Coral dos Profetas inicia mais uma jornada para difundir a música antiga de MG e estreia temporada com “Concerto da Paixão de Cristo”

O Coral Cidade dos Profetas inicia mais uma jornada para celebrar e difundir a música antiga de Minas Gerais. A estreia desta temporada de apresentações será marcada pelo “Concerto da Paixão de Cristo”, programado para o dia 23 de março, sábado, às 20h, na Basílica do Senhor Bom Jesus de Matosinhos, em Congonhas.

O espetáculo promete envolver o público em uma experiência repleta de fé, devoção, música e artes cênica.
A iniciativa faz parte do programa formativo desenvolvido pelo “Plano Anual Coral Cidade dos Profetas 2024”.

Nesta temporada de concertos, o Coral Cidade dos Profetas traz uma seleção especial de composições da música colonial mineira. Parte delas pertencem ao acervo de Francisco Solano Aniceto, mais conhecido como maestro Chico Aniceto, e são consideradas inéditas por não terem registro de execução.

O projeto, aprovado pela Lei Rouanet do Ministério da Cultura, conta com patrocínio master da Vale, CSN e apoio da Prefeitura Municipal de Congonhas e da Reitoria da Basílica do Senhor Bom Jesus de Matosinhos.

Informações: Assessoria de Comunicação Coral Cidade dos Profetas / Fotos: Carol Lacerda

Obras de Aleijadinho passam por revitalização em Congonhas (MG)

Todas as capelas e as peças feitas pelo artista vão ser recuperadas, uma a uma. A previsão é que a restauração seja concluída até o meio de 2024.

Uma das obras mais importantes do Barroco brasileiro está passando por revitalização.

Na paisagem histórica – em Congonhas, região central de Minas – as seis capelas são patrimônio da humanidade.

As 64 obras esculpidas por Aleijadinho e pintadas pelo mestre Athaíde há mais de 220 anos retratam a Paixão de Cristo. A passagem do tempo acabou desgastando essas joias.

Obras de Aleijadinho em Congonhas, Minas Gerais. — Foto: Reprodução/TV Globo
Obras de Aleijadinho em Congonhas, Minas Gerais. — Foto: Reprodução/TV Globo

“Apresentam alguns problemas de danos naturais, que são danos causados pela chuva, pelo desgaste da pintura, e danos pela pouca conservação que tem causado”, diz o diretor de patrimônio de Congonhas, Hugo Cordeiro.

A primeira capela a ser recuperada é a da Santa Ceia. As esculturas precisaram ser retiradas.

“Receberam marcação no piso com giz e com adesivo, há um relatório fotográfico com numeração específica. Então quando essas imagens retornarem, elas irão voltar pro local exato que elas estavam”, explica Hugo.

As peças foram trazidas para um espaço que é monitorado 24 horas por câmeras de segurança e alarmes. O trabalho de recuperação começa dentro de bolhas. Ali, os restauradores retiram o oxigênio e colocam nitrogênio. O processo dura cerca de 45 dias. É uma das técnicas mais modernas para a desinfestação desse tipo de arte, que é feita em madeira.

Nas bolhas, os profissionais monitoram a umidade. O procedimento elimina qualquer microrganismo que possa estar escondido no interior das obras, como cupins.

“Um ovo, a pulpa, ou um inseto adulto, ele é eliminado no interior do madeiramento, no caso aqui do cedro, das esculturas da Aleijadinho. A segunda etapa é a gente fazer uma barreira química com aplicação somente sobre a madeira de um produto inseticida de forma que não ocorram novos ataques”, explica o restaurador Adriano Ramos.

Todas as capelas e as peças de Aleijadinho vão ser recuperadas. Uma a uma. A previsão é que a restauração seja concluída até o meio do ano que vem. Os doze profetas, que ficam na frente do Santuário do Bom Jesus do Matosinhos, também já passaram por limpeza.

“Nós temos os fiéis que vêm pela devoção, pela fé, e aqueles que vêm pela arte, pela cultura”, diz Nedson Pereira de Assis, reitor da basílica do Bom Jesus.

E que só ali podem contemplar e admirar as obras mais importantes do gênio do Barroco mineiro.

“Isso é para ficar, não só para nós brasileiros, mas para a humanidade toda viver essa beleza que é Congonhas. Eu adoro aqui. Sempre coloco no meu roteiro”, diz a aposentada Tereza Cristina da Silva.

“Essas coisas aqui lindas que eu acho que tem que ser mais cuidado. Preservar mais um pouco… Eu estou me sentindo numa imersão cultural sobre toda a história”, diz a psicóloga Ilma Alexandre dos Santos.

FONTE G1

Profetas de Aleijadinho ‘cara limpa’: turistas reagem a banho de tecnologia

Visitantes aprovam visual de esculturas do mestre do barroco após banho de biocida para retirada de líquens – com 6 anos de atraso – nas peças do século 18

Chega ao fim mais uma etapa da saga de conservação dos 12 profetas localizados no adro do Santuário Basílica do Bom Jesus de Matosinhos, no Centro Histórico de Congonhas, na Região Central de Minas. Em um período de quase quatro décadas, a partir de 1985, foram quatro ações para livrar as simbólicas esculturas em pedra-sabão feitas por Antônio Francisco Lisboa, o Aleijadinho, dos líquens que descaracterizam e desgastam os ícones do conjunto reconhecido como Patrimônio Mundial.

