Encurraladas por eucalipto, comunidades do Alto Jequitinhonha lutam para preservar modo de vida comunitário

Governo militar, nos anos 1970, fomentou a implantação de monocultivos de eucaliptos para fornecer matéria-prima ao complexo siderúrgico

No entorno de Turmalina (MG), na comunidade Gentil, o agricultor Manoel João dos Santos, 57 anos, testemunhou o avanço implacável da monocultura de eucaliptos na Chapada das Veredas durante as últimas cinco décadas. “Os córregos nasciam lá no pé da chapada e, por conta da destruição, as grotas ficaram sem água”, diz, apontando para o entorno de sua propriedade.

Quase 30 anos mais jovem, Roberta Alves, nascida na comunidade quilombola, groteira e chapadeira de Monte Alegre, no município de Veredinha (MG), também reconhece a transformação na paisagem.

“Minha comunidade tem mais de 200 anos de existência e a gente historicamente viveu entre as grotas e as chapadas. Eu vivenciei ainda um pouco disso, meus pais com muito mais intensidade. Mas, minha filha já não conhece esse cenário”, lamenta.

Educadora social no Centro de Agricultura Alternativa Vicente Nica (CAV), Roberta afirma que a monocultura de eucalipto “chegou e ocupou nosso local de vida”. “Esse modo de ser, viver e fazer da nossa comunidade, construída entre grotas e chapadas, foi impactado quando a gente perdeu parte de nosso território”.

Agricultor Manoel João dos Santos mora na comunidade Gentil, entorno de Turmalina, numa região de grotas.
Roberta Alves é educadora e se autoidentifica como quilombola groteira-chapadeira.

Os vales (ou “grotas”) e as chapadas são formações geográficas caracterizadas por relevos distintos. Enquanto a primeira apresenta maior declividade, solos mais férteis em encostas e fundos de vale mais suaves, a segunda tem o relevo mais plano, solos mais arenosos e vegetação cerratense intercalada com veredas e riachos sazonais. Ambas predominam na paisagem da Chapada das Veredas, no Alto Jequitinhonha, em Minas Gerais.

A região está situada entre os municípios de Turmalina, Veredinha e Minas Novas, numa área de transição entre Caatinga e Cerrado. É uma região importante em termos hídricos, sendo parte da zona de recarga da micro-bacia hidrográfica do Rio Fanado, afluente vital do Rio Jequitinhonha.

Paisagem do Alto Jequitinhonha, entre grotas e chapadas tomadas por eucalipto na parte mais alta. Foto: Camila Araujo/Acervo ISPN

Monocultivos

Os monocultivos de eucaliptos chegaram na região a partir dos anos 1970, quando o governo militar fomentou, por meio de incentivos fiscais, a implantação de eucaliptais, com a promessa de desenvolver e gerar renda para a região.

As terras na ocasião foram consideradas devolutas – ou seja, terras públicas que não pertenciam a ninguém – pelo estado de Minas Gerais, e cedidas à siderúrgica estatal Companhia Aços Especiais Itabira (Acesita) para a produção de carvão vegetal, a partir de extensas plantações de eucalipto.

A ideia era ocupar a região, considerada vazia – apesar de seu uso secular por comunidades tradicionais groteiras-chapadeiras – e transformá-la em fornecedora de matéria-prima para o complexo siderúrgico. O eucalipto, para isso, era uma planta estratégica, pois apresenta um ciclo curto para atingir maturidade e tem alta produtividade de biomassa.

A Acesita apropriou-se de terras de comunidades camponesas, deixando uma marca negativa na memória da população local. Em 1992, ela foi privatizada e hoje atende pelo nome de Aperam Bioenergia, do grupo europeu Aperam, uma spin-off da multinacional siderúrgica ArcelorMittal.

O desenvolvimento da região nunca chegou, segundo relato de moradores e agricultores familiares que testemunharam a transformação da paisagem nos últimos anos, como Roberta e Manoel. O cenário hoje é descrito nos seguintes termos: as grotas estão secas, muitas veredas também secaram, o solo está desgastado e a população está adoecida devido ao uso de agrotóxicos nas plantações.

A poluição pela fumaça da produção industrial de carvão vegetal também é uma preocupação, já que no inverno as inversões térmicas fazem com que a fumaça desça para o vale, afetando a qualidade do ar nas comunidades.

“Até os anos 1970, eram territórios de uso comum. Você encontrava água em tudo quanto era canto. As famílias usavam as grotas mais para cultivo de culturas anuais como milho e feijão, na prática do roçado. As chapadas eram usadas para a soltura do gado, para a colheita de frutos nativos, como pequi, mangaba e panã, para a colheita de plantas medicinais e também para viabilizar o consumo de peixe, já que havia muitas veredas com peixes”, explica o engenheiro agrônomo Renato Alves de Souza, que atua no CAV há 14 anos.

Renato Alves, engenheiro agrônomo do CAV, mostra as chapadas tomadas por monocultivos de eucaliptos. Foto: Camila Araujo/Acervo ISPN

Ele explica que a grota tem um solo mais fértil, por ser um local com maior quantidade de água. No entanto, acrescenta, essa água chegava até ali depois de se infiltrar por solos mais porosos e mais profundos das chapadas. “Esse ciclo foi interrompido a partir do momento que a chapada foi ocupada por monocultivo de eucaliptos”.

Seca

A Vereda da Dona, nome informal dado a uma das veredas da parte mais alta da região, secou. Era ali que Renato ia quando criança para brincar e nadar, segundo conta. “Estamos em época de chuva, e nada da Vereda da Dona voltar. Outras estão agonizando e a tendência é secar mais e mais”, explica.

Ele defende que os monocultivos de eucalipto precisam recuar para que o ciclo das águas volte a fluir por lá. Isso porque a transformação da vegetação nativa das chapadas em plantações de eucalipto resultou em uma série de impactos sociais e ambientais interligados.

Além da perda de áreas comuns utilizadas para pastagem e coleta de produtos extrativistas, as plantações de eucalipto trouxeram impactos hidrológicos – árvores de rápido crescimento em espaçamento adensado, como é o caso do eucalipto, consomem significativamente mais água do que a vegetação nativa do Cerrado.

As veredas nas chapadas foram represadas como fonte de água para irrigar viveiros de mudas de eucaliptos e mudas recém-plantadas, e para resfriar os grandes fornos de carvão.

O educador ambiental João Antônio Barbosa afirma o mesmo. “O problema não é a planta em si, mas a forma como foi plantada, em sistema de monocultura e em grande extensão. Isso fez com que as nascentes secassem e por isso hoje as comunidades precisam ir atrás de recurso para amenizar um pouco a questão da falta d’água”, diz ele.

