Boate superlotada é interditada pelos bombeiros

Estabelecimento tinha capacidade de receber cerca de 60 pessoas, mas pelo menos 200 participavam de festa. Regras de segurança também estavam em desacordo

Uma boate que funcionava de forma irregular foi interditada pelo Corpo de Bombeiros, na madrugada deste domingo (24/10), em Perdizes, no Alto Paranaíba. Segundo a instituição, o estabelecimento, que funcionava como restaurante durante o dia, recebia pelo menos 200 pessoas no momento da abordagem, sendo que o espaço tinha capacidade para receber cerca de 60 clientes.

Ainda segundo os bombeiros, o local havia sido denunciado e passado por vistoria anteriormente. Em setembro, o proprietário havia negado que o espaço funcionava como casa de shows aos fins de semana e durante às noites.

Nessa madrugada, militares do quartel de Araxá, com apoio da Polícia Militar e da força-tarefa de combate à COVID-19 de Perdizes, fizeram uma nova visita ao estabelecimento, quando foi constatado a superlotação. Um evento acontecia no momento da vistoria.

Além da superlotação, os bombeiros detectaram irregularidades nas saídas de emergência, extintores, guarda corpos, corrimãos e iluminação e sinalização de emergência. Os militares afirmaram que os itens de segurança estavam em desacordo com as normas. Em alguns casos, eles sequer existiam.

Com a interdição, o proprietário do espaço terá que regularizar a situação junto ao Corpo de Bombeiros, apresentando o Auto de Vistoria do Corpo de Bombeiros (AVCB).

FONTE ESTADO DE MINAS

Relatório da CPI expõe “estratégia macabra” de Bolsonaro na pandemia

Documento descreve que ações criminosas e omissões do governo federal contribuíram decisivamente para o desastre que tirou mais de 600 mil vidas, e que autoridades “assentiram com a morte de brasileiros” na pandemia.

Após quase seis meses de trabalho, a CPI da Pandemia foi palco nesta quarta-feira (20/10) da leitura do relatório final produzido pelo senador Renan Calheiros.

O texto pinta a atuação do governo Jair Bolsonaro durante a pandemia como negligente, incompetente, anticientífica, corrupta, macabra, caótica, criminosa e decisiva para que o Brasil produzisse o desastre sanitário que já ceifou oficialmente mais de 600 mil vidas. Segundo o relatório, o governo Bolsonaro “assentiu com a morte de brasileiras e brasileiros”.

O texto descreve como o negacionismo do governo incluiu a formação de redes que promoveram fake news, paranoia antivacinas e incentivo ao desrespeito às normas de distanciamento.

Também descreve como as autoridades federais optaram por expor “deliberadamente a população a risco concreto de infecção em massa” ao recusarem a adoção de medidas de distanciamento – como máscaras – e abraçarem a promoção de um ineficaz e potencialmente perigoso “tratamento precoce”. Tudo para buscar uma “imunidade de rebanho” por contaminação natural, mesmo diante das evidências de que milhares de brasileiros morreriam nesse processo.

Segundo Calheiros, essa “estratégia macabra” resultou até março de 2021 em pelo menos 120 mil mortes que poderiam ter sido evitadas.

O relatório ainda afirma que o Ministério da Saúde foi palco de “um esquema de corrupção nunca visto” e que “houve deliberado atraso na aquisição de imunizantes, em evidente descaso com a vida das pessoas”.

O documento com 1.180 páginas lista mais de 60 pessoas, imputando mais de 20 crimes, incluindo crimes contra a humanidade, fraude em licitação, corrupção, incitação ao crime, prevaricação, emprego irregular de verbas públicas e falsificação de documentos.

Entre os acusados estão Jair Bolsonaro, três dos filhos do presidente, sete ministros e ex-ministros, deputados e empresários bolsonaristas acusados de espalhar fake news e promoverem desrespeito às normas sanitárias, militares que ocupavam postos no Ministério da Saúde, membros do “gabinete paralelo”, figuras envolvidas em suspeitas de corrupção na compra de vacinas e médicos envolvidos em fraudes e uso antiético de medicamentos ineficazes contra a covid-19.

Antes da leitura do relatório, ocorreram algumas mudanças. O senador Calheiros atendeu a pedidos do presidente da comissão, Omar Aziz, e outros senadores para retirar acusações de genocídio indígena contra Bolsonaro e outros acusados. O nome do influente empreendedor religioso Silas Malafaia, que era originalmente acusado de “incitação ao crime”, também foi retirado da lista de acusados.

Apesar da retirada de alguns crimes, Aziz afirmou durante a sessão que “o presidente [Bolsonaro] cometeu muitos crimes e vai pagar por eles”.

Acusações contra Bolsonaro

O relatório descreve ações do presidente que agravaram a pandemia, incluindo seu entusiasmo pelo falso tratamento precoce – que resultou na queda de dois ministros da Saúde que resistiram em adotar os medicamentos ineficazes –, seu desprezo pelas vacinas, declarações minimizando a gravidade da doença e sabotagem de medidas de distanciamento. O relatório cita, por exemplo, episódios em que o presidente incentivou pessoas a não usarem máscaras.

“Isso nos leva a concluir que o presidente tinha interesse em encorajar os brasileiros a se expor ao contágio sem proteção, para que pudessem ser infectados pelo vírus sem maiores dificuldades ou barreiras”, diz o texto.

“Jair Bolsonaro colaborou fortemente para a propagação da covid-19 em território brasileiro e, assim, mostrou-se o responsável principal pelos erros cometidos pelo governo federal durante a pandemia da covid-19.”

Ao todo, o relatório pede o indiciamento de Bolsonaro por dez crimes:

– Epidemia com resultado morte

– Infração de medida sanitária preventiva

– Charlatanismo

– Incitação ao crime

– Falsificação de documento particular

– Emprego irregular de verbas públicas

– Prevaricação

– Crimes contra a humanidade, nas modalidades extermínio, perseguição e outros atos desumanos

– Violação de direito social

– Incompatibilidade com dignidade, honra e decoro do cargo.

Jair Bolsonaro, durante uma das inúmeras aglomerações que o presidente promoveu durante a pandemia

Titulares da Saúde na mira

O relatório também pede o indiciamento do general Eduardo Pazuello, que ocupou a chefia do Ministério da Saúde entre maio de 2020 e março de 2021, e o atual titular da pasta, Marcelo Queiroga.

Durante o período em que exerceu o cargo, Pazuello se notabilizou por obedecer ordens de Bolsonaro para expandir o uso da ineficaz cloroquina, ignorou ofertas de vacinas de grandes laboratórios, não fez esforços para aumentar a testagem, tentou esconder os números de mortes e casos de covid-19 e foi acusado de não agir durante a crise do oxigênio em Manaus.

O relatório o acusa de epidemia com resultado morte, emprego irregular de verbas públicas, prevaricação e comunicação falsa de crime.

Já Queiroga é acusado no relatório de prevaricação e epidemia com resultado morte.

Titulares da Saúde, Marcelo Queiroga e Eduardo Pazuello executaram estratégia anticientífica de Bolsonaro

Veja a lista completa de pessoas acusadas no relatório final

Fake news

Parte do relatório se debruça sobre a rede de fake news bolsonarista que atuou durante a pandemia, minimizando a doença, promovendo tratamento ineficazes e paranoia antivacinas, além de mentir sobre as ações do governo federal e direcionar ataques contra Poderes e instituições, incluindo o Senado e o Supremo Tribunal Federal (STF).

O texto aponta que essa rede de fake news era dividida em cinco núcleos: o núcleo de comando (1), núcleo formulador (2), núcleo político (3), núcleo de produção e disseminação das fake news (4), e núcleo de financiamento (5).

Segundo o relatório, o núcleo de comando de fake news é formado por Jair Bolsonaro e três de seus filhos: o senador Flávio Bolsonaro, o deputado Eduardo Bolsonaro e o vereador Carlos Bolsonaro.

No núcleo formulador aparecem dois assessores presidenciais: o seguidor do ideólogo Olavo de Carvalho e ultradireitista Filipe Martins (Assuntos Internacionais) e Tercio Arnaud (assessor do Planalto).

Jair Bolsonaro e seu filho Flávio, acusado de fazer parte de núcleo de propagação de fake news

No núcleo político são citados aliados do governo que rotineiramente espalham fake news sobre a pandemia: os deputados Ricardo Barros, Osmar Terra, Carlos Jordy, Carla Zambelli e Bia Kicis, além do ex-ministro Ernesto Araújo e o diplomata Roberto Goidanich, o empresário Carlos “Wizard” Martins, o ministro Onyx Lorenzoni e o ex-deputado extremista Roberto Jefferson.

“Eles incentivaram as pessoas ao descumprimento das normas sanitárias impostas para conter a pandemia e adotaram condutas de incitação ao crime”, diz o relatório.

