Tempestades de poeira no Brasil: um silencioso Dust Bowl tropical

O desastre climático dos anos de 1930, nos Estados Unidos, pode servir de alerta para as tempestades de areia nas cidades brasileiras.

Era o ano de 1932. A história começa no vizinho ao Norte, os Estados Unidos.  Uma “seca diferente” de qualquer outra vista na região das planícies do Sul havia atingido a região. 

Durante as décadas anteriores, no coração do Meio-Oeste americano, o homem havia limpado, arado e semeado uma terra pouco fértil e pouco acolhedora para transformá-la no celeiro dos EUA. Os campos foram subjugados e transformados em “deserto” com as práticas agrícolas adotadas. 

Foram os humanos os principais atores dessa tragédia. 

A geografia norte-americana, resumidamente, é representada pelas altas montanhas, na porção ocidental, as planícies, na porção  central e os planaltos orientais. As planícies, recobertas, originalmente, por uma vegetação de pradarias, com predomínio de gramíneas era o habitat dos nômades ameríndios e onde os animais pastavam livremente. Nenhuma atividade agrícola havia sido realizada ali devido à inconsistência das chuvas. 

Porém, nos anos 1900, a terra era barata, e a construção de uma ferrovia que cruzava a região atraiu muitos imigrantes e agricultores em busca de uma vida melhor e mais próspera. É a partir daí que vários fatores mudarão o curso da história: a Primeira Guerra Mundial, um período de fortes chuvas (difundiu-se a crença de que “a chuva seguia o arado”), os avanços tecnológicos em equipamentos agrícolas, levaram à conversão de milhões de hectares de pradarias em campos de cereais. 

As gramíneas, com suas raízes profundas, que ajudavam a fixar o solo e a armazenar a umidade nos períodos de seca, foram substituídas por campos plantados

A Grande Depressão atinge os Estados Unidos, resultante do crash da Bolsa de Nova Iorque, em 1929, acaba afetando a região. Os agricultores decidem aumentar a produção para compensar suas perdas. E, ao fazerem isso, o número de terras aradas aumenta exponencialmente. 

Como nada é tão ruim que não possa piorar, a partir 1932, secas severas atingiram a região, deixando a terra desnuda, exposta ao sol e aos ventos. São esses ventos que vão levantar a terra seca e a poeira para formar verdadeiras tempestades de areia, cada vez mais frequentes e cada vez mais mortais. 

Em 1932, 14 delas varreram a região. No ano seguinte, eram 38. Essas alterações ecológicas vão durar mais de uma década. O evento (originalmente, identificava a área atingida) ficou conhecido como “Dust Bowl”. 

As nuvens de poeira deslocaram do Sul para o Norte, atingindo Chicago, nos Grandes Lagos e, para Leste-Nordeste, alcançando Cleveland, Washington, Nova York etc. Dias se transformavam em noites. No inverno de 1934-35, neve vermelha caiu sobre Nova York.

Nesse momento, os norte-americanos se atentaram para a enormidade do problema.  O New Deal, o plano de recuperação da economia dos EUA,  implantou um programa de contratação de desempregados, que tinha como objetivo a revitalização da terra e o sustento de famílias inteiras. Foram implementados programas de reflorestamento e o desenvolvimento de novos modelos agrícolas, garantindo a recuperação da terra ao longo do tempo (se o homem não voltar a interferir. O temor existe). 

No Brasil, no final de setembro, em plena primavera, estação que anuncia o período chuvoso em boa parte do país, cidades do interior de São Paulo e parte de Minas Gerais foram surpreendidas com um céu apocalíptico: tempestades de areia vermelha transformaram o dia em noite.  

A seca que atinge a região de São Paulo há vários meses (o período de outono-inverno, que se estende de março a setembro, é seco nessa parte do país) e os ventos fortes que atingem 100km/h contribuíram em grande parte para levantar essa poeira e criar uma tempestade monstruosa.