Os monocultivos vem agravando a escassez de água na região, reduzindo e até secando completamente o volume de água de rios, veredas, nascentes, poços e riachos e afetando o abastecimento de água para as comunidades nos vales. Hoje, as cisternas de captação de água da chuva se tornaram essenciais para muitas famílias.

Tecnologias sociais

Agricultor Manoel João dos Santos e o educador ambiental João Antônio observam uma barragem implementada pelo CAV. Foto: Camila Araujo/Acervo ISPN

Aos 58 anos, João Antônio vem trabalhando junto ao CAV, às comunidades e a parceiros, como o Instituto Sociedade, População e Natureza (ISPN), na implantação de tecnologias sociais, como as bacias de contenção e as curvas de nível.

A primeira imagem mostra uma bacia de contenção e a segunda, uma curva de nível. Foto: Camila Araujo/Acervo ISPN
A primeira imagem mostra uma bacia de contenção e a segunda, uma curva de nível. Foto: Camila Araujo/Acervo ISPN

“A bacia de contenção contém água das enxurradas, para que não ocorra erosão do solo. Então, você acumula a água na bacia e ela vai infiltrando lentamente, segurando um pouco a água da chuva e abastecendo os lençóis freáticos”, explica João Antônio, afirmando que se trata de uma tecnologia necessária devido à falta de cobertura do solo.

Com a perda das chapadas, os agricultores foram forçados a pastar o seu gado nas encostas dos vales, resultando num sobrepastoreio, com a consequente degradação da vegetação e dos solos.

O educador ambiental destaca, ainda, que há propriedades na Chapada das Veredas que “só têm água para consumo humano, o que é muito pouco para quem precisa sobreviver da lavoura”.

Esse é o caso da comunidade Gentil, onde mora o agricultor Manoel, apresentado no início do texto. A vizinha, Salete Cordeiro, também agricultora, é presidente da Associação de Mulheres Agricultoras do Córrego da Lagoa e Beira do Fanado (ASMAFA) e conta que viu uma evasão de pessoas por conta da falta d’água.

“Tínhamos gado, galinha, fazíamos horta para levar às feiras. Com a chegada do eucalipto, a água foi acabando e as pessoas foram vendendo o gado e perdendo a condição de fazer horta”, explica a moradora, que ficou no local por ser “muito guerreira”.

Salete Cordeiro é agricultora e presidente da Associação de Mulheres Agricultoras do Córrego da Lagoa e Beira do Fanado. Foto: Camila Araujo/Acervo ISPN

Fazendo frente a este cenário, a ASMAFA foi criada, em suas palavras, para cuidar do meio ambiente, unir a comunidade e ter mais força para conseguir as coisas. “É um trabalho muito legal que também está fortalecendo as mulheres”, explica.

A associação é uma das dez organizações beneficiárias do Fundo PPP-ECOS, do ISPN, para promoção de paisagens produtivas ecossociais, com recursos do Fundo Global para o Meio Ambiente (GEF), cujo objetivo é fortalecer comunidades e povos tradicionais na paisagem do Alto Jequitinhonha, e assim garantir maior proteção à natureza.

“O projeto está nos ajudando demais, e até tem fortalecido a participação das pessoas da comunidade”, explica ela.

Segundo a engenheira florestal Jessica Pedreira, assessora técnica do ISPN, o Fundo PPP-ECOS tem apoiado uma ação em rede entre as associações em parceria com o CAV para a “disseminação e o acesso das tecnologias sociais de captação, armazenamento e tratamento da água, permitindo melhoria na qualidade de vida e na produção agroecológica nos quintais das famílias”.

Concentração de terras 

Outra característica marcante do Alto Jequitinhonha e da Chapada das Veredas é a concentração de terras. De acordo com uma pesquisa intitulada “Metamorfose Da Chapada: monocultura de eucalipto e tomadas de terras e águas no Alto Jequitinhonha, Minas Gerais”, publicada na revista de geografia agrária Campo Território, em 2022, até 1970, estabelecimentos com menos de 100 hectares – considerados pequenos e médios – ocupavam quase 98% da região, abrangendo cerca de 65% de área de chapadas.

No entanto, em 1995, as empresas de eucalipto representavam 0,21% dos estabelecimentos, mas controlavam mais de 48% da área. Em 2015, a Aperam Bioenergia, por exemplo, detinha sozinha mais de 20% da área total de municípios como Veredinha e Itamarandiba. “Não é justo que uma empresa só utilize todo o território, privando famílias de acesso à água, terra e da conexão com sua identidade territorial”, destaca o engenheiro agrônomo Renato Alves, lembrando que a região antes era uma área de uso comum.

Para tentar reverter esse cenário, algumas comunidades e agricultores familiares têm recorrido à justiça para reivindicar a retomada de suas terras ancestrais, como é o caso do agricultor José Carlos, 43 anos, da comunidade Campo Alegre.

Nessa luta judicial, o reconhecimento das populações que habitam as grotas enquanto comunidades tradicionais de groteiros e chapadeiros é considerado fundamental pelo CAV. Esse reconhecimento é respaldado na lei mineira nº 21.147, de 2014, regulamentada três anos mais tarde pelo decreto estadual nº 47.289. Esses dispositivos estabelecem mecanismos para o “reconhecimento formal da autoafirmação identitária dos povos e comunidades tradicionais”.

Segundo a legislação, povos e comunidades tradicionais são “grupos culturalmente diferenciados que se reconhecem como tais e possuem formas próprias de organização social, ocupando territórios e utilizando recursos naturais como condição para sua reprodução cultural, social, religiosa, ancestral e econômica”.

Essa legislação, por sua vez, é um desdobramento de uma outra estabelecida em nível nacional: a Política Nacional de Desenvolvimento Sustentável dos Povos e Comunidades Tradicionais, instituída pelo Decreto no 6.040, de 2007, que definiu o que são Povos e Comunidades Tradicionais, o que são Territórios Tradicionais e, por fim, o que é Desenvolvimento Sustentável.

“O reconhecimento dessas identidades nos fortalece enquanto povo na busca da retomada de nosso território. Ter esse reconhecimento formal, para além do reconhecimento interno, é importante para dar continuidade ao nosso modo de ser e de viver”, explica a educadora social Roberta Alves.

Ela ainda destaca o papel do CAV como um agente regional importante e uma das organizações “que tem mais contribuído com os territórios, sobretudo na questão de convivência com as modificações da paisagem e na busca dos nossos direitos por reconhecimento”.

Da grota pro mundo

A paisagem do Alto Jequitinhonha, hoje caracterizada pelos eucaliptais, pela seca e concentração de terras, também abriga, por outro lado, diversas organizações comunitárias e locais que buscam construir alternativas para viver neste cenário.