Já o núcleo de produção e disseminação de fake news inclui veículos bolsonaristas, como os sites Terça Livre, Brasil Paralelo, Brasil Sem Medo (ligado a Olavo de Carvalho), entre outros. Os ativistas que fazem parte desse núcleo são figuras conhecidas de outros inquéritos por fake news, como Allan dos Santos e Oswaldo Eustáquio.

Por fim, no núcleo de financiamento aparecem os nomes dos empresários bolsonaristas Otávio Fakhoury e Luciano Hang.

“Na prática, ao estimular a população a se aglomerar, a não se vacinar, a desobedecer às regras de uso de máscara e de lockdown, pessoas influentes e agentes políticos contribuíram para o agravamento da pandemia”, conclui o texto, que também aponta que o discurso antivacinas propagado por Jair Bolsonaro e outros propagadores de fake news “certamente causou a perda de inumeráveis e valiosas vidas durante a pandemia”.

O empresário bolsonarista Luciano Hang, acusado de financiar rede de fake news e propagar mentiras sobre a cloroquina

Imunidade de rebanho, falso tratamento precoce e gabinete paralelo

O relatório também aborda o funcionamento de um “gabinete paralelo”, uma estrutura obscura de aconselhamento para temas da pandemia à parte do Ministério da Saúde. O grupo, formado por entusiastas de tratamentos ineficazes, céticos das vacinas e leigos em saúde, é suspeito de assessorar Bolsonaro de maneira extraoficial na tomada de decisões sobre a pandemia, longe dos olhos do público e controle institucional.

Entre os membros desse gabinete, segundo o texto, atuaram figuras como o ex-assessor da Presidência Arthur Weintraub, a médica Nise Yamaguchi, o empresário bolsonarista Carlos “Wizard” Martins, o biólogo Paolo Zanotto, o deputado Osmar Terra e o médico Luciano Dias Azevedo.

De acordo com o relatório, o grupo fez “aconselhamento para que fosse atingida a imunidade de rebanho pela contaminação natural no Brasil”. “Essa estratégia, atrelada à ideia de que o contágio natural induziria imunidade coletiva, visava exclusivamente à retomada das atividades econômicas”, disse o senador Calheiros durante a leitura do relatório.

“A ideia era permitir que o novo coronavírus se propagasse livremente entre a nossa população”, prossegue o texto. “[A] busca da imunidade de rebanho por infecção levou o presidente a resistir fortemente à implementação de medidas não farmacológicas, tais como o uso de máscara e o distanciamento social, bem como a não promover a celeridade necessária na aquisição de vacinas.”

Dentro dessa estratégia, de acordo com o relatório, também estava o “tratamento precoce”, o coquetel de drogas ineficazes, cujo principal ingrediente incluía a hidroxicloroquina, que começou a ser propagandeada por Bolsonaro como uma “cura” contra a covid-19 ainda em março de 2020.

O presidente continuou a defender o uso da cloroquina mesmo após estudos científicos demonstrarem sua ineficácia contra a doença. Seu governo chegou a lançar um aplicativo chamado TrateCov que recomendava altas doses de cloroquina até mesmo para bebês.

“As consequências dessa estratégia macabra foram mensuradas pela ciência. Se as medidas não farmacológicas tivessem sido aplicadas de forma sistemática no país, poderiam ter reduzido os níveis de transmissão da covid-19 em cerca de 40%, o que significa que 120 mil vidas poderiam ter sido salvas até o final de março de 2021”, defendeu o senador.

Osmar Terra, um dos principais ideólogos do negacionismo da pandemia no governo Bolsonaro

Atrasos na compra de vacinas

No relatório, o senador Calheiros descreve como o governo Bolsonaro, com o auxílio de Pazuello e participação do ex-ministro Ernesto Araújo, tratou com descaso a aquisição de vacinas.

No início de 2021, ficou evidente que o governo não tinha vacinas suficientes após ignorar seguidas ofertas da Pfizer/BioNTech, que poderiam ter resultado no início da vacinação no país semanas antes. Além disso, o governo chegou a boicotar a Coronavac, a vacina promovida pelo governo de São Paulo, chefiado por João Doria, um desafeto do presidente. O governo ainda optou por apenas aderir à cobertura mínima de vacinas do consórcio internacional Covax Facility, quando poderia ter pedido cinco vezes mais vacinas.

“Os trabalhos da comissão revelaram que a aquisição de imunizantes não foi uma prioridade”, diz o relatório, que conclui que “essa atuação negligente apenas reforça que se priorizou a cura via medicamentos, e não a prevenção pela imunização, e optou-se pela exposição da população ao vírus, para que fosse atingida mais rapidamente a imunidade de rebanho”.

Corrupção

Enquanto ignorava ofertas de grandes laboratórios, o Ministério da Saúde abria as portas para empresas de fachada que faziam ofertas irreais de imunizantes. Segundo Calheiros, formou-se um “mercado interno de corrupção no Ministério da Saúde”.

A maior parte das irregularidades ocorreu durante a gestão Pazuello. As denúncias envolvem empresas como a pequena Davati, que mesmo não possuindo vacinas, iniciou negociações para a venda de dezenas de milhões de imunizantes. Segundo um depoente, um membro do ministério exigiu propina para fechar o negócio.

Outra empresa envolvida em denúncias é a Precisa Medicamentos, que chegou a fechar um contrato envolvendo vacinas do laboratório indiano Covaxin. O negócio levantou suspeitas por envolver uma atravessadora e vacinas compradas por um preço bem superior a de outros imunizantes de laboratórios mais conceituados. Segundo um denunciante, houve pressão de altos membros da pasta para que o contrato fosse aprovado. Esse caso arrastou o deputado e líder do governo na Câmara, Ricardo Barros, que foi acusado de agir como lobista para a Precisa.

Um terceiro núcleo inclui suspeitas sobre a empresa VTCLog, responsável pelo armazenamento e distribuição de insumos de saúde. A empresa recebeu um aditivo em um contrato num valor 1.800% superior ao recomendado em parecer técnico da pasta. A CPI mostrou indícios de que um funcionário da empresa pagou boletos do ex-diretor do Ministério da Saúde Roberto Dias, justamente o responsável pela assinatura do aditivo.

Crimes contra a humanidade

O relatório ainda cita uma série de “crimes contra a humanidade” cometidos pelo governo Bolsonaro e figuras e empresas próximas ao governo.

Em janeiro de 2021, enquanto os hospitais de Manaus enfrentavam mais um colapso, o então ministro Pazuello viajou à capital do Amazonas para lançar um aplicativo que estimulava o consumo de cloroquina. Paralelamente, a pasta ignorou sinais de que a cidade estava sofrendo com desabastecimento de oxigênio nos hospitais. A omissão resultaria na morte de dezenas de pacientes por asfixia.

“O ponto mais crítico de toda essa situação é que, pelo que foi apurado, as autoridades federais poderiam ter agido para evitar essa tragédia, mas permaneceram inertes”, aponta o relatório, que afirma que o governo Bolsonaro usou a cidade “como um laboratório humano” para testar a cloroquina, classificando a ação de crime contra a humanidade.

Outro caso de crime contra a humanidade envolve o estudo dos efeitos da substância proxalutamida conduzido no Amazonas pelo médico Flávio Adsuara Cadegiani, durante o qual 200 pessoas morreram. Segundo o senador Calheiros, o uso da proxalutamida também foi estimulado por Bolsonaro.

Um terceiro caso envolve as ações da empresa de planos de saúde Prevent Senior, que usou em larga escala em seus pacientes o “kit covid” promovido por Bolsonaro. Depoentes acusaram a empresa de até mesmo produzir estudos que eram manipulados para se adequar às falas de Bolsonaro sobre a suposta eficácia do fármaco e de ter realizado um “pacto” com o governo para usar os medicamentos ineficazes.

Cemitério em Manaus. Enquanto pacientes sofriam com falta de oxigênio, governo transformou cidade em “laboratório humano” para testar cloroquina

Próximo passos

A votação do relatório pela CPI está prevista para o dia 26 de outubro.

Uma CPI não tem poder para denunciar formalmente e nem punir. Após a votação, o relatório será encaminhado aos órgãos de investigação.

Dependendo da pessoa e seu cargo, o pedido será dirigido a diferentes órgãos. No caso de detentores de foro privilegiado, a Procuradoria-Geral da República (PGR) será encarregada de analisar os pedidos e decidir se há base para a abertura de inquéritos.

Não há muitas ilusões de que o procurador-geral, Augusto Aras, dará um prosseguimento efetivo aos pedidos. Aras já demonstrou seguidas vezes que não tem intenção de incomodar Bolsonaro juridicamente e já deixou de agir em episódios graves, como as ofensivas do presidente contra outros Poderes.

O procurador-geral da República, Augusto Aras. Há poucas ilusões de que ele vá agir contra Bolsonaro

Aras terá 30 dias para dar um encaminhamento ao relatório da CPI. Se o procurador-geral decidir arquivar o texto ou não enviar as denúncias ao Supremo, membros da CPI cogitam acionar os ministros do tribunal com o auxílio de entidades de direito privado, como a Ordem dos Advogados do Brasil (OAB).