Essas tempestades, em que fortes ventos levantam uma vasta parede de poeira que pode medir milhares de metros de altura, é conhecida como haboob. O termo sudanês, vem da palavra árabe “habb”, que significa “soprar”. As paredes de poeira, que se movem rapidamente, são comuns em partes áridas do mundo. Não em cidades!

Haboobs são raros nesta parte do Brasil. Com essa intensidade não há registros na área atingida. Pelo menos seis pessoas perderam suas vidas em consequência dessas condições atmosféricas. As seis vítimas morreram afogadas ou devido a queda de árvores, desabamento de casas ou incêndios. 

Pouco se fala de um fator determinante: essas regiões concentram um grande número de plantações de cana-de-açúcar, laranja, soja etc. com grandes áreas sem vegetação e, portanto, um maior número de partículas passíveis de voar com as rajadas de vento. Todos estão calados perante a intensidade do problema. É um Dust Bowl tropical ignorado.  

O Brasil tornou-se um “jardineiro” comercial. Desmata e planta para abastecer mercados mundiais. O ciclo se intensifica em ritmo alarmante, mas não sensibiliza e um silêncio ensurdecedor paira sobre todos: o mercado, políticos,  a sociedade civil e a imprensa não evidenciam a gravidade do que se anuncia. Os sinais estão aí, só não ver quem não quer. 

O espectro da seca se aproxima mais uma vez e as mudanças climáticas são ignoradas pelos líderes mundiais, ecocida ocupa cargo de poder, ex-ministro do meio ambiente trafica árvores e deixa passar a boiada, o desmonte das leis ambientais é contínuo. As coisas acontecem como se não houvesse futuro. A agudeza do problema é inegável.

É angustiante. Há todo momento somos informados de uma nova tempestade de areia em cidades do coração econômico do país. Não somos mais surpreendidos. Não gera comoção ou medo. A notícia virou lugar comum. 

É a ressureição do pó. Vamos louvar “o pó acima de todos”. Amém! 

FONTE ESTADO DE MINAS

Tempestades de poeira no Brasil: um silencioso Dust Bowl tropical

O desastre climático dos anos de 1930, nos Estados Unidos, pode servir de alerta para as tempestades de areia nas cidades brasileiras.

Era o ano de 1932. A história começa no vizinho ao Norte, os Estados Unidos.  Uma “seca diferente” de qualquer outra vista na região das planícies do Sul havia atingido a região. 

Durante as décadas anteriores, no coração do Meio-Oeste americano, o homem havia limpado, arado e semeado uma terra pouco fértil e pouco acolhedora para transformá-la no celeiro dos EUA. Os campos foram subjugados e transformados em “deserto” com as práticas agrícolas adotadas. 

Foram os humanos os principais atores dessa tragédia. 

A geografia norte-americana, resumidamente, é representada pelas altas montanhas, na porção ocidental, as planícies, na porção  central e os planaltos orientais. As planícies, recobertas, originalmente, por uma vegetação de pradarias, com predomínio de gramíneas era o habitat dos nômades ameríndios e onde os animais pastavam livremente. Nenhuma atividade agrícola havia sido realizada ali devido à inconsistência das chuvas. 

Porém, nos anos 1900, a terra era barata, e a construção de uma ferrovia que cruzava a região atraiu muitos imigrantes e agricultores em busca de uma vida melhor e mais próspera. É a partir daí que vários fatores mudarão o curso da história: a Primeira Guerra Mundial, um período de fortes chuvas (difundiu-se a crença de que “a chuva seguia o arado”), os avanços tecnológicos em equipamentos agrícolas, levaram à conversão de milhões de hectares de pradarias em campos de cereais. 

As gramíneas, com suas raízes profundas, que ajudavam a fixar o solo e a armazenar a umidade nos períodos de seca, foram substituídas por campos plantados

A Grande Depressão atinge os Estados Unidos, resultante do crash da Bolsa de Nova Iorque, em 1929, acaba afetando a região. Os agricultores decidem aumentar a produção para compensar suas perdas. E, ao fazerem isso, o número de terras aradas aumenta exponencialmente. 