Neltinha Oliveira, nascida na comunidade do Tatu, no município de Franciscópolis, tem 34 anos e é coordenadora da Escola Família Agrícola Veredinha (EFAV). Educadora do campo, ela explica que a escola tem um “histórico de comprometimento com os processos de libertação do povo”.

Educadora do campo, Neltinha Oliveira é coordenadora da Escola Família Agrícola Veredinha. Foto: Camila Araujo/Acervo ISPN

“A gente debate com os jovens as opressões instauradas nesse território, e acredita que vem abrindo caminho para um ‘esperançar’, buscando estratégias para se libertar. Com essa região invadida pelo eucalipto, um grupo de agricultores visionários se juntou para construir a escola e defender os interesses da agricultura familiar”, explica.

EFA Veredinha foi fundada em 2011 para formar jovens no curso técnico em Agropecuária integrado no ensino médio. Foto: Camila Araujo/Acervo ISPN

A escola atende mais de 30 comunidades rurais, teve sua primeira turma em 2011 e hoje soma mais de 400 jovens formados no ensino médio integrado ao curso técnico em Agropecuária, a partir da Pedagogia da Alternância. Entre os pilares da educação na EFAV estão a agricultura familiar, a agroecologia, a educação do campo, a solidariedade e o protagonismo coletivo.

“Quando a juventude vem para cá, ela se fortalece e entende que é sujeito de transformação”, acrescenta Neltinha.

Manter o projeto da EFAV, segundo ela, não é nada fácil. É fruto de muita luta e só pode continuar existindo com o apoio de organizações como o CAV, o Vozes do Cerrado e o próprio ISPN.

Artesãs do barro 

No povoado de Campo Buriti, em Turmalina, ergue-se uma comunidade onde o barro se tornou mais que matéria-prima: é a expressão de um modo de vida, uma fonte de sustento e uma ponte para o mundo exterior. É aqui que se encontra um grupo de mulheres, artesãs do barro, cujas mãos moldam vasos, peças ornamentais e histórias de determinação e união.

A associação de artesãs mantém lojas compartilhadas para a venda de artesanatos em barro. Foto: Camila Araujo/Acervo ISPN

Na loja da Associação dos Artesãos Coqueiro Campo (AACC), cada uma das 46 mulheres e um jovem artesão tem sua própria prateleira, onde exibem seu trabalho. A venda das peças representa não apenas um ganho financeiro individual, mas também o fortalecimento da comunidade como um todo.

Maria Gomes Barbosa, 59 anos, conhecida como “Maria de Si”, depois de uma vida dedicada à educação e à agricultura, encontrou no artesanato um modo de vida, presidindo atualmente a associação. Não muito longe dali, na comunidade Campo Alegre, outro grupo de mulheres se juntou na Associação dos Lavradores e Artesãos de Campo Alegre (ALACA) para impulsionar o trabalho com o barro.

Maria de Si é agricultora e artesã do barro na comunidade Coqueiro Campo (MG).

Para Maria Aparecida, a Cida, de 46 anos, o artesanato foi a porta de entrada em direção a um mundo além das fronteiras locais. Ela participa de feiras em todo o Brasil, ampliando seu alcance e garantindo o sustento de sua família.

As peças de artesanato em barro refletem elementos da natureza, como animais locais, plantas nativas e cenas do cotidiano da região. Têm um papel importante na economia local, já que é fonte de renda para famílias, e podem ser encontradas em mercados locais, lojas de artesanato e até em grandes lojas de decoração Brasil afora. Fruto de uma parceria entre associações de artesãos e empresas, hoje as peças de Turmalina estão nas prateleiras de lojas como Camicado e Tok Stok.

Maria Aparecida mostra a construção do artesanato, desde o pó de barro até o produto final. Foto: Camila Araujo/Acervo ISPN

Ambas iniciativas contam com a parceria do CAV e integram o grupo de organizações apoiadas pelo Fundo PPP-ECOS.

Doce união 

A história da Associação dos Apicultores do Vale do Jequitinhonha (APIVAJE) remonta a 2002, quando foi criada com o apoio de organizações como o ISPN, por meio do Fundo PPP-ECOS, e a CODEVASF. Renato Alves, do CAV e também presidente da APIVAJE, compartilha o impacto que sentiu ao descobrir um entreposto de mel parado em Turmalina: “Aquilo me doeu muito e pensei que podia dar uma contribuição”.

Mais tarde, percebendo a necessidade de uma estrutura comercial, a cooperativa foi estabelecida para lidar com a venda dos produtos.

Ao lado dele, César Pinheiro de Oliveira atua como coordenador da unidade de beneficiamento e é responsável pelos processos de produção. Ele recebe a matéria-prima de cooperados e associados, conduzindo-a através de processos que incluem descristalização, pré-filtragem, filtragem e homogeneização, antes de ser embalado em bisnagas e sachês, onde é rotulado e recebe o número do lote.

O consumo interno do mel, no entanto, permanece baixo, e colocar o produto no mercado formal não é tarefa fácil. César afirma que a comercialização enfrenta limitações práticas, como a dificuldade em escoar quantidades significativas de mel – 5 ou 10kg podem ser gerenciáveis, mas quantidades maiores representam um desafio logístico.

Na exportação, o Brasil se destaca no envio de matéria-prima, mas não de suas marcas locais. Existem barreiras para novas entradas no mercado frente a marcas no exterior já consolidadas, mantendo uma posição dominante. No entanto, César e sua equipe identificam um diferencial importante: a aroeira, uma planta nativa da região que confere um sabor distinto ao mel produzido por ali.

Graças a uma parceria com a rede de supermercado Carrefour, que foi condenada na justiça a vender produtos de empresas gerenciadas por pessoas negras após um caso de racismo em uma das lojas da rede, o mel do APIVAJE agora pode ser comercializado em maior escala. A diretoria da associação é toda composta por pessoas quilombolas.

CAV e PPP-ECOS 

O CAV, Centro de Agricultura Vicente Nica, por sua vez, foi fundado em 1987 para contribuir com o desenvolvimento da agricultura familiar na região do Vale do Jequitinhonha, por meio de práticas sociais que permitam influenciar nas políticas públicas, melhorar as condições de vida, as relações humanas e o convívio com o meio ambiente.

Ao longo de sua história, diversas técnicas foram adotadas para recuperar áreas degradadas. José Murilo Alves de Souza, 56 anos, trabalha na organização há 25 anos e conta que no início havia um esforço para a implementação de sistemas agroflorestais e com investimento em recuperação da água, já que as mudas eram plantadas e não sobreviviam ao período da seca.

Por volta de 2018, o CAV começou a se capacitar em certificação orgânica por conta de uma demanda de agricultores da região. “Um grupo de agricultores elaborou como seria todo esse processo de transição do sistema convencional de produção para a orgânica”, explicou.

