Garimpando: Notícias de Conselheiro Lafaiete – 19

GARIMPANDO NO ARQUIVO JAIR NORONHA

                                        Avelina Maria Noronha de Almeida

                                                 avelinaconselheirolafaiete@gmail.com

NOTÍCIAS DE CONSELHEIRO LAFAIETE – 19

FOI ASSIM QUE UM ALUNO E UMA ALUNA INTERPRETARAM

E TRADUZIRAM DA MADEIRA PARA AS PALAVRAS, NOS ALTARES DA MATRIZ DE NOSSA  SENHORA DA CONCEIÇÃO, A INSPIRAÇÃO QUE MOVEU

 O ARTISTA DOS TEMPOS PASSADOS. 

Continuando a apresentação da História de nossa Cidade, na estrada do tempo estamos no…

Período próximo à Criação da Real Villa de Queluz:

 Neste artigo de hoje vou falar sobre um fato muito interessante de nosso patrimônio artístico e contar como tudo aconteceu.

Por que vou abordar este assunto na sequência cronológica das notícias da cidade? Porque, quando aqui se tornou Real Villa de Queluz, o desenrolar dos acontecimentos da Inconfidência Mineira estavam em efervescência e em nossa terra onde o movimento libertário foi muito mais forte e grandioso do que contam os livros históricos.  Muitos episódios foram abafados, muita gente conseguiu ficar escondida…

Um vestígio muito forte, na minha opinião, está na Matriz de Nossa Senhora da Conceição, realizado na madeira que já atravessou mais de dois séculos. Revelei este fato em escritos meus anteriores, já contei para muita gente e vi até reproduzido na Internet. Fico feliz que esteja sendo divulgado, porém quero, neste artigo, mostrar a história completa.

Nos últimos tempos do século XX eu dava aulas de Redação para os alunos do Segundo Grau no Colégio “Nossa Senhora de Nazaré”. Nas salas de terceiro ano, eu tinha aulas semanais geminadas. Eram duas classes: uma num dia e outra, no outro.

As aulas geminadas permitiam atividades maiores, como o que aconteceu um dia. Nas duas classes, desenvolvi o seguinte projeto para duas semanas: a escrita de um conto. Na primeira semana, levei as turmas, uma em cada dia, para a Praça Barão de Queluz. Sentaram-se alunos e alunas nos bancos e em degraus do chafariz. Tinham levado os cadernos e deveriam escrever a primeira parte do conto  em que um jovem ou uma jovem, enquanto aguardavam alguém sentado(a) num dos bancos, observasse o jardim e a movimentação da praça no começo do dia (eram as duas primeiras aulas da manhã). Uma manhã linda, clima perfeito para atividade literária que eles desenvolveriam. Tanto em um dia como no outro as classes, que eram muito brilhantes, escreveram textos muito criativos, muito bonitos.

Na semana seguinte, antes de sair da sala, informei à turma que o texto deveria ter o seguinte seguimento: a pessoa que prometera ir àquele encontro da semana passada não aparecera. Eles deveriam então contar que o personagem ou a personagem se dirigira à igreja cujo interior ainda não conhecia. No tempo da primeira aula, eles sentados nos bancos da nave da igreja, eu daria uma explicação sobre os elementos artísticos e, no segundo horário, ali nos bancos mesmo eles fariam a dissertação, encaixando a descrição do que estavam escrevendo no enredo do conto.

FOI AÍ QUE ACONTECEU O QUE EU ACHEI IMPORTANTÍSSIMO!

Quando fui descrever os altares laterais, barrocos da segunda fase, entre a capela-mor e a nave, comecei falando sobre a carranca, que existe nos dois altares, semelhantes mas com pequenas diferenças, como é o comum no barroco, nos dois altares, e expliquei que aquelas figuras de feio aspecto na parte superior deles eram explicadas pelos estudiosos da Arte como representantes do POVO. De sua boca saíam belos cortinados, representantes da REALEZA. Estes cortinados, chamados dosséis, são características do Barroco Joanino, referente à fase do Barroco português que floresceu no período do reinado de dom João V, no século XVIII. Nessa época, os altares tinham que trazer o símbolo da realeza, tinham que ter os cortinados ou dosséis. Naquele altar, de uma maneira não comum nos altares de outras igrejas, os DOSSÉIS  saíam da boca da CARRANCA.

