Brasil será um dos lugares mais quentes do planeta neste fim de semana

Temperatura em pontos do Centro-Oeste e do Sudeste do Brasil devem ficar perto de máximas previstas para Arábia Saudita, Irã e Iraque

O Brasil será um dos lugares mais quentes do mundo neste fim de semana, de acordo com dados de modelos numéricos de previsão do tempo. Poucos lugares do planeta terão temperaturas tão ou mais altas quanto as previstas para uma extensa área do território nacional no sábado e, especialmente, no domingo que deve ser o dia mais quente do fim de semana em muitos estados.

Ontem, quinta, conforme a rede do Instituto Nacional de Meteorologia, a temperatura atingiu 40,9ºC no Maranhão (Balsas), 40,7ºC no Mato Grosso do Sul (Água Clara), 40,5ºC em Goiás (Goiás), 40,5ºC no Mato Grosso (Cuiabá), 39,9ºC em Tocantins (Araguaçu), 39,8ºC no Piauí (Campo Maior), 39,0ºC em São Paulo (Valparaíso), 38,3ºC no Pará (Santana do Araguaia), e 38,0ºC em Minas Gerais (Ituiutaba).

A tendência, porém, é de marcas mais elevadas na tarde desta sexta-feira e ainda mais altas durante o fim de semana. Modelos numéricos indicam que o calor em grande parte do Brasil será mais intenso no domingo que no sábado, com máximas que vão passar dos 40ºC em enorme número de cidades de diversos estados.

Conforme as projeções dos modelos, na Região Sul, a temperatura neste fim de semana poderá ficar ao redor dos 40ºC no Noroeste do Rio Grande do Sul e no Oeste de Santa Catarina, e entre 40ºC e 42ºC no Oeste, Noroeste e Norte do estado do Paraná, não se afastando marcas isoladas superiores.

No Centro-Oeste do Brasil, o fim de semana deve ter máximas de até 42ºC a 44ºC no Mato Grosso e no Mato Grosso do Sul, mas há modelos indicando até marcas de 45ºC a 46ºC isoladamente nestes dois estados e de 45ºC a 47ºC no Paraguai, projeção que se observa com cautela pelos valores serem muitos extremos e distantes dos picos máximos da climatologia histórica. Em Goiás, as máximas no fim de semana, sobretudo no domingo, podem atingir 40ºC a 42ºC com pontos isolados atingindo até 43ºC.

Projeção de temperatura do modelo de alta resolução WRF para a tarde de domingo no Centro-Oeste do Brasil, Tocantins, interior de São Paulo e Triângulo Mineiro | METSUL

No Norte, máximas de 41ºC a 43ºC podem ocorrer no Tocantins. A temperatura poderá atingir ainda 40ºC a 42ºC com marcas isoladas superiores em Rondônia, parte do estado do Amazonas e parte Sul do Pará. Na região Nordeste, marcas perto ou ao redor de 40ºC poderão ser observadas no Maranhão e no Piauí.

Na Região Sudeste, o pior do calor neste fim de semana vai ocorrer no interior de São Paulo e no Oeste de Minas, embora a temperatura muito alta em outras áreas da região. Cidades do interior paulista, principalmente do Centro para o Oeste e o Norte do estado, devem ter máximas de 40ºC a 42ºC com possibilidade de registros isolados ao redor ou acima de 43ºC. Trata-se da mesma tendência para cidades mais a Oeste do Triângulo Mineiro, o que exclui Uberlândia que terá máximas perto 40ºC.

Enorme área do Brasil terá mais de 40ºC na tarde do domingo pela projeção do modelo Icon do serviço meteorológico alemão | METSUL

A cidade de São Paulo, como a maior do país, merece destaque. As máximas na capital paulista devem ficar entre 33ºC e 35ºC no sábado e 36ºC a 38ºC no domingo, logo não se pode afastar a queda de recordes. O dia mais quente já registrado oficialmente na cidade de São Paulo em setembro desde o começo dos dados em 1943 na estação do Mirante de Santana foi de 37,1ºC, em 30 de setembro de 2020. Trata-se da segunda maior máxima da série histórica, só atrás dos 37,8 ºC de 17 de outubro de 2014.

Projeção de temperatura para a manhã do domingo (hora de Brasília) UNIVERSIDADE DO MAINE

A tendência, assim, é que as máximas no fim de semana no Brasil se situem entre as mais altas do mundo, aproximando-se ou superando valores extremos que são previstos para áreas de deserto do Norte da África, Península Arábica e países em torno do Golfo Pérsico. Iraque, Irã e Arábia Saudita anotaram ontem máximas de 44ºC a 45ºC, e no fim de semana devem seguir entre 43ºC e 45ºC, máximas semelhantes às previstas para alguns pontos do Paraguai, Norte da Argentina, Bolívia e do Centro do Brasil.

Notável observar que, embora o calor extraordinário previsto para este fim de semana, os dados indicam que o calor será ainda mais intenso no Sudeste do Brasil entre segunda e quarta-feira da semana que vem com máximas espantosamente altas comparadas à climatologia histórica. A ponto de ser possível que a temperatura na terça na cidade de São Paulo e em Belo Horizonte se aproxime o fique em torno ds 40ºC, o que seria recorde não apenas para setembro, mas para toda a série histórica, logo excepcional.

FONTE METSUL

Brasil será um dos lugares mais quentes do planeta neste fim de semana

Temperatura em pontos do Centro-Oeste e do Sudeste do Brasil devem ficar perto de máximas previstas para Arábia Saudita, Irã e Iraque

O Brasil será um dos lugares mais quentes do mundo neste fim de semana, de acordo com dados de modelos numéricos de previsão do tempo. Poucos lugares do planeta terão temperaturas tão ou mais altas quanto as previstas para uma extensa área do território nacional no sábado e, especialmente, no domingo que deve ser o dia mais quente do fim de semana em muitos estados.

Ontem, quinta, conforme a rede do Instituto Nacional de Meteorologia, a temperatura atingiu 40,9ºC no Maranhão (Balsas), 40,7ºC no Mato Grosso do Sul (Água Clara), 40,5ºC em Goiás (Goiás), 40,5ºC no Mato Grosso (Cuiabá), 39,9ºC em Tocantins (Araguaçu), 39,8ºC no Piauí (Campo Maior), 39,0ºC em São Paulo (Valparaíso), 38,3ºC no Pará (Santana do Araguaia), e 38,0ºC em Minas Gerais (Ituiutaba).

A tendência, porém, é de marcas mais elevadas na tarde desta sexta-feira e ainda mais altas durante o fim de semana. Modelos numéricos indicam que o calor em grande parte do Brasil será mais intenso no domingo que no sábado, com máximas que vão passar dos 40ºC em enorme número de cidades de diversos estados.

Conforme as projeções dos modelos, na Região Sul, a temperatura neste fim de semana poderá ficar ao redor dos 40ºC no Noroeste do Rio Grande do Sul e no Oeste de Santa Catarina, e entre 40ºC e 42ºC no Oeste, Noroeste e Norte do estado do Paraná, não se afastando marcas isoladas superiores.

No Centro-Oeste do Brasil, o fim de semana deve ter máximas de até 42ºC a 44ºC no Mato Grosso e no Mato Grosso do Sul, mas há modelos indicando até marcas de 45ºC a 46ºC isoladamente nestes dois estados e de 45ºC a 47ºC no Paraguai, projeção que se observa com cautela pelos valores serem muitos extremos e distantes dos picos máximos da climatologia histórica. Em Goiás, as máximas no fim de semana, sobretudo no domingo, podem atingir 40ºC a 42ºC com pontos isolados atingindo até 43ºC.

Projeção de temperatura do modelo de alta resolução WRF para a tarde de domingo no Centro-Oeste do Brasil, Tocantins, interior de São Paulo e Triângulo Mineiro | METSUL

No Norte, máximas de 41ºC a 43ºC podem ocorrer no Tocantins. A temperatura poderá atingir ainda 40ºC a 42ºC com marcas isoladas superiores em Rondônia, parte do estado do Amazonas e parte Sul do Pará. Na região Nordeste, marcas perto ou ao redor de 40ºC poderão ser observadas no Maranhão e no Piauí.

Na Região Sudeste, o pior do calor neste fim de semana vai ocorrer no interior de São Paulo e no Oeste de Minas, embora a temperatura muito alta em outras áreas da região. Cidades do interior paulista, principalmente do Centro para o Oeste e o Norte do estado, devem ter máximas de 40ºC a 42ºC com possibilidade de registros isolados ao redor ou acima de 43ºC. Trata-se da mesma tendência para cidades mais a Oeste do Triângulo Mineiro, o que exclui Uberlândia que terá máximas perto 40ºC.

Enorme área do Brasil terá mais de 40ºC na tarde do domingo pela projeção do modelo Icon do serviço meteorológico alemão | METSUL

A cidade de São Paulo, como a maior do país, merece destaque. As máximas na capital paulista devem ficar entre 33ºC e 35ºC no sábado e 36ºC a 38ºC no domingo, logo não se pode afastar a queda de recordes. O dia mais quente já registrado oficialmente na cidade de São Paulo em setembro desde o começo dos dados em 1943 na estação do Mirante de Santana foi de 37,1ºC, em 30 de setembro de 2020. Trata-se da segunda maior máxima da série histórica, só atrás dos 37,8 ºC de 17 de outubro de 2014.