“É mais uma etapa nesta história”, diz o diretor de Patrimônio Histórico da Prefeitura de Congonhas, Hugo Cordeiro. E, depois dela, quem chega, já nota a diferença. São 11h de uma manhã ensolarada na “Cidade dos Profetas”, onde a luminosidade realça ainda mais a beleza das peças em pedra-sabão, no adro do templo do século 18. Recém-chegada à cidade, uma família de Vitória (ES) contempla as obras de arte esculpidas por Aleijadinho, e gosta do que vê, ao comparar com outros tempos. “Estão bem preservadas, limpas”, diz o aposentado Pedro Gabriel de Oliveira, diante das estátuas barrocas agora livres dos micro-organismos, especialmente líquens, que dominavam cabeça, braços e tronco.

Posando para fotos ao lado da mulher, Linda Viana de Oliveira, e da filha, Joice Torres Viana de Oliveira, Pedro Gabriel conta que já esteve em Congonhas outras vezes e se dispõe sempre a voltar. Na primeira visita à “Cidade dos Profetas”, Joice se encantou com o conjunto arquitetônico e artístico reconhecido como patrimônio mundial pela Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e Cultura (Unesco) e formado ainda pelas seis capelas (Passos da Paixão de Cristo), com 64 esculturas em cedro vermelho. A exemplo da família capixaba, cerca de 500 mil pessoas visitam Congonhas anualmente, de acordo a prefeitura local.

Cerca de 500 mil pessoas visitam Congonhas anualmente, de acordo a prefeitura local.
Cerca de 500 mil pessoas visitam Congonhas anualmente, de acordo a prefeitura local.Jair Amaral/EM/D.A Press

Esculpidos entre 1800 e 1805, os profetas Joel, Jonas, Amós, Abdias, Daniel, Baruc, Isaías, Oseias, Ezequiel, Jeremias, Naum e Habacuc exibem aspecto bem diferente de cinco meses atrás quando começou o trabalho de remoção dos micro-organismos, com aplicação de álcool a 70% e de um biocida, com recursos da Prefeitura de Congonhas.

Em 6 de junho, o Estado de Minas documentou o início do serviços nas estátuas de Abdias, Habacuc, Naum e Amós, a cargo da equipe do Grupo Oficina de Restauro, de Belo Horizonte. Da equipe coordenada pelos restauradores Adriano Ramos e Rosângela Reis Costa, fizeram parte o geólogo Antônio Gilberto Costa e o biólogo Aristóteles Goes Neto, com consultoria do geólogo português José Delgado Rodrigues.

O próximo passo é monitorar e cuidar das esculturas em pedra-sabão, para não haver proliferação de líquens. “Concluímos nossa etapa, que era a de remoção dos micro-organismos. A partir de agora, será fundamental o acompanhamento semestral”, orienta Rosângela Reis Costa. Continuidade é a palavra de ordem, pois o depósito de excremento de pássaros ou mesmo de poeira na pedra-sabão após as chuvas pode favorecer a proliferação dos líquens, explica Rosângela, que prefere não falar em “limpeza”, pois, em se tratando de pedra, a questão se torna muito complexa.

Aplicado pela última vez em 2012, o biocida, antecedido de álcool 70, não interfere na beleza e integridade do conjunto bicentenário, segundo os especialistas. Além de supervisão de representantes do Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan), o serviço foi acompanhado pelo reitor da basílica, cônego Nédson Pereira de Assis, e pelo diretor de Patrimônio Histórico de Congonhas, Hugo Cordeiro. A atual linha de pesquisas, a cargo do corpo técnico multidisciplinar, não contempla possível ação de poeira de mineração sobre as obras.

Satisfeito com o resultado do serviço, que considera “muito bom” por ter removido, de forma cuidadosa, toda a camada de líquens, e trazido de volta o esplendor da obra de Aleijadinho, cônego Nédson considera essencial o monitoramento constante para evitar problemas. “A arte do mestre do Barroco e da sua equipe não era mais perceptível, pois os líquens descaracterizavam os rostos, as mãos, enfim, todos os detalhes que impregnados na pedra.”

O reitor concorda com a necessidade de monitoramento do conjunto para preservação. “Precisamos, sim, fazer o acompanhamento constante, e não deixar passar muito tempo sem a aplicação do biocida, indicado para ocorrer de cinco em cinco anos”, ressaltou o reitor, lembrando que o uso de álcool 70 pode ter efeito satisfatório e menos agressivo à pedra contra os líquens, desde que seguidas as determinações dos especialistas e do Iphan. Com o monitoramento, a prefeitura e a reitoria da basílica podem observar se há desgaste da pedra ou nova formação de comunidades de micro-organismos.

Cônego Nédson considera importante a conservação das estátuas dos profetas, tanto para se manter a qualidade artística da obra de Aleijadinho, o gênio do Barroco, quanto para transmissão da fé expressa no conjunto aos devotos que chegam à basílica e podem sentir o amor do artista pela Igreja e por Cristo.

Preservação

O mais recente serviço de remoção dos micro-organismos nos profetas de Aleijadinho demandou três aplicações, sendo a primeira no início de junho. Programado para ocorrer de cinco em cinco anos, o serviço estava atrasado em seis anos, como mostrou reportagem do Estado de Minas em 3 de novembro de 2021, quando visitantes demonstravam preocupação com o bem histórico e religioso. A Prefeitura de Congonhas custeou e esteve à frente da empreitada, conforme entendimento com o Iphan, responsável pelo tombamento do conjunto em 1939, e com autorização da reitoria da basílica, vinculada à Arquidiocese de Mariana.

Quem chega de longe está sempre de olhos bem abertos para ver a maravilha desse tesouro de Minas e da humanidade, a exemplo de dois amigos cariocas admirados com as obras de Aleijadinho. “É a exuberância da simplicidade barroca”, observou Djalma Lima, professor de literatura, sobre a “monumentalidade” do patrimônio. Ao lado, Patrícia Amaral, professora de sociologia e filosofia, destacou a importância de se preservar o patrimônio cultural brasileiro, “embora seja uma tarefa muito difícil”.