José Murilo trabalha no Centro de Agricultura Alternativa Vicente Nica há 25 anos. Foto: Camila Araujo/Acervo ISPN

O orgânico em si não é só o produto final, diz José Murilo: “requer trabalho de cuidado e respeito pelos animais, pela natureza e pela família”.

Em uma parceria estratégica com o Fundo PPP-ECOS do ISPN, o CAV tem prestado assistência a dez organizações comunitárias da região para a execução de projetos apoiados pelo PPP-ECOS, com recursos do Fundo Global para o Meio Ambiente (GEF).

A proposta da parceria é gerar o fortalecimento de atividades produtivas sustentáveis, como o artesanato, a apicultura, o extrativismo de frutos do Cerrado. “Essas ações compõem uma estratégia de desenvolvimento no território com mais resiliência socioambiental e maior capacidade de influenciar políticas públicas”, conclui a assessora do ISPN Jéssica Pedreira.

Vale do Lítio cria oportunidades e muda vida dos mineiros com instalação de grandes empresas multinacionais e mega investimentos

Instalação de grandes empresas multinacionais na região tem impulsionado o empreendedorismo local e a geração de empregos para a população

O Vale do Lítio completa, em maio, um ano de apresentação oficial para o mundo. Mesmo com tão pouco tempo, a iniciativa lançada pelo Governo de Minas já vem mudando a vida de parte da população do Vale do Jequitinhonha, região historicamente carente de investimentos privados.

Os benefícios vão muito além da extração desse elemento essencial para a transição energética global. A instalação de grandes empresas multinacionais está gerando mais oportunidades para empreendedores locais e de emprego para a população em geral, impulsionando o desenvolvimento econômico de Minas.

Epicentro do desenvolvimento

Quem conhece bem a região do Jequitinhonha pode atestar. Maurício Martins Andrade, 64 anos, é dono de uma pousada em Araçuaí desde a década de 1980 e garante que os negócios esquentaram nos últimos meses, após o incremento no setor de extração do lítio. “Eu sabia que os investimentos iam crescer aqui um dia. E realmente começou a chegar o pessoal agora. Construí outro hotel. Depois, construí um anexo em cima dele”, conta.

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Village das Minas Hotel

Hoje, o Village das Minas Hotel, no bairro Aeroporto, já conta com 71 apartamentos, sendo 35 quartos completamente novos, recém-inaugurados. “Temos visto muitas empresas chegando, investindo no mercado de lítio. Com elas, vêm os fornecedores. Aqueceu a área de hotelaria, restaurantes, postos de combustível, aluguéis, condomínios residenciais, atacarejos, prestação de serviços, tudo. Está acontecendo uma revolução na cidade”, diz Maurício.
O empresário conta que várias outras pessoas da cidade e de fora também estão empreendendo em Araçuaí, construindo hotéis, quitinetes, sorveterias, espetinhos. “Araçuaí hoje é foco de investimentos. Tem muita gente vindo trabalhar aqui. Você não acha um pedreiro para trabalhar, porque está todo mundo com muito serviço”, destaca.

Somente no Village das Minas, a equipe cresceu cerca de 50% no último ano, contando hoje com 18 funcionários. E o nível salarial na cidade também aumentou. “Para segurar a pessoa, tem que aumentar o salário, pois tem muita oportunidade de trabalho”, relata.

Empreendedorismo em alta

As oportunidades criadas pelo Vale do Lítio levaram o Jequitinhonha a ser a região mineira com maior crescimento no número de empresas abertas no estado em 2023, com alta de 18,45% em comparação com 2022, segundo dados do relatório anual de registros mercantis da Junta Comercial de Minas Gerais (Jucemg).

E, se depender de Gustavo Murta, empresário do ramo de restaurantes, a região vai continuar na liderança em 2024. Depois de morar por mais de 20 anos longe de sua terra natal, passando por Belo Horizonte, Florianópolis e até Nova Zelândia, ele decidiu voltar para Araçuaí, para empreender no ramo da gastronomia.

O primeiro restaurante foi inaugurado em 2019, quando as informações sobre a extração do lítio eram meras especulações. Ele conta que a vida dele mudou mesmo a partir de 2021, quando as previsões se confirmaram.

“Em 2019, tinha um local com capacidade para 64 pessoas, abria apenas três dias na semana, com funcionários ‘freelancers’. Mudei o restaurante para um local maior, para 300 pessoas, com seis funcionários registrados. Até o fim de abril, vou inaugurar um sushi bar, com mais cinco funcionários registrados. Eu e outros empresários do setor de serviços já estamos com dificuldades de encontrar pessoas para trabalhar”, diz Gustavo Murta. O empresário conta com a ajuda do programa Trilhas de Futuro, do Governo de Minas, para contribuir na qualificação da mão de obra e atender à necessidade das empresas por profissionais.

Para o diretor-presidente da Invest Minas, João Paulo Braga, os números indicam que o ciclo de investimentos está no começo. “A demanda pelo lítio deverá crescer no mundo, fazendo dessa região um dos polos globais na produção do elemento. O Governo de Minas está empenhando esforços para trazer mais empresas para a região, dentro da cadeia produtiva do lítio”, afirma.

 

Fórum Invest Vale do Jequitinhonha

Idealizado pelo Governo de Minas, por meio da Secretaria de Estado de Desenvolvimento Econômico e sua agência vinculada, a Invest Minas, o Vale do Lítio é resultado de articulação com diversos órgãos governamentais estaduais e municipais para a formulação de políticas públicas, com foco na atração de empresas e investimentos, qualificação da mão de obra, incentivo à tecnologia e fornecimento da infraestrutura necessária para o crescimento da região.

 

O mineral é utilizado em diversas aplicações, sendo a mais comum a fabricação de baterias de longa duração, que equipam veículos elétricos e aparelhos eletroeletrônicos.

No epicentro desta iniciativa, cidades da região, como Araçuaí, apresentam enorme potencial para se destacarem aos olhos do mundo. Com este viés, o Estado promoveu na cidade, nesta segunda-feira (8/4), o Fórum Invest Vale do Jequitinhonha. O evento reuniu diversas frentes para promover ainda mais o desenvolvimento da região.

Na abertura do evento, o vice-governador de Minas, Professor Mateus, comemorou os avanços trazidos para a região. “O Vale é a região que mais gera emprego em Minas Gerais, proporcionalmente, nos últimos dois anos”, diz. Ele reforça, no entanto, que este é o momento de as cidades se prepararem para fazer do Vale do Lítio uma mudança permanente, daí a importância do diálogo proporcionado pelo fórum.