Projeção de temperatura para a manhã do domingo (hora de Brasília) UNIVERSIDADE DO MAINE

A tendência, assim, é que as máximas no fim de semana no Brasil se situem entre as mais altas do mundo, aproximando-se ou superando valores extremos que são previstos para áreas de deserto do Norte da África, Península Arábica e países em torno do Golfo Pérsico. Iraque, Irã e Arábia Saudita anotaram ontem máximas de 44ºC a 45ºC, e no fim de semana devem seguir entre 43ºC e 45ºC, máximas semelhantes às previstas para alguns pontos do Paraguai, Norte da Argentina, Bolívia e do Centro do Brasil.

Notável observar que, embora o calor extraordinário previsto para este fim de semana, os dados indicam que o calor será ainda mais intenso no Sudeste do Brasil entre segunda e quarta-feira da semana que vem com máximas espantosamente altas comparadas à climatologia histórica. A ponto de ser possível que a temperatura na terça na cidade de São Paulo e em Belo Horizonte se aproxime o fique em torno ds 40ºC, o que seria recorde não apenas para setembro, mas para toda a série histórica, logo excepcional.

FONTE METSUL

Previsão de CALOR EXTREMO para os municípios do Vale do Piranga e região (MG) nos próximos dias: temperaturas poderão chegar a 36°C

? Uma massa de ar extremamente quente e seca predomina sobre a região ao longo dos próximos dias. Já faz calor na região desde o início desta semana, com temperaturas próximas de 30° C. A partir de sábado, 23/09, a condição se agrava, predominando evento crítico de altas temperaturas inclusive ao longo da próxima semana, quando as temperaturas poderão atingir 36°C (exclusa a sensação térmica). A condição crítica de calor extremo irá perdurar até por volta de sábado ou domingo da próxima semana (30/09 ou 01/10), quando há previsão de chuva.

? O calor não é um evento raro para esta época do ano, fim do inverno e início da primavera. Mas, poderá ser incomum por causa das possibilidades de superação de recordes históricos, não apenas do mês de setembro, mas até absolutos. É importante que as pessoas tomem medidas de precaução como manter-se hidratadas, usar roupas leves, evitar ficar em carros estacionados sob o sol, evitar atividades físicas expostas ao sol, estar atentas aos sintomas de insolação como náuseas, vômitos e confusão mental etc.

? Eventos de calor extremo estão se tornando mais frequentes devido às mudanças climáticas globais. É fundamental que as autoridades e a população estejam preparadas para lidar com esses desafios cada vez mais graves relacionados ao clima. A segurança e o bem-estar da população devem ser a prioridade máxima dos governos.

? Imagens: Metsul / davimoura.meteorologista

FONTE GUARÁ DRONE

Previsão de CALOR EXTREMO para os municípios do Vale do Piranga e região (MG) nos próximos dias: temperaturas poderão chegar a 36°C

? Uma massa de ar extremamente quente e seca predomina sobre a região ao longo dos próximos dias. Já faz calor na região desde o início desta semana, com temperaturas próximas de 30° C. A partir de sábado, 23/09, a condição se agrava, predominando evento crítico de altas temperaturas inclusive ao longo da próxima semana, quando as temperaturas poderão atingir 36°C (exclusa a sensação térmica). A condição crítica de calor extremo irá perdurar até por volta de sábado ou domingo da próxima semana (30/09 ou 01/10), quando há previsão de chuva.

? O calor não é um evento raro para esta época do ano, fim do inverno e início da primavera. Mas, poderá ser incomum por causa das possibilidades de superação de recordes históricos, não apenas do mês de setembro, mas até absolutos. É importante que as pessoas tomem medidas de precaução como manter-se hidratadas, usar roupas leves, evitar ficar em carros estacionados sob o sol, evitar atividades físicas expostas ao sol, estar atentas aos sintomas de insolação como náuseas, vômitos e confusão mental etc.

? Eventos de calor extremo estão se tornando mais frequentes devido às mudanças climáticas globais. É fundamental que as autoridades e a população estejam preparadas para lidar com esses desafios cada vez mais graves relacionados ao clima. A segurança e o bem-estar da população devem ser a prioridade máxima dos governos.

? Imagens: Metsul / davimoura.meteorologista

FONTE GUARÁ DRONE

BRASIL TERÁ ONDA DE CALOR EXCEPCIONAL COM 40ºC A 45ºC E RISCO À VIDA

A MetSul Meterorologia adverte para um episódio excepcional de calor em grande parte do Brasil nos próximos dias. As marcas esperadas entre esta semana e a próxima vão superar em muitos os valores médios históricos de temperatura máxima em todas as cinco regiões do país com alto potencial de quebras de recordes para o mês de setembro e talvez até absolutos.

Uma massa de ar extremamente quente vai cobrir o Brasil nos próximos dias. Já faz muito calor neste começo de semana no Centro-Oeste e no Sudeste, mas na segunda metade da semana a massa de ar se reforça ainda mais com temperatura atipicamente elevadas, mesmo calor intenso não sendo incomum nestas áreas do território nacional no mês de setembro. Trata-se de uma situação de elevado perigo pela severidade do calor esperado e que demandará atenção das autoridades.  Serão vários estados em que o calor será muito intenso a extremo. A massa de ar quente vai afetar com força e marcas perto ou acima de 40ºC, por exemplo, o Paraná, Mato Grosso do Sul, São Paulo, Mato Grosso, Rio de Janeiro, Minas Gerais, Goiás, Distrito Federal, Rondônia, Amazonas, Pará, Tocantins, Bahia, Piauí e Maranhão.

O pior do calor deve ocorrer no Mato Grosso e no Mato Grosso do Sul com marcas acima dos 40ºC na maioria das cidades dos dois estados, mas que podem atingir temperaturas máximas mais extremas em particular na região do Pantanal e proximidades. Esta região do Centro-Oeste vai estar junto ao centro da grande cúpula de calor que estará concentrada entre o Paraguai e os estados do Mato Grosso do Sul e do Mato Grosso. Pontos destas áreas podem atingir marcas tão extremas como 43ºC a 45ºC nesta região do centro do domo de calor.

Marcas perto ou acima dos 40ºC devem se dar ainda em muitas cidades do Norte, de Goiás, do Sudeste do Brasil e de alguns estados do Nordeste, como no Oeste da Bahia, no Maranhão e no Piauí. No Rio de Janeiro, algumas estações também podem superar os 40ºC no próximo fim de semana. Em Minas Gerais, o Triângulo Mineiro e o Noroeste do estado devem ser as áreas mais afetadas pelo calor extremo com máximas superiores aos 40ºC. O pico do calor em intensidade deve se dar entre o final desta semana e o começo da semana que vem. Modelos numéricos chegam a indicar temperatura no nível de pressão de 850 hPa (equivalente a 1.500 metros de altitude) perto de 30ºC no Centro-Oeste do Brasil, o que apenas se verifica em massas de ar extremamente quentes, como a que atingiu o Sudoeste dos Estados Unidos no mês de julho deste ano.

RECORDES HISTÓRICOS PODEM CAIR

A maior temperatura registrada oficialmente até hoje no Brasil foi de 44,8°C em Nova Maringá, Mato Grosso, em 4 e 5 de novembro de 2020, superando o recorde também oficial de Bom Jesus, Piauí, de 2005, de 44,7°C. Recordes mensais, e em algumas cidades até absolutos, podem cair neste evento de calor extremo. A cidade de São Paulo é um dos locais em que a temperatura pode testar ou bater recordes de temperatura. Serão muitos dias de calor intenso a extremo no estado de São Paulo. Em alguns, a temperatura ficará perto ou acima de 40ºC no interior e na capital há chance de marcas tão altas quanto 37ºC a 39ºC. Assim, não se pode descartar que a cidade de São Paulo e outras cidades paulistas tenham recordes históricos de máximas não apenas para setembro como absolutos para toda a série histórica.

O dia mais quente já registrado na cidade de São Paulo em setembro desde o começo dos dados em 1943 na estação do Mirante de Santana foi de 37,1ºC, em 30 de setembro de 2020. Trata-se da segunda maior máxima da série histórica, só atrás dos 37,8 ºC de 17 de outubro de 2014. Outros dias de calor muito intenso na série da estação do Mirante de Santana, estação na zona Norte da cidade do Instituto Nacional de Meteorologia, incluem os registros de 37,0ºC em 20 de janeiro de 1999, 36,7ºC em 19 de janeiro de 1999 e também 36,7ºC em 21 de janeiro de 1999. O que se avizinha no estado de São Paulo em termos de temperatura é parecido em padrão com o que ocorreu entre setembro e outubro de 2020, quando uma bolha de calor se instalou na região sob um padrão de bloqueio atmosférico com vários dias de calor extremo. Na ocasião, a máxima chegou a 43,5ºC em Lins, embora não se creia que valor tão extremo seja atingido neste evento.

