De Mariana à Tesla: a jornada da Sigma rumo ao ‘lítio sustentável’

Sigma Lithium (SGML), mineradora que é um dos principais players globais desse mercado: realizou o seu primeiro embarque de concentrado de lítio nesse sábado (15), o seu principal produto, e de rejeitos, os chamados “ultrafinos”.

Um passo importante para a companhia com operação no Vale do Jequitinhonha (MG) se consolidar no crescente e cada vez mais valioso mercado global de lítio.

A mineradora avalia nova fase de expansão diante do aumento expressivo da demanda para a produção de baterias para veículos elétricos, do qual o mineral extraído é insumo fundamental.

Segundo a CEO da Sigma, Ana Cabral-Gardner, com a expansão em curso, a capacidade da companhia – atualmente a sexta maior do mundo – será triplicada.

“O plano é fazermos mais uma extensão da planta. Estamos estudando a viabilidade de uma quarta linha de produção. Seríamos então a quarta maior companhia do mundo. Nossa visão é sermos top 5 globais de forma permanente”, disse em entrevista à Bloomberg Línea.

Metade do embarque, de 30 mil toneladas, é de concentrado de lítio, e o restante, de rejeitos de ultrafino da produção. “Não só o concentrado principal está saindo perfeito como também o ultrafino. É mais um atestado de que nossa inovação tecnológica deu certo”, destacou.

A executiva disse que o plano inicial era fornecer os rejeitos da produção para a indústria cerâmica no Brasil. Como a Sigma não utiliza químicos nocivos no processo, a separação dos subprodutos é mais fácil, explicou.

Com a escalada do preço do lítio no final do ano passado, a empresa começou a receber pedidos dos clientes de refinadores e concentrados de lítio para comercializar o rejeito.

“Vamos obter entre US$ 500 e US$ 600 por tonelada na China, o que cobre todos os custos operacionais. Como estamos obtendo prêmio pelo concentrado e pelo rejeito, é lucro na veia”, afirmou.

A produção começou em abril. Em maio, a companhia anunciou contrato para fornecimento de até 300 mil toneladas anuais de rejeitos ultrafinos de lítio para a refinaria chinesa Yahua por até três anos.

O projeto “Grota do Cirilo” da Sigma não tem barragem de rejeito: o sistema de empilhamento é a seco, o que, segundo especialistas, é consideravelmente mais caro do que o convencional – e sustentável.

O processo produtivo é feito com energia e água 100% recicladas. No total, a companhia investiu R$ 3 bilhões no projeto. “Entramos nesse mercado para erradicar barragem de rejeito”, disse Gardner.

A primeira fase da empreitada prevê produção anual de 270 mil toneladas de concentrado de lítio. Nas fases 2 e 3, a partir de 2024, os volumes devem aumentar até atingir 766 mil toneladas anualmente.

A Sigma também tem um projeto de rejeito zero na unidade. O plano prevê que, além da venda de ultrafino, a companhia irá doar 700 mil toneladas anuais do chamado cascalho grosso da produção para pavimentação de estradas rurais da região, em parceria com prefeituras.

“Não estamos dizendo que o processo produtivo é zero rejeito, mas que a nossa estratégia visa zerar o rejeito”, esclareceu.

Divisor de águas

Segundo Gardner, o rompimento da barragem da Samarco em Mariana (MG) em 2015, que deixou 19 mortos e danos ambientais na região, foi a “gênese” do renascimento da Sigma. Com o desastre, relatou a executiva, o setor de mineração como um todo começou a enfrentar dificuldades para financiar projetos.

Neste contexto, a Sigma – que a essa altura estava em fase pré-operacional – ficou sem recursos para seguir adiante.

“Decidimos fazer o investimento na Sigma por causa de Mariana”, disse Gardner, que é sócia da A10 Investimentos, fundo de private equity que detém 46% da mineradora.

