaram a 4,8% do PIB, um dos maiores percentuais do mundo. O país também criou parques tecnológicos, incubadoras e programas de formação para engenheiros.
A estratégia funcionou: a Coreia hoje abriga uma das redes de internet mais rápidas do planeta, lidera a produção de telas OLED, está entre os maiores fabricantes de navios e possui uma das indústrias de games mais dinâmicas do globo.
Sociedade, cultura e educação como base de competitividade
A educação continuou sendo o eixo central do desenvolvimento. A Coreia figura entre os países com melhor desempenho no PISA — avaliação internacional que mede o aprendizado de jovens em leitura, matemática e ciências. O sistema é rigoroso e competitivo, mas ao mesmo tempo profundamente estruturado.
Além disso, a cultura coreana acabou se tornando uma força econômica por si só. A partir dos anos 2000, o governo incentivou a exportação de produtos culturais — música, séries, cinema, estilo de vida.
Esse movimento, conhecido como Hallyu (Onda Coreana), transformou o país em referência global de entretenimento. Hoje, K-pop, doramas e filmes sul-coreanos movimentam bilhões de dólares e ampliam a influência internacional do país.
Da crise à reinvenção: como o país virou referência mundial
Nem tudo foi linha reta. A crise asiática de 1997 quase colapsou o sistema financeiro sul-coreano. O país precisou de ajuda do FMI, e milhares de empresas quebraram. Mas, ao contrário de outras economias atingidas, a Coreia usou a crise para se reestruturar.
Desfez monopólios, fortaleceu a governança corporativa e acelerou a transição para setores de alta tecnologia.

O resultado dessa reinvenção é impressionante:
• Hoje, a Coreia do Sul tem PIB per capita acima de US$ 33 mil (Banco Mundial).
• É líder global em 5G, semicondutores e baterias.
• Exporta mais de US$ 680 bilhões por ano.
• Possui uma das menores taxas de mortalidade infantil do mundo.
• Tem uma expectativa de vida que ultrapassa os 83 anos.
Tudo isso em um território menor que o Ceará, sem petróleo e cercado por desafios geopolíticos, incluindo a presença da Coreia do Norte.
Um país pequeno que virou gigante e um modelo de transformação
A Coreia do Sul prova que tamanho não define destino. Com disciplina, planejamento de longo prazo, foco em educação e aposta em tecnologia, transformou-se de um país devastado pela guerra em uma potência econômica e cultural admirada globalmente.
É também um lembrete de que políticas industriais bem planejadas, investimentos contínuos em inovação e valorização de capital humano podem mudar por completo a trajetória de um país.
Hoje, a Coreia é um caso de estudo para economistas do mundo inteiro, um dos maiores polos de produção tecnológica do planeta e um exemplo de que, mesmo com território limitado, é possível construir um futuro muito maior do que o mapa permite enxergar.
FONTE: CLICK PETRÓLEO E GÁS