CENTRO DO BRASIL COSTUMA TER MAIS CALOR NESTA ÉPOCA QUE NO VERÃO

O período de junho a setembro marca o que se denomina da estação seca no Centro do Brasil, afetando o Centro-Oeste e o Sudeste, o que contribui para extremos de temperatura alta que não ocorrem no verão porque a chuva é quase diária. Cuiabá, por exemplo, que é uma cidade conhecida pelo calor, tem na climatologia histórica os seus dias mais quentes em valores extremos justamente no período seco. Goiânia tem temperatura máxima média mensal de 32,7ºC em agosto, 34,0ºC em setembro e 33,2ºC em outubro, mas no verão as média máximas mensais são inferiores com 30,6ºC em dezembro, igual valor em janeiro e 31,0ºC em fevereiro. Ainda sobre a capital goiana como um exemplo de que o pior do calor não ocorre no verão, mas no fim do inverno e na primavera.

De acordo com a estatística 1991-2020, a cidade teve, em média, por ano, 4 dias acima de 35ºC em agosto, 13 em setembro e 9 em outubro, entretanto somente um em média em dezembro, janeiro e fevereiro. De uma média de 31 dias por ano com mais de 35ºC em Goiânia, 26 ocorrem apenas no trimestre agosto a outubro. O mesmo ocorre em Brasília com médias máximas superiores no final do inverno e no começo da primavera do que não verão. E também no interior de São Paulo. Em Franca, o número média de dias acima de 30ºC é de 12 em setembro e também 12 em outubro. Dezembro tem quatro e janeiro e fevereiro cinco cada um. É o que se vê também em áreas de Minas Gerais mais próximas do Brasil Central, onde a curva de temperatura tem forte influência da estação seca. Caso do Triângulo Mineiro. Uberaba tem as suas maiores médias máximas anuais em setembro e outubro, o que se repete em Uberlândia.

A cidade de São Paulo é um caso em particular. Os meses mais quentes do ano, na média mensal, são os do verão, de dezembro a março, embora seja o período mais chuvoso do ano. Por outro lado, os extremos de calor com dias de marcas muito altas costumam ocorrer no final da temporada seca, em setembro e outubro.

BOLHA DE CALOR TRARÁ CALOR EXCEPCIONAL

Uma bolha de calor, que se denomina também de domo ou cúpula de calor (em Inglês é chamada de heat dome) ocorre com áreas de alta pressão que atuam como cúpulas de calor, e têm ar descendente (subsidência). Isso comprime o ar no solo e através da compressão aquece a coluna de ar. Em suma, uma cúpula de calor é criada quando uma área de alta pressão permanece sobre a mesma área por dias ou até semanas, prendendo ar muito quente por baixo assim como uma tampa em uma panela. Esta bolha de calor de agora vai estar com seu centro entre o Paraguai e o Centro-Oeste do Brasil.

É, assim, um processo físico na atmosfera. As massas de ar quente se expandem verticalmente na atmosfera, criando uma cúpula de alta pressão que desvia os sistemas meteorológicos – como frentes frias – ao seu redor. À medida que o sistema de alta pressão se instala em determinada região, o ar abaixo aquece a atmosfera e dissipa a cobertura de nuvens. O alto ângulo do sol de verão combinado com o céu claro ou de poucas nuvens aquece ainda mais o solo.

CALOR ATINGIRÁ NÍVEIS MUITO PERIGOSOS À SAÚDE E À VIDA

A MetSul Meteorologia adverte que o nível de calor esperado para os próximos dias em muitas áreas do território brasileiro atingirá patamar extremamente perigoso à saúde e à vida com elevado risco para população vulnerável, como enfermos e idosos. Normalmente, o calor no Brasil é percebido com um evento normal no clima e até celebrado, mas o país não mantém estatísticas sobre mortalidade relacionada à alta temperatura. O calor é um causador “silencioso” de mortes, diferentemente do que ocorre com desastres pela chuva. Os poucos levantamentos sobre mortes associadas ao calor no Brasil estão em alguns estudos epidemiológicos em pesquisas da Medicina e não da Meteorologia. O calor extremo é muito mais mortal do que outros desastres naturais, matando em média mais que o dobro de pessoas por ano do que furacões e tornados combinados, de acordo com dados monitorados pelo Serviço Meteorológico Nacional nos Estados Unidos. As mudanças climáticas e crescente urbanização estão aumentando rapidamente a exposição humana a temperaturas ambientes extremas, mas poucos estudos examinaram a temperatura e a mortalidade na América Latina. Trabalho publicado em revista científica das temperaturas ambientes diárias e da mortalidade entre 326 cidades latino-americanas entre 2002 e 2015 mostrou alto índice de letalidade por calor extremo.

Em cidades latino-americanas, uma proporção substancial de mortes é atribuída a temperaturas ambientes não ideais. Aumentos marginais em temperaturas altas observadas estão associados a aumentos acentuados no risco de mortalidade. Os riscos identificados foram maiores entre os idosos e para mortes cardiovasculares e respiratórias. Estudo pulicado em 24 de agosto de 2023 na revisrta Nature, intitulado “Rápido aumento no risco de mortalidade relacionada ao calor” destaca que os estudos em sua maioria avaliam como a mortalidade causada pelo calor aumenta com o aumento médio da temperatura global, mas não é claro até que ponto as mudanças climáticas aumentarão a frequência e a gravidade dos extremos com elevado impacto na saúde humana.

No estudo de análise probabilística, os autores combinaram relações empíricas de mortalidade por calor para 748 locais de 47 países com dados de grandes conjuntos de modelos climáticos. Na maioria dos locais, um evento de mortalidade por calor com recorrência estimada de 1 em 100 anos no clima de 2000 passaria a ser de uma vez a cada dez a vinte anos no clima de 2020. O estudo projeta que esses períodos de retorno diminuam ainda mais sob níveis de aquecimento global de 1,5° C e 2°C, em que  extremos de mortalidade por calor do clima acabarão por se tornar comuns se não ocorrer adaptação. “As nossas conclusões destacam a necessidade urgente de uma forte mitigação e adaptação para reduzir os impactos nas vidas humanas”, enfatizam os cientistas.

ESTUDO MOSTRA MAIS DE MIL MORTES EM SÃO PAULO EM ONDA DE CALOR DE 2014

O trabalho publicado na Nature referencia uma pesquisa de 2015 sobre um evento de calor extremo na cidade de São Paulo. Em 2014, São Paulo apresentou mortalidade relacionada ao calor de 1,7% (intervalo de confiança de 0,7–2,8%) da mortalidade total, ou 1.296 mortes (556–2.095), número que seria esperado com um tempo de recorrência de a cada 134 anos pela média do clima do ano 2000. O período de retorno na cidade de São Paulo diminui para 18 anos (17,0–19,6) no clima de 2020, 11 anos (8,0–13,1) com aquecimento planetário de 1,5 °C e 5 anos (2,7–5,5) a 2,0 °C  de aquecimento global. O estudo “Efeitos na saúde de uma onda de calor em fevereiro de 2014 na cidade de São Paulo, Brasil” examinou a mortalidade no período de 2 a 15 de fevereiro de 2014 com 12 dias seguidos com temperatura máxima acima de 33°C, incluindo cinco dias com umidade relativa abaixo de 20% e altos níveis de ozônio. No período, ocorreram 3.228 óbitos, ou mais 743 óbitos que o esperado, predominantemente na faixa etária dos 60 anos ou mais, com destaque para óbitos por doenças do sistema nervoso, do aparelho geniturinário, de perturbações mentais e do aparelho circulatório. Foi possível identificar uma relação temporal entre condições climáticas atípicas e a ocorrência de excesso de mortes, destacam os autores.

COMO SE PROTEGER DO CALOR EXTREMO

As recomendações dos especialistas em saúde são quase idênticas em todo o mundo diante de uma intensa onda de calor. A Mayo Clinic, uma das principais instituições médicas do planeta, tem uma série de orientações de diante de um período de calor extremo. A primeira e mais importante, beber grande quantidade de líquidos. Manter-se hidratado ajuda o corpo a suar e manter uma temperatura corporal normal. Igualmente importante é usar roupas folgadas e leves. Vestir roupas em excesso ou roupas justas não permite que o corpo esfrie adequadamente. A Mayo orienta ainda a se proteger contra queimaduras solares. As queimaduras solares afetam a capacidade do corpo de se refrescar, portanto proteja-se ao ar livre com um chapéu de abas largas e óculos de sol e use um protetor solar de amplo espectro com FPS de pelo menos 15. Os médicos da Mayo recomendam também precauções extras com certos medicamentos. “Fique atento a problemas relacionados ao calor se você tomar medicamentos que podem afetar a capacidade do seu corpo de se manter hidratado e dissipar o calor”, enfatizam. Enfatizam ainda que ninguém fique em um carro estacionado sob o sol. Esta é uma causa comum de mortes relacionadas ao calor em crianças deixadas ou esquecidas em automóveis. Quando estacionado ao sol, a temperatura do carro pode subir mais de 10ºC em apenas dez minutos. Não é seguro, assim, deixar uma pessoa em um carro estacionado sob forte onda de calor mesmo que as janelas estejam abertas ou o carro esteja na sombra.