No caso dos crimes contra a humanidade, a CPI também pode remeter as denúncias ao Tribunal Penal Internacional (TPI), em Haia.

Ao final da leitura do relatório, o senador Calheiros afirmou que os trabalhos da comissão silenciaram “um coro demoníaco, vindo de uma catedral da morte sediada pelo governo federal, que gerou uma necrópole aterradora, marcada pelo desprezo à vida, o escárnio com a dor das mais de 600 mil famílias, a insensibilidade e a indiferença”.

FONTE DW.COM

Diário da Covid-19: Controle da inflação depende da vacinação e do fim da pandemia

Pandemia provoca aumento no preço dos alimentos e insegurança alimentar, especialmente nos países de renda mais baixa

A pandemia da covid-19 fez a economia mundial cair 3,1% em 2020, marcando a maior recessão da produção internacional desde a Grande Depressão da década de 1930. Mas a perspectiva geral era de uma recuperação consistente em 2021 e 2022. Todavia, novas ondas pandêmicas contribuíram para a ruptura das cadeias produtivas globais, para a redução da oferta das diversas fontes de energia e para o aumento dos preços dos bens e serviços, inclusive o preço dos alimentos.

O Fundo Monetário Internacional (FMI) avalia que a inflação no mundo deve seguir em alta até o fim de 2021, mas pode arrefecer no ano que vem, retomando aos níveis pré-pandemia. Na atualização do relatório World Economic Outlook (WEO), divulgado dia 12 de outubro, o FMI considera que a inflação global pode piorar se surgirem novas variantes do coronavírus antes da vacinação avançar nas áreas mais pobres do planeta.

O FMI deixa claro que não é útil criar uma divisão artificial entre economia e pandemia, como se o crescimento econômico fosse prioritário em relação ao controle da covid-19. Na verdade, o desempenho econômico será tanto melhor quando menor for o impacto do coronavírus. Assim, o Fundo Monetário defende que a saída para a crise atual é controlar a pandemia e aumentar a vacinação.

O panorama nacional da covid-19

O Ministério da Saúde divulgou os dados nacionais da covid-19, registrando 21.638.726 pessoas infectadas e 603.152 vidas perdidas, no dia 16 de outubro de 2021. A média móvel de 7 dias caiu para 10,2 mil casos e a média de mortes ficou em 332 óbitos diários. O Brasil está em terceiro lugar no ranking global de casos acumulados atrás apenas dos EUA e da Índia. No número acumulado de mortes está em 2º lugar, atrás apenas dos EUA e ocupa o 7º lugar no coeficiente acumulado de mortalidade.

As curvas epidemiológicas de casos e de óbitos estão em queda, apresentando os menores valores desde maio de 2020. O gráfico abaixo mostra as médias móveis do número de casos e de óbitos no Brasil entre 21/03/2020 e 16/10/2021. Nota-se que o número de pessoas infectadas cresceu continuamente no Brasil até o primeiro pico da curva epidemiológica com média de 46,4 mil casos em 29 de julho de 2020. Em seguida, a média móvel iniciou uma trajetória de queda até início de novembro.  Contudo, o número de casos voltou a subir e apresentou dois picos entre março e junho de 2021, com média móvel acima de 70 mil casos diários (os maiores valores da série). No dia 23 de junho a média móvel de infectados foi de 77,3 mil casos e desde então os números caíram consistentemente e já estão próximos de 10 mil casos (7 vezes menos do que o pico).

Na curva que mostra o número médio de vidas perdidas, o primeiro pico ocorreu entre maio e julho de 2020, quando ficou acima de 1 mil vítimas fatais diárias. Entre agosto e outubro a média caiu para um patamar abaixo de 400 óbitos diários, mas subiu no mês de novembro e chegou no pico de cerca de 3 mil mortes diárias em abril. A última vez que a média diária de mortes ficou acima de óbitos 2 mil óbitos foi no dia 22 de junho de 2021 e, desde então, os números de mortes da covid-19 caem consistentemente e chegaram a 332 óbitos no dia 16 de outubro a menor média em cerca de 1 ano e meio.

Portanto, parece que o pior já passou e existe uma tendência de queda dos números da pandemia em todo o território nacional. Oxalá esta realidade se mantenha. Segundo o Imperial College, a taxa de transmissão do coronavírus no Brasil ficou em 0,60, o menor valor desde início da medição. Mais da metade dos municípios brasileiros não registraram mortes no mês passado. Por conseguinte, o momento é favorável ao controle da doença, especialmente porque a imunização tem avançado e cerca de 50% da população brasileira já têm a vacinação completa. Todavia, todo cuidado é pouco, pois novas mutações do coronavírus estão sempre ameaçando espalhar a transmissão. A luta contra novos surtos precisa ser redobrada.

O panorama global da covid-19

Segundo o site Our World in Data, com dados da Universidade Johns Hopkins, o mundo chegou a 240,4 milhões de pessoas infectadas e somou 4,9 milhões de vidas perdidas para a covid-19, com uma taxa de letalidade de 2%. As médias móveis estão em 404 mil casos e 6,7 mil óbitos. Já são mais de 200 países e territórios com mais de 1 mil casos da covid-19 e 36 países com mais de 1 milhão de casos. Há 5 países com mais de 200 mil óbitos da pandemia.

O gráfico abaixo mostra as médias móveis do número de casos e de óbitos no mundo entre 01/04/2020 e 16/10/2021. O número internacional de infectados aumentou continuamente em 2020 e apresentou 3 picos em 2021 (janeiro, abril e agosto), sendo que o cume de toda a série ocorreu no final de abril com média acima de 800 mil casos diários. No dia 26/08 foram registrados 662 mil casos diários em média e, desde então, os números caíram para 404 mil casos no dia 16/10/2021. A primeira subida do número de mortes aconteceu em março de 2020 e o pico da média móvel ocorreu em meados de abril com cerca de 7 mil vidas perdidas por dia. Novo pico foi alcançado em janeiro de 2021 e a média móvel ultrapassou 14 mil mortes diárias. Os números caíram em fevereiro, mas voltaram a subir chegando a 13 mil mortes diárias no início de maio. No dia 26/08 foram registrados 10,2 mil óbitos em média e, desde então, os números caíram para 6,7 mil óbitos no dia 16/10/2021.

Os montantes globais da pandemia estão em queda e a perspectiva é que a morbimortalidade continue diminuindo na medida em que a cobertura vacinal avance. Mas o patamar de casos e óbitos ainda é alto e existe uma preocupante lacuna na cobertura mundial das vacinas.

A vacinação nacional e global

O mundo chegou a 3,75 bilhões de pessoas vacinadas, com pelo menos uma dose, no dia 15 de outubro, segundo o site Our World in Data. Num mundo tão heterogêneo, evidentemente o processo de vacinação não é equitativo. Mas de modo geral, a vacinação tende a avançar mais rápido naqueles países ou regiões com os maiores coeficientes de mortalidade.

Observa-se nos gráficos abaixo que o Brasil com um coeficiente de mortalidade de 2,8 mil óbitos por milhão de habitantes tem uma taxa de vacinação (com pelo menos uma dose) de 73%. A América Latina com coeficiente de 2,7 mil óbitos por milhão tem taxa de vacinação de 64% e a América do Norte tem coeficiente de 1,8 mil e taxa de 59%. A Europa tem coeficiente de 1,7 mil óbitos e taxa de 58%, enquanto o mundo tem coeficiente de mortalidade de 621 óbitos por milhão e taxa de vacinação de 47%.

Já a Ásia com coeficiente de mortalidade abaixo da média mundial (de 246 óbitos por milhão), possui taxa de vacinação bem superior ao padrão global (com 54% dos asiáticos com pelo menos uma dose). O destaque é a Oceania que possui o menor coeficiente de mortalidade (apenas 57 óbitos por milhão), mas já atingiu 53% da população do continente vacinada. O continente africano é o que possui a menor taxa de vacinação (somente 7,6% da população vacinada com pelo menos uma dose), mas também possui o segundo menor coeficiente de mortalidade (com 157 óbitos por milhão de habitantes).

Considerando apenas a vacinação completa entre os países, o gráfico abaixo mostra que há 86 países e territórios com taxa de vacinação completa acima da percentagem brasileira (48% dos brasileiros estão com a imunização completa). Por exemplo, a Nova Zelândia tem um coeficiente de mortalidade de apenas 6 óbitos por milhão de habitantes, mas já garantiu a vacinação para 54% dos neozelandezes.

De fato, a vacinação é fundamental para o controle da convid-19. Mas a imunização vacinal não é a única forma de minimizar os impactos do coronavírus. Os países e cidades que conseguiram fazer uma rígida barreira sanitária, rastrearam e monitoraram a propagação do vírus e adotaram medidas de prevenção e um bom acompanhamento médico, tiveram menor número de vidas perdidas.

