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Luís Felipe Baeta Neves. A saga desconhecida dos Baeta Neves de Queluz de Minas.

Por João Vicente

Luis Felipe Baeta Neves, originário de Queluz de Minas,  filho de José Joaquim Baeta Neves, irmão do Joaquim Lourenço Baeta Neves ( Barão de Queluz) se destacou como uma figura de expressão nacional e internacional entre o final do século XIX e meados da década de 1930.  Fez seus estudos iniciais no  antigo Seminário de Congonhas do Campos, da Congregação, famosa cidade mineira conhecida internacionalmente no Santuário do Bom Jesus do Matozinhos pelas obras de Aleijadinho no Santuário do Bom Jesus do Matozinhos e do trabalho espírita humanista de  Zé Arigó.  A trajetória de Luis Felipe Baeta Neves é marcada por importantes contribuições nas áreas da medicina, política e agropecuária. Ao longo de sua vida, ele deixou um legado significativo e foi reconhecido por suas ações, tanto na ajuda humanitária durante a Primeira Guerra Mundial quanto em suas iniciativas de desenvolvimento na agricultura e na urbanização.

Sua morte em 1936, aos 70 anos, marcou o fim de uma era, mas seu impacto e suas realizações continuam a ser lembrado por onde ele passou e atuou como advogado, médico, ativista e pecuarista. Em Conselheiro Lafaiete, sua terra natal  e de seus pais , Luís Felipe Baeta Neves é complementarmente desconhecido.

Conselheiro Lafaiete

Cruzeiro Baeta Neves em São Bernardo do Campo-SP. Foi em 2 de setembro de 1962 que missionários da Congregação dos Redentoristas de Aparecida fincaram uma cruz no alto da Vila Baeta Neves . Naquele tempo, os religiosos passaram 10 dias em São Bernardo.

Quem foi Luís Felipe Baeta Neves

 Pesquisa, texto e acervo: Centro de Memória de São Bernardo

Linha do Tempo

Luís Felipe Baeta Neves

Pais: Maria Tomazia Baeta Neves e José Joaquim Baeta Neves

Nasceu em Vila Real de Queluz, hoje Conselheiro Lafaiete (MG), em 25-10-1864.

Formado em Direito, em 13-11-1886, em São Paulo

Formado em Medicina e Farmácia, no Rio de Janeiro, em 27-4-1897

Morreu em São Paulo (SP), em 27-12-1936, com 72 anos

Nascido em 25 de outubro de 1866 na antiga cidade de Queluz de Minas (atual Conselheiro Lafaiete) (1), Luiz Felipe Baeta Neves pertencia, por linhagem paterna, a tradicional família de origem portuguesa (região de Coimbra) que radicou-se e enriqueceu na referida cidade mineira a partir do início do séc. XIX. Foi um dos nove filhos do casal Maria Thomazia Paes de Andrade e José Joaquim Baeta Neves. Joaquim era juiz de direito, tendo atuado em Campinas, Atibaia, São Paulo e na comarca de Queluz, além de ter sido desembargador do tribunal de justiça de Minas. Luiz Felipe seguiria, a princípio, os passos do pai, cursando a Faculdade de Direito de São Paulo entre 1882 e 1886, após ter feito seus estudos iniciais no seminário de Congonhas do Campo, em Minas, e no tradicional colégio Dom Pedro de Alcântara (atual Dom Pedro II), no Rio de Janeiro (2). Paralelamente à faculdade, Baeta Neves trabalhou como amanuense da secretaria de governo da Província de São Paulo, entre 1883 e 1887 (3).

Queluz em 1842, hoje Conselheiro Lafaiete onde nasceu Dr. Luis Felipe Baeta Neves

Após sair do emprego, trabalhou quatro anos como advogado em Campinas e, em seguida, mudou-se para o Rio de Janeiro, onde tentou a sorte montando um comércio. Mudando radicalmente, resolveu seguir a carreira médica, cursando a Faculdade de Medicina no Rio, entre 1891 e 1897 (4). Nesse meio tempo, também se envolveu com a política da época, tendo apoiado a Revolta Armada (1893-1894), contrária ao governo de Floriano Peixoto. Baeta foi um dos 267 homens que, no fim da insurreição, solicitaram asilo na fragata portuguesa Mindello, na qual, sob precárias condições, viajou para o exílio em Buenos Aires, desembarcando em 26 de março de 1894. Voltaria somente após a concessão da anistia, em 1895 (5).

A Revolta da Armada foi uma rebelião liderada pela Marinha do Brasil entre os anos de 1891 e 1894.