  • Met Sul Meteorologia

BRASIL TERÁ ONDA DE CALOR EXCEPCIONAL COM 40ºC A 45ºC E RISCO À VIDA

A MetSul Meterorologia adverte para um episódio excepcional de calor em grande parte do Brasil nos próximos dias. As marcas esperadas entre esta semana e a próxima vão superar em muitos os valores médios históricos de temperatura máxima em todas as cinco regiões do país com alto potencial de quebras de recordes para o mês de setembro e talvez até absolutos.

Uma massa de ar extremamente quente vai cobrir o Brasil nos próximos dias. Já faz muito calor neste começo de semana no Centro-Oeste e no Sudeste, mas na segunda metade da semana a massa de ar se reforça ainda mais com temperatura atipicamente elevadas, mesmo calor intenso não sendo incomum nestas áreas do território nacional no mês de setembro. Trata-se de uma situação de elevado perigo pela severidade do calor esperado e que demandará atenção das autoridades.  Serão vários estados em que o calor será muito intenso a extremo. A massa de ar quente vai afetar com força e marcas perto ou acima de 40ºC, por exemplo, o Paraná, Mato Grosso do Sul, São Paulo, Mato Grosso, Rio de Janeiro, Minas Gerais, Goiás, Distrito Federal, Rondônia, Amazonas, Pará, Tocantins, Bahia, Piauí e Maranhão.

O pior do calor deve ocorrer no Mato Grosso e no Mato Grosso do Sul com marcas acima dos 40ºC na maioria das cidades dos dois estados, mas que podem atingir temperaturas máximas mais extremas em particular na região do Pantanal e proximidades. Esta região do Centro-Oeste vai estar junto ao centro da grande cúpula de calor que estará concentrada entre o Paraguai e os estados do Mato Grosso do Sul e do Mato Grosso. Pontos destas áreas podem atingir marcas tão extremas como 43ºC a 45ºC nesta região do centro do domo de calor.

Marcas perto ou acima dos 40ºC devem se dar ainda em muitas cidades do Norte, de Goiás, do Sudeste do Brasil e de alguns estados do Nordeste, como no Oeste da Bahia, no Maranhão e no Piauí. No Rio de Janeiro, algumas estações também podem superar os 40ºC no próximo fim de semana. Em Minas Gerais, o Triângulo Mineiro e o Noroeste do estado devem ser as áreas mais afetadas pelo calor extremo com máximas superiores aos 40ºC. O pico do calor em intensidade deve se dar entre o final desta semana e o começo da semana que vem. Modelos numéricos chegam a indicar temperatura no nível de pressão de 850 hPa (equivalente a 1.500 metros de altitude) perto de 30ºC no Centro-Oeste do Brasil, o que apenas se verifica em massas de ar extremamente quentes, como a que atingiu o Sudoeste dos Estados Unidos no mês de julho deste ano.

RECORDES HISTÓRICOS PODEM CAIR

A maior temperatura registrada oficialmente até hoje no Brasil foi de 44,8°C em Nova Maringá, Mato Grosso, em 4 e 5 de novembro de 2020, superando o recorde também oficial de Bom Jesus, Piauí, de 2005, de 44,7°C. Recordes mensais, e em algumas cidades até absolutos, podem cair neste evento de calor extremo. A cidade de São Paulo é um dos locais em que a temperatura pode testar ou bater recordes de temperatura. Serão muitos dias de calor intenso a extremo no estado de São Paulo. Em alguns, a temperatura ficará perto ou acima de 40ºC no interior e na capital há chance de marcas tão altas quanto 37ºC a 39ºC. Assim, não se pode descartar que a cidade de São Paulo e outras cidades paulistas tenham recordes históricos de máximas não apenas para setembro como absolutos para toda a série histórica.

O dia mais quente já registrado na cidade de São Paulo em setembro desde o começo dos dados em 1943 na estação do Mirante de Santana foi de 37,1ºC, em 30 de setembro de 2020. Trata-se da segunda maior máxima da série histórica, só atrás dos 37,8 ºC de 17 de outubro de 2014. Outros dias de calor muito intenso na série da estação do Mirante de Santana, estação na zona Norte da cidade do Instituto Nacional de Meteorologia, incluem os registros de 37,0ºC em 20 de janeiro de 1999, 36,7ºC em 19 de janeiro de 1999 e também 36,7ºC em 21 de janeiro de 1999. O que se avizinha no estado de São Paulo em termos de temperatura é parecido em padrão com o que ocorreu entre setembro e outubro de 2020, quando uma bolha de calor se instalou na região sob um padrão de bloqueio atmosférico com vários dias de calor extremo. Na ocasião, a máxima chegou a 43,5ºC em Lins, embora não se creia que valor tão extremo seja atingido neste evento.

CENTRO DO BRASIL COSTUMA TER MAIS CALOR NESTA ÉPOCA QUE NO VERÃO

O período de junho a setembro marca o que se denomina da estação seca no Centro do Brasil, afetando o Centro-Oeste e o Sudeste, o que contribui para extremos de temperatura alta que não ocorrem no verão porque a chuva é quase diária. Cuiabá, por exemplo, que é uma cidade conhecida pelo calor, tem na climatologia histórica os seus dias mais quentes em valores extremos justamente no período seco. Goiânia tem temperatura máxima média mensal de 32,7ºC em agosto, 34,0ºC em setembro e 33,2ºC em outubro, mas no verão as média máximas mensais são inferiores com 30,6ºC em dezembro, igual valor em janeiro e 31,0ºC em fevereiro. Ainda sobre a capital goiana como um exemplo de que o pior do calor não ocorre no verão, mas no fim do inverno e na primavera.

De acordo com a estatística 1991-2020, a cidade teve, em média, por ano, 4 dias acima de 35ºC em agosto, 13 em setembro e 9 em outubro, entretanto somente um em média em dezembro, janeiro e fevereiro. De uma média de 31 dias por ano com mais de 35ºC em Goiânia, 26 ocorrem apenas no trimestre agosto a outubro. O mesmo ocorre em Brasília com médias máximas superiores no final do inverno e no começo da primavera do que não verão. E também no interior de São Paulo. Em Franca, o número média de dias acima de 30ºC é de 12 em setembro e também 12 em outubro. Dezembro tem quatro e janeiro e fevereiro cinco cada um. É o que se vê também em áreas de Minas Gerais mais próximas do Brasil Central, onde a curva de temperatura tem forte influência da estação seca. Caso do Triângulo Mineiro. Uberaba tem as suas maiores médias máximas anuais em setembro e outubro, o que se repete em Uberlândia.

A cidade de São Paulo é um caso em particular. Os meses mais quentes do ano, na média mensal, são os do verão, de dezembro a março, embora seja o período mais chuvoso do ano. Por outro lado, os extremos de calor com dias de marcas muito altas costumam ocorrer no final da temporada seca, em setembro e outubro.

BOLHA DE CALOR TRARÁ CALOR EXCEPCIONAL

Uma bolha de calor, que se denomina também de domo ou cúpula de calor (em Inglês é chamada de heat dome) ocorre com áreas de alta pressão que atuam como cúpulas de calor, e têm ar descendente (subsidência). Isso comprime o ar no solo e através da compressão aquece a coluna de ar. Em suma, uma cúpula de calor é criada quando uma área de alta pressão permanece sobre a mesma área por dias ou até semanas, prendendo ar muito quente por baixo assim como uma tampa em uma panela. Esta bolha de calor de agora vai estar com seu centro entre o Paraguai e o Centro-Oeste do Brasil.

É, assim, um processo físico na atmosfera. As massas de ar quente se expandem verticalmente na atmosfera, criando uma cúpula de alta pressão que desvia os sistemas meteorológicos – como frentes frias – ao seu redor. À medida que o sistema de alta pressão se instala em determinada região, o ar abaixo aquece a atmosfera e dissipa a cobertura de nuvens. O alto ângulo do sol de verão combinado com o céu claro ou de poucas nuvens aquece ainda mais o solo.

CALOR ATINGIRÁ NÍVEIS MUITO PERIGOSOS À SAÚDE E À VIDA

A MetSul Meteorologia adverte que o nível de calor esperado para os próximos dias em muitas áreas do território brasileiro atingirá patamar extremamente perigoso à saúde e à vida com elevado risco para população vulnerável, como enfermos e idosos. Normalmente, o calor no Brasil é percebido com um evento normal no clima e até celebrado, mas o país não mantém estatísticas sobre mortalidade relacionada à alta temperatura. O calor é um causador “silencioso” de mortes, diferentemente do que ocorre com desastres pela chuva. Os poucos levantamentos sobre mortes associadas ao calor no Brasil estão em alguns estudos epidemiológicos em pesquisas da Medicina e não da Meteorologia. O calor extremo é muito mais mortal do que outros desastres naturais, matando em média mais que o dobro de pessoas por ano do que furacões e tornados combinados, de acordo com dados monitorados pelo Serviço Meteorológico Nacional nos Estados Unidos. As mudanças climáticas e crescente urbanização estão aumentando rapidamente a exposição humana a temperaturas ambientes extremas, mas poucos estudos examinaram a temperatura e a mortalidade na América Latina. Trabalho publicado em revista científica das temperaturas ambientes diárias e da mortalidade entre 326 cidades latino-americanas entre 2002 e 2015 mostrou alto índice de letalidade por calor extremo.