“O lítio é uma rampa, não é a salvação. O nosso objetivo aqui hoje é entender como vamos transformar essa rampa de oportunidades em uma rampa definitiva de reestruturação econômica da nossa sociedade“, disse Professor Mateus.

“Poucos lugares no Brasil possuem hoje este potencial de crescimento. Temos trabalhado desde 2019 para criar condições para que grandes investidores e empreendedores locais consigam implementar seus projetos e se desenvolver, gerando empregos e renda para a população”, afirma o secretário de Desenvolvimento Econômico de Minas Gerais, Fernando Passalio.

Liberdade para prosperar

O evento também contou com a assinatura simbólica de decretos de liberdade econômica para 13 municípios da localidade (Araçuaí, Ataléia, Berilo, Capelinha, Divisa Alegre, Divisópolis, Itamarandiba, Itinga, Leme do Prado, Machacalis, Malacacheta, Minas Novas, Rubelita).

Além da adesão ao Programa Estadual de Desburocratização – Minas Livre Para Crescer, as cidades se preparam para integrar o sistema Redesim + Livre, que garante mais agilidade na abertura de novas empresas, automatizando os processos burocráticos e dispensando atividades de baixo risco de alvarás.

Visita

Na manhã desta segunda-feira (8/4), Professor Mateus e o secretário Fernando Passalio visitaram a planta da empresa Sigma Lithium, instalada do Vale do Jequitinhonha.

urante a visita, a comitiva conheceu um pouco da produção da empresa, como o processo de extração de minério de espodumênio que, posteriormente, é processado em concentrado de lítio.

A empresa anunciou na última semana planos de expansão da produção com a construção de uma segunda linha do lítio. Atualmente, a produção é de 270 mil toneladas/ano. Com a expansão, a empresa espera alcançar 520 mil toneladas/ano até 2025.

A expansão significa mais desenvolvimento regional, além de novas oportunidades de emprego e renda na região.

Antes, Professor Mateus conferiu a recém-reformada Escola Municipal Nuno Murta, resultado de uma parceria entre a empresa e a prefeitura. Na escola, localizada na comunidade rural de Piauí Poço Dantas, o vice-governador de Minas também conversou com mulheres contempladas por um dos programas socida Sigma Lithium, voltado para estimular e capacitar empreendedoras da região.

 

FONTE INVEST MINAS

Num lugarzinho no meio do nada, charme da boa mesa te espera em Minas

Situada em uma reserva particular, ao lado Parque Estadual do Rio Preto, no Vale do Jequitinhonha, Raiz Parque une natureza, arte e gastronomia em hospedagem com o máximo de personalização e conforto

Um lugar para se sentir abraçado pela natureza. Cercada por paredões de pedra que formam a imponente Serra do Espinhaço, no Vale do Jequitinhonha, em Minas Gerais, está a pousada Raiz Parque. Fica a 56 quilômetros de Diamantina, entre os municípios de São Gonçalo do Rio Preto e Couto de Magalhães de Minas. Integrante da Associação de Hotéis Roteiros de Charme, proporciona experiências que também envolvem gastronomia e arte.

“Hoje é cada vez mais raro o contato de quem mora nas grandes cidades com a natureza. Aqui é um lugar de descobertas e você tem que vir aberto para viver uma experiência imersiva”, avisa a empresária Cláudia Narciso, que cuida, pessoalmente, de todos os detalhes da pousada.

Pousada no Vale do Jequitinhonha, integrante da Associação de Hotéis Roteiros de Charme, proporciona relaxamento e experiências que envolvem gastronomia e arte
Pousada no Vale do Jequitinhonha, integrante da Associação de Hotéis Roteiros de Charme, proporciona relaxamento e experiências que envolvem gastronomia e arteNereu Jr/Divulgação

Ela mesma faz as reservas e conversa com as pessoas para conhecer seus gostos e preferências. No fim, quer oferecer uma hospedagem personalizada de verdade. Para você ter uma ideia do nível de detalhes, as toalhas de banho são bordadas com as iniciais dos nomes dos hóspedes. Quando está por lá, Cláudia faz questão de receber os visitantes e mostrar cada pedacinho do seu paraíso.

A Raiz Parque fica em uma Reserva Particular do Patrimônio Natural (RPPN) de 1.000 hectares, na divisa com o Parque Estadual do Rio Preto. Nasceu do sonho do falecido marido de Cláudia, Paulo Ribeiro, que era sociólogo e ambientalista. Ele ficou conhecido como “menino do dedo verde” tamanho o amor pela natureza e o empenho em preservá-la. Foi Paulo quem descobriu essa área e lutou para que se tornasse um “parque particular”, que ficou como um legado.


Igualmente apaixonada pela natureza, Cláudia assumiu a missão de preservar o imenso pedaço do cerrado, bioma que, nas suas palavras, é “um dos mais ricos do planeta”. Nascida em Montes Claros, ela fez carreira na moda. Trabalhou por 22 anos no Grupo Arezzo – começou como estilista e chegou à cadeira de CEO da marca Arezzo. Desligou-se da empresa há dois anos e meio, no meio da pandemia, mas segue na área como consultora de fábricas de calçados. Em paralelo, administra duas pousadas (além da Raiz Parque, é dona da Estância Lomba Grande, no Rio Grande do Sul).

Estrada de terra


Partindo de Belo Horizonte, são mais ou menos cinco horas de viagem. Ao chegar à cidade de São Gonçalo do Rio Preto, você vira em uma rua estreita de calçamento, passa por algumas casas e de repente está em uma estrada de terra (em ótimas condições, por sinal, o que minimiza o sacolejo) no meio do cerrado.


A paisagem vai se descortinando ao longo do caminho, que atravessa um pequeno vilarejo, o Povoado do Alecrim, onde mora boa parte dos funcionários da pousada. Parece preparar o viajante para o que está por vir. Mesmo assim, a chegada causa muito impacto. O encontro com a Serra do Espinhaço é de tirar o fôlego.

Os hóspedes são recebidos na casa principal, que não tem balcão de check-in nem nada de hotel. A sensação é de entrar na casa de Cláudia, e é isso mesmo o que ela quer. “A casa é pintada com a terra daqui. Pensamos em uma arquitetura para contar a história do lugar, que tem a ver com o garimpo”, aponta.


Não é só a arquitetura que conta histórias. A pousada reúne peças garimpadas pela dona mundo afora – de artesanato a design com assinatura, passando por antiguidades, o que forma uma interessante composição de épocas, cores e texturas. Um patchwork de histórias. Nessa hora, seu lado ligado à moda fala mais alto. “Como gosto de viajar, vou a lugares que me permitem conhecer os artesãos”, revela.