Referência Mundial

De acordo com o Iphan, o conjunto dos profetas do Antigo Testamento esculpido por Antonio Francisco Lisboa (1738-1814), o Aleijadinho, na Basílica Bom Jesus de Matosinhos é considerado uma das obras-primas do barroco mundial. O conjunto foi tombado pelo Iphan em 1939 e reconhecido pela Unesco como Patrimônio Mundial em 1985.

Com grande visitação turística, o conjunto se compõe da igreja, com interior em estilo rococó, e seis capelas dispostas lado a lado, denominadas Passos, com a via-crúcis de Jesus, além de um adro murado e uma escadaria externa monumental decorada com estátuas dos 12 profetas.

A escolha dos mensageiros

A escolha de Joel, Jonas, Amós, Abdias, Daniel, Baruc, Isaías, Oseias, Ezequiel, Jeremias, Naum e Habacuc entre os 16 profetas que constituem a série do Antigo Testamento, se deve, conforme a especialista em arte sacra e colonial do Brasil, Myriam Andrade, à disposição arquitetônica dos 12 suportes para as esculturas. Assim, o artista, restrito a esse número, selecionou os personagens na ordem de sua entrada na Bíblia, excluindo Miquéias para dar lugar a Habacuc. Cada um deles traz lateralmente o texto de sua profecia gravado em latim nos rolos de pergaminhos. A riqueza de detalhes pode ser percebida pelos visitantes, seja no expressionismo das estátuas ou nas exóticas vestimentas dos profetas barrocos. Essa última foi, inclusive, tema de pesquisa do historiador norte-americano Robert Smith, que verificou referências à arte religiosa portuguesa no período de 1500-1800, inspirada nas pinturas flamengas do fim da era medieval.

Batalha de quatro décadas


A orientação é que o biocida seja aplicado de cinco em cinco anos para deixar os profetas livres dos micro-organismos grudados na pedra-sabão. Mas, desde 1985, houve apenas quatro intervenções nas esculturas:


1985

Feito trabalho de conservação nas esculturas, a cargo de restauradores Instituto Estadual Patrimônio Histórico e Artístico de Minas Gerais (Iepha-MG).


2007

Vinte e dois anos depois, é feito novo serviço de remoção dos líquens, desta vez pelo Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan).


2012

Também com acompanhamento do Iphan, novo serviço de limpeza é executado cinco anos depois, com aplicação de biocida (acima).


2023

Em 6 de junho, após 11 anos (o trabalho deveria ter ocorrido em 2017), teve início a nova aplicação de biocida, com custos bancados pela Prefeitura de Congonhas e acompanhamento do Iphan. O serviço já foi concluído.

FONTE ESTADODE MINAS

Profetas de Aleijadinho ‘cara limpa’: turistas reagem a banho de tecnologia

Visitantes aprovam visual de esculturas do mestre do barroco após banho de biocida para retirada de líquens – com 6 anos de atraso – nas peças do século 18

Chega ao fim mais uma etapa da saga de conservação dos 12 profetas localizados no adro do Santuário Basílica do Bom Jesus de Matosinhos, no Centro Histórico de Congonhas, na Região Central de Minas. Em um período de quase quatro décadas, a partir de 1985, foram quatro ações para livrar as simbólicas esculturas em pedra-sabão feitas por Antônio Francisco Lisboa, o Aleijadinho, dos líquens que descaracterizam e desgastam os ícones do conjunto reconhecido como Patrimônio Mundial.

“É mais uma etapa nesta história”, diz o diretor de Patrimônio Histórico da Prefeitura de Congonhas, Hugo Cordeiro. E, depois dela, quem chega, já nota a diferença. São 11h de uma manhã ensolarada na “Cidade dos Profetas”, onde a luminosidade realça ainda mais a beleza das peças em pedra-sabão, no adro do templo do século 18. Recém-chegada à cidade, uma família de Vitória (ES) contempla as obras de arte esculpidas por Aleijadinho, e gosta do que vê, ao comparar com outros tempos. “Estão bem preservadas, limpas”, diz o aposentado Pedro Gabriel de Oliveira, diante das estátuas barrocas agora livres dos micro-organismos, especialmente líquens, que dominavam cabeça, braços e tronco.

Posando para fotos ao lado da mulher, Linda Viana de Oliveira, e da filha, Joice Torres Viana de Oliveira, Pedro Gabriel conta que já esteve em Congonhas outras vezes e se dispõe sempre a voltar. Na primeira visita à “Cidade dos Profetas”, Joice se encantou com o conjunto arquitetônico e artístico reconhecido como patrimônio mundial pela Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e Cultura (Unesco) e formado ainda pelas seis capelas (Passos da Paixão de Cristo), com 64 esculturas em cedro vermelho. A exemplo da família capixaba, cerca de 500 mil pessoas visitam Congonhas anualmente, de acordo a prefeitura local.

Cerca de 500 mil pessoas visitam Congonhas anualmente, de acordo a prefeitura local.
Cerca de 500 mil pessoas visitam Congonhas anualmente, de acordo a prefeitura local.Jair Amaral/EM/D.A Press

Esculpidos entre 1800 e 1805, os profetas Joel, Jonas, Amós, Abdias, Daniel, Baruc, Isaías, Oseias, Ezequiel, Jeremias, Naum e Habacuc exibem aspecto bem diferente de cinco meses atrás quando começou o trabalho de remoção dos micro-organismos, com aplicação de álcool a 70% e de um biocida, com recursos da Prefeitura de Congonhas.

Em 6 de junho, o Estado de Minas documentou o início do serviços nas estátuas de Abdias, Habacuc, Naum e Amós, a cargo da equipe do Grupo Oficina de Restauro, de Belo Horizonte. Da equipe coordenada pelos restauradores Adriano Ramos e Rosângela Reis Costa, fizeram parte o geólogo Antônio Gilberto Costa e o biólogo Aristóteles Goes Neto, com consultoria do geólogo português José Delgado Rodrigues.