Em cidades latino-americanas, uma proporção substancial de mortes é atribuída a temperaturas ambientes não ideais. Aumentos marginais em temperaturas altas observadas estão associados a aumentos acentuados no risco de mortalidade. Os riscos identificados foram maiores entre os idosos e para mortes cardiovasculares e respiratórias. Estudo pulicado em 24 de agosto de 2023 na revisrta Nature, intitulado “Rápido aumento no risco de mortalidade relacionada ao calor” destaca que os estudos em sua maioria avaliam como a mortalidade causada pelo calor aumenta com o aumento médio da temperatura global, mas não é claro até que ponto as mudanças climáticas aumentarão a frequência e a gravidade dos extremos com elevado impacto na saúde humana.

No estudo de análise probabilística, os autores combinaram relações empíricas de mortalidade por calor para 748 locais de 47 países com dados de grandes conjuntos de modelos climáticos. Na maioria dos locais, um evento de mortalidade por calor com recorrência estimada de 1 em 100 anos no clima de 2000 passaria a ser de uma vez a cada dez a vinte anos no clima de 2020. O estudo projeta que esses períodos de retorno diminuam ainda mais sob níveis de aquecimento global de 1,5° C e 2°C, em que  extremos de mortalidade por calor do clima acabarão por se tornar comuns se não ocorrer adaptação. “As nossas conclusões destacam a necessidade urgente de uma forte mitigação e adaptação para reduzir os impactos nas vidas humanas”, enfatizam os cientistas.

ESTUDO MOSTRA MAIS DE MIL MORTES EM SÃO PAULO EM ONDA DE CALOR DE 2014

O trabalho publicado na Nature referencia uma pesquisa de 2015 sobre um evento de calor extremo na cidade de São Paulo. Em 2014, São Paulo apresentou mortalidade relacionada ao calor de 1,7% (intervalo de confiança de 0,7–2,8%) da mortalidade total, ou 1.296 mortes (556–2.095), número que seria esperado com um tempo de recorrência de a cada 134 anos pela média do clima do ano 2000. O período de retorno na cidade de São Paulo diminui para 18 anos (17,0–19,6) no clima de 2020, 11 anos (8,0–13,1) com aquecimento planetário de 1,5 °C e 5 anos (2,7–5,5) a 2,0 °C  de aquecimento global. O estudo “Efeitos na saúde de uma onda de calor em fevereiro de 2014 na cidade de São Paulo, Brasil” examinou a mortalidade no período de 2 a 15 de fevereiro de 2014 com 12 dias seguidos com temperatura máxima acima de 33°C, incluindo cinco dias com umidade relativa abaixo de 20% e altos níveis de ozônio. No período, ocorreram 3.228 óbitos, ou mais 743 óbitos que o esperado, predominantemente na faixa etária dos 60 anos ou mais, com destaque para óbitos por doenças do sistema nervoso, do aparelho geniturinário, de perturbações mentais e do aparelho circulatório. Foi possível identificar uma relação temporal entre condições climáticas atípicas e a ocorrência de excesso de mortes, destacam os autores.

COMO SE PROTEGER DO CALOR EXTREMO

As recomendações dos especialistas em saúde são quase idênticas em todo o mundo diante de uma intensa onda de calor. A Mayo Clinic, uma das principais instituições médicas do planeta, tem uma série de orientações de diante de um período de calor extremo. A primeira e mais importante, beber grande quantidade de líquidos. Manter-se hidratado ajuda o corpo a suar e manter uma temperatura corporal normal. Igualmente importante é usar roupas folgadas e leves. Vestir roupas em excesso ou roupas justas não permite que o corpo esfrie adequadamente. A Mayo orienta ainda a se proteger contra queimaduras solares. As queimaduras solares afetam a capacidade do corpo de se refrescar, portanto proteja-se ao ar livre com um chapéu de abas largas e óculos de sol e use um protetor solar de amplo espectro com FPS de pelo menos 15. Os médicos da Mayo recomendam também precauções extras com certos medicamentos. “Fique atento a problemas relacionados ao calor se você tomar medicamentos que podem afetar a capacidade do seu corpo de se manter hidratado e dissipar o calor”, enfatizam. Enfatizam ainda que ninguém fique em um carro estacionado sob o sol. Esta é uma causa comum de mortes relacionadas ao calor em crianças deixadas ou esquecidas em automóveis. Quando estacionado ao sol, a temperatura do carro pode subir mais de 10ºC em apenas dez minutos. Não é seguro, assim, deixar uma pessoa em um carro estacionado sob forte onda de calor mesmo que as janelas estejam abertas ou o carro esteja na sombra.

  • Met Sul Meteorologia

A cidade onde as pessoas vivem embaixo da Terra por causa do calor

Em uma cidade incomum do Outback australiano, tudo é subterrâneo %u2013 de igrejas a acampamentos. Com o aquecimento global a frente, deveríamos todos estar indo para o subsolo?

Na longa estrada rumo ao centro da Austrália, 848 km ao norte das planícies costeiras de Adelaide, surgem enigmáticas pirâmides de areia.

Em torno delas, o cenário é totalmente desolado – uma extensão sem fim de poeira rosa-salmão, ocasionalmente salpicada de teimosos arbustos.

No entanto, à medida que você avança pela rodovia, surgem outras construções misteriosas similares – montes de terra clara, espalhados aleatoriamente como monumentos esquecidos há muito tempo. E, de vez em quando, tubos brancos se elevam do solo ao lado das construções.

Estes são os primeiros sinais de Coober Pedy, uma cidade de mineradores de opala com cerca de 2,5 mil habitantes. Muitos dos pequenos picos da região são resíduos de solo gerados após décadas de mineração, mas também são os sinais de outra característica do local: as moradias subterrâneas.

Neste canto do mundo, 60% da população vive em casas construídas nas rochas de arenito e siltito ricas em ferro da região. Em alguns locais, os únicos sinais de moradia são os poços de ventilação que se erguem até o chão e o excesso de solo acumulado perto das entradas das casas.

No inverno, este estilo de vida pode parecer apenas excêntrico. Mas, no verão, Coober Pedy – “homem branco em um buraco”, em tradução livre de uma expressão aborígene australiana – não requer explicações: o local atinge 52°C, uma temperatura tão alta que faz com que os pássaros caiam do céu e aparelhos eletrônicos precisem ser guardados no refrigerador.

E, em 2023, este costume parece ter sido mais profético que nunca.

Foto aérea mostra aparentes montes de areia em ampla área desértica
Andar a pé no deserto perto de Coober Pedy pode ser perigoso. O terreno é salpicado de poços de mineração abandonados(foto: Getty Images)

Em julho, a cidade de Chongqing, no sudoeste da China, precisou abrir seus abrigos antiaéreos – construídos em meio a bombardeios em larga escala do Japão, durante a Segunda Guerra Mundial – para proteger os cidadãos contra uma ameaça muito diferente: um surto de calor de mais de 35 °C que durou 10 dias. Outros se refugiaram em restaurantes em cavernas, que são populares na cidade.

Enquanto a intensa onda de calor prossegue em algumas regiões, com temperaturas que nem os cactos conseguem suportar, e incêndios florestais dizimam grandes áreas do mundo, o que podemos aprender com os moradores de Coober Pedy?

Longa história

Coober Pedy não é o primeiro, nem o maior assentamento subterrâneo do mundo.

As pessoas se refugiam embaixo da terra para enfrentar climas inóspitos há milhares de anos – desde ancestrais dos humanos que deixaram suas ferramentas em uma caverna na África do Sul dois milhões de anos atrás, até os neandertais que criaram pilhas inexplicáveis de estalagmites em uma gruta na França na idade do gelo, 176 mil anos atrás.

Até os chimpanzés já foram observados refrescando-se em cavernas, para enfrentar o extremo calor durante o dia no sudeste do Senegal.

Outro exemplo é a Capadócia, uma região antiga no centro da Turquia. Ela fica em um planalto árido e é famosa pela sua notável geologia, quase utópica, e seu cenário de cumes, chaminés e pináculos de rocha esculpidos, como em um reino de conto de fadas.

E a história por trás desse cenário é realmente espetacular. Segundo a cultura popular, tudo começou com o desaparecimento das galinhas de um de seus moradores.

Em 1963, um homem estava batendo no piso da sua casa para tentar descobrir por que suas aves estavam desaparecendo.

Ele logo percebeu que as galinhas estavam fugindo por um buraco que ele havia aberto acidentalmente. O homem então abriu caminho e as seguiu pelo buraco.