Depois da conclusão do seu curso de medicina, em 1897, Baeta voltou para o estado de São Paulo, morando a princípio em Santos, onde abriu no ano seguinte um consultório na Rua Santo Antônio, na chamada “Pharmacia Popular” (6). Mas, pouco depois, mudou-se para a capital, estando em 1899 morando no bairro Santa Efigênia e com uma clínica instalada próximo à Praça da Sé (antiga Rua Marechal Deodoro), onde anunciava nos jornais seus serviços como “médico, operador e parteiro” (7). Dois anos depois, ele mudaria sua clínica para a Rua São Bento. Já em 1910, ele inaugurou, em sociedade com o Dr. Cândido Camargo, o Instituto Paulista, uma casa de saúde situada na antiga Chácara Vista Alegre, adjacente à Av. Paulista. O estabelecimento possuía 40 quartos, 3 salas operatórias e um hotel com 23 dormitórios para convalescentes e acompanhantes dos internos

Comunicado do IP anunciando inauguração das seções já concluídas.

Publicação do Instituto Paulista na Revista Ilustrada Paulista.

Interessante notar que, nas proximidades do local onde ficava o IP na cidade de SP estão instalados vários hospitais como o Nove de Julho, o Sírio-libanês e o Hospital e Maternidade SacreCoeur. Concluímos que o Instituto Paulista se foi, mas deixou suas sementes pelo caminho.

Nos momentos finais da 1ª Guerra Mundial, em 1918, Baeta integrou uma comissão que foi à Europa prestar serviços médicos aos aliados, tendo ele liderado uma seção de cirurgia (9). Dr. Baeta Neves chegou, enfim, ao front. Alternadamente as tropas francesas, inglesas e norte-americanas tomaram conhecimento da sua dedicação. Seus serviços levaram o governo francês a conferir a condecoração máxima da Legião de Honra. Voltando no mesmo ano, o médico continuou com suas atividades na clínica na Rua São Bento, onde ficaria até se aposentar. Nela, introduziu o tratamento de câncer com radium, uma novidade na época.

Missão dos médicos brasileiros na I Guerra Mundial. No fim da guerra foram condecorados com a Medalha Legião de   Honra pelo governo francês.

Por volta de 1919 que Baeta, já dono de fazenda em Rio Claro, adquiriu grande propriedade em São Bernardo, nas adjacências da Estrada do Vergueiro (atual Av. Sen. Vergueiro) e da estrada de São Bernardo – Estação Santo André (atual Av. Pereira Barreto). Instalou uma fábrica de cerâmica, na altura do terreno onde se encontra o Supermercado Sonda e a Rua dos Americanos, e uma fazenda com criação de suínos, na área onde está atualmente o shopping Metrópole e parte do Jardim do Mar. Tinha  660 porcos da raça Duroc Jersey, raça que ele foi um dos introdutores no país, chegando a ser premiado em concursos entre suinocultores. A administração da fazenda era feita por João Versolato,  morador pioneiro da vila, que fazia a mesma função em sua propriedade em Rio Claro (10).

 Dr. Baeta Neves e a casa sede de sua fazenda, que se  situava entre a Av. Senador Vergueiro  foto da década de 1920, onde foi pioneiro no Brasil na criação da raça suína Duroc Jersey

Em 1925, após adquirir nova área adjacente, pertencente ao sítio de Escolástica Serafim Bueno (11), ele lançou o loteamento da vila que leva seu nome. No início dos anos 30, com o loteamento praticamente ainda sem nenhuma evolução, ele o negociou com a Companhia Construtora Paulista, que fez modificações em seu plano inicial, numa tentativa de melhor adaptá-lo ao relevo excessivamente acidentado do terreno. Após as mudanças, por volta de 1931, os lotes foram lançados à venda com anúncios publicitários em diversos jornais, e a ocupação do terreno acelerou-se. O Dr. Baeta, contudo, não veria a maior parte deste desenvolvimento, tendo falecido no final de 1936, aos 70 anos. Seu consultório, porém, continuaria funcionando na Rua São Bento até o início da década seguinte, tendo à frente seu sobrinho e antigo assistente, Dr. Nelson Baeta Neves (12).

Um dos bairros mais antigos de São Bernardo. O Baeta Neves começou a ser formado em 1925 pelo Dr. Luiz Felipe Baeta Neves, daí a origem do nome.

FONTE:

(1) Livro de Batismos da Paróquia de Queluz ( Conselheiro Lafayette), 1858-1889.

(2) Correio Paulistano N. 7516  (1881) , 15777(1918)

(3)  idem,  8-02-1883 e  29-04-1887.

(4) Jornal do Brasil, 19-11-1891 ; Gazeta de Notícias 18-04-1897.

(5)  Decreto Federal 210 21-10-1895

(6) Diário Popular 13-06-1897.

(7) o Estado de SP, 12-02-1899

(😎 Correio Paulistano 17-01-1911;  O Estado de SP 3-10-1910

(9) idem, 15777(1918)

(10) Folha de São Bernardo, 1979

(11) Diário Oficial do Estado de Sp, 17-02-1954

(12) O Estado de SP, 29-12-1936, 14-07-1942

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