Como nada é tão ruim que não possa piorar, a partir 1932, secas severas atingiram a região, deixando a terra desnuda, exposta ao sol e aos ventos. São esses ventos que vão levantar a terra seca e a poeira para formar verdadeiras tempestades de areia, cada vez mais frequentes e cada vez mais mortais. 

Em 1932, 14 delas varreram a região. No ano seguinte, eram 38. Essas alterações ecológicas vão durar mais de uma década. O evento (originalmente, identificava a área atingida) ficou conhecido como “Dust Bowl”. 

As nuvens de poeira deslocaram do Sul para o Norte, atingindo Chicago, nos Grandes Lagos e, para Leste-Nordeste, alcançando Cleveland, Washington, Nova York etc. Dias se transformavam em noites. No inverno de 1934-35, neve vermelha caiu sobre Nova York.

Nesse momento, os norte-americanos se atentaram para a enormidade do problema.  O New Deal, o plano de recuperação da economia dos EUA,  implantou um programa de contratação de desempregados, que tinha como objetivo a revitalização da terra e o sustento de famílias inteiras. Foram implementados programas de reflorestamento e o desenvolvimento de novos modelos agrícolas, garantindo a recuperação da terra ao longo do tempo (se o homem não voltar a interferir. O temor existe). 

No Brasil, no final de setembro, em plena primavera, estação que anuncia o período chuvoso em boa parte do país, cidades do interior de São Paulo e parte de Minas Gerais foram surpreendidas com um céu apocalíptico: tempestades de areia vermelha transformaram o dia em noite.  

A seca que atinge a região de São Paulo há vários meses (o período de outono-inverno, que se estende de março a setembro, é seco nessa parte do país) e os ventos fortes que atingem 100km/h contribuíram em grande parte para levantar essa poeira e criar uma tempestade monstruosa.

Essas tempestades, em que fortes ventos levantam uma vasta parede de poeira que pode medir milhares de metros de altura, é conhecida como haboob. O termo sudanês, vem da palavra árabe “habb”, que significa “soprar”. As paredes de poeira, que se movem rapidamente, são comuns em partes áridas do mundo. Não em cidades!

Haboobs são raros nesta parte do Brasil. Com essa intensidade não há registros na área atingida. Pelo menos seis pessoas perderam suas vidas em consequência dessas condições atmosféricas. As seis vítimas morreram afogadas ou devido a queda de árvores, desabamento de casas ou incêndios. 

Pouco se fala de um fator determinante: essas regiões concentram um grande número de plantações de cana-de-açúcar, laranja, soja etc. com grandes áreas sem vegetação e, portanto, um maior número de partículas passíveis de voar com as rajadas de vento. Todos estão calados perante a intensidade do problema. É um Dust Bowl tropical ignorado.  

O Brasil tornou-se um “jardineiro” comercial. Desmata e planta para abastecer mercados mundiais. O ciclo se intensifica em ritmo alarmante, mas não sensibiliza e um silêncio ensurdecedor paira sobre todos: o mercado, políticos,  a sociedade civil e a imprensa não evidenciam a gravidade do que se anuncia. Os sinais estão aí, só não ver quem não quer. 

O espectro da seca se aproxima mais uma vez e as mudanças climáticas são ignoradas pelos líderes mundiais, ecocida ocupa cargo de poder, ex-ministro do meio ambiente trafica árvores e deixa passar a boiada, o desmonte das leis ambientais é contínuo. As coisas acontecem como se não houvesse futuro. A agudeza do problema é inegável.

É angustiante. Há todo momento somos informados de uma nova tempestade de areia em cidades do coração econômico do país. Não somos mais surpreendidos. Não gera comoção ou medo. A notícia virou lugar comum. 

É a ressureição do pó. Vamos louvar “o pó acima de todos”. Amém! 