A partir dali, tudo começou a ficar ainda mais estranho. Ele descobriu uma passagem secreta – um íngreme caminho subterrâneo que levava a um labirinto de nichos e outros corredores. Era uma das muitas entradas para a cidade perdida de Derinkuyu.

Derinkuyu é apenas uma das centenas de moradias em cavernas entre as diversas cidades subterrâneas da região. Acredita-se que ela tenha sido construída perto do século 8° a.C.

A cidade foi habitada de forma quase constante por milênios, com seus próprios poços de ventilação e de água, estábulos, igrejas, armazéns e uma ampla rede de casas subterrâneas. E servia também de abrigo de emergência para até 20 mil pessoas, em caso de invasão.

Como em Coober Pedy, as moradias subterrâneas ajudavam os habitantes da região a enfrentar o clima continental, que alterna entre frios invernos com neve e verões quentes e secos. No lado externo, a temperatura flutua de vários graus abaixo de zero até mais de 30 °C, enquanto, embaixo da terra, ela fica estável em 13 °C.

Mesmo nos dias de hoje, as cavernas construídas por seres humanos na região são famosas pelas suas capacidades de refrigeração passiva – uma técnica de construção que envolve o uso de opções de design para reduzir o aumento e a perda de calor sem o uso de energia.

As antigas galerias e passagens da Capadócia abrigam hoje milhares de toneladas de batatas, limões, repolhos e outros produtos que precisariam ser refrigerados se fossem armazenados em outros locais. A demanda popular cresceu tanto que novas cavernas estão sendo construídas na região.

Solução eficaz

Colunas e paredes subterrâneas
A cidade subterrânea de Derinkuyu, na Capadócia (Turquia), foi abandonada em 1923. Ele ficou totalmente esquecida até ser redescoberta, nos anos 1960(foto: Getty Images)

Mais à frente, na estrada para Coober Pedy, fica o centro da cidade.

À primeira vista, ela pode ser confundida com um assentamento comum da região desértica que compõe o chamado Outback australiano. As ruas são cor-de-rosa devido à poeira e existem restaurantes, bares, supermercados e postos de gasolina.

No alto de uma colina, a única árvore da cidade – na verdade, uma escultura feita de metal – observa o panorama.

Na superfície, Coober Pedy é assustadoramente vazia. As construções são muito espaçadas entre si e a impressão é de que algo realmente parece estar errado. Mas, embaixo do solo, tudo se explica.

Alguns dos “subterrâneos” de Coober Pedy podem ser visitados através de pequenas construções. Elas têm aparência normal, mas suas passagens subterrâneas se revelam gradualmente à medida que entramos. Parece que estamos atravessando um guarda-roupa para sair em Nárnia.

Outras passagens são mais óbvias. Em um local de acampamento chamado Riba’s, as pessoas podem montar suas tendas em nichos vários metros abaixo da superfície. Lá, um túnel escuro é a entrada para o mundo subterrâneo.

Em Coober Pedy, as construções subterrâneas precisam ficar a pelo menos quatro metros de profundidade, para evitar que o teto desabe. Embaixo daquele enorme volume de rocha, a temperatura é sempre agradável: 23 °C.

As pessoas que moram acima do solo precisam suportar verões extremamente quentes e noites frias de inverno, com temperaturas que costumam cair até 2-3 °C. Mas as casas subterrâneas mantêm a temperatura ambiente perfeita, 24 horas por dia, o ano inteiro.

Além do conforto, outra importante vantagem de morar embaixo da terra é a economia. Coober Pedy gera toda a eletricidade que consome – 70% dela, de origem eólica e solar. Mas ligar o ar-condicionado, muitas vezes, é caro e impraticável.

Mesas postas em galeria subterrânea
Em Coober Pedy, a rocha é tão mole que pode ser raspada com a unha.(foto: Alamy)

“Para viver acima do solo, você paga uma verdadeira fortuna pelo aquecimento e refrigeração, já que, muitas vezes, faz mais de 50°C no verão”, afirma Jason Wright, o morador local que administra o Riba’s.

Por outro lado, muitas casas subterrâneas em Coober Pedy são relativamente baratas. Em um recente leilão, o preço médio das casas de três quartos foi de cerca de 40 mil dólares australianos (cerca de R$ 129 mil).

Muitas dessas propriedades eram extremamente básicas ou precisavam de reforma, mas existe uma grande diferença entre esses valores e os praticados na cidade grande mais próxima, Adelaide. Lá, o preço médio das residências é de 700 mil dólares australianos (cerca de R$ 2,25 milhões).

E as casas subterrâneas oferecem outros benefícios. Um deles é que não há insetos.

“Quando você chega à porta, as moscas saem das suas costas, elas não querem entrar no escuro e no frio”, conta Wright. E também não há poluição sonora e luminosa embaixo da terra.

Curiosamente, o estilo de vida subterrâneo também pode oferecer alguma proteção contra terremotos. Wright descreve que os tremores de terra na região produzem um ruído vibrante que aumenta e passa através do subterrâneo até o outro lado.

“Tivemos dois [terremotos] desde que me mudei para cá e nunca sequer me abalei”, ele conta. Mas o nível de segurança das estruturas subterrâneas durante atividades sísmicas depende inteiramente do seu tamanho, complexidade e profundidade.

Configuração ideal

A questão é se as casas subterrâneas poderiam ajudar as pessoas a combater os efeitos das mudanças climáticas em outros lugares do planeta. E por que elas são tão poucas?

Existem diversas razões que explicam a praticidade única da construção de subterrâneos em Coober Pedy. A primeira são as rochas da região.

“Elas são muito moles, você pode raspá-las com um canivete ou com a unha”, afirma Barry Lewis, funcionário do centro de informações turísticas da cidade.

Nos anos 1960 e 70, os moradores de Coober Pedy ampliaram suas casas da mesma forma que criaram as minas de opala, usando pás, picaretas e explosivos. Algumas delas não exigiram muito trabalho para cavar, já que muitos moradores usaram poços de minas abandonados como pontos de partida.

Mas, hoje em dia, os túneis costumam ser escavados com equipamento industrial.

“Uma boa máquina de perfuração de túneis pode retirar cerca de seis metros cúbicos de rocha por hora, de forma que você pode ter um subterrâneo construído em menos de um mês”, explica Wright.

Várias casas escavadas em rocha na encosta
Na Capadócia, existem muitas casas escavadas na rocha vulcânica. Elas não são mais usadas como moradia(foto: Getty Images)

Mas ainda é possível escavar manualmente. Por isso, quando os moradores precisam de mais espaço, às vezes eles simplesmente começam a cavar. E, como se trata de uma área de mineração de opala, não é raro que um projeto de reforma acabe dando lucros.

Já houve um homem que encontrou uma gema grande saindo da parede enquanto instalava um chuveiro e, durante uma obra de ampliação, um hotel local descobriu opalas no valor de 1,5 milhão de dólares australianos (cerca de R$ 4,8 milhões).

O arenito também é estruturalmente estável sem precisar de apoios. Por isso, é possível construir salões literalmente cavernosos com pé-direito alto, em qualquer forma que você quiser, sem acrescentar materiais.

Na verdade, a construção de túneis em Coober Pedy é tão simples que muitos moradores têm casas de luxo sofisticadas, com piscinas subterrâneas, salões de jogos, grandes banheiros e salas de estar de alto padrão.

Um morador local chegou a descrever sua casa subterrânea “como um castelo”, com 50 mil tijolos aparentes e portas em arco em todos os quartos.

“Temos alguns subterrâneos surpreendentes por aqui”, afirma Wright. Ele explica que os moradores são notoriamente reservados – outra possível consequência de viver embaixo da terra – e você só consegue descobrir algo sobre eles quando é convidado para jantar.

Questão de umidade

Mas os banquetes de Cooper Pedy seriam impossíveis em outro lugar. A umidade é um grande desafio para qualquer estrutura subterrânea.

Das muitas moradias em rochas habitadas por seres humanos, a maioria fica em locais secos. Elas incluem desde as torres e paredes construídas nos rochedos de Mesa Verde, no Colorado (Estados Unidos), habitadas por mais de 700 anos pelo povo ancestral conhecido como Pueblo, até os elaborados templos, túmulos e palácios escavados no arenito rosa de Petra, na Jordânia.

Atualmente, uma das últimas aldeias cortadas na rocha e ainda habitadas do mundo é Kandovan, aos pés do monte Sahand, no Irã – um vale marcado por estranhas cavernas pontiagudas que foram escavadas e transformadas em casas, como uma colônia de cupinzeiros. A região recebe apenas 11 mm de chuva por mês, em média, durante todo o verão.

Mas construir embaixo da terra em regiões mais úmidas é claramente mais complicado.

O metrô de Londres é um exemplo. Para impermeabilizar seus túneis subterrâneos originais, construídos no século 19, eles foram revestidos com diversas camadas de tijolos e uma generosa camada de betume.

Atualmente, são utilizados métodos mais modernos. Mas, mesmo com essas precauções, ainda é comum a incidência de mofo preto nas galerias.

O mesmo problema afeta fundações de edifícios, porões e estacionamentos subterrâneos em regiões com forte incidência de chuvas em todo o mundo.