Conforme a executiva, logo após o desastre a Sigma estava fazendo uma rodada de venture capital para desenvolver as reservas de lítio. “Mas o interesse [do mercado] era zero, a companhia não conseguia levantar um dólar”, contou.

Gardner observou que, para conceder o investimento, o fundo estabeleceu uma carta de condições considerada “robusta”. “Deixamos claro que só trabalharíamos com zero rejeitos, o que, para empresários tradicionais do setor de mineração, é algo difícil. Vimos alinhamento de propósito dos fundadores da Sigma e assumimos o controle da operação.”

O êxito da operação da Sigma despertou até o interesse da Tesla (TSLA), montadora líder global em vendas de elétricos. A empresa de Elon Musk estaria avaliando uma proposta de aquisição da mineradora.

Gardner disse que não pode comentar rumores de mercado, mas que isso demonstra o sucesso do projeto. “Produzir lítio sustentável foi um esforço hercúleo. Não demos sorte e nunca desistimos.”

A executiva salientou que, atualmente, a corrida pela produção do lítio é entre gigantes.

“São empresas que possuem grandes reservas e que estão investindo para colocar plantas de processamento industrial de pé rapidamente.” Ela reforçou que o lítio não é raro e que, pelo contrário, é abundante em países como Austrália, Chile e Argentina.

No Brasil, a empresa AMG já produz concentrado de lítio em Minas Gerais. A Atlas Lithium também explora o mineral na região. Estudos do Serviço Geológico Brasileiro (CPRM) indicam a existência de 45 jazidas no chamado “Vale do Lítio”, na região do Jequitinhonha, com potencial econômico.

“O que diferencia são as técnicas de processamento. A utilização do método verde nos coloca na dianteira, principalmente com produtores de veículos nos Estados Unidos e na Europa”, avaliou Gardner. “Outro diferencial é o ambiente de negócios do país, o respeito a contratos, a burocracia regulatória. As regras ambientais têm que ser rígidas, mas é preciso previsibilidade”, acrescentou.

Informações: Bloomberg News

De Mariana à Tesla: a jornada da Sigma rumo ao ‘lítio sustentável’

Sigma Lithium (SGML), mineradora que é um dos principais players globais desse mercado: realizou o seu primeiro embarque de concentrado de lítio nesse sábado (15), o seu principal produto, e de rejeitos, os chamados “ultrafinos”.

Um passo importante para a companhia com operação no Vale do Jequitinhonha (MG) se consolidar no crescente e cada vez mais valioso mercado global de lítio.

A mineradora avalia nova fase de expansão diante do aumento expressivo da demanda para a produção de baterias para veículos elétricos, do qual o mineral extraído é insumo fundamental.

Segundo a CEO da Sigma, Ana Cabral-Gardner, com a expansão em curso, a capacidade da companhia – atualmente a sexta maior do mundo – será triplicada.

“O plano é fazermos mais uma extensão da planta. Estamos estudando a viabilidade de uma quarta linha de produção. Seríamos então a quarta maior companhia do mundo. Nossa visão é sermos top 5 globais de forma permanente”, disse em entrevista à Bloomberg Línea.

Metade do embarque, de 30 mil toneladas, é de concentrado de lítio, e o restante, de rejeitos de ultrafino da produção. “Não só o concentrado principal está saindo perfeito como também o ultrafino. É mais um atestado de que nossa inovação tecnológica deu certo”, destacou.

A executiva disse que o plano inicial era fornecer os rejeitos da produção para a indústria cerâmica no Brasil. Como a Sigma não utiliza químicos nocivos no processo, a separação dos subprodutos é mais fácil, explicou.

Com a escalada do preço do lítio no final do ano passado, a empresa começou a receber pedidos dos clientes de refinadores e concentrados de lítio para comercializar o rejeito.

“Vamos obter entre US$ 500 e US$ 600 por tonelada na China, o que cobre todos os custos operacionais. Como estamos obtendo prêmio pelo concentrado e pelo rejeito, é lucro na veia”, afirmou.