Quando expliquei esses simbolismos, diante do altar do lado esquerdo da Matriz, explicando que a CARRANCA ERA O POVO e  OS DOSSÉIS ERAM O O REI, a aluna Talulah Franco disse logo:

– Veja, D. Avelina: O REI ESTÁ TIRANDO O ALIMENTO DA BOCA DO POVO!

Imagem de Mauro Dutra

AQUELA ALUNA FEZ UMA INTERPRETAÇÃO NUNCA FEITA SOBRE AQUELE ALTAR! IMPORTANTE DESCOBERTA INTERPRETATIVA!

Eu mesma, que mostrei o altar aos alunos, não havia percebido isto! ENTÃO PENSEI: ESTE ESCULTOR ESCREVEU UMA MENSAGEM, COM A ESCULTURA,  NA MADEIRA, NESTE ALTAR, TRADUZINDO O PENSAMENTO E O SENTIMENTO DO POVO DAQUELA ÉPOCA. A MENSAGEM ATRAVESSOU MAIS DE DOIS SÉCULOS E FOI TRADUZIDA EM PALAVRAS PELA ALUNA!  Incrível!

E muito importante: meses depois, fazendo uns estudos em livros escritos no século XIX, achei um comentário em um deles dizendo que o povo de Carijós falava:

“O rei está tirando a comida da nossa boca.”

AS MESMAS PALAVRAS TRADUZIDAS PELA ALUNA! UM VERDADEIRO MILAGRE DA COMUNICAÇÃO!

Foto de Mauro Dutra

No dia seguinte, levei a outra turma. Diante dos altares, falei com eles que, no dia anterior, uma aluna tinha descoberto alguma relação da carranca com os dosséis e um aluno – já fiz tudo para lembrar seu nome e não consegui, mas tenho a esperança de um dia descobrir – falou assim, noutra interpretação importante: “O POVO ESTÁ VOMITANDO A REALEZA!” Não era  a tradução da REVOLTA DO POVO NO TEMPO DA INCONFIDÊNCIA???

FOI ASSIM QUE UM ALUNO E UMA ALUNA INTERPRETARAM E TRADUZIRAM DA MADEIRA PARA AS PALAVRAS, NOS ALTARES DA MATRIZ DE NOSSA SENHORA DA CONCEIÇÃO, A INSPIRAÇÃO QUE MOVEU O ARTISTA DOS TEMPOS PASSADOS.

Até hoje não se conseguiu saber o escultor que fez as talhas do altar, mas ou ele era um INCONFIDENTE ou soube interpretar muito bem o  sentimento que levou ao episódio histórico da Inconfidência Mineira.

Garimpando – Notícias de Conselheiro Lafaiete 10

GARIMPANDO NO ARQUIVO JAIR NORONHA

 

                                        Avelina Maria Noronha de Almeida

                                                 avelinaconselheirolafaiete@gmail.com

  NOTÍCIAS DE CONSELHEIRO LAFAIETE – 10

O grande conhecedor de Arte, Pe. José Feliciano da Costa Simões,

de Ouro Preto, disse-me uma vez que já ficara horas

 observando os altares de nossa igreja.

Continuando a História de nossa amada Conselheiro Lafaiete:

17 de outubro de 1731 – Por provisão do Bispo do Rio de Janeiro, Dom Antônio de Guadalupe, foi autorizada a construção da nova Matriz, a qual se iniciou em 1733, tendo o seu término somente em 1825. Como o arraial crescesse seguindo a direção do Caminho Velho, estabeleceu-se o local para erguer-se o templo, que é a atual Matriz de Nossa Senhora da Conceição.

 DOM FREI ANTÔNIO DE GUADALUPE ficou, assim ligado à trajetória de nossa terra. Era sacerdote franciscano, nascido em 27 de setembro  de 1672 em Amarante, Portugal. Foi nomeado bispo do Rio de Janeiro, em 1722, quando já tinha 50 anos de idade.

Cidade do Rio de Janeiro, onde Dom Frei Antônio de Guadalupe era bispo/
Imagem da Internet

 Era um homem experiente, quando se tornou bispo. Já fora juiz, deixando a carreira nos tribunais de justiça da Coroa, entrando para a ordem dos frades menores, dedicando-se à pregação e à atividade missionária. Assim sobre ele se expressou Fr. José de São Gualtér Lamatyde:

“… deu as costas ao mundo, quando o podia lisonjear com os adiantamentos bem merecidos do bom zelo, com que servia a Magestade no lugar de Ministro de Juiz de Fóra da Villa de Trancoso, aonde julgou, (e com solido fundamento) que era melhor ser parte no Paraiso da Religião, do que ser Juiz no século, para que no Juizo final se não trocasse a sorte de vir a ser réo sentenciado a final para huma eternidade de penas; podendo na Religião, pela observância do seu Instituto, ser promovido pela Magestade Divina ao Tribunal da sua glória.”