Em uma volta pela pousada, Cláudia vai contando as histórias dos objetos. A grande sala, com quatro ambientes integrados, concentra a maior parte do seu garimpo. Lá tem um sofá vermelho que veio da Inglaterra e um tapete persa de um castelo antigo. O design brasileiro está representado, por exemplo, pelo sofá de Percival Lafer e pelo banco que o escritor montes-clarense Darcy Ribeiro, tio de Paulo, desenhou com Oscar Niemeyer. Nas almofadas, bordados com frases de Guimarães Rosa (veja essa: “Eu sou é eu mesmo. Divêrjo de todo o mundo”) e flores do cerrado.

Mesa coletiva

Na sala de jantar, a mesa coletiva foi projetada para quebrar o gelo e aproximar os hóspedes. Pão de sal é assado na hora na cozinha da pousada
Na sala de jantar, a mesa coletiva foi projetada para quebrar o gelo e aproximar os hóspedes. Pão de sal é assado na hora na cozinha da pousadaNereu Jr/Divulgação

Ao fundo da casa, ficam a cozinha e a sala de jantar, com uma mesa coletiva projetada para quebrar o gelo e aproximar os poucos hóspedes que se cruzam na pousada. Tudo tem o olhar e o dedo de Cláudia. Ela passa horas planejando a decoração da mesa, que muda a cada refeição. Mesmo não estando por lá, direciona os funcionários pelo telefone. Diz que faz cenografia. “Não repito nenhuma peça. É como se estivesse fazendo uma coleção ou montando um showroom”, comenta.

Ali é servido o café da manhã com produtos das redondezas, respeitando o conceito de “quilômetro zero”. O pão de sal é assado na hora na cozinha da pousada, assim como o pão de queijo e a broa de milho com calda de goiabada. Aproveite para experimentar uma fatia de requeijão moreno derretido na chapa com açúcar cristal ou mel, mistura comum no Norte de Minas. Também dá para adoçar o paladar, logo de manhã, com arroz-doce. A mesa coletiva também é palco de experiências gastronômicas com chefs convidados. Mais um motivo para reunir as pessoas ao redor da comida (não hóspedes também podem participar).


“Gastronomia é uma das paixões da minha vida. A moda me deu a oportunidade de viajar para fora do Brasil e conhecer chefs e restaurantes em Paris, Nova York, Milão e Londres. Sou muito curiosa e como de tudo”, destaca Cláudia, que está sempre em busca de novos talentos. Os almoços são em um clima mais descontraído e o jantar tem a pompa do menu degustação à luz de velas.

 chef Fred Trindade servindo leitão à pururuca, ceviche de banana, couve rasgada, tutu de feijão e arroz
chef Fred Trindade servindo leitão à pururuca, ceviche de banana, couve rasgada, tutu de feijão e arrozNereu Jr/Divulgação

No fim de semana da nossa visita, ela convidou o chef Fred Trindade, que também é de Montes Claros, para assumir as panelas. Desde que fechou o restaurante Trindade, há cinco anos, em Belo Horizonte, o chef passou a viver em São Paulo e se dedica a projetos pelo Brasil. “Sigo a mesma história, de fazer uma cozinha brasileira contemporânea, de vanguarda, com técnica, usando o máximo de produtos locais.”


Os hóspedes puderam se deliciar com cupim serenado de Montes Claros servido com angu de milho verde. O surubim defumado virou recheio de tortelli acompanhado de lagostim do mar, caviar e bisque de lagostim com toque de cachaça. Já a banana, que existe aos montes na região, foi usada para fazer um purê tostado, que compôs o prato com camarão, molho à base de vôngole e folha de capuchinha.

Em um dos almoços, que se desenrolou no espaço gourmet, com música ao vivo, Fred serviu no fogão a lenha leitão à pururuca, ceviche de banana, couve rasgada, tutu de feijão e arroz.


Suítes, bangalôs e chalé


A Raiz Parque oferece três opções de hospedagem. Há suítes dentro da casa principal, com diária para duas pessoas a partir de R$ 300, incluindo café da manhã. Quatro bangalôs ficam espalhados pela área da pousada, cercados pela vegetação, o que garante total privacidade aos hóspedes. Todos contam com hidromassagem na varanda e ducha ao ar livre nos fundos.

Camarão, purê de banana e molho à base de vôngole preparado pelo chef Fred Trindade
Camarão, purê de banana e molho à base de vôngole preparado pelo chef Fred TrindadeNereu Jr/Divulgação

O maior deles, com 90 metros quadrados, batizado de Bangalô Pequizeiro, tem cozinha equipada, adega e lareira. A diária para duas pessoas com todas as refeições (café da manhã, almoço, chá da tarde e jantar) pode chegar a R$ 1.500.

Para quem busca mais espaço, a pousada tem um chalé com três quartos, que acomoda até seis pessoas. O valor para duas pessoas, com todas as refeições, é de R$ 1.900. Ainda existe a possibilidade de day use e de locação da propriedade inteira para casamentos, aniversários e outros eventos, com grupos de até 30 pessoas.



Relax ou aventura?

De frente para os bangalôs, jardins floridos e árvores como pequizeiros e cajueiros servem de moldura
De frente para os bangalôs, jardins floridos e árvores como pequizeiros e cajueiros servem de molduraNereu Jr/Divulgação


Se você busca momentos de relaxamento, ótimo. A pousada tem o silêncio e o aconchego ideias para ler um livro, tomar vinho ou simplesmente contemplar a natureza, diante de uma exuberante paisagem de praticamente 360 graus.

As áreas de convivência são interligadas por jardins e árvores como pequizeiros e cajueiros (Paulo Ribeiro plantou em torno de 200, era “o rei das mudas”). Uma tem cozinha com fogão a lenha, a outra com bar e salão de jogos.


A piscina se enche com a água escura do Rio Preto (tem uma nascente dentro dela, inclusive). A poucos passos dos quartos, os hóspedes ainda encontram uma quadra de beach tênis e uma espécie de museu, que tem como protagonista um enorme engenho de madeira, projetado para contar a história da antiga fazenda. Cláudia brinca que ficou conhecida na região por gostar de “coisa velha”, por isso sempre alguém aparece oferecendo alguma peça.


No fim da tarde, o convite é para ida (de carro) até o mirante do Morro Redondo para fazer um piquenique e ver o pôr do sol. A noite vai caindo e, lá longe, dá para ver as luzes da cidade de Diamantina se acendendo. Leve um agasalho porque, por incrível que pareça, tem frio em pleno Vale do Jequitinhonha.

De volta à pousada, todas as noites, antes do jantar, tem fogueira com música ao vivo. Cláudia sempre convida artistas da região, entre eles Jacó do Vale. Até o fim do ano que vem, o plano é inaugurar o novo restaurante, que terá 300 metros quadrados, e a piscina aquecida. A área onde hoje fica a sala de jantar se transformará em bar, café e sala de jogos.