Restaurante subterrâneo
Em Coober Pedy, não são só as casas que ficam embaixo da terra. Existem restaurantes, lojas, hotéis e até uma Igreja Ortodoxa Sérvia no subterrâneo(foto: Getty Images)

Existem duas razões principais para o fenômeno. Uma é a falta de ventilação, que pode fazer com que a umidade da cozinha, dos banheiros e da própria respiração das pessoas se condense nas frias paredes das cavernas. O outro motivo é a água subterrânea, se as construções estiverem perto do lençol freático.

As cavernas de Hazan, em Israel, são uma complexa rede de esconderijos subterrâneos construídos pelos judeus para escapar da perseguição dos romanos no século 2° d.C. Ela inclui prensas de olivas, cozinhas, salões, reservatórios de água e um columbário, para depositar urnas funerárias.

A apenas 66 metros de distância da entrada da caverna, a temperatura nos túneis cai significativamente em comparação com o lado externo. Mas a umidade também é o dobro dos 40% verificados fora da caverna.

Um dos motivos pode ser o fato de que o sistema de cavernas foi construído em rocha porosa, em uma área de planície. Nestas condições, a tendência é de que o volume de água subterrânea seja maior. E seus corredores estreitos e entradas limitadas fazem com que haja pouco fluxo de ar.

Mas, em Coober Pedy, construída sobre 50 metros de arenito poroso, as condições são áridas até nos subterrâneos.

“Aqui é muito, muito seco”, afirma Wright.

Poços de ventilação garantem o fornecimento adequado de oxigênio e permitem que a umidade das atividades internas escape do subterrâneo. Mas eles, muitas vezes, são simples canos que se estendem através do teto.

Esses bunkers à prova de calor trazem ainda outras desvantagens. Lewis, por exemplo, mora atualmente na superfície, em um parque para trailers. Sua casa subterrânea ficava embaixo do mesmo ponto onde ele mora hoje, mas ela simplesmente desabou.

“Não acontece com muita frequência”, segundo ele. “Ela estava em um local ruim.”

Também não é incomum que os moradores derrubem acidentalmente a parede, atravessando até a casa do vizinho.

Apesar do contratempo, Lewis sente falta da vida nos subterrâneos. E Wright também recomenda o ambiente embaixo da terra para pessoas que sofrem em locais com temperaturas absurdamente altas. Para ele, “é moleza quando você sente aquele calor”.

De fato, é possível que as curiosas pirâmides de areia de Coober Pedy comecem a pipocar em outros lugares do mundo no futuro próximo.

FONTE ESTADO DE MINAS

A cidade onde as pessoas vivem embaixo da Terra por causa do calor

Em uma cidade incomum do Outback australiano, tudo é subterrâneo %u2013 de igrejas a acampamentos. Com o aquecimento global a frente, deveríamos todos estar indo para o subsolo?

Na longa estrada rumo ao centro da Austrália, 848 km ao norte das planícies costeiras de Adelaide, surgem enigmáticas pirâmides de areia.

Em torno delas, o cenário é totalmente desolado – uma extensão sem fim de poeira rosa-salmão, ocasionalmente salpicada de teimosos arbustos.

No entanto, à medida que você avança pela rodovia, surgem outras construções misteriosas similares – montes de terra clara, espalhados aleatoriamente como monumentos esquecidos há muito tempo. E, de vez em quando, tubos brancos se elevam do solo ao lado das construções.

Estes são os primeiros sinais de Coober Pedy, uma cidade de mineradores de opala com cerca de 2,5 mil habitantes. Muitos dos pequenos picos da região são resíduos de solo gerados após décadas de mineração, mas também são os sinais de outra característica do local: as moradias subterrâneas.

Neste canto do mundo, 60% da população vive em casas construídas nas rochas de arenito e siltito ricas em ferro da região. Em alguns locais, os únicos sinais de moradia são os poços de ventilação que se erguem até o chão e o excesso de solo acumulado perto das entradas das casas.

No inverno, este estilo de vida pode parecer apenas excêntrico. Mas, no verão, Coober Pedy – “homem branco em um buraco”, em tradução livre de uma expressão aborígene australiana – não requer explicações: o local atinge 52°C, uma temperatura tão alta que faz com que os pássaros caiam do céu e aparelhos eletrônicos precisem ser guardados no refrigerador.

E, em 2023, este costume parece ter sido mais profético que nunca.

Foto aérea mostra aparentes montes de areia em ampla área desértica
Andar a pé no deserto perto de Coober Pedy pode ser perigoso. O terreno é salpicado de poços de mineração abandonados(foto: Getty Images)

Em julho, a cidade de Chongqing, no sudoeste da China, precisou abrir seus abrigos antiaéreos – construídos em meio a bombardeios em larga escala do Japão, durante a Segunda Guerra Mundial – para proteger os cidadãos contra uma ameaça muito diferente: um surto de calor de mais de 35 °C que durou 10 dias. Outros se refugiaram em restaurantes em cavernas, que são populares na cidade.

Enquanto a intensa onda de calor prossegue em algumas regiões, com temperaturas que nem os cactos conseguem suportar, e incêndios florestais dizimam grandes áreas do mundo, o que podemos aprender com os moradores de Coober Pedy?

Longa história

Coober Pedy não é o primeiro, nem o maior assentamento subterrâneo do mundo.

As pessoas se refugiam embaixo da terra para enfrentar climas inóspitos há milhares de anos – desde ancestrais dos humanos que deixaram suas ferramentas em uma caverna na África do Sul dois milhões de anos atrás, até os neandertais que criaram pilhas inexplicáveis de estalagmites em uma gruta na França na idade do gelo, 176 mil anos atrás.

Até os chimpanzés já foram observados refrescando-se em cavernas, para enfrentar o extremo calor durante o dia no sudeste do Senegal.

Outro exemplo é a Capadócia, uma região antiga no centro da Turquia. Ela fica em um planalto árido e é famosa pela sua notável geologia, quase utópica, e seu cenário de cumes, chaminés e pináculos de rocha esculpidos, como em um reino de conto de fadas.

E a história por trás desse cenário é realmente espetacular. Segundo a cultura popular, tudo começou com o desaparecimento das galinhas de um de seus moradores.

Em 1963, um homem estava batendo no piso da sua casa para tentar descobrir por que suas aves estavam desaparecendo.

Ele logo percebeu que as galinhas estavam fugindo por um buraco que ele havia aberto acidentalmente. O homem então abriu caminho e as seguiu pelo buraco.

A partir dali, tudo começou a ficar ainda mais estranho. Ele descobriu uma passagem secreta – um íngreme caminho subterrâneo que levava a um labirinto de nichos e outros corredores. Era uma das muitas entradas para a cidade perdida de Derinkuyu.

Derinkuyu é apenas uma das centenas de moradias em cavernas entre as diversas cidades subterrâneas da região. Acredita-se que ela tenha sido construída perto do século 8° a.C.

A cidade foi habitada de forma quase constante por milênios, com seus próprios poços de ventilação e de água, estábulos, igrejas, armazéns e uma ampla rede de casas subterrâneas. E servia também de abrigo de emergência para até 20 mil pessoas, em caso de invasão.

Como em Coober Pedy, as moradias subterrâneas ajudavam os habitantes da região a enfrentar o clima continental, que alterna entre frios invernos com neve e verões quentes e secos. No lado externo, a temperatura flutua de vários graus abaixo de zero até mais de 30 °C, enquanto, embaixo da terra, ela fica estável em 13 °C.

Mesmo nos dias de hoje, as cavernas construídas por seres humanos na região são famosas pelas suas capacidades de refrigeração passiva – uma técnica de construção que envolve o uso de opções de design para reduzir o aumento e a perda de calor sem o uso de energia.

As antigas galerias e passagens da Capadócia abrigam hoje milhares de toneladas de batatas, limões, repolhos e outros produtos que precisariam ser refrigerados se fossem armazenados em outros locais. A demanda popular cresceu tanto que novas cavernas estão sendo construídas na região.

Solução eficaz

Colunas e paredes subterrâneas
A cidade subterrânea de Derinkuyu, na Capadócia (Turquia), foi abandonada em 1923. Ele ficou totalmente esquecida até ser redescoberta, nos anos 1960(foto: Getty Images)

Mais à frente, na estrada para Coober Pedy, fica o centro da cidade.

À primeira vista, ela pode ser confundida com um assentamento comum da região desértica que compõe o chamado Outback australiano. As ruas são cor-de-rosa devido à poeira e existem restaurantes, bares, supermercados e postos de gasolina.

No alto de uma colina, a única árvore da cidade – na verdade, uma escultura feita de metal – observa o panorama.

Na superfície, Coober Pedy é assustadoramente vazia. As construções são muito espaçadas entre si e a impressão é de que algo realmente parece estar errado. Mas, embaixo do solo, tudo se explica.

Alguns dos “subterrâneos” de Coober Pedy podem ser visitados através de pequenas construções. Elas têm aparência normal, mas suas passagens subterrâneas se revelam gradualmente à medida que entramos. Parece que estamos atravessando um guarda-roupa para sair em Nárnia.