O próximo passo é monitorar e cuidar das esculturas em pedra-sabão, para não haver proliferação de líquens. “Concluímos nossa etapa, que era a de remoção dos micro-organismos. A partir de agora, será fundamental o acompanhamento semestral”, orienta Rosângela Reis Costa. Continuidade é a palavra de ordem, pois o depósito de excremento de pássaros ou mesmo de poeira na pedra-sabão após as chuvas pode favorecer a proliferação dos líquens, explica Rosângela, que prefere não falar em “limpeza”, pois, em se tratando de pedra, a questão se torna muito complexa.

Aplicado pela última vez em 2012, o biocida, antecedido de álcool 70, não interfere na beleza e integridade do conjunto bicentenário, segundo os especialistas. Além de supervisão de representantes do Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan), o serviço foi acompanhado pelo reitor da basílica, cônego Nédson Pereira de Assis, e pelo diretor de Patrimônio Histórico de Congonhas, Hugo Cordeiro. A atual linha de pesquisas, a cargo do corpo técnico multidisciplinar, não contempla possível ação de poeira de mineração sobre as obras.

Satisfeito com o resultado do serviço, que considera “muito bom” por ter removido, de forma cuidadosa, toda a camada de líquens, e trazido de volta o esplendor da obra de Aleijadinho, cônego Nédson considera essencial o monitoramento constante para evitar problemas. “A arte do mestre do Barroco e da sua equipe não era mais perceptível, pois os líquens descaracterizavam os rostos, as mãos, enfim, todos os detalhes que impregnados na pedra.”

O reitor concorda com a necessidade de monitoramento do conjunto para preservação. “Precisamos, sim, fazer o acompanhamento constante, e não deixar passar muito tempo sem a aplicação do biocida, indicado para ocorrer de cinco em cinco anos”, ressaltou o reitor, lembrando que o uso de álcool 70 pode ter efeito satisfatório e menos agressivo à pedra contra os líquens, desde que seguidas as determinações dos especialistas e do Iphan. Com o monitoramento, a prefeitura e a reitoria da basílica podem observar se há desgaste da pedra ou nova formação de comunidades de micro-organismos.

Cônego Nédson considera importante a conservação das estátuas dos profetas, tanto para se manter a qualidade artística da obra de Aleijadinho, o gênio do Barroco, quanto para transmissão da fé expressa no conjunto aos devotos que chegam à basílica e podem sentir o amor do artista pela Igreja e por Cristo.

Preservação

O mais recente serviço de remoção dos micro-organismos nos profetas de Aleijadinho demandou três aplicações, sendo a primeira no início de junho. Programado para ocorrer de cinco em cinco anos, o serviço estava atrasado em seis anos, como mostrou reportagem do Estado de Minas em 3 de novembro de 2021, quando visitantes demonstravam preocupação com o bem histórico e religioso. A Prefeitura de Congonhas custeou e esteve à frente da empreitada, conforme entendimento com o Iphan, responsável pelo tombamento do conjunto em 1939, e com autorização da reitoria da basílica, vinculada à Arquidiocese de Mariana.

Quem chega de longe está sempre de olhos bem abertos para ver a maravilha desse tesouro de Minas e da humanidade, a exemplo de dois amigos cariocas admirados com as obras de Aleijadinho. “É a exuberância da simplicidade barroca”, observou Djalma Lima, professor de literatura, sobre a “monumentalidade” do patrimônio. Ao lado, Patrícia Amaral, professora de sociologia e filosofia, destacou a importância de se preservar o patrimônio cultural brasileiro, “embora seja uma tarefa muito difícil”.

Referência Mundial

De acordo com o Iphan, o conjunto dos profetas do Antigo Testamento esculpido por Antonio Francisco Lisboa (1738-1814), o Aleijadinho, na Basílica Bom Jesus de Matosinhos é considerado uma das obras-primas do barroco mundial. O conjunto foi tombado pelo Iphan em 1939 e reconhecido pela Unesco como Patrimônio Mundial em 1985.

Com grande visitação turística, o conjunto se compõe da igreja, com interior em estilo rococó, e seis capelas dispostas lado a lado, denominadas Passos, com a via-crúcis de Jesus, além de um adro murado e uma escadaria externa monumental decorada com estátuas dos 12 profetas.

A escolha dos mensageiros

A escolha de Joel, Jonas, Amós, Abdias, Daniel, Baruc, Isaías, Oseias, Ezequiel, Jeremias, Naum e Habacuc entre os 16 profetas que constituem a série do Antigo Testamento, se deve, conforme a especialista em arte sacra e colonial do Brasil, Myriam Andrade, à disposição arquitetônica dos 12 suportes para as esculturas. Assim, o artista, restrito a esse número, selecionou os personagens na ordem de sua entrada na Bíblia, excluindo Miquéias para dar lugar a Habacuc. Cada um deles traz lateralmente o texto de sua profecia gravado em latim nos rolos de pergaminhos. A riqueza de detalhes pode ser percebida pelos visitantes, seja no expressionismo das estátuas ou nas exóticas vestimentas dos profetas barrocos. Essa última foi, inclusive, tema de pesquisa do historiador norte-americano Robert Smith, que verificou referências à arte religiosa portuguesa no período de 1500-1800, inspirada nas pinturas flamengas do fim da era medieval.

Batalha de quatro décadas


A orientação é que o biocida seja aplicado de cinco em cinco anos para deixar os profetas livres dos micro-organismos grudados na pedra-sabão. Mas, desde 1985, houve apenas quatro intervenções nas esculturas:


1985

Feito trabalho de conservação nas esculturas, a cargo de restauradores Instituto Estadual Patrimônio Histórico e Artístico de Minas Gerais (Iepha-MG).