Um estudo do Imperial College de Londres comparou o controle da Covid-19 em 14 capitais brasileiras e demonstrou que fatores como os investimentos nos recursos de saúde, otimização da atenção à saúde e a preparação adequada para o enfrentamento à pandemia foram essenciais para o melhor desempenho da capital mineira no enfrentamento à doença. O estudo indica que se todas as capitais avaliadas tivessem a mesma condução que Belo Horizonte adotou, cerca de 328 mil mortes teriam sido salvas no Brasil.

Pandemia, inflação e aumento do preço dos alimentos

Como vimos no início deste texto, o relatório WEO do FMI (de 12 de outubro) considera que o controle da pandemia é um pré-requisito para a retomada sustentada da economia e alerta que caso a Covid siga tendo impacto prolongado, o PIB global pode encolher em até US$ 5,3 trilhões nos próximos cinco anos. O cenário de crescimento econômico baixo e inflação alta gera o risco de estagflação global, situação em que preços sobem e os países não crescem, mesmo que os governos apliquem estímulos fiscais e monetários. Mas este quadro pode ser evitado com o avanço da vacinação e o fim da covid-19.

Há de existir alguém que lendo o que eu escrevo dirá: isto é mentira! Mas, as misérias são reais

Carolina Maria de Jesus (1914-1977)Escritora

A disrupção dos fluxos de valor em função da pandemia atinge diversos setores econômicos. O desligamento de fábricas de semicondutores durante o auge da emergência sanitária foi um dos fatores responsáveis pela escassez do componente, atingindo não somente a indústria automotiva, mas também a produção de bens eletrônicos e computadores. A crise energética tem múltiplas causalidades. No Brasil, o fator principal é a seca e o baixo nível dos reservatórios que está reduzindo a produção de eletricidade. Na Europa, a crise é devido à escassez de gás natural e na China é por falta de carvão mineral (o combustível mais poluidor).

Em geral, o aumento do preço da energia faz aumentar o preço dos alimentos. Em meio à pandemia este processo se agrava com a diminuição da oferta de fertilizantes e outros insumos. A pressão sobre o preço dos bens de subsistência veio de vários lados: do aumento geral dos custos de produção e transporte, da volatilidade dos preços, dos estoques baixos, da falta de containers que prejudicam o comércio internacional e dos efeitos das mudanças climáticas. Neste contexto, o FMI considera que a inflação deve seguir forte em alguns países emergentes por reflexo da alta do preço dos alimentos, do petróleo e da perda de valor das moedas locais frente ao dólar e ao euro, o que encarece as importações. O preço da comida tem subido em países de renda mais baixa, aumentando a fome e as dificuldades para os mais pobres.

Tudo isto se reflete no Índice de Preços dos Alimentos (FFPI) da Organização das Nações Unidas para Agricultura e Alimentação (FAO) que atingiu valor recorde (em termos reais) em setembro de 2021, marcando 130 pontos, o valor mais alto desde 1974. O FFPI, mesmo com algumas oscilações, diminuiu durante todo o século XX, a despeito da população ter crescido 4 vezes e o PIB mundial aumentado cerca de 18 vezes entre 1900 e 2000. Porém, a realidade do século XXI está se mostrando diferente.

O gráfico abaixo mostra que a média do preço dos alimentos da última década do século XX (1990-99) foi de 77,9 pontos, passando para 82,5 pontos na primeira década do século XXI (2000-09) e para 103,6 pontos na década de 2010-19. Na média de 2020 e 2021 o FFPI deu novo salto para 111 pontos. Portanto, a pandemia aumentou o preço dos alimentos e, consequentemente, a insegurança alimentar.

Se a inflação e o aumento do preço dos alimentos é um fenômeno global, a situação brasileira é ainda mais grave. Segundo o IBGE, a inflação oficial para o mês de setembro de 2021 foi de 1,16%, o maior avanço para o mês desde 1994. O IPCA (Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo) acumula alta de 10,3% nos últimos 12 meses, o que representa o triplo da meta de inflação estabelecida pelo Banco Central, de 3,75% para este ano. Agravado pela desvalorização cambial, os itens que mais subiram foram exatamente os gêneros alimentícios, como arroz, feijão, batata, carne, leite e óleo de soja, que estão no cardápio básico da população.

Segundo a Rede Brasileira de Pesquisa em Soberania e Segurança Alimentar e Nutricional (Rede Penssan) cerca de 20 milhões de brasileiros declaram passar 24 horas ou mais sem ter o que comer em alguns dias. Em torno de 24,5 milhões não têm certeza de como se alimentarão no dia a dia e já reduziram quantidade e qualidade do que comem. Outros 74 milhões vivem inseguros sobre se vão acabar passando por isso. No total, 55% dos brasileiros sofriam de algum tipo de insegurança alimentar (grave, moderada ou leve) em dezembro de 2020. A situação se agravou ainda mais em 2021.

Existem múltiplos desafios para o Brasil neste momento, pois, além de colocar um fim à pandemia, é preciso criar oportunidades de emprego e renda para os mais de 30 milhões de brasileiros que estão desempregados ou subutilizados, reduzir a inflação que já atingiu a casa de dois dígitos e controlar o preço dos alimentos. A fome já está se espalhando pelo mapa do país e o Brasil caminha para voltar ao mapa da fome.

FONTE PROJETO COLABORA

Validade da CNH que venceu durante a pandemia será prorrogada

Departamentos de trânsito de diversos estados prorrogam prazos para renovação do documento por tempo indeterminado

O motorista dono de uma Carteira Nacional de Habilitação (CNH) que venceu durante a pandemia poderá continuar dirigindo com ela sem levar multa. Seguindo uma decisão do Conselho Nacional de Trânsito (Contran), Detrans de 15 estados prorrogaram os prazos para renovação do documento.

Também ficam prorrogados os prazos para licenciamento, transferência e emissão ou defesa de multas de trânsito. As medidas foram publicadas no Diário Oficial da União (DOU).

O adiamento dos procedimentos tem como objetivo reduzir os impactos da pandemia do novo coronavírus, de acordo com o presidente do Contran e diretor-geral do Departamento Nacional de Trânsito (Denatran), Frederico Carneiro.

“O Contran irá atender todas as 27 unidades da federação que necessitarem da prorrogação dos prazos. Estamos em reunião com os Detrans durante essa semana para ouvir e responder as solicitações e, assim, reduzir os efeitos da pandemia”, explicou.

Acre, Alagoas, Amapá, Amazonas, Bahia, Ceará, Distrito Federal, Goiás, Mato Grosso, Mato Grosso do Sul, Paraíba, Pernambuco, Rio de Janeiro, Rio Grande do Norte e São Paulo já adotaram a medida.

Outras unidades federativas podem aderir à prorrogação. Os prazos variam de estado para estado, e devem ser consultados no site do Detran que atende a região.

Retorno dos procedimentos

Os estados poderão retomar os prazos de acordo com da evolução do combate à pandemia no país. “Cada órgão terá o direito de solicitar o adiamento e a retomada dos prazos, dando maior autonomia para cada um deles, de acordo com a necessidade”, disse Carneiro.

FONTE CAPITALIST

Covid no Brasil: por que últimos dias de setembro são decisivos para futuro da pandemia

O final de setembro é marcado pelo fim do inverno e o início da primavera no Hemisfério Sul. Mas, em 2021, esse período também pode estar relacionado a outra mudança significativa, ao menos no Brasil: especialistas indicam que os próximos dias serão decisivos para entender o futuro da pandemia de covid-19 por aqui.

E isso tem a ver com uma série de fatores que ocorreram nas últimas semanas e que podem ter influência direta no número de casos, hospitalizações e mortes pela doença provocada pelo coronavírus.

Falamos aqui de aglomerações registradas em protestos, eventos e viagens, o menor impacto da variante Delta no Brasil, o avanço da vacinação e até o alívio em algumas medidas restritivas que foram mantidas por cidades e Estados nos últimos meses.

Por ora, as estatísticas trazem certa esperança: desde junho, as médias móveis de casos e óbitos por covid-19 caem constantemente. Mesmo assim, os últimos dias foram marcados por ligeiros aumentos nesses índices.

“De uma maneira geral, podemos dizer que o cenário está cada vez melhor, após aquele período de caos na saúde que vivemos entre março e maio”, destaca o epidemiologista Paulo Petry, professor da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS).

Mas será que os gráficos seguirão nessa trajetória de queda daqui para frente? E o que cidadãos e gestores públicos deveriam fazer agora para manter essa onda de boas notícias?

Onde estamos?

O primeiro semestre de 2021 foi marcado por uma segunda onda altíssima de infecções e óbitos por covid-19 no Brasil. Os sistemas de saúde de várias cidades entraram em colapso e não existiam vagas suficientes para suprir a demanda de novos pacientes.

No auge da crise, o país chegou a registrar médias móveis de 77 mil novos casos e 3 mil mortes pela doença todos os dias. Não à toa, o país foi classificado como o epicentro da pandemia naquele momento.

Na virada para o segundo semestre, essas curvas começaram a cair, embora tenham se mantido em patamares muito elevados durante os meses de julho e agosto.