FONTE ESTADO DE MINAS

Nuvem de poeira encobre o céu de cidade de MG; confira o vídeo

Os moradores de Catas Altas, na Região Metropolitana de Belo Horizonte, filmaram o momento em que uma nuvem de poeira atinge a cidade na tarde dessa quinta-feira (26/10).  

Em vídeos que circulam nas redes sociais é possível ver a poeira vindo junto a uma rajada de vento forte. Uma moradora diz que a poeira vem de uma mineração local, já que ao filmar o momento sua mão ficou toda suja de minério.

Nuvem de poeira em Catas Altas(foto: Redes Sociais/Reprodução)

A nuvem de poeira é tão densa que deixou o céu escuro e alaranjado. Parecia um cenário apocalíptico.

FONTE ESTADO DE MINAS

Nuvem de poeira encobre o céu de cidade de MG; confira o vídeo

Os moradores de Catas Altas, na Região Metropolitana de Belo Horizonte, filmaram o momento em que uma nuvem de poeira atinge a cidade na tarde dessa quinta-feira (26/10).  

Em vídeos que circulam nas redes sociais é possível ver a poeira vindo junto a uma rajada de vento forte. Uma moradora diz que a poeira vem de uma mineração local, já que ao filmar o momento sua mão ficou toda suja de minério.

Nuvem de poeira em Catas Altas(foto: Redes Sociais/Reprodução)

A nuvem de poeira é tão densa que deixou o céu escuro e alaranjado. Parecia um cenário apocalíptico.

FONTE ESTADO DE MINAS

Distrito sofre com pó da mineração e nuvem de poeira incomoda moradores

Vários moradores do distrito de Antônio Pereira, em Ouro Preto (Região Central de Minas) se queixam da nuvem de poeira que vem incomodando os habitantes da região há mais de 10 anos causada pela atividade mineradora da Vale, na Barragem Doutor. 

A situação não raramente causa ardência nos olhos e agrava problemas respiratórios, como rinite, bronquite e asma. Em alguns casos, a inalação da poeira pode acarretar em pneumoconiose. Os moradores se queixam também da sujeira em suas residências.

Poeira nas residências – Foto: Instituto Guaicuy

O Instituto Guaicuy, organização não governamental que atua como assessoria técnica independente das pessoas atingidas pela Barragem Doutor, já protocolou, no dia 14 de julho de 2023, uma denúncia no Ministério Público de Minas Gerais (MPMG) sobre as nuvens de poeira em Antônio Pereira. 

A Vale se manifestou alegando que o levantamento da poeira se deu por conta dos fortes ventos que atingiram a região devido a um ciclone extratropical e frente fria que atingiram o Sul do Brasil e chegou ao estado mineiro. Diante dessa alegação, o MPMG arquivou a denúncia naquela época.

Após poeira levantada no último domingo (20/8), o instituto entrará com recurso, com imagens, vídeos e áudios recebidos alegando que as nuvens de poeira que envolvem o distrito são causadas por outros motivos e que não se prende ao fato dos ciclones e dos fortes ventos – como alegado anteriormente pela empresa.

Confira fotos e vídeos do acontecimento de domingo (20/8):

Fotos e vídeos enviados ao Radar Geral – Instituto Guaicuy

Resposta da Vale

Em nota enviada ao Radar Geral, a empresa afirma que está trabalhando para que as nuvens de poeira não incomodem mais os habitantes da região. Confira na íntegra:

A Vale esclarece que vem adotando providências para mitigar os efeitos da poeira, inclusive a provocada pelos fortes ventos, em Antônio Pereira, no último domingo.

A empresa intensificou o uso de supressores de poeira, a umectação de vias e revegetação de taludes para minimizar a poeira resultante das obras de descaracterização da barragem Doutor durante o período de estiagem.

A empresa lamenta o ocorrido e reitera o seu compromisso com a segurança das pessoas das comunidades onde está presente e de suas operações.”