2007

Vinte e dois anos depois, é feito novo serviço de remoção dos líquens, desta vez pelo Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan).


2012

Também com acompanhamento do Iphan, novo serviço de limpeza é executado cinco anos depois, com aplicação de biocida (acima).


2023

Em 6 de junho, após 11 anos (o trabalho deveria ter ocorrido em 2017), teve início a nova aplicação de biocida, com custos bancados pela Prefeitura de Congonhas e acompanhamento do Iphan. O serviço já foi concluído.

FONTE ESTADODE MINAS

Sob olhar dos profetas e protesto dos moradores, mineração avança na Serra do Pires

Mineração em uma das últimas áreas de campos ferruginosos de Congonhas tem impactado o abastecimento de água e transformado a paisagem da cidade histórica de Minas Gerais

Um dos pontos turísticos obrigatórios de quem visita a cidade de Congonhas, em Minas Gerais, é o Santuário do Senhor Bom Jesus de Matozinhos, patrimônio histórico do Brasil. Do pátio da igreja, onde estão as doze estátuas dos profetas esculpidas em pedra sabão por Aleijadinho, vê-se de longe outro tesouro mineiro: a Serra dos Pires. Essa paisagem, entretanto, parte do cartão-postal de Congonhas, está sendo devorada pela mineração. A exploração, já em curso, tem impactado diretamente a vida e o abastecimento de água dos moradores, que pressionam para que as montanhas sejam transformadas em área protegida ou incluídas no tombamento paisagístico, que hoje protege apenas uma parte da serra.

O Conjunto de Serras Casa de Pedra foi tombado em 2007 pela Prefeitura de Congonhas, porém a delimitação, feita em 2012, concentrou-se na vertente das montanhas voltada para a área urbana, nos morros do Engenho e do Santo Antônio. Nesse desenho, a maior parte da Serra do Pires, apesar de sua relevância paisagística, hídrica e ambiental, acabou desprotegida.

Na corrida para impedir o avanço da mineração na serra, emergiram duas propostas. A primeira, modifica a lei que delimita o espaço territorial tombado da Casa de Pedra para que passe a incluir toda a Serra do Pires. 

projeto de lei n° 91/2023, do vereador Tião do Alvorada (PSD-MG) para ampliar o tombamento, tem como objetivo proteger as nascentes que estão na Serra do Pires, resguardar a beleza natural, o patrimônio espeleológico e arqueológico, assim como regulamentar a exploração mineral, a construção de obras e empreendimentos e a a supressão de vegetação.

“Essa alteração é imprescindível sob vários aspectos, mas resumidamente visa proteger as fontes de água que abastecem nossa cidade e cujas nascentes localizam-se na Serra do Pires, além de resguardar outros valores singulares da Serra, naturais, culturais, patrimoniais”, defende o vereador, em resposta enviada a ((o))eco.

De acordo com Tião, a tramitação do projeto na Câmara de Vereadores de Congonhas deve aguardar uma audiência pública antes da votação em sessão ordinária na casa.

Parte da paisagem da cidade histórica de Congonhas é tombada, mas a maior parte da Serra do Pires ficou de fora e agora “mancha” o cartão-postal com a exploração mineral em curso. Foto: Hugo Cordeiro

A segunda proposta, de tramitação mais morosa, reivindica a criação de uma área protegida, o Monumento Natural da Serra dos Pires, com aproximadamente 270 hectares de extensão distribuídos entre os municípios de Congonhas e um pequena parte de Ouro Preto, para englobar toda a Serra do Pires. Assinado pela deputada estadual Beatriz Cerqueira (PT-MG), o Projeto de Lei nº 1.367/2023 foi apresentado no final de setembro na Assembleia Legislativa de Minas Gerais.

“No panorama geológico, a elevação do Pires configura-se como um dos limites da Cadeia da Moeda, gerando características únicas para a região, o que dá ensejo à criação de um Monumento Natural”, explica a deputada na justificativa da proposta pela unidade de proteção integral, “que não permite atividades degradantes, como a mineração”, completa.

Em entrevista com ((o))eco sobre como deve ser a tramitação do projeto, a deputada admite que o poder das mineradoras é muito forte dentro do parlamento mineiro, mas que atuará junto com seus aliados na Assembleia para aprovação tanto do PL que cria o Monumento Natural, quanto do projeto que reconhece a Serra do Pires como de relevante interesse cultural do Estado (PL n° 1.354/2023), também de autoria dela.

Ainda de acordo com a parlamentar, a criação da unidade de conservação e o tombamento são iniciativas que se complementam para salvaguarda e acautelamento da Serra do Pires.

“Essa ausência de proteção está causando expressivo impacto visual no Santuário do Bom Jesus de Matozinho, Patrimônio da Humanidade pela Unesco e tombado pelo Iphan, ferindo diretamente o tombamento paisagístico do conjunto protegido”, reforça em sua justificativa ao projeto.

Desenho mostra a área proposta para o Monumento Natural Serra do Pires, conforme consta no Projeto de Lei. Imagem: Reprodução

Impacto no abastecimento de água

Desde dezembro de 2019, a população de Congonhas tem testemunhado alterações significativas da Serra do Pires na porção voltada para o núcleo urbano do município. A destruição das cangas e dos campos rupestres ferruginosos da serra tem impactado diretamente a produção e a qualidade da água das nascentes que abastecem a cidade.

As cangas, que recobrem a serra, são um tipo de rocha ferruginosa que funciona como uma esponja, que permite as águas das chuvas fluírem diretamente para os lençóis freáticos.

