Prossegue o drama dos moradores do Bairro Pires, em Congonhas (MG). Desde sexta-feira (3) eles são submetidos a situação constrangedora e agressão aos seus direitos básicos. Nossa reportagem vem acompanhado a realidade vivenciada por mais de 2 mil moradores que estão com água barrenta e com fedor chegando em suas residências e imprópria para o consumo.
Isso porque na sexta-feira, uma adutora da CSN rompeu carreando minério a mina do “boi na brasa” que abastece a comunidade afetando diretamente as atividades rotineiras dos moradores. Para ter acesso água para o consumo, eles são obrigados a comprar o produto cujo preço chega a R$10,00. Na tarde de sábado, a CSN enviou cerca de 350 galões mas insuficiente para abastecer o bairro. “Não aguentamos mais esta situação. Até quando seremos obrigados a conviver com esta água imunda e contaminada. Onde estão as autoridades para proteger nossa saúde e responsabilizar os que provocaram esta situação?”, questionou uma dona de casa.
A situação
Em comunicado enviado a nossa redação, a Assessoria de Imprensa da CSN que a empresa ressalta que mantem diálogo com a população, buscando mitigar o ocorrido”. A nota diz que mineradora e a Copasa já estiveram no local e restauraram a adutora que rachou na tarde de ontem (3/3), no bairro Pires. “A CSN investigará o que causou o dano e já está realizando a limpeza do local”.
A prefeitura
A Prefeitura Municipal de Congonhas, por meio da Secretaria de Meio Ambiente e Desenvolvimento Rural e Secretaria de Segurança Pública, Defesa Civil e Social, informou agora há pouco no Bairro Pires para verificar a situação da água juntamente com a fiscalização municipal. Segundo os representantes, após análise inloco, constataram-se que as operações da empresa CSN Mineração ocasionaram dano na adutora de água. A COPASA e a empresa tomaram as ações cabíveis para solucionar o problema. A fiscalização municipal tomará as devidas providências em relação ao fato ocorrido.
Há mais de uma década o Pires convive com a insegurança hídrica, falta de abastecimento.
Tomado por mineradoras, o Bairro Pires, em Congonhas, sofre com poeira, barro e ainda e ainda é cortado por rodovia e ferrovia. A comunidade é a mais impactada em todo o quadrilátero ferrífero pelo lado perverso do “progresso”. No Pires, os moradores pagam caro pelos royalties que irriga os cofres bilionários da prefeitura. Há mais uma década, os mais de 1,5 habitantes não têm menos dignidade e acesso aos seus direitos básicos. O principal se refere a segurança hídrica. Todas as nascentes ao entorno sofrem com a degradação e assessoramento dos cursos águas provocadas pela ação da mineração.
Mais um capítulo do drama sem fim. Ontem a tarde (3), por volta das 15:00 horas, moradores foram surpreendidos (já é não tão surpresa assim!) com água que abastece as casas tomada por barro e imprópria para o consumo humano. A contaminação do produto é proveniente de um rompimento da rede de abastecimento provocado por uma mineradora.
Durante toda a tarde, os moradores viveram o martírio de não poder usar a água para suas atividades diárias e foram privados do consumo. “Nossa água é pura lama. È um absurdo e toda a nossa comunidade sofrer com esta situação degradante. As águas das caixas d’água estão com barro. É uma tremenda irresponsabilidade com o Pires e os moradores. O que temos haver com esta mineração que afeta nossa vida e nossa saúde? Que as empresas assumam o crime e abasteçam com água de qualidade nossas casas. O que vamos fazer com água nas caixas totalmente contaminadas?, desabafaram os moradores que acionaram nossa reportagem para relatar mais uma tragédia no bairro. “Os canos estão todos por barro. Onde estão as autoridades para zelar pelos nossos direitos básicos e acesso a água?”, completaram.
Nossa reportagem conversou com a Copasa que informou que por volta das 18:00 horas o abastecimento restabelecido. Procuramos a Secretaria Municipal de Meio de Ambiente que informou que emitirá uma nota oficial sobre a contaminação da água e providências tomadas no Bairro Pires. A CSN e Ferro + também foram questionadas sobre o rompimento da rede de abastecimento.
Problema recorrente
O problema de falta de água e ou de mananciais contaminados vêm de mais de uma década e já foram alvo de inúmeras audiências locais e na Assembleia de Minas e até mesmo ações judiciais. Em 2010, cerca de 140 pessoas em um mutirão de limpeza da represa do bairro Pires, município de Congonhas. Os moradores ficaram sem água potável por diversas ocasiões devido a deslizamentos de terras na nascente de água que abastece a região. O problema teve início com a construção de uma estrada que ligará a Mina do Engenho à BR 040. A obra é da empresa Namisa (mineradora de ferro) e tem o objetivo de facilitar o acesso à área de mineração.
Mais impressionante que as fotos foi o desabafo de uma moradora do bairro Pires, que conclui após relatar a situação de contaminação das nascentes da área por minério: “estamos sendo tratados como um ser qualquer”.
Em 2010: cerca de 140 pessoas em um mutirão de limpeza da represa do bairro Pires, município de Congonhas. Os moradores ficaram sem água potável por diversas ocasiões devido a deslizamentos de terras na nascente de água que abastece a região
Galões de água
Em 2014, o abastecimento de água no bairro foi comprometido desde que uma nascente foi assoreada devido a obras de uma mineradora. Por quase dois anos, os moradores receberam água de caminhões-pipa e galões de água mineral pagos pela mineradora que provocou o dano, graças a uma determinação do Ministério Público. Mas o abastecimento alternativo acabou e é preciso contar com a sorte para ter água cristalina saindo nas torneiras, o que nem sempre ocorre.
A Copasa concluiu o estudo para tratar a água, o que, obviamente, implicará pagamento de tarifa pelo serviço. Moradores, entretanto, rejeitam a ideia. O argumento deles é que a poeira é imensa e eles precisam lavar os passeios e as casas todos os dias. Dependendo da quantidade de poeira, até mais de uma vez ao dia. Pagar por isso, segundo o cálculo dos moradores, será caro demais.
Outro problema
Em 2019, a comunidade do Pires que chegou a ficar sem água após uma forte chuva que causou um extravasamento na barragem Josino, da mineradora Ferro +. O extravasamento é quando a água escoa por um dispositivo chamado “extravasor”, na barragem. Parte dos sedimentos de minério que estavam na barragem atingiu um canal que passa ao lado da BR-040, e a lama cobriu a estrada em um trecho.
Uma nascente, que era usada para o abastecimento de cerca de 2 mil pessoas, foi fechada. De acordo com a mineradora, esta nascente é a céu aberto e é frequentemente prejudicada pelas chuvas na região e seu fechamento não tem relação com o extravasamento da barragem.
Uma reflexão: A QUE PONTO CHEGOU O “PROGRESSO” QUE PROVOCA TANTA DEGRADAÇÃO HUMANA? A QUEM SERVE ESTE “PROGRESSO”?
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