FONTE RADAR GERAL

Distrito sofre com pó da mineração e nuvem de poeira incomoda moradores

Vários moradores do distrito de Antônio Pereira, em Ouro Preto (Região Central de Minas) se queixam da nuvem de poeira que vem incomodando os habitantes da região há mais de 10 anos causada pela atividade mineradora da Vale, na Barragem Doutor. 

A situação não raramente causa ardência nos olhos e agrava problemas respiratórios, como rinite, bronquite e asma. Em alguns casos, a inalação da poeira pode acarretar em pneumoconiose. Os moradores se queixam também da sujeira em suas residências.

Poeira nas residências – Foto: Instituto Guaicuy

O Instituto Guaicuy, organização não governamental que atua como assessoria técnica independente das pessoas atingidas pela Barragem Doutor, já protocolou, no dia 14 de julho de 2023, uma denúncia no Ministério Público de Minas Gerais (MPMG) sobre as nuvens de poeira em Antônio Pereira. 

A Vale se manifestou alegando que o levantamento da poeira se deu por conta dos fortes ventos que atingiram a região devido a um ciclone extratropical e frente fria que atingiram o Sul do Brasil e chegou ao estado mineiro. Diante dessa alegação, o MPMG arquivou a denúncia naquela época.

Após poeira levantada no último domingo (20/8), o instituto entrará com recurso, com imagens, vídeos e áudios recebidos alegando que as nuvens de poeira que envolvem o distrito são causadas por outros motivos e que não se prende ao fato dos ciclones e dos fortes ventos – como alegado anteriormente pela empresa.

Confira fotos e vídeos do acontecimento de domingo (20/8):

Fotos e vídeos enviados ao Radar Geral – Instituto Guaicuy

Resposta da Vale

Em nota enviada ao Radar Geral, a empresa afirma que está trabalhando para que as nuvens de poeira não incomodem mais os habitantes da região. Confira na íntegra:

A Vale esclarece que vem adotando providências para mitigar os efeitos da poeira, inclusive a provocada pelos fortes ventos, em Antônio Pereira, no último domingo.

A empresa intensificou o uso de supressores de poeira, a umectação de vias e revegetação de taludes para minimizar a poeira resultante das obras de descaracterização da barragem Doutor durante o período de estiagem.

A empresa lamenta o ocorrido e reitera o seu compromisso com a segurança das pessoas das comunidades onde está presente e de suas operações.”

FONTE RADAR GERAL

Poeira volta invadir Congonhas

A população de Congonhas (MG), cidade Patrimônio Mundial da Humanidade, sofre com problema crônico da poeira que invade casas, residência e apartamentos e toma toda extensão da cidade dos Profetas. A poeira é exalada pelas mineradoras. Enquanto a cidade sofre com esse problema ambiental, os cofres públicos enchem de recursos oriundos da mineração.
Vídeo divulgado agora há pouco mostra a situação precária dos moradores.

Poeira e rejeitos atormentam vizinhos da CSN

Além da névoa cinza que a fábrica de cimento espalha, produtores rurais denunciam contaminação da água, que inviabiliza atividades de cachaçaria. Empresa nega

As marcas da extração de calcário e da produção de cimento são o cartão de visitas para quem passa pela comunidade de Boca da Mata, em Arcos, Centro-Oeste de Minas. Seja pelo ar coberto por uma névoa acinzentada ou pela poluição da água que afeta a população, a presença da indústria na região significa um estorvo para os moradores da área. Uma família que se instalou no local há 70 anos e implantou uma cachaçaria tradicional na cidade se vê obrigada a paralisar a produção e cogitar deixar a terra por conta da contaminação da água captada no terreno após a instalação de fábrica de cimento da CSN na vizinhança.

A história da “Cachaçaria do Criolo” começou em 1975, criada por Wilmar Arantes. Ele já morava no local desde a década de 1950, quando começou a produção da bebida, feita com cana-de-açúcar plantada no próprio terreno. À época, a região tinha um desenho bastante diferente, sem a exploração mineral e a fábrica de cimento.