Estas rochas são cobertas pela vegetação dos campos rupestres ferruginosos, um ecossistema raro e ameaçado, rico em espécies endêmicas que ocorrem apenas neste tipo de ambiente associado com o quadrilátero ferrífero e grandes depósitos de ferro.

Essa característica ferrosa é justamente o que atrai o interesse minerário, voltado para exploração do minério de ferro a partir das rochas de itabirito, compostas por quartzo e hematita (óxido de ferro). 

“A Serra do Pires é um pequeno pedaço que sobrou do limite sul do Quadrilátero Ferrífero, uma das áreas mais intensamente mineradas do Brasil”, ressalta o botânico João Lobo, morador de Congonhas e um dos porta-vozes do movimento coletivo em defesa da serra.

A orquídea Cattleya milleri, criticamente ameaçada e com ocorrência registrada apenas na Serra do Pires. Foto: João Lobo

Desde janeiro, o botânico está realizando o inventário florístico da serra, que deve ser concluído no final do ano. As espécies que registrou por lá reforçam o valor natural da serra, com presença de espécies únicas como a orquídea Cattleya milleri, endêmica e considerada Criticamente Em Perigo de extinção. “Hoje a Serra do Pires é provavelmente o último reduto da espécie no mundo”, alerta o pesquisador.

O morador de Congonhas destaca que a principal razão da serra ter sobrevivido até hoje – mesmo cercada por mineradoras – está no Bairro do Pires, localizado aos pés da serra. Com cerca de 2 mil moradores, o bairro depende das águas que nascem na serra para o seu abastecimento.  

“Nesse contexto, a mineração entra como um duplo problema: ao modificar ou remover as cangas, seja para acessar o minério ou realizar qualquer outro empreendimento, são destruídas as plantas que existem por ali e também o frágil sistema de percolação de água. Assim, proteger a Serra é importante não só para a conservação das águas na região, mas também para a sobrevivência de espécies únicas adaptadas a um dos ambientes mais raros e ameaçados do planeta”, defende João.

Desde o início do empreendimento minerário na serra, os moradores têm registrado problemas relacionados à escassez hídrica e poluição da água. Em março deste ano, as águas das casas se tornaram barrentas, carregadas com pó de minério. O problema foi causado pelo rompimento das adutora da Companhia Siderúrgica Nacional (CSN) e da Ferro+, que sujou a mina que abastece o bairro.

Em resposta à destruição da serra foi criado o movimento coletivo “A Serra é Nossa”, que reúne moradores, ambientalistas e organizações como o Movimento de Atingidos por Barragens (MAB) e o Instituto Histórico e Geográfico de Congonhas, além da Associação de Moradores do Bairro do Pires. Um abaixo-assinado virtual pela criação da área protegida também foi lançado.

“A preservação da serra é de grande importância pela fauna e flora, e também pelas nascentes que temos e abastecem a comunidade, com água pura e de qualidade”, compartilha a presidente da Associação de Moradores do Bairro do Pires, Isaura Lopes. Além disso, o bairro sofre com a poluição do ar por causa da poeira, causada pela ação das empresas, o que pode piorar ainda mais com o avanço da mineração.

Os impactos negativos também já estão sendo sentidos pelo bairro Barnabé, com a contaminação das águas da fonte que abastece o bairro – também com origem na Serra do Pires – com rejeitos e minérios de ferro.

A Ferro+ Mineração S/A, empresa responsável pela exploração na Serra do Pires, está instalada entre os municípios de Congonhas e Ouro Preto desde 2000, com foco nos processos de extração, beneficiamento e comercialização de minério de ferro. Através de lavras abertas, a empresa produz cerca de 7 milhões de toneladas de ferro anualmente, conforme dito no próprio site da companhia.

A reportagem de ((o))eco entrou em contato com a empresa através de e-mail em busca de esclarecimentos sobre o empreendimento atualmente em curso na Serra do Pires, os impactos da extração de minério de ferro e o posicionamento da Ferro+ sobre a mobilização para proteger a área. Até o momento, não houve retorno. O espaço segue aberto e caso a empresa envie uma resposta, a matéria será atualizada.

Mineração avança sobre a Serra do Pires. Foto: João Lobo

Além da extração do minério de ferro, o empreendimento, denominado PDE (pilha de disposição de estéril) do Guariba, irá criar uma área para disposição dos rejeitos da mineração, ou seja, tudo aquilo que não é ferro. 

“E não é um montinho pequeno de rejeitos, é coisa de 40 metros de altura. Eles estão licenciando nesse momento, elaborando os estudos de impacto ambiental [EIA/RIMA]. Já comprou-se os terrenos onde vão fazer”, denuncia João Lobo.

Em março, a empresa apresentou ao IPHAN (Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional) um Relatório de Avaliação do Patrimônio Arqueológico. O levantamento indica a presença de seis sítios arqueológicos e uma ocorrência arqueológica e reitera o “elevado potencial arqueológico histórico local”.

A área de influência direta do empreendimento se estende pelas montanhas do oeste de Ouro Preto até a divisa com o município de Congonhas, onde cobre a crista da Serra do Pires. Por imagem de satélite, é possível ver a paisagem já devorada pela fome de minério de ferro.

“É uma briga contra 200 anos de dependência da mineração. As pessoas estão com a faca no pescoço, com medo de perder o emprego, mas com cada vez mais medo de perder o ar e a água, aí que o pessoal se levanta pra lutar”, reflete João.