Mais recentemente, ao longo do mês de setembro, as médias móveis estavam na casa dos 14 mil novos casos e 500 óbitos por covid-19 — números que chegam a ser seis vezes menores do que o registrado lá no pico da segunda onda.

O que explica essa queda tão grande? O pesquisador em saúde pública Leonardo Bastos, da Fundação Oswaldo Cruz (FioCruz), destaca o papel das vacinas.

“O que aconteceu nesse meio tempo foi a vacinação, que teve um efeito muito claro e impressionante. Vimos uma redução consistente nos casos e nos óbitos”, analisa.

A campanha de imunização contra a covid-19 começou em janeiro e fevereiro de 2021, mas os primeiros meses foram marcados pela escassez de doses, que serviram para proteger apenas a camada mais vulnerável da população, como os idosos e os profissionais da saúde.

No meio do ano, a chegada de milhões de unidades de imunizantes permitiu incluir praticamente toda a população adulta brasileira na campanha — no início de setembro, muitos prefeitos e governadores comemoraram o fato de que praticamente 100% dos cidadãos acima de 18 anos já haviam recebido ao menos a primeira dose que protege contra o coronavírus.

Pessoas de máscara em fila para vacinação. Ao fundo, placa escrito "Vacina Covid Acima de 60 anos"
Legenda da foto,Adesão dos brasileiros à campanha de vacinação foi muito mais alta do que o observado em partes dos EUA e da Europa

No momento, cerca de 70% de todos os brasileiros já tomaram a primeira dose e 40% completaram o esquema vacinal (com a segunda dose ou com a vacina da Janssen, que exige apenas uma aplicação).

E aqui pesou bastante o fato de o Brasil ser um dos locais do mundo onde há grande aceitação dos imunizantes. Em partes dos Estados Unidos e da Europa, a campanha de vacinação até começou bem, mas esbarra atualmente numa parcela da população que se recusa a tomar as doses.

Uma nova subida?

Apesar da queda sustentada nos números durante os últimos meses, algumas estatísticas mais recentes, colhidas nos últimas dias, mostram um ligeiro aumento nos casos e nas mortes por covid-19.

Na segunda quinzena de setembro, a média móvel de mortes voltou a ficar acima de 500 por dia no Brasil — no início do mês, essa taxa estava na casa dos 400.

Outra coisa que chamou a atenção foi a inclusão repentina de dados que estavam represados em alguns Estados. São Paulo e Rio de Janeiro, por exemplo, incluíram 150 mil casos de covid-19 “atrasados” no sistema de vigilância.

Isso fez com que a média móvel de casos explodisse de um dia para outro: segundo o site do Conselho Nacional de Secretários de Saúde (Conass), essa taxa estava em 14 mil no dia 17 de setembro e pulou para 34 mil em 18/9.

De acordo com informações divulgadas pelas próprias Secretarias Estaduais de Saúde, o e-SUS Notifica, a plataforma onde esses números são registrados, passou por atualizações e ajustes.

Com isso, as equipes responsáveis por realizar a notificação encontraram algumas dificuldades nos últimos dias. A expectativa é que as curvas voltem a se normalizar em breve, mas é preciso acompanhar se isso realmente acontecerá ou teremos efetivamente um novo aumento entre o finalzinho de setembro e o início de outubro.

7 de setembro

Manifestação do dia 7 de setembro
Legenda da foto,Manifestações do dia 7 de setembro foram marcadas por aglomerações

Ainda entre as possíveis ameaças com potencial de quebrar essa sequência de boas notícias, os especialistas chamam a atenção para o que ocorreu no feriado do dia 7 de setembro.

“Nesta data, tivemos manifestações em várias cidades do país e muitas pessoas também aproveitaram para viajar”, destaca o virologista José Eduardo Levi, coordenador de pesquisa e desenvolvimento da Dasa.

Em locais como Brasília, São Paulo e Rio de Janeiro, centenas de milhares de brasileiros se reuniram para demonstrar apoio ao presidente Jair Bolsonaro (sem partido). Em setembro, também ocorreram manifestações contra o presidente.

“E nós vimos pelas imagens que as pessoas estavam aglomeradas e muitas não usavam máscara” complementa o cientista, que também faz pesquisas no Instituto de Medicina Tropical da Universidade de São Paulo (USP).

A janela entre o contato com o coronavírus e o desenvolvimento da covid-19 costuma demorar até 15 dias. Ou seja: se alguns indivíduos que estiveram aglomerados no dia 7 de setembro se infectaram e criaram novas cadeiras de transmissão a partir dali, os efeitos práticos disso só serão sentidos do dia 22/9 em diante.

“O último feriado foi a prova dos noves. Os eventos ocorreram em plena circulação da variante Delta e precisamos ver como isso repercutirá na pandemia a partir de agora”, completa Levi.

A Delta triunfou ou refugou?

Ilustração do sequenciamento do vírus
Legenda da foto,Variante Delta foi identificada no fim de 2020 e causou enorme estrago em várias partes do mundo

Falando em variantes, um terceiro aspecto que ajuda a explicar os números recentes tem justamente a ver com a Delta, que surgiu no final de 2020 e causou (e ainda causa) um enorme estrago em várias partes do mundo, como Índia, Indonésia, Reino Unido, Israel e Estados Unidos.

As novas ondas de casos e mortes relacionadas a essa nova linhagem viral no mundo deixaram os pesquisadores brasileiros de cabelo em pé: o que impediria a Delta de provocar o mesmo problema em nosso país?

Alguns grupos de pesquisa que fazem a vigilância dos coronavírus que estão em circulação mostraram que essa variante se tornou dominante em algumas cidades, como São Paulo e Rio de Janeiro, a partir de agosto.

Mas, felizmente, a realidade contraria essas expectativas e não houve um aumento das internações e mortes por covid-19 no Brasil, pelo menos até agora.

“Em locais como Londres, Nova York e Israel, passaram-se cerca de dois meses entre a chegada da Delta e um grande aumento no número de casos de covid-19”, calcula Levi.

“As projeções matemáticas indicavam um cenário catastrófico para o Brasil também. Mas essa variante foi detectada aqui no começo de junho, então a explosão de casos deveria ocorrer em agosto. Já estamos no final de setembro e os números não subiram”, conclui.

Mas como explicar isso? Por que essa variante não foi um bicho de sete cabeças até agora no Brasil, como se esperava?

De acordo com os especialistas ouvidos pela BBC News Brasil, há algumas teorias que podem ajudar a entender esse fenômeno.

O primeiro deles é novamente o avanço da vacinação: apesar de as doses disponíveis perderem um pouco da efetividade contra a Delta, elas continuam a funcionar relativamente bem, especialmente contra as formas mais graves da covid-19, que exigem hospitalização e intubação.

Profissional da saúde trabalha com paciente em maca ao fundo
Legenda da foto,A taxa de ocupação de leitos por covid-19 no Brasil também caiu consideravelmente neste segundo semestre, apontam os boletins da FioCruz

O segundo motivo está relacionado àquela segunda onda de casos que acometeu o país entre março e maio.

“Tivemos muitas pessoas infectadas, então ainda há uma resposta imune natural relacionada à variante Gama, que foi responsável pelo pico registrado no primeiro semestre”, contextualiza Levi.

Juntos, esses dois ingredientes podem ter feito com que uma parcela considerável da população brasileira ainda tenha um bom nível de anticorpos, seja pela vacinação ou pela infecção natural (que, aliás, nunca é desejável, pois isso está relacionado ao aumento de mortes). E, por sua vez, essa soma de fatores poderia ter sido capaz de barrar uma nova onda de infecções pela Delta.

Vale reforçar aqui que essas são apenas suspeitas e ainda não existem evidências científicas sólidas para confirmar a ligação entre essas duas coisas.

Para onde vamos?

Num cenário positivo, mas com algumas incertezas importantes, os especialistas entendem que é preciso observar o que acontecerá nas próximas semanas antes de ter a certeza de que o pior já passou.

A epidemiologista Ethel Maciel, professora da Universidade Federal do Espírito Santo (Ufes), pondera que a pandemia no Brasil parece estar sempre atrasada em relação ao que ocorre em algumas partes do Hemisfério Norte.

“Até o momento, as curvas epidemiológicas da covid-19 nos Estados Unidos e na Europa se repetiram algumas semanas depois em nosso país”, lembra.

E a situação de momento nesses locais não é das melhores: com o avanço da Delta e as dificuldades em convencer parte da população a tomar as vacinas, o número de casos e mortes voltou a subir de forma considerável por lá. Em terras americanas, por exemplo, já são registrados mais de 2 mil óbitos por covid-19 todos os dias, de acordo com os últimos boletins.

Será que o mesmo cenário vai acontecer no Brasil? Ninguém sabe. “Dada nossa cobertura vacinal, a tendência é que a gente mantenha essa queda nos dados ou a situação se estabilize num certo patamar de casos e mortes”, projeta Bastos, da FioCruz.