No mesmo ano em que Wilmar iniciou a produção de cachaça, a Companhia Siderúrgica Nacional (CSN) se instalou na região para extrair calcário e, em 2010, a implantação de uma fábrica de cimento ampliou significativamente os impactos na região. Foi quando a relação entre a empresa e a Cachaçaria do Criolo ficou insustentável.

Partículas lançadas no ar cobrem o entorno da comunidade de Boca da Mata, que ainda sofre com o barulho dos caminhões usados no transporte do cimento

  “Começamos a ter problemas com a nossa água. Na cisterna, de onde a gente tirava água para a casa e para a fábrica de cachaça, começou a aparecer uma nata e uma ferrugem muito concentrada. Então, fui até o responsável da CSN e disse pra ele que a represa estava contaminando nossa água, mas me disseram que eu estava equivocado”, contou Wilmar Arantes Junior, filho do fundador da cachaçaria e atualmente à frente do negócio familiar.

A suspeita da família era de que uma represa utilizada para lavagem de material e produção da indústria, localizada alguns metros acima do terreno da cachaçaria, estivesse afetando a água da casa, que ficou imprópria para consumo. “Eu não tomava mais a água, porque a gente estava tendo muito problema de pedras nos rins e infecção urinária. Começamos a comprar água mineral para tomar, ficamos quatro anos comprando direto”, conta Edilse Rodrigues, que também trabalha na produção da bebida e é esposa de Wilmar Junior.

Represa utilizada pela CSN apontada como fonte de contaminação da água captada pela família Arantes no subsolo

ÁGUA CONTAMINADA Após denúncias protocoladas no Ministério Público de Minas Gerais (MPMG) e na Fundação Estadual do Meio Ambiente (Feam), a família conseguiu que a CSN realizasse um estudo para averiguar a situação da água usada pela família. O resultado apontou que há relação entre a atividade da empresa e a contaminação da água utilizada tanto para consumo doméstico quanto na cachaçaria. Cobalto, ferro, manganês e níquel, todos eles em concentrações acima da considerada aceitável para consumo humano, foram detectados na amostra da água que abastecia a casa e a unidade de produção da família havia quatro décadas.

A solução encontrada foi oferecer água à família por meio de caminhões-pipa. A CSN entrega 4 mil litros por dia, mas a saída não foi de todo conciliatória. Além de a quantidade ser suficiente apenas para o consumo dos seis moradores da propriedade, eliminando a possibilidade de continuar a fabricação da cachaça, a empresa começou oferecendo água de má qualidade.

“A Feam (Fundação Estadual do Meio Ambiente) intimou a CSN a ceder água num caminhão-pipa. São obrigados a oferecer 4 mil litros de água por dia e a água não era boa. Não era água potável, vinha um caminhão sujo. Só depois que arrumaram um caminhão com água limpa, mas antes não era. Até disso, a gente teve que reclamar, estava vindo barro. Era uma humilhação”, conta Edilse.

Além da poluição do lençol freático, os moradores também apontam para a contaminação do Rio Candonga, que é responsável por parte do abastecimento da cidade de Arcos. “Aqui na frente tem uma lavação de caminhão. Eles lavam os caminhões todos sujos da cal e do cimento e não tem uma contenção dessa água. A sujeira escorre diretamente para o rio. Tem gente que precisa da água desse rio. É um estado de calamidade pública. A gente chama a Polícia de Meio Ambiente, faz o B.O. (boletim de ocorrência), mas não adianta nada”, protesta Wilmar Junior.

OUTRO LADO Em nota, a CSN Cimentos informa que, mesmo considerando não ser possível tecnicamente correlacionar tais alterações aos rejeitos presentes na barragem ou mesmo às demais operações da companhia, iniciou uma série de estudos e investigações para tentar determinar a fonte da contaminação. A empresa afirma que possui outros três poços de água num raio de 500 metros do ponto de coleta de água na propriedade da cachaçaria, que não apresentam quaisquer alterações em seus parâmetros.