FONTE OECO.ORG

Sob olhar dos profetas e protesto dos moradores, mineração avança na Serra do Pires

Mineração em uma das últimas áreas de campos ferruginosos de Congonhas tem impactado o abastecimento de água e transformado a paisagem da cidade histórica de Minas Gerais

Um dos pontos turísticos obrigatórios de quem visita a cidade de Congonhas, em Minas Gerais, é o Santuário do Senhor Bom Jesus de Matozinhos, patrimônio histórico do Brasil. Do pátio da igreja, onde estão as doze estátuas dos profetas esculpidas em pedra sabão por Aleijadinho, vê-se de longe outro tesouro mineiro: a Serra dos Pires. Essa paisagem, entretanto, parte do cartão-postal de Congonhas, está sendo devorada pela mineração. A exploração, já em curso, tem impactado diretamente a vida e o abastecimento de água dos moradores, que pressionam para que as montanhas sejam transformadas em área protegida ou incluídas no tombamento paisagístico, que hoje protege apenas uma parte da serra.

O Conjunto de Serras Casa de Pedra foi tombado em 2007 pela Prefeitura de Congonhas, porém a delimitação, feita em 2012, concentrou-se na vertente das montanhas voltada para a área urbana, nos morros do Engenho e do Santo Antônio. Nesse desenho, a maior parte da Serra do Pires, apesar de sua relevância paisagística, hídrica e ambiental, acabou desprotegida.

Na corrida para impedir o avanço da mineração na serra, emergiram duas propostas. A primeira, modifica a lei que delimita o espaço territorial tombado da Casa de Pedra para que passe a incluir toda a Serra do Pires. 

projeto de lei n° 91/2023, do vereador Tião do Alvorada (PSD-MG) para ampliar o tombamento, tem como objetivo proteger as nascentes que estão na Serra do Pires, resguardar a beleza natural, o patrimônio espeleológico e arqueológico, assim como regulamentar a exploração mineral, a construção de obras e empreendimentos e a a supressão de vegetação.

“Essa alteração é imprescindível sob vários aspectos, mas resumidamente visa proteger as fontes de água que abastecem nossa cidade e cujas nascentes localizam-se na Serra do Pires, além de resguardar outros valores singulares da Serra, naturais, culturais, patrimoniais”, defende o vereador, em resposta enviada a ((o))eco.

De acordo com Tião, a tramitação do projeto na Câmara de Vereadores de Congonhas deve aguardar uma audiência pública antes da votação em sessão ordinária na casa.

Parte da paisagem da cidade histórica de Congonhas é tombada, mas a maior parte da Serra do Pires ficou de fora e agora “mancha” o cartão-postal com a exploração mineral em curso. Foto: Hugo Cordeiro

A segunda proposta, de tramitação mais morosa, reivindica a criação de uma área protegida, o Monumento Natural da Serra dos Pires, com aproximadamente 270 hectares de extensão distribuídos entre os municípios de Congonhas e um pequena parte de Ouro Preto, para englobar toda a Serra do Pires. Assinado pela deputada estadual Beatriz Cerqueira (PT-MG), o Projeto de Lei nº 1.367/2023 foi apresentado no final de setembro na Assembleia Legislativa de Minas Gerais.

“No panorama geológico, a elevação do Pires configura-se como um dos limites da Cadeia da Moeda, gerando características únicas para a região, o que dá ensejo à criação de um Monumento Natural”, explica a deputada na justificativa da proposta pela unidade de proteção integral, “que não permite atividades degradantes, como a mineração”, completa.

Em entrevista com ((o))eco sobre como deve ser a tramitação do projeto, a deputada admite que o poder das mineradoras é muito forte dentro do parlamento mineiro, mas que atuará junto com seus aliados na Assembleia para aprovação tanto do PL que cria o Monumento Natural, quanto do projeto que reconhece a Serra do Pires como de relevante interesse cultural do Estado (PL n° 1.354/2023), também de autoria dela.

Ainda de acordo com a parlamentar, a criação da unidade de conservação e o tombamento são iniciativas que se complementam para salvaguarda e acautelamento da Serra do Pires.

“Essa ausência de proteção está causando expressivo impacto visual no Santuário do Bom Jesus de Matozinho, Patrimônio da Humanidade pela Unesco e tombado pelo Iphan, ferindo diretamente o tombamento paisagístico do conjunto protegido”, reforça em sua justificativa ao projeto.

Desenho mostra a área proposta para o Monumento Natural Serra do Pires, conforme consta no Projeto de Lei. Imagem: Reprodução

Impacto no abastecimento de água

Desde dezembro de 2019, a população de Congonhas tem testemunhado alterações significativas da Serra do Pires na porção voltada para o núcleo urbano do município. A destruição das cangas e dos campos rupestres ferruginosos da serra tem impactado diretamente a produção e a qualidade da água das nascentes que abastecem a cidade.

As cangas, que recobrem a serra, são um tipo de rocha ferruginosa que funciona como uma esponja, que permite as águas das chuvas fluírem diretamente para os lençóis freáticos.

Estas rochas são cobertas pela vegetação dos campos rupestres ferruginosos, um ecossistema raro e ameaçado, rico em espécies endêmicas que ocorrem apenas neste tipo de ambiente associado com o quadrilátero ferrífero e grandes depósitos de ferro.

Essa característica ferrosa é justamente o que atrai o interesse minerário, voltado para exploração do minério de ferro a partir das rochas de itabirito, compostas por quartzo e hematita (óxido de ferro). 

“A Serra do Pires é um pequeno pedaço que sobrou do limite sul do Quadrilátero Ferrífero, uma das áreas mais intensamente mineradas do Brasil”, ressalta o botânico João Lobo, morador de Congonhas e um dos porta-vozes do movimento coletivo em defesa da serra.

A orquídea Cattleya milleri, criticamente ameaçada e com ocorrência registrada apenas na Serra do Pires. Foto: João Lobo

Desde janeiro, o botânico está realizando o inventário florístico da serra, que deve ser concluído no final do ano. As espécies que registrou por lá reforçam o valor natural da serra, com presença de espécies únicas como a orquídea Cattleya milleri, endêmica e considerada Criticamente Em Perigo de extinção. “Hoje a Serra do Pires é provavelmente o último reduto da espécie no mundo”, alerta o pesquisador.