Para os aventureiros, a pousada oferece atividades que permitem uma conexão ainda mais intensa com a natureza. Entre elas, a descida de bote pelo Rio Preto, onde dá para praticar stand up paddle.


Há trilhas para conhecer três cachoeiras: Moinho (a 800m), Ceci (a 1,5km) e Arco-íris (a 2,8km). Apesar de ser mais distante (são cerca de 45 minutos de caminhada), a Arco-Íris é “apoteótica”, avisa Cláudia. “Lá tem arco-íris o ano inteiro”, diz, explicando o nome. Também dá para percorrer trilhas para visitar atrativos do Parque Estadual do Rio Preto, como a Cachoeira do Crioulo e o Poço dos Veados.

Todos os passeios, seja a pé ou de bicicleta, são agendados com guia. E não é um guia qualquer. Necreto nasceu na antiga fazenda, onde hoje fica a pousada, e vive lá há 50 anos.

Serviço

Pousada Raiz Parque

(31) 98470-3785

www.pousadaraizparque.com

FONTE ESTADO DE MINAS

Num lugarzinho no meio do nada, charme da boa mesa te espera em Minas

Situada em uma reserva particular, ao lado Parque Estadual do Rio Preto, no Vale do Jequitinhonha, Raiz Parque une natureza, arte e gastronomia em hospedagem com o máximo de personalização e conforto

Um lugar para se sentir abraçado pela natureza. Cercada por paredões de pedra que formam a imponente Serra do Espinhaço, no Vale do Jequitinhonha, em Minas Gerais, está a pousada Raiz Parque. Fica a 56 quilômetros de Diamantina, entre os municípios de São Gonçalo do Rio Preto e Couto de Magalhães de Minas. Integrante da Associação de Hotéis Roteiros de Charme, proporciona experiências que também envolvem gastronomia e arte.

“Hoje é cada vez mais raro o contato de quem mora nas grandes cidades com a natureza. Aqui é um lugar de descobertas e você tem que vir aberto para viver uma experiência imersiva”, avisa a empresária Cláudia Narciso, que cuida, pessoalmente, de todos os detalhes da pousada.

Pousada no Vale do Jequitinhonha, integrante da Associação de Hotéis Roteiros de Charme, proporciona relaxamento e experiências que envolvem gastronomia e arte
Pousada no Vale do Jequitinhonha, integrante da Associação de Hotéis Roteiros de Charme, proporciona relaxamento e experiências que envolvem gastronomia e arteNereu Jr/Divulgação

Ela mesma faz as reservas e conversa com as pessoas para conhecer seus gostos e preferências. No fim, quer oferecer uma hospedagem personalizada de verdade. Para você ter uma ideia do nível de detalhes, as toalhas de banho são bordadas com as iniciais dos nomes dos hóspedes. Quando está por lá, Cláudia faz questão de receber os visitantes e mostrar cada pedacinho do seu paraíso.

A Raiz Parque fica em uma Reserva Particular do Patrimônio Natural (RPPN) de 1.000 hectares, na divisa com o Parque Estadual do Rio Preto. Nasceu do sonho do falecido marido de Cláudia, Paulo Ribeiro, que era sociólogo e ambientalista. Ele ficou conhecido como “menino do dedo verde” tamanho o amor pela natureza e o empenho em preservá-la. Foi Paulo quem descobriu essa área e lutou para que se tornasse um “parque particular”, que ficou como um legado.


Igualmente apaixonada pela natureza, Cláudia assumiu a missão de preservar o imenso pedaço do cerrado, bioma que, nas suas palavras, é “um dos mais ricos do planeta”. Nascida em Montes Claros, ela fez carreira na moda. Trabalhou por 22 anos no Grupo Arezzo – começou como estilista e chegou à cadeira de CEO da marca Arezzo. Desligou-se da empresa há dois anos e meio, no meio da pandemia, mas segue na área como consultora de fábricas de calçados. Em paralelo, administra duas pousadas (além da Raiz Parque, é dona da Estância Lomba Grande, no Rio Grande do Sul).

Estrada de terra


Partindo de Belo Horizonte, são mais ou menos cinco horas de viagem. Ao chegar à cidade de São Gonçalo do Rio Preto, você vira em uma rua estreita de calçamento, passa por algumas casas e de repente está em uma estrada de terra (em ótimas condições, por sinal, o que minimiza o sacolejo) no meio do cerrado.


A paisagem vai se descortinando ao longo do caminho, que atravessa um pequeno vilarejo, o Povoado do Alecrim, onde mora boa parte dos funcionários da pousada. Parece preparar o viajante para o que está por vir. Mesmo assim, a chegada causa muito impacto. O encontro com a Serra do Espinhaço é de tirar o fôlego.

Os hóspedes são recebidos na casa principal, que não tem balcão de check-in nem nada de hotel. A sensação é de entrar na casa de Cláudia, e é isso mesmo o que ela quer. “A casa é pintada com a terra daqui. Pensamos em uma arquitetura para contar a história do lugar, que tem a ver com o garimpo”, aponta.


Não é só a arquitetura que conta histórias. A pousada reúne peças garimpadas pela dona mundo afora – de artesanato a design com assinatura, passando por antiguidades, o que forma uma interessante composição de épocas, cores e texturas. Um patchwork de histórias. Nessa hora, seu lado ligado à moda fala mais alto. “Como gosto de viajar, vou a lugares que me permitem conhecer os artesãos”, revela.


Em uma volta pela pousada, Cláudia vai contando as histórias dos objetos. A grande sala, com quatro ambientes integrados, concentra a maior parte do seu garimpo. Lá tem um sofá vermelho que veio da Inglaterra e um tapete persa de um castelo antigo. O design brasileiro está representado, por exemplo, pelo sofá de Percival Lafer e pelo banco que o escritor montes-clarense Darcy Ribeiro, tio de Paulo, desenhou com Oscar Niemeyer. Nas almofadas, bordados com frases de Guimarães Rosa (veja essa: “Eu sou é eu mesmo. Divêrjo de todo o mundo”) e flores do cerrado.

Mesa coletiva

Na sala de jantar, a mesa coletiva foi projetada para quebrar o gelo e aproximar os hóspedes. Pão de sal é assado na hora na cozinha da pousada
Na sala de jantar, a mesa coletiva foi projetada para quebrar o gelo e aproximar os hóspedes. Pão de sal é assado na hora na cozinha da pousadaNereu Jr/Divulgação

Ao fundo da casa, ficam a cozinha e a sala de jantar, com uma mesa coletiva projetada para quebrar o gelo e aproximar os poucos hóspedes que se cruzam na pousada. Tudo tem o olhar e o dedo de Cláudia. Ela passa horas planejando a decoração da mesa, que muda a cada refeição. Mesmo não estando por lá, direciona os funcionários pelo telefone. Diz que faz cenografia. “Não repito nenhuma peça. É como se estivesse fazendo uma coleção ou montando um showroom”, comenta.