“Agora, não temos certeza se esse patamar será ‘aceitável’ ou ainda estaremos com muitas hospitalizações e mortes por infecções respiratórias todos os dias”, completa.

Falamos aqui de probabilidades. E é preciso ter em mente outras coisas que podem aparecer pelo caminho, como o surgimento de uma nova variante ainda mais potente que a Gama ou a Delta e com capacidade de driblar completamente as vacinas.

“Uma coisa que aprendemos durante essa pandemia é o quanto o coronavírus é imprevisível, portanto não podemos cantar vitória ainda”, concorda Levi.

O efetivo controle da pandemia depende do engajamento da população, que precisa ir aos postos de saúde para tomar a primeira, a segunda ou, se for o caso, a terceira dose dos imunizantes.

Fila para vacinação no Rio de Janeiro
Legenda da foto,É importante que todas as pessoas voltem ao posto para tomar as doses de vacina preconizadas para proteger contra as formas mais graves de covid-19

“Também devemos tomar muito cuidado com as medidas não farmacológicas, como usar máscaras de qualidade e evitar aglomerações”, diz Maciel.

“Não podemos cometer o mesmo erro dos Estados Unidos, que retirou a obrigatoriedade das máscaras e precisou voltar atrás logo depois. Retomar essas políticas é sempre muito difícil”, diz a epidemiologista.

Petry entende que as reaberturas anunciadas por Estados e municípios do Brasil também precisam ser feitas aos poucos e com muito cuidado. “A flexibilização precisa ser gradual, e não aquele oba-oba que vimos na Europa”, conta.

“E os gestores precisam sempre acompanhar os números e ter pulso para agir a tempo caso percebam uma piora”, sugere o epidemiologista da UFRGS.

No reino das incertezas, será necessário aguardar as próximas semanas de setembro e outubro para entender se o futuro da pandemia no Brasil será marcado por frustração ou esperança.

FONTE BBC NEWS

Governo estuda prorrogar auxílio até abril ou maio

Pressionado pela ala política, o governo estuda prorrogar o auxílio emergencial, que tem a última parcela prevista para outubro. O objetivo seria não deixar sem renda 25 milhões de trabalhadores informais que atualmente recebem o benefício, criado por conta da pandemia de Covid-19.

Nesta terça-feira, o secretário do Tesouro Nacional, Jeferson Bittencourt, disse que a pasta tem “fortes restrições” à prorrogação. “No formato de um auxílio emergencial, a gente tem fortes restrições ao desenho que está sendo proposto”, disse.

A medida vem sendo defendida publicamente pelo ministro da Cidadania, João Roma, mas sofre resistências no ministério da Economia. Segundo interlocutores do governo, ainda não está definido o número de parcelas e nem o valor. Atualmente, o benefício está sendo pago em três valores, a depender da composição familiar: R$ 150, R$ 250 e R$ 375.

Vários órgãos do governo estudam formas de atender aos cerca de 25 milhões de pessoas que podem ficar desassistidas com o fim do Auxílio Emergencial em novembro. Alguns dos formatos na mesa tratam de valores intermediários, ou decrescentes mês a mês, com prazo para ser encerrado entre abril ou maio de 2022.

Para renovar o auxílio, o governo contaria com apoio do Congresso. Uma nova rodada de pagamento seria paga por meio de crédito extraordinário, fora do teto de gastos, a regra que impede o crescimento das despesas da União acima da inflação do ano anterior.

O Ministério da Economia é contra, sob o argumento que não há mais fundamentos jurídicos para editar uma nova rodada de auxílio. Em coletiva de imprensa, Bittencourt pontuou que as condições para edição de crédito extraordinário são urgência, relevância e imprevisibilidade, e frisou que as três precisam ser atendidas.

“Em síntese, desemprego e pobreza é urgente e é relevante que enfrentemos? Sim, é urgente, é relevante. É imprevisível? Não. Essa questão da imprevisibilidade é que precisa ser enfrentada” — afirmou.

Efeito perverso. A Economia aposta na reformulação do Bolsa Família a partir de novembro, agora sob o nome de Auxílio Brasil. A Constituição deixa claro que é necessário haver imprevisibilidade,  urgência e relevância para a edição de um crédito extraordinário. Na avaliação da equipe econômica, com o número de casos e mortes por Covid-19 em tendência de queda, não haveria “imprevisibilidade” para justificar o crédito.

Para integrantes do governo que defendem a prorrogação do auxílio, essa medida também é mais efetiva do ponto de vista da popularidade do presidente. Beneficiaria mais pessoas, de forma simples e direta.

Integrantes da equipe econômica tentam evitar um aumento “descontrolado” dos gastos sociais do governo, com programas como a extensão do Auxílio Emergencial ou algum tipo de vale-gás. A avaliação é de que isso poderia ter um efeito perverso de ampliar a inflação e piorar o cenário fiscal.

Um interlocutor do Palácio do Planalto avalia que aumentar o auxílio e ficar mais difícil comprar produtos básicos com o benefício seria até pior do ponto de vista político.

O auxílio emergencial está sendo pago atualmente a 35 milhões de pessoas, incluindo cerca de 10 milhões de beneficiários do Bolsa Família. Com o fim do benefício, essas famílias migrarão para o programa Auxílio Brasil, novo programa de transferência de renda do governo.

O auxílio emergencial era pago a 39 milhões de pessoas, mas o universo foi reduzido. Atualmente, o Bolsa Família é pago a 14,6 milhões de famílias.

A reformulação do Bolsa Família depende do avanço de duas propostas no Congresso. A proposta de emenda à Constituição (PEC) dos Precatórios, para abrir espaço no teto de gastos, e a aprovação da reforma do Imposto de Renda, que indicará a fonte de compensação para bancar o Auxílio Brasil em 2022.

Sem plano B, o governo precisa enfrentar a resistência do Senado, que não tem pressa para analisar o texto do IR, que está na Comissão de Assuntos Econômicos (CAE). Os senadores aprovaram nesta terça-feira, requerimento para a realização de audiências públicas e defenderam a posição do relator, Ângelo Coronel (PSD-BA), de analisar bem a proposta para evitar atropelos.

O senador Oriovisto Guimarães rechaçou a tese de que a não aprovação do texto impediria a criação do novo auxílio.

“O fato de nós aprovarmos neste ano ou noutro ano essa renovação no Imposto de Renda em nada impede a criação do novo Bolsa Família. Isso é uma colocação que não tem fundamento. O governo está livre para criar o novo Bolsa Família desde que o faça de forma transitória e não definitiva” — afirmou.(de O Globo)

FONTE CNF

O que explica queda abrupta de casos de covid-19 na América do Sul e no Brasil

Em meados de junho, enquanto o resto do mundo experimentava um baixo número de novos casos de covid-19, a América do Sul se tornava o epicentro da pandemia.

Naquele período, sete das dez nações com mais mortes diárias per capita pela doença estavam na região: a taxa de óbitos do Brasil era sete vezes superior à da Índia, enquanto a Colômbia e a Argentina apresentavam números equivalentes ao triplo do que era registrado em todo o continente africano.

Com apenas 5% da população mundial, a América do Sul tinha uma taxa de mortalidade per capita oito vezes maior do que a média global.

Mas esse cenário parece ter virado coisa do passado.

A partir de julho, o número de infecções começou a diminuir de forma consistente. Com isso, a região se tornou uma das áreas do mundo onde a pandemia parece estar mais controlada.

Na segunda semana de setembro, a média semanal de casos confirmados de covid-19 por 100 mil habitantes foi de 52 no Reino Unido e 43 nos Estados Unidos. No Brasil, esse número ficou apenas 8, na Argentina, em 6 e na Colômbia, em 3. Os dados são do site Our World In Data, mantido por pesquisadores da Universidade de Oxford.

No início de junho, o Uruguai registrava 100 casos por 100 mil habitantes. Agora, tem apenas 4. Já o Paraguai chegou a ultrapassar 40, agora, não alcança nem uma notificação por 100 mil habitantes nos últimos dias.

Mas como explicar essa queda abrupta nas estatísticas?

Entre a imunidade e algumas incógnitas

“A primeira coisa que gostaria de dizer é que não estamos totalmente tranquilos”, responde Andrés Vecino, pesquisador em sistemas de saúde da Escola de Saúde Pública John Hopkins, nos Estados Unidos.

O especialista lembra que não é a primeira vez que ocorre uma diminuição de casos do tipo, que parece anunciar a proximidade do fim da pandemia. Algumas semanas depois, porém, surge uma nova onda de infecções que revela que o problema não estava resolvido.

“É importante dizer que não sabemos exatamente o que está acontecendo agora e que o fato de os casos estarem diminuindo não significa que isso continuará assim no futuro. Quero lembrar o que aconteceu na Índia, onde houve uma baixa importante nos casos, seguida de um grande aumento com o surgimento da variante Delta”, alerta Vecino.

