Grupo fará apresentação especial em 14 de maio, Dia das Mães, na Basílica de Lourdes; repertório de música sacra traz relíquias do período colonial
O Coral Cidade dos Profetas, de Congonhas, promoverá uma performance única em Belo Horizonte para marcar o lançamento do CD Mestres do Colonial Mineiro, com relíquias escritas no Século XVIII. O grupo, formado por 35 artistas e regido pelo maestro José Herculano Amâncio, se apresentará no dia 14 de maio (Dia das Mães), às 16h, na Basílica Nossa Senhora de Lourdes (Rua da Bahia, 1596 – Centro), com entrada gratuita.
O CD, composto por cinco gravações festivas, revela pérolas com poucos registros fonográficos, como é o caso do Stabat Mater escrito por J.J.E Lobo de Mesquita (1746-1805). Organista, maestro, compositor e professor brasileiro, ele é considerado um dos grandes expoentes, senão o maior, da chamada Escola de Minas e um dos principais nomes da música erudita brasileira de todo o período colonial.
“A nossa música é riquíssima. Muitas das canções estão no inconsciente popular e outras preciosidades ficaram escondidas por décadas. Estamos fazendo gravação desse repertório com um coral experiente e de extrema qualidade. Foram quatro anos de ensaios dedicados a esse trabalho”, comenta o maestro.
No repertório do CD Mestres do Colonial Mineiro e da apresentação estão: Matinas de Natal – Compositor não identificado, Século XVIII, 30´00’’ de gravação; Ofertório de Nossa Senhora da Assunção – Compositor não identificado, Século XVIII; Stabat Mater – J.J.E Lobo de Mesquita 1746-1805, 5’40’’ de gravação; Maria Mater Gratiae – Marcos Coelho Neto 1740-1806, 3’30’’ de gravação; e Magnificat – Manoel Dias de Oliveira – 1735-1813 6´15’’ de gravação.
Uma curiosidade relevada pelo maestro tem a ver com a assinatura das composições. “Neste período, no Brasil, era muito comum não haver informação sobre a autoria. Isso porque o mais importante era participar do rito. A obra em si e sua execução eram mais importantes que o nome”, explica.
O CORAL CIDADE DOS PROFETAS
Em 1978, um pequeno grupo de pessoas interessadas em aprender música fundou um Coral polifônico à capela, tendo como principal objetivo aliar arte musical à arte sacra colonial mineira. Como o Coral vem sendo regido pelo maestro José Herculano Amâncio com dedicação, competência e idealismo desde a sua fundação, alcançou um notável nível de excelência, participando no decorrer de sua existência, dos eventos mais significativos de Congonhas e região, como Semana Santa, Festivais de Inverno, Concertos Natalinos, Eventos Civis Comemorativos, bem como Festivais e Encontros de Corais Nacionais e Internacionais.
Ao se especializar na interpretação de música sacra antiga, notadamente a Colonial Mineira, se tornou um dos principais grupos em atividade a divulgar este inigualável patrimônio imaterial de Minas Gerais. Mantido pela Associação Cultural Canto Livre, entidade sem fins lucrativos, declarada de utilidade pública pela Lei Municipal 2617/2006, e pela Lei Estadual 19510/2011, oferece gratuitamente, através da Associação, formação musical a pessoas em idades que variam dos 12 aos 80 anos, e é reconhecido como uma das mais belas manifestações culturais do interior de Minas.
Em seu currículo estão CDs, DVDs e vários concertos, como: “Concerto à Virgem Maria e ao Seu Divino Filho”, “Concertos em Homenagem ao Aleijadinho”, “Concertos da Paixão”, “Concertos Natalinos”, dentre outros. Gravou em outubro de 2012, o CD “Coral Cidade dos Profetas – Missa em Fá Maior, de Lobo de Mesquita”, o qual alcançou grande sucesso. Sua mais recente produção é o CD “Coral Cidade dos Profetas – Mestres do Colonial Mineiro”, gravado em novembro/dezembro de 2016, na cidade histórica de Congonhas, MG.
A MÚSICA COLONIAL MINEIRA
A Música Colonial Mineira, elemento artístico e cultural da história do estado, se impõe desde as suas origens até a atualidade. Com seu apogeu na segunda metade do século XVIII, sua organização e profissionalização acontecem durante a formação das primeiras vilas e arraiais e no apogeu do Ciclo do Ouro.
A música religiosa dos tempos coloniais se fundamenta na riqueza dos textos litúrgicos, onde as frases, com seus sentidos específicos, são sugestivas, desafiadoras e despertam a inquietação, a imaginação e a criatividade do compositor, que sabe explorar os recursos musicais disponíveis para parafrasear os textos, com grande liberdade nas reexposições de temas e ideias musicais. Esbanja ornatos e contrastes, fazendo com que as peças se encham de beleza e harmonia. É escrita fundamentalmente em Latim, e caracteriza-se pela hipérbole, elipses intratextuais, alterações de solos, duos, coros, intervenções orquestrais, contrastes de vozes, explorações, de rondós, excessos de acidentes e adornos.
Apesar de inúmeros agentes se esforçarem na busca do resgate da Música Colonial Mineira, bem como na reconstituição de suas partituras, boa parte da produção de todo este manancial de beleza ainda permanece inédito das gerações atuais, em manuscritos guardados em bibliotecas públicas e coleções particulares ou circulando em cópias precárias de intérpretes. O que pôde ser salvo até agora representa apenas um reflexo de uma esplendorosa atividade criadora que alcançou, em diversas ocasiões, uma grande beleza.