O morador de Congonhas destaca que a principal razão da serra ter sobrevivido até hoje – mesmo cercada por mineradoras – está no Bairro do Pires, localizado aos pés da serra. Com cerca de 2 mil moradores, o bairro depende das águas que nascem na serra para o seu abastecimento.  

“Nesse contexto, a mineração entra como um duplo problema: ao modificar ou remover as cangas, seja para acessar o minério ou realizar qualquer outro empreendimento, são destruídas as plantas que existem por ali e também o frágil sistema de percolação de água. Assim, proteger a Serra é importante não só para a conservação das águas na região, mas também para a sobrevivência de espécies únicas adaptadas a um dos ambientes mais raros e ameaçados do planeta”, defende João.

Desde o início do empreendimento minerário na serra, os moradores têm registrado problemas relacionados à escassez hídrica e poluição da água. Em março deste ano, as águas das casas se tornaram barrentas, carregadas com pó de minério. O problema foi causado pelo rompimento das adutora da Companhia Siderúrgica Nacional (CSN) e da Ferro+, que sujou a mina que abastece o bairro.

Em resposta à destruição da serra foi criado o movimento coletivo “A Serra é Nossa”, que reúne moradores, ambientalistas e organizações como o Movimento de Atingidos por Barragens (MAB) e o Instituto Histórico e Geográfico de Congonhas, além da Associação de Moradores do Bairro do Pires. Um abaixo-assinado virtual pela criação da área protegida também foi lançado.

“A preservação da serra é de grande importância pela fauna e flora, e também pelas nascentes que temos e abastecem a comunidade, com água pura e de qualidade”, compartilha a presidente da Associação de Moradores do Bairro do Pires, Isaura Lopes. Além disso, o bairro sofre com a poluição do ar por causa da poeira, causada pela ação das empresas, o que pode piorar ainda mais com o avanço da mineração.

Os impactos negativos também já estão sendo sentidos pelo bairro Barnabé, com a contaminação das águas da fonte que abastece o bairro – também com origem na Serra do Pires – com rejeitos e minérios de ferro.

A Ferro+ Mineração S/A, empresa responsável pela exploração na Serra do Pires, está instalada entre os municípios de Congonhas e Ouro Preto desde 2000, com foco nos processos de extração, beneficiamento e comercialização de minério de ferro. Através de lavras abertas, a empresa produz cerca de 7 milhões de toneladas de ferro anualmente, conforme dito no próprio site da companhia.

A reportagem de ((o))eco entrou em contato com a empresa através de e-mail em busca de esclarecimentos sobre o empreendimento atualmente em curso na Serra do Pires, os impactos da extração de minério de ferro e o posicionamento da Ferro+ sobre a mobilização para proteger a área. Até o momento, não houve retorno. O espaço segue aberto e caso a empresa envie uma resposta, a matéria será atualizada.

Mineração avança sobre a Serra do Pires. Foto: João Lobo

Além da extração do minério de ferro, o empreendimento, denominado PDE (pilha de disposição de estéril) do Guariba, irá criar uma área para disposição dos rejeitos da mineração, ou seja, tudo aquilo que não é ferro. 

“E não é um montinho pequeno de rejeitos, é coisa de 40 metros de altura. Eles estão licenciando nesse momento, elaborando os estudos de impacto ambiental [EIA/RIMA]. Já comprou-se os terrenos onde vão fazer”, denuncia João Lobo.

Em março, a empresa apresentou ao IPHAN (Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional) um Relatório de Avaliação do Patrimônio Arqueológico. O levantamento indica a presença de seis sítios arqueológicos e uma ocorrência arqueológica e reitera o “elevado potencial arqueológico histórico local”.

A área de influência direta do empreendimento se estende pelas montanhas do oeste de Ouro Preto até a divisa com o município de Congonhas, onde cobre a crista da Serra do Pires. Por imagem de satélite, é possível ver a paisagem já devorada pela fome de minério de ferro.

“É uma briga contra 200 anos de dependência da mineração. As pessoas estão com a faca no pescoço, com medo de perder o emprego, mas com cada vez mais medo de perder o ar e a água, aí que o pessoal se levanta pra lutar”, reflete João.

FONTE OECO.ORG

Prefeitura de Congonhas realiza, após autorização do IPHAN, remoção dos líquens nos 12 Profetas

Cuidar do Patrimônio Histórico é uma das responsabilidades da Prefeitura de Congonhas. Após autorização do IPHAN para tratamento e retirada dos liquens nos 12 Profetas, foi assinado em maio de 2023 o contrato com o Grupo Oficina de Restauro e iniciado o cronograma de atividades para a remoção de colônias de micro-organismos das esculturas dos 12 Profetas de pedra sabão, localizados no adro da Basílica do Senhor Bom Jesus de Matosinhos.

O projeto básico foi apresentado pela Diretoria de Patrimônio Histórico, bem como o estudo da metodologia que está sendo aplicada e sua eficiência através da coleta e análise de equipe técnica de microbiologistas. Em junho a equipe do Grupo Oficina de Restauro iniciou a aplicação do álcool 70% e logo o Biocida, além da coleta de materiais das colônias microbiológicas e descrições das áreas afetadas com registros gráficos e fotográficos.
Com jato d’água e escova de cerdas macias foi feito a retirada de todos os líquens acumulados há mais de 10 anos, durante toda a semana. Turistas, estudantes, visitantes e pesquisadores puderam verificar todo o processo de manuseio realizado em cada parte dos Profetas.

“Esse é um processo que nos deixa muito felizes. Pela primeira vez a Prefeitura realizou um contrato de monitoramento para sabermos de quanto em quanto tempo esse processo de conservação precisará ser feito