Uma mulher prepara uma vacina na Argentina
Legenda da foto,Nos últimos meses, os países sul-americanos avançaram na vacinação

A epidemiologista Carla Domingues, que coordenou o Programa Nacional de Imunizações do Ministério da Saúde do Brasil entre 2011 e 2019, emitiu recentemente um alerta semelhante. “Esse é um fenômeno que não sabemos explicar”, disse ao jornal americano The New York Times.

No entanto, os especialistas dão algumas pistas que ajudam a entender um pouquinho melhor o que pode estar acontecendo.

A primeira delas é a vacinação. Nos últimos tempos, os países sul-americanos aceleraram a aplicação das doses, algo que, segundo muitos especialistas, pode ter contribuído para conter o crescimento das infecções pelo novo coronavírus.

Vecino concorda, mas não aponta apenas para o efeito dos imunizantes. De acordo com ele, é preciso avaliar a imunidade adquirida tanto pela vacinação quanto pela infecção natural, já que muitas pessoas da região pegaram o vírus. “Há mais ou menos um consenso de que é possível que a redução de casos na América do Sul esteja relacionada a algum grau de imunidade da população”, destaca.

“Um estudo feito recentemente em 12 cidades da Colômbia mostra que 89% das pessoas que moram nesses locais já tiveram contato com o coronavírus. Com isso, é possível que, em locais onde o índice de infecção é tão alto, ocorra uma redução da doença”, interpreta o pesquisador.

Vecino faz, porém, um alerta: como a população não é homogênea, esses achados da Colômbia precisam ser interpretados com muito cuidado. Ou seja: não é possível afirmar que nove em cada dez pessoas já tiveram covid-19, então, elas estão livres para sair sem máscara e não precisam tomar a vacina. Não é bem assim.

“Os indivíduos mantêm relações na forma de grupos. É possível, então, que existam grupos inteiros de pessoas que ainda não foram infectadas ou vacinadas. Eles podem sofrer com surtos de covid-19 num futuro próximo”, conta.

“Esse risco aumenta se variantes altamente transmissíveis continuarem a circular e a aparecer, como é o caso de Delta, Gama e Mu, que já estão na América Latina. E isso obviamente pode causar um novo aumento de casos e óbitos.”

As medidas corretas para o momento

Pessoas usando máscaras no metrô de Medellín.
Legenda da foto,A Opas pede que os países da região mantenham medidas restritivas para evitar o contágio

O médico Ciro Ugarte, diretor de Emergências Sanitárias da Organização Pan-Americana da Saúde (Opas), braço da Organização Mundial da Saúde das Américas, confirma que houve diminuição significativa de casos e óbitos em quase todos os países da América do Sul, com exceção da Venezuela.

O especialista explica que a Opas está trabalhando com os ministérios da Saúde dos países e com especialistas da região para estudar essas tendências, bem como as razões pelas quais essa queda continua a acontecer.

Um dos motivos que ele encontra para explicar o cenário foi o endurecimento das medidas de controle em muitos locais, principalmente após o aumento significativo de casos de covid-19 entre o final de 2020 e o início de 2021.

“Os países implementaram políticas muito mais rígidas em relação ao distanciamento físico, à movimentação de pessoas e à obrigatoriedade do uso de máscaras. Muitos também iniciaram a vacinação e ampliaram a campanha para vários grupos, principalmente aqueles que estavam em maior risco. Tudo isso ajuda a explicar essa tendência”, entende Ugarte.

O diretor da Opas, porém, alerta que o alívio não pode servir de pretexto para relaxar de vez. “Quando os casos diminuem, é sinal que estamos fazendo as coisas certas. Ou seja, implementamos medidas de saúde pública, que comprovadamente continuam a funcionar”, destaca.

“O pior que poderia nos acontecer agora, que estamos com menos casos, seria aliviar as medidas. Isso aumentaria a oportunidade para que o vírus fosse transmitido de pessoa para pessoa.”

Em outras palavras, embora o número de casos seja baixo no momento, a América do Sul não pode baixar a guarda. “Para todo o povo da nossa região, que vê a transmissão do coronavírus diminuir, precisamos dizer que isso só foi possível porque medidas foram tomadas. E não é hora de relaxar.”

FONTE BBC NEWS

‘Pandemia’ de abandono e evasão escolar

Com retrocesso de 20 anos em desigualdade na educação, especialistas dizem ser urgente recuperar o 1,3 milhão de alunos que deixaram os estudos em 2020

O ano escolar em 2021 começou muito diferente do esperado. Havia a expectativa de um retorno gradual às aulas presenciais, mas o avanço da covid-19 em todo o país, a escassez de vacinas e, consequentemente, a lentidão do programa de vacinação estão mantendo parte das escolas fechadas. Duas pesquisas recentes mostram que o Brasil regrediu 20 anos nas taxas de abandono e de evasão escolar. Com a pandemia e sem uma coordenação nacional dos três níveis de governo, a desigualdade na educação brasileira fica ainda mais nítida.

No estudo “Enfrentamento da cultura do fracasso escolar“, publicado em janeiro de 2021, o Fundo das Nações Unidas pela Infância (Unicef) estima que aproximadamente 4,1 milhões de crianças e adolescentes de 6 a 17 anos tiveram dificuldade de acesso ao ensino remoto em 2020. E que cerca de 1,3 milhão abandonou a escola. Os dados usados no relatório são da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (Pnad) de outubro de 2020.

Pesquisa da DataFolha, também apresentada em janeiro, aponta que aproximadamente 4 milhões de estudantes brasileiros entre 6 e 34 anos deixaram as aulas em 2020, o que significa 8,4% de evasão escolar. Na educação básica, a taxa é ainda maior: 10,8% dos alunos largaram a escola em 2020, sendo 4,6% no ensino fundamental. Para termos de comparação, em 2019 as taxas oficiais de evasão foram de 4,8% no ensino médio e 1,2% no fundamental. Os números dão a dimensão do desafio em um cenário no qual o retorno progressivo às aulas presenciais permanece indefinido.

Para discutir como manter crianças e adolescentes na escola e fortalecer seus vínculos a Associação de Jornalistas de Educação (Jeduca) realizou um seminário online com especialistas no tema. Participaram do debate Dalila Saldanha, secretária municipal de Educação de Fortaleza; Ítalo Dutra, chefe de Educação do Unicef, e Ricardo Vitelli, professor e pesquisador da Universidade do Vale dos Sinos (Unisinos), no Rio Grande do Sul, e membro da Associação Brasileira de Prevenção da Evasão Escolar. O seminário foi mediado por Marta Avancini, editora de conteúdo do Jeduca.

Perfil de abandono e evasão escolar tem cor, endereço e renda

Dados da Pnad de 2019 mostram que cerca de 20,2% dos quase 50 milhões de jovens brasileiros de 14 a 29 anos não completaram a educação básica. Por um recorte de raça, 71,7% dos que não concluíram o ensino básico se declaram pretos ou pardos, e 27,3%, brancos. Abandonar os estudos para trabalhar foi a principal razão alegada por jovens de todas as regiões do país. O segundo motivo, também em todo o país, foi falta de interesse.

Voltamos 20 anos no tempo. O que já era desigualdade virou um abismo durante a pandemia

Ítalo DutraUnicef

Em 2020, escolas brasileiras ficaram fechadas em média por 30 semanas, e houve lugar que sequer abriu. É uma das maiores médias mundiais de tempo, segundo Ítalo Dutra, do Unicef:

“Tentamos identificar no nosso estudo quem são essas crianças e adolescentes que estão fora da escola. O perfil desse estudante tem cor, endereço e renda. São principalmente pretos, pardos e indígenas, das regiões Norte e Nordeste, e de baixa renda. Pelos dados da Pnad, voltamos 20 anos no tempo. O que já era desigualdade virou um abismo durante a pandemia. É preciso fazer uma busca ativa, ir atrás dessas crianças e adolescentes que abandonaram a escola para reverter o quadro e recuperar 20 anos.”

Busca Ativa Escolar é justamente o nome de uma plataforma desenvolvida pelo Unicef para ajudar a combater a exclusão escolar. Ítalo ressalta a importância do papel da escola além da educação:

“Escola faz parte do sistema de proteção de direitos. Escola é garantia de segurança alimentar e, também, protege crianças e adolescentes da violência doméstica. E temos poucos dados sobre educação infantil. Além de ser obrigatória, ela é fundamental para a criança criar vínculo com a escola.”

Em Fortaleza, taxa de abandono e evasão escolar é de apenas 0,1%

Fortaleza tem a quarta maior rede municipal de ensino do país e, ano passado, foi reconhecida pelo Unicef por reduzir os indicadores de desigualdade. Em 2017 a média de frequência escolar era de 73%. Em 2019 o índice chegou a 94%. Para Dalila Saldanha, secretária municipal de Educação, saber o que aconteceu com quem abandonou a escola é fundamental para lidar com o problema:

“Em Fortaleza e em outras cidades do Ceará temos uma cultura da busca ativa, do monitoramento. Há quatro anos acompanhamos a frequência dos alunos diariamente. Se depois de dez dias não há uma justificativa para a falta, nosso protocolo é acionar o Conselho Tutelar e o Ministério Público. Em 2008 a taxa de abandono era de 11%. Em 2020 conseguimos chegar a apenas 0,1%. Desde o primeiro mês da pandemia enviamos um kit de alimentos para a família dos estudantes. Se o aluno não tiver acesso ao ensino remoto, mandamos material didático impresso junto com os alimentos. Ainda assim perdemos 194 alunos em 2020 e estamos buscando descobrir para onde eles foram, se as famílias se mudaram para outra cidade ou estado.”