A produção começou em abril. Em maio, a companhia anunciou contrato para fornecimento de até 300 mil toneladas anuais de rejeitos ultrafinos de lítio para a refinaria chinesa Yahua por até três anos.

O projeto “Grota do Cirilo” da Sigma não tem barragem de rejeito: o sistema de empilhamento é a seco, o que, segundo especialistas, é consideravelmente mais caro do que o convencional – e sustentável.

O processo produtivo é feito com energia e água 100% recicladas. No total, a companhia investiu R$ 3 bilhões no projeto. “Entramos nesse mercado para erradicar barragem de rejeito”, disse Gardner.

A primeira fase da empreitada prevê produção anual de 270 mil toneladas de concentrado de lítio. Nas fases 2 e 3, a partir de 2024, os volumes devem aumentar até atingir 766 mil toneladas anualmente.

A Sigma também tem um projeto de rejeito zero na unidade. O plano prevê que, além da venda de ultrafino, a companhia irá doar 700 mil toneladas anuais do chamado cascalho grosso da produção para pavimentação de estradas rurais da região, em parceria com prefeituras.

“Não estamos dizendo que o processo produtivo é zero rejeito, mas que a nossa estratégia visa zerar o rejeito”, esclareceu.

Divisor de águas

Segundo Gardner, o rompimento da barragem da Samarco em Mariana (MG) em 2015, que deixou 19 mortos e danos ambientais na região, foi a “gênese” do renascimento da Sigma. Com o desastre, relatou a executiva, o setor de mineração como um todo começou a enfrentar dificuldades para financiar projetos.

Neste contexto, a Sigma – que a essa altura estava em fase pré-operacional – ficou sem recursos para seguir adiante.

“Decidimos fazer o investimento na Sigma por causa de Mariana”, disse Gardner, que é sócia da A10 Investimentos, fundo de private equity que detém 46% da mineradora.

Conforme a executiva, logo após o desastre a Sigma estava fazendo uma rodada de venture capital para desenvolver as reservas de lítio. “Mas o interesse [do mercado] era zero, a companhia não conseguia levantar um dólar”, contou.

Gardner observou que, para conceder o investimento, o fundo estabeleceu uma carta de condições considerada “robusta”. “Deixamos claro que só trabalharíamos com zero rejeitos, o que, para empresários tradicionais do setor de mineração, é algo difícil. Vimos alinhamento de propósito dos fundadores da Sigma e assumimos o controle da operação.”

O êxito da operação da Sigma despertou até o interesse da Tesla (TSLA), montadora líder global em vendas de elétricos. A empresa de Elon Musk estaria avaliando uma proposta de aquisição da mineradora.

Gardner disse que não pode comentar rumores de mercado, mas que isso demonstra o sucesso do projeto. “Produzir lítio sustentável foi um esforço hercúleo. Não demos sorte e nunca desistimos.”

A executiva salientou que, atualmente, a corrida pela produção do lítio é entre gigantes.

“São empresas que possuem grandes reservas e que estão investindo para colocar plantas de processamento industrial de pé rapidamente.” Ela reforçou que o lítio não é raro e que, pelo contrário, é abundante em países como Austrália, Chile e Argentina.

No Brasil, a empresa AMG já produz concentrado de lítio em Minas Gerais. A Atlas Lithium também explora o mineral na região. Estudos do Serviço Geológico Brasileiro (CPRM) indicam a existência de 45 jazidas no chamado “Vale do Lítio”, na região do Jequitinhonha, com potencial econômico.

“O que diferencia são as técnicas de processamento. A utilização do método verde nos coloca na dianteira, principalmente com produtores de veículos nos Estados Unidos e na Europa”, avaliou Gardner. “Outro diferencial é o ambiente de negócios do país, o respeito a contratos, a burocracia regulatória. As regras ambientais têm que ser rígidas, mas é preciso previsibilidade”, acrescentou.

Informações: Bloomberg News

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