 Pregou nos púlpitos mais autorizados de Portugal, senso tido como um dos maiores daquele século. Vindo para o Brasil, apresentou muitos valores em sseu bispado.

Considerei ser importante falar sobre ele porque sua assinatura de aprovação está nos anais da construção de nossa Matriz de Nossa Senhora da Conceição.

Alguns trechos que achei muito interessantes em minha pesquisa sobre sua história no Brasil: após pregar numa missa sobre inimizades,chamou aos dois e a um cônego que estava sem falar com outros três, e reunindo todos os cônegos e dignidades na sacristia da igreja, os fez abraçar uns aos outros ‘não sem lágrimas de alguns companheiros’”. Achei esta formidável!!!

Outro trecho de que gostei muito: Foi às igrejas matrizes assistir à doutrina das crianças, tendo, uma vez, ele mesmo assumido a tarefa.

Faleceu em 31 de agosto de 1740.

Antes de falar um pouco das características do templo, quero alertar sobre  informações incorretas sobre ele. É um erro histórico (que eu mesma passei para meus alunos de Curso Primário por muitos anos)  dizer que foi construído pelos bandeirantes e pelos índios carijós; isso aconteceu com a primitiva igreja ainda no século XVII, em Passagem de Gagé.  O atual foi feito com um caprichoso planejamento, feito por carpinteiros e houve ajuda dos escravos  do Capitão-Mor Manoel Gonçalves Viana.

Quando o nosso ilustre historiador Antônio Luiz Perdigão chegou de volta à nossa cidade, procurou corrigir este erro, dizendo que não foram os bandeirantes e índios Carijós que construíram a Matriz de Nossa Senhora da Conceição, situada entre a Praça Tiradentes e a Praça Barão de Queluz. Eles não tinham condições de realizar uma obra assim. Sua construção se deve a competentes carpinteiros, em terreno bem escolhido e segundo plano obediente às regras da época.

O outro erro é considerá-la como a primeira Matriz, ereta em 1709. Em seus escritos, Pe. José Duarte de Souza desmitificou essa informação corrente e apresentou anotações tiradas do Livro da Irmandade do Santíssimo, que se encontra em Mariana. De acordo com essas anotações, como a primeira Matriz, ereta em 1709, estava pequena para conter os fiéis, a Irmandade reuniu-se em 1731 e escolheu um terreno, localizado na região em direção à qual o arraial ia se expandindo, e o cercaram. O trabalho de construção iniciou-se em 1733, portanto 24 anos mais ou menos após a criação da paróquia. O sacerdote historiador deu várias pistas da localização da primeira matriz, apresentadas no relatório de visita de um bispo e na documentação da ordenação de um sacerdote.

Fazendo algumas pesquisas, levantei a tese de que era no local onde hoje se vê a Igreja de São João, um pouco mais para cima.

A Matriz atual, construída na Praça Barão de Queluz, que nos encanta o olhar e o coração, lançando no azul as suas belas torres, foi, assim, construída pela Irmandade do Santíssimo, com a ajuda financeira do povo, em lugar bem escolhido, de acordo com as regras da época, por experientes carpinteiros contratados e, como já citei, e de acordo com o Livro da Irmandade do Santíssimo da época, escravos de Manoel Gonçalves Viana trabalharam também na obra

Tive ocasião de ver, certa vez, o desenho de um engenheiro que quadriculou a parte da frente da Matriz em linhas transversais que passavam em cada ângulo de janelas, portas, torres e outros detalhes da construção. Algo muito perfeito e digno de admiração.

Apliquei ao desenho de sua parte da frente a Regra Áurea, fazendo sobre ele uma estrela de cinco pontas (um dos exemplos dessa regra) e deu certinho, uma das provas da competência de quem a planejou e construiu.


Veja a perfeição de suas linhas, a harmonia, a elegância de sua conformação/ Imagem da Internet

A Regra ou Proporção Áurea foi-nos legada pelos gregos, que padronizaram a arquitetura em termos de largura e altura, sendo a mesma muito utilizada em pintura, no Renascimento, por Leonardo da Vinci.

 

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