Abandono é quando o aluno larga a escola por um período, mas retorna. Quando não volta, é evasão. No ensino médio a evasão é desastrosa

Ricardo Vitellipesquisador da Unisinos (RS)

O pesquisador Ricardo Vitelli, da Unisinos, chama a atenção para a diferença entre os conceitos de abandono e evasão escolar:

“Abandono é quando o aluno larga a escola por um período, mas retorna. Quando não volta, é evasão. Problema histórico na educação brasileira pelo menos desde 1930, quando os dados começaram a ser estudados. No ensino fundamental, a família está mais presente e a merenda garante uma taxa de retorno maior. No ensino médio a evasão é desastrosa. Na pandemia, estudantes de ensino médio estão à procura de trabalho. Há escolas no Rio Grande do Sul que tiveram 100% de evasão nos cursos de Educação de Jovens e Adultos (EJA). É preciso enviar alimentos para as famílias e garantir o acesso ao ensino remoto a alunos que não têm o que comer nem possuem computador ou telefone com acesso à internet, o que aumenta a desigualdade”.

Abandono e evasão escolar
Abandono e evasão escolar: saber o que aconteceu com quem deixou a escola é fundamental | Foto de Monoar Rahman Rony/Pixabay

Em 2021 ainda há escola brasileira sem banheiro

O quadro de abandono escolar pode ser revertido durante e depois da pandemia. Mas Ítalo Dutra, do Unicef, destaca outro problema histórico a ser resolvido pela educação pública brasileira: a infraestrutura das escolas, ou a falta dela.

“É inaceitável que em 2021 existam escolas sem banheiro, biblioteca, laboratório de ciências, quadra para atividades esportivas. Temos feito um esforço de divulgar nossos estudos para o público em geral porque ainda há muito trabalho a ser feito para reduzir a desigualdade. E temos que dar luz aos bons exemplos, como o da rede municipal Fortaleza”, diz Ítalo.

São muitas as diferenças físicas entre as escolas de Fortaleza

Dalila Saldanhasecretária de Educação de Fortaleza (CE)

Mas mesmo na capital do Ceará, a quinta maior do país em população, ainda há o que fazer.

“Apesar dos nossos esforços, são muitas as diferenças físicas entre as escolas de Fortaleza”, reconhece a secretária Dalila Saldanha.

Ricardo Vitelli aponta a importância de infraestrutura e combate à evasão caminharem paralelamente:

“Temos que buscar quem está fora da escola e, ao mesmo tempo, melhorar a infraestrutura. É mais demorado, mas há que ser feito. Escola não é só para aulas de português e matemática. É espaço de formação, tem que ter arte, área para exercícios, uma infraestrutura mínima garantida para todos. Quem é educado, pensa.”

A íntegra do seminário promovido pela Jeduca no início de abril de 2021 está disponível no canal do YouTube da associação.

FONTE PROJETO COLABORA

Detran prorroga validade da CNH que venceu durante a pandemia

Detran prorroga validade da CNH que venceu durante a pandemia O Conselho Nacional de Trânsito(Contran) prorrogou por tempo indeterminado os prazos para a renovação da Carteira Nacional de Habilitação (CNH), assim como licenciamento, transferência e também para a emissão ou defesa de multas de trânsito em 15 estados. As portarias com as prorrogações começaram a ser publicadas no Diário Oficial da União (DOU).

A medida, tomada em razão do agravamento da pandemia do novo coronavírus, vale para o Acre, Alagoas, Amapá, Amazonas, Bahia, Ceará, Distrito Federal, Goiás, Mato Grosso, Mato Grosso do Sul, Paraíba, Pernambuco, Rio de Janeiro, Rio Grande do Norte e São Paulo e poderá ser aplicada a outros estados.

Os prazos de início da prorrogação variam, conforme a unidade da federação. Segundo o presidente do Contran e diretor-geral do Departamento Nacional de Trânsito (Denatran), Frederico Carneiro, a iniciativa visa reduzir os impactos da pandemia.

PRORROGAÇÃO

“O Contran irá atender todas as 27 unidades da federação que necessitarem da prorrogação dos prazos. Estamos em reunião com os Detrans durante essa semana para ouvir e responder as solicitações e, assim, reduzir os efeitos da pandemia”, afirmou.

De acordo com o Contran, os estados poderão solicitar a retomada dos prazos dependendo da evolução do combate à pandemia.

“Cada órgão terá o direito de solicitar o adiamento e a retomada dos prazos, dando maior autonomia para cada um deles, de acordo com a necessidade”, finalizou Carneiro.

FONTE MIX VALE

A pergunta que não quer calar: quando a pandemia da Covid-19 vai acabar?

Vivendo há um ano e meio com o distanciamento social, máscaras, álcool gel e home office, a pergunta que não quer calar é: quando a pandemia da Covid-19 vai finalmente acabar?

Apesar de não ter como prever o futuro, estudos estão tentando construir expectativas realistas a respeito da progressão da pandemia, bem como tentar compreender como e quando ela pode se extinguir. De acordo com informações do The Conversation, estudos recentes afirmam que infelizmente, a Covid veio para ficar, em outras palavras, nem uma medida irá impedir o vírus de se propagar e contagiar as pessoas. Além disso, a chamada imunidade coletiva – de rebanho – também seria, em tese, inatingível, já que o nível da imunidade, seja por vacina ou de forma natural, diminui com o tempo.

Além disso, pesquisas sobre o comportamento de outros coronavírus humano observaram que, em média, as infecções se repetem de três a seis anos, ou seja, se o SARS-CoV-2 – vírus atual – se comportar da mesma maneira, no Reino unido, por exemplo, de 11 a 22 milhões pessoas poderão ser infectadas com ele por ano.

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Quando a pandemia da Covid-19 vai acabar? Imagem: 2K Studio (iStock)

Então a pandemia nunca vai terminar?

No entanto, ainda assim a imunização pelas vacinas e a adaptação do sistema imunológico podem ser a chave para uma mudança de médio a longo prazo.

Uma curiosa hipótese levantada através de um estudo por Anthony King, por exemplo, é que essa pode não ser a primeira vez que o coronavírus se alastra de forma global. Algumas evidencias sugerem que a gripe russa, que surgiu em 1889, não era realmente uma gripe, mas sim um tipo do vírus, o OC4. Ou seja, isso significaria que já tivemos outra pandemia pelo vírus e, que, uma hora ela terminou.

Outros pontos científicos

Estudos emergentes – ainda aguardando revisão – também apontam que, enquanto a imunidade parece diminuir – inclusive após as vacinas – a proteção natural do corpo (por imunizantes ou não), chamada “imunidade adaptativa” está se fortalecendo em casos graves e se tornando mais duradoura.

Se baseando, então, nos dados comportamentais de coronavírus anteriores e em um tipo de “evolução” dos sitema imunológico, a Covid-19 possivelmente pode se tornar totalmente assintomática ou, na pior das hipóteses, um resfriado leve.

Diferenças entre países

A forma ou data de quando a pandemia irá acabar também irá variar de país para país, como na verdade, já estamos vendo – alguns retornando à normalidade e outros vivendo nova onda de casos devido a variantes. Tudo vai depender, portanto, de quantas pessoas foram imunizadas e quanto de “imunidade natural” se acumulou em cada lugar.

Países com alta cobertura vacinal e alto número de casos anteriores, provavelmente, alcançarão a imunidade ao vírus. Na Inglaterra, por exemplo, estima-se que no início de setembro mais de 94% da população adulta já apresentava anticorpos contra Covid-19.

Grosso modo, tudo será questão de tempo, já que à medida que a imunidade das pessoas aumenta por reinfecções naturais ou imunizações de reforço, podemos esperar que uma proporção crescente de novas infecções comece a ser assintomáticas ou passem a ser uma doença leve. 

E os países com poucos casos e alta cobertura vacinal?

Ainda de acordo com o tabloide, em países sem muitas infecções anteriores, mesmo com alta cobertura vacinal, muitas pessoas permanecerão suscetíveis. Mesmo que a quantidade de não vacinados desse local seja mínima, em algum momento elas poderão contrair o vírus, correndo o risco de desenvolver a forma grave da doença e morte e, reinfectar, por exemplo, pessoas já vacinadas.

Contudo, a esperança está em que o trajeto da Covid-19 seja o mesmo da gripe russa, assim logo ela se tornará menos relevante, o que já é esperado para o próximo ano.

FONTE OLHAR DIGITAL

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