Outras passagens são mais óbvias. Em um local de acampamento chamado Riba’s, as pessoas podem montar suas tendas em nichos vários metros abaixo da superfície. Lá, um túnel escuro é a entrada para o mundo subterrâneo.

Em Coober Pedy, as construções subterrâneas precisam ficar a pelo menos quatro metros de profundidade, para evitar que o teto desabe. Embaixo daquele enorme volume de rocha, a temperatura é sempre agradável: 23 °C.

As pessoas que moram acima do solo precisam suportar verões extremamente quentes e noites frias de inverno, com temperaturas que costumam cair até 2-3 °C. Mas as casas subterrâneas mantêm a temperatura ambiente perfeita, 24 horas por dia, o ano inteiro.

Além do conforto, outra importante vantagem de morar embaixo da terra é a economia. Coober Pedy gera toda a eletricidade que consome – 70% dela, de origem eólica e solar. Mas ligar o ar-condicionado, muitas vezes, é caro e impraticável.

Mesas postas em galeria subterrânea
Em Coober Pedy, a rocha é tão mole que pode ser raspada com a unha.(foto: Alamy)

“Para viver acima do solo, você paga uma verdadeira fortuna pelo aquecimento e refrigeração, já que, muitas vezes, faz mais de 50°C no verão”, afirma Jason Wright, o morador local que administra o Riba’s.

Por outro lado, muitas casas subterrâneas em Coober Pedy são relativamente baratas. Em um recente leilão, o preço médio das casas de três quartos foi de cerca de 40 mil dólares australianos (cerca de R$ 129 mil).

Muitas dessas propriedades eram extremamente básicas ou precisavam de reforma, mas existe uma grande diferença entre esses valores e os praticados na cidade grande mais próxima, Adelaide. Lá, o preço médio das residências é de 700 mil dólares australianos (cerca de R$ 2,25 milhões).

E as casas subterrâneas oferecem outros benefícios. Um deles é que não há insetos.

“Quando você chega à porta, as moscas saem das suas costas, elas não querem entrar no escuro e no frio”, conta Wright. E também não há poluição sonora e luminosa embaixo da terra.

Curiosamente, o estilo de vida subterrâneo também pode oferecer alguma proteção contra terremotos. Wright descreve que os tremores de terra na região produzem um ruído vibrante que aumenta e passa através do subterrâneo até o outro lado.

“Tivemos dois [terremotos] desde que me mudei para cá e nunca sequer me abalei”, ele conta. Mas o nível de segurança das estruturas subterrâneas durante atividades sísmicas depende inteiramente do seu tamanho, complexidade e profundidade.

Configuração ideal

A questão é se as casas subterrâneas poderiam ajudar as pessoas a combater os efeitos das mudanças climáticas em outros lugares do planeta. E por que elas são tão poucas?

Existem diversas razões que explicam a praticidade única da construção de subterrâneos em Coober Pedy. A primeira são as rochas da região.

“Elas são muito moles, você pode raspá-las com um canivete ou com a unha”, afirma Barry Lewis, funcionário do centro de informações turísticas da cidade.

Nos anos 1960 e 70, os moradores de Coober Pedy ampliaram suas casas da mesma forma que criaram as minas de opala, usando pás, picaretas e explosivos. Algumas delas não exigiram muito trabalho para cavar, já que muitos moradores usaram poços de minas abandonados como pontos de partida.

Mas, hoje em dia, os túneis costumam ser escavados com equipamento industrial.

“Uma boa máquina de perfuração de túneis pode retirar cerca de seis metros cúbicos de rocha por hora, de forma que você pode ter um subterrâneo construído em menos de um mês”, explica Wright.

Várias casas escavadas em rocha na encosta
Na Capadócia, existem muitas casas escavadas na rocha vulcânica. Elas não são mais usadas como moradia(foto: Getty Images)

Mas ainda é possível escavar manualmente. Por isso, quando os moradores precisam de mais espaço, às vezes eles simplesmente começam a cavar. E, como se trata de uma área de mineração de opala, não é raro que um projeto de reforma acabe dando lucros.

Já houve um homem que encontrou uma gema grande saindo da parede enquanto instalava um chuveiro e, durante uma obra de ampliação, um hotel local descobriu opalas no valor de 1,5 milhão de dólares australianos (cerca de R$ 4,8 milhões).

O arenito também é estruturalmente estável sem precisar de apoios. Por isso, é possível construir salões literalmente cavernosos com pé-direito alto, em qualquer forma que você quiser, sem acrescentar materiais.

Na verdade, a construção de túneis em Coober Pedy é tão simples que muitos moradores têm casas de luxo sofisticadas, com piscinas subterrâneas, salões de jogos, grandes banheiros e salas de estar de alto padrão.

Um morador local chegou a descrever sua casa subterrânea “como um castelo”, com 50 mil tijolos aparentes e portas em arco em todos os quartos.

“Temos alguns subterrâneos surpreendentes por aqui”, afirma Wright. Ele explica que os moradores são notoriamente reservados – outra possível consequência de viver embaixo da terra – e você só consegue descobrir algo sobre eles quando é convidado para jantar.

Questão de umidade

Mas os banquetes de Cooper Pedy seriam impossíveis em outro lugar. A umidade é um grande desafio para qualquer estrutura subterrânea.

Das muitas moradias em rochas habitadas por seres humanos, a maioria fica em locais secos. Elas incluem desde as torres e paredes construídas nos rochedos de Mesa Verde, no Colorado (Estados Unidos), habitadas por mais de 700 anos pelo povo ancestral conhecido como Pueblo, até os elaborados templos, túmulos e palácios escavados no arenito rosa de Petra, na Jordânia.

Atualmente, uma das últimas aldeias cortadas na rocha e ainda habitadas do mundo é Kandovan, aos pés do monte Sahand, no Irã – um vale marcado por estranhas cavernas pontiagudas que foram escavadas e transformadas em casas, como uma colônia de cupinzeiros. A região recebe apenas 11 mm de chuva por mês, em média, durante todo o verão.

Mas construir embaixo da terra em regiões mais úmidas é claramente mais complicado.

O metrô de Londres é um exemplo. Para impermeabilizar seus túneis subterrâneos originais, construídos no século 19, eles foram revestidos com diversas camadas de tijolos e uma generosa camada de betume.

Atualmente, são utilizados métodos mais modernos. Mas, mesmo com essas precauções, ainda é comum a incidência de mofo preto nas galerias.

O mesmo problema afeta fundações de edifícios, porões e estacionamentos subterrâneos em regiões com forte incidência de chuvas em todo o mundo.

Restaurante subterrâneo
Em Coober Pedy, não são só as casas que ficam embaixo da terra. Existem restaurantes, lojas, hotéis e até uma Igreja Ortodoxa Sérvia no subterrâneo(foto: Getty Images)

Existem duas razões principais para o fenômeno. Uma é a falta de ventilação, que pode fazer com que a umidade da cozinha, dos banheiros e da própria respiração das pessoas se condense nas frias paredes das cavernas. O outro motivo é a água subterrânea, se as construções estiverem perto do lençol freático.

As cavernas de Hazan, em Israel, são uma complexa rede de esconderijos subterrâneos construídos pelos judeus para escapar da perseguição dos romanos no século 2° d.C. Ela inclui prensas de olivas, cozinhas, salões, reservatórios de água e um columbário, para depositar urnas funerárias.

A apenas 66 metros de distância da entrada da caverna, a temperatura nos túneis cai significativamente em comparação com o lado externo. Mas a umidade também é o dobro dos 40% verificados fora da caverna.

Um dos motivos pode ser o fato de que o sistema de cavernas foi construído em rocha porosa, em uma área de planície. Nestas condições, a tendência é de que o volume de água subterrânea seja maior. E seus corredores estreitos e entradas limitadas fazem com que haja pouco fluxo de ar.

Mas, em Coober Pedy, construída sobre 50 metros de arenito poroso, as condições são áridas até nos subterrâneos.

“Aqui é muito, muito seco”, afirma Wright.

Poços de ventilação garantem o fornecimento adequado de oxigênio e permitem que a umidade das atividades internas escape do subterrâneo. Mas eles, muitas vezes, são simples canos que se estendem através do teto.

Esses bunkers à prova de calor trazem ainda outras desvantagens. Lewis, por exemplo, mora atualmente na superfície, em um parque para trailers. Sua casa subterrânea ficava embaixo do mesmo ponto onde ele mora hoje, mas ela simplesmente desabou.

“Não acontece com muita frequência”, segundo ele. “Ela estava em um local ruim.”

Também não é incomum que os moradores derrubem acidentalmente a parede, atravessando até a casa do vizinho.

Apesar do contratempo, Lewis sente falta da vida nos subterrâneos. E Wright também recomenda o ambiente embaixo da terra para pessoas que sofrem em locais com temperaturas absurdamente altas. Para ele, “é moleza quando você sente aquele calor”.

De fato, é possível que as curiosas pirâmides de areia de Coober Pedy comecem a pipocar em outros lugares do mundo no futuro próximo.

FONTE ESTADO DE MINAS

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