No texto, a CSN ainda informa que apresentou um Plano de Recuperação de Área Contaminada (Prac) no ano passado para avaliar e monitorar a qualidade da água na região. Segundo a empresa, “os estudos realizados até o momento indicam que as concentrações de ferro e manganês não têm relação com as operações da Companhia ou com a antiga barragem, podendo estar, inclusive, relacionadas a fatores naturais como, por exemplo, a composição mineralógica das rochas e dos solos presentes na região”.

Até que haja uma solução definitiva, informa a CSN, a empresa segue suprindo a propriedade com 4 mil litros diários de água potável, além de ter perfurado um novo poço na área. A empresa afirma que não foi constatada alteração na água retirada desse poço.

Wilmar Arantes e o filho tiveram que suspender a produção dda cachaça Acaciana: a família agora vive do estoque, cada vez menor, da bebida

Projeto de vida interrompido

Desde 2019, após 44 anos de produção ininterrupta, a cachaça Acaciana parou de ser produzida. Sem água para a receita e para o sistema de produção da bebida, Wilmar Arantes viu o projeto de sua vida ser interrompido. Hoje, a família vende o estoque armazenado, mas sabe que o produto está com os dias contados.

“Esses 4 mil litros diários não são suficientes para fazer a pinga. A CSN já perguntou quanto a gente precisa para a fabricação e acha muito, mas (os representantes da empresa) não sabem nada sobre o processo. Estão oferecendo o suficiente pra gente sobreviver, mas não para manter o trabalho. A gente vive disso aqui. A fábrica é de 1975”, explica Edilse.

Como se não bastasse perder a fonte de renda, a família havia feito investimentos recentes na cachaçaria. Em 2009, o Instituto Mineiro de Agropecuária (IMA) fez uma vistoria na fábrica e demandou que toda a estrutura fosse trocada por materiais de aço inoxidável. A adequação foi finalizada em 2011 e mexeu nos cofres da empresa familiar.

Além de a contaminação da água ter interrompido a produção, Edilse acrescenta que os metais presentes nela acabaram por avariar os materiais recém-instalados. “Como a água estava contaminada, a caldeira apodreceu, o encanamento apodreceu. Foi um grande prejuízo”.

“A vida do meu pai está aqui, até chorar ele chora. A gente perdeu o entusiasmo. Meu pai não quer vender, mas é o que falei pra ele: ‘Pai, infelizmente, neste nosso país, as mineradoras que mandam. Mesmo você estando aqui antes, a lei está cega’. As empresas aqui ficam contra a gente, falam que a gente está contra o emprego, jogam  a gente contra as pessoas”, desabafa Wilmar Junior.

O pai, Wilmar Arantes, tem 88 anos, a esposa dele, Maria Ferreira, 86. Duas histórias construídas na região da Boca da Mata e viradas de ponta-cabeça após a chegada das mineradoras. Em meio ao imbróglio com a CSN, uma das soluções apresentadas foi sair da região e vender a propriedade à empresa. Novamente, a discussão está longe de ser amigável.

“Em 2019, um representante da empresa veio aqui e se ofereceu para comprar a propriedade. Mostrei pra ele todo o terreno. Aí disseram que eu poderia buscar um corretor para avaliar o terreno. Nossa área aqui está em perímetro industrial, então é um terreno valioso e temos uma fábrica que faz uma cachaça premiada como uma das melhores de Minas Gerais. Temos também a fábrica de rapadura. Eles acharam que pedimos muito pela propriedade e não quiseram nem fazer uma contraproposta”, afirma Wilmar Junior.

O produtor rural complementa dizendo que pretende sair do local, pois as condições de vida são muito precárias com a poluição sonora, do ar e da água, mas que a ordem da transação com a CSN não está correta. “A empresa tinha que pagar o que a gente decidisse que é o valor da propriedade e também tirar as pessoas antes de causar o dano”.