Ali é servido o café da manhã com produtos das redondezas, respeitando o conceito de “quilômetro zero”. O pão de sal é assado na hora na cozinha da pousada, assim como o pão de queijo e a broa de milho com calda de goiabada. Aproveite para experimentar uma fatia de requeijão moreno derretido na chapa com açúcar cristal ou mel, mistura comum no Norte de Minas. Também dá para adoçar o paladar, logo de manhã, com arroz-doce. A mesa coletiva também é palco de experiências gastronômicas com chefs convidados. Mais um motivo para reunir as pessoas ao redor da comida (não hóspedes também podem participar).


“Gastronomia é uma das paixões da minha vida. A moda me deu a oportunidade de viajar para fora do Brasil e conhecer chefs e restaurantes em Paris, Nova York, Milão e Londres. Sou muito curiosa e como de tudo”, destaca Cláudia, que está sempre em busca de novos talentos. Os almoços são em um clima mais descontraído e o jantar tem a pompa do menu degustação à luz de velas.

 chef Fred Trindade servindo leitão à pururuca, ceviche de banana, couve rasgada, tutu de feijão e arroz
chef Fred Trindade servindo leitão à pururuca, ceviche de banana, couve rasgada, tutu de feijão e arrozNereu Jr/Divulgação

No fim de semana da nossa visita, ela convidou o chef Fred Trindade, que também é de Montes Claros, para assumir as panelas. Desde que fechou o restaurante Trindade, há cinco anos, em Belo Horizonte, o chef passou a viver em São Paulo e se dedica a projetos pelo Brasil. “Sigo a mesma história, de fazer uma cozinha brasileira contemporânea, de vanguarda, com técnica, usando o máximo de produtos locais.”


Os hóspedes puderam se deliciar com cupim serenado de Montes Claros servido com angu de milho verde. O surubim defumado virou recheio de tortelli acompanhado de lagostim do mar, caviar e bisque de lagostim com toque de cachaça. Já a banana, que existe aos montes na região, foi usada para fazer um purê tostado, que compôs o prato com camarão, molho à base de vôngole e folha de capuchinha.

Em um dos almoços, que se desenrolou no espaço gourmet, com música ao vivo, Fred serviu no fogão a lenha leitão à pururuca, ceviche de banana, couve rasgada, tutu de feijão e arroz.


Suítes, bangalôs e chalé


A Raiz Parque oferece três opções de hospedagem. Há suítes dentro da casa principal, com diária para duas pessoas a partir de R$ 300, incluindo café da manhã. Quatro bangalôs ficam espalhados pela área da pousada, cercados pela vegetação, o que garante total privacidade aos hóspedes. Todos contam com hidromassagem na varanda e ducha ao ar livre nos fundos.

Camarão, purê de banana e molho à base de vôngole preparado pelo chef Fred Trindade
Camarão, purê de banana e molho à base de vôngole preparado pelo chef Fred TrindadeNereu Jr/Divulgação

O maior deles, com 90 metros quadrados, batizado de Bangalô Pequizeiro, tem cozinha equipada, adega e lareira. A diária para duas pessoas com todas as refeições (café da manhã, almoço, chá da tarde e jantar) pode chegar a R$ 1.500.

Para quem busca mais espaço, a pousada tem um chalé com três quartos, que acomoda até seis pessoas. O valor para duas pessoas, com todas as refeições, é de R$ 1.900. Ainda existe a possibilidade de day use e de locação da propriedade inteira para casamentos, aniversários e outros eventos, com grupos de até 30 pessoas.



Relax ou aventura?

De frente para os bangalôs, jardins floridos e árvores como pequizeiros e cajueiros servem de moldura
De frente para os bangalôs, jardins floridos e árvores como pequizeiros e cajueiros servem de molduraNereu Jr/Divulgação


Se você busca momentos de relaxamento, ótimo. A pousada tem o silêncio e o aconchego ideias para ler um livro, tomar vinho ou simplesmente contemplar a natureza, diante de uma exuberante paisagem de praticamente 360 graus.

As áreas de convivência são interligadas por jardins e árvores como pequizeiros e cajueiros (Paulo Ribeiro plantou em torno de 200, era “o rei das mudas”). Uma tem cozinha com fogão a lenha, a outra com bar e salão de jogos.


A piscina se enche com a água escura do Rio Preto (tem uma nascente dentro dela, inclusive). A poucos passos dos quartos, os hóspedes ainda encontram uma quadra de beach tênis e uma espécie de museu, que tem como protagonista um enorme engenho de madeira, projetado para contar a história da antiga fazenda. Cláudia brinca que ficou conhecida na região por gostar de “coisa velha”, por isso sempre alguém aparece oferecendo alguma peça.


No fim da tarde, o convite é para ida (de carro) até o mirante do Morro Redondo para fazer um piquenique e ver o pôr do sol. A noite vai caindo e, lá longe, dá para ver as luzes da cidade de Diamantina se acendendo. Leve um agasalho porque, por incrível que pareça, tem frio em pleno Vale do Jequitinhonha.

De volta à pousada, todas as noites, antes do jantar, tem fogueira com música ao vivo. Cláudia sempre convida artistas da região, entre eles Jacó do Vale. Até o fim do ano que vem, o plano é inaugurar o novo restaurante, que terá 300 metros quadrados, e a piscina aquecida. A área onde hoje fica a sala de jantar se transformará em bar, café e sala de jogos.


Para os aventureiros, a pousada oferece atividades que permitem uma conexão ainda mais intensa com a natureza. Entre elas, a descida de bote pelo Rio Preto, onde dá para praticar stand up paddle.


Há trilhas para conhecer três cachoeiras: Moinho (a 800m), Ceci (a 1,5km) e Arco-íris (a 2,8km). Apesar de ser mais distante (são cerca de 45 minutos de caminhada), a Arco-Íris é “apoteótica”, avisa Cláudia. “Lá tem arco-íris o ano inteiro”, diz, explicando o nome. Também dá para percorrer trilhas para visitar atrativos do Parque Estadual do Rio Preto, como a Cachoeira do Crioulo e o Poço dos Veados.

Todos os passeios, seja a pé ou de bicicleta, são agendados com guia. E não é um guia qualquer. Necreto nasceu na antiga fazenda, onde hoje fica a pousada, e vive lá há 50 anos.

Serviço

Pousada Raiz Parque

(31) 98470-3785

www.pousadaraizparque.com

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