Poluição generalizada e sem trégua

As janelas da casa onde moram Wilmar Arantes e Maria Ferreira são lacradas. Idosos, eles sofrem com problemas respiratórios causados pela poeira constante no ar do entorno da CSN. Durante a estação seca, a situação fica ainda pior. Em medição realizada por empresa de gestão ambiental em setembro de 2021, foi constatado que a concentração de partículas no ar da região da cachaçaria foi de 1.172,06 microgramas por metro cúbico. É quase cinco vezes maior que o limite estabelecido pelo Conselho Nacional do Meio Ambiente (Conama).

O barulho intenso da fábrica de cimento e do incessante trânsito de caminhões na região também é uma reclamação de quem mora próximo à CSN. “Eles estavam carecas de saber que a gente seria prejudicado. Tem uma correia que passa o dia inteiro fazendo barulho, é caminhão passando 24 horas. Você já ouviu falar de colocar brita no asfalto? Os caminhões destruíram o asfalto e eles jogaram brita para tapar os buracos. Aqui está podendo fazer tudo. Aqui não tem lei, infelizmente”, reclama Wilmar Junior.

FONTE ESTADO DE MINAS

Trecho da BR 040 na Barreira se transforma em alto risco com pó, poeira e conversões perigosas

Quem trafega pela BR 040, na Barreira, em Lafaiete (MG) sente de perto o medo e apreensão principalmente aos finais da tarde.
Neste horário, o movimento intenso de carros, ônibus, caminhões e moto transforma o trecho em uma grande confusão e alto riscos de acidentes.
Durante alguns dias, após sugestões de internautas, estivemos por várias horas e dias alternados na rodovia. É uma tremenda confusão, poeira, pó de mineiro, ultrapassagens perigosas e conversões de altíssimos perigos que podem provocar graves acidentes e tragédias anunciadas.
No final do dia, o trecho da BR 040 se transforma em confusão sem qualquer fiscalização!

Moradores de distrito sofrem com tempestades de poeira e pedem providências à Vale

Cada vez mais frequentes, as tempestades desafiam a limpeza das casas e a saúde dos moradores

Quinta -feira (29), mais uma vez um vendaval criou uma tempestade de poeira em Antônio Pereira, distrito de Ouro Preto. A localidade sofre com diversos problemas em decorrência das obras de descomissionamento da Barragem Doutor da mineradora Vale. De acordo com os moradores, as tempestades de areia estão cada vez mais frequentes e não haveria por parte da mineradora iniciativas para amenizar o problema.

Desde o início das obras e principalmente durante o período de estiagem, as tempestades de poeira afetam a qualidade de vida e saúde da população. Os moradores sofrem com diversos problemas que surgiram em função das obras de descomissionamento da Barragem Doutor, entre eles as dificuldades em conseguir remoção das zonas de autossalvamento (ZAS), impactos sociais e econômicos.

Rosiele Caetano mora no loteamento e enviou para nossa redação alguns vídeos que mostram a tempestade que durou ontem cerca de duas horas. A moradora fala sobre as dificuldades de ser vizinha da barragem. “Ontem foi bastante poeira tanto na barragem quanto na nova obra, que durou desde o começo do vento até o fim da chuva”.

A moradora narra ainda a extensão da tempestade, de acordo com Rosiele, a poeira subia “desde a barragem até as obras de descomissionamento “ e aponta também os dilemas que precisa enfrentar em função da poeira. “Móveis e roupas no varal ficam sujos, nós adoecemos, a bronquite me afeta”.

Os caminhões pipa e os esguichos que ficam no topo da barragem para ajudar a diminuir a poeira não estariam funcionando de maneira satisfatória e após a abertura da estrada, com a supressão de mata nativa, teria piorado a qualidade do ar.

Os moradores clamam por soluções, especialmente por se tratar de uma obra de longa duração e afetar diretamente o cotidiano dos atingidos.

Questionamos a Vale sobre os motivos do não funcionamento dos esguichos, sobre a frequência de uso de caminhões pipa, bem como outras medidas que deverão ser tomadas pela mineradora para amenizar os problemas que decorrem das obras, até o momento não obtivemos respostas.

FONTE AGENCIA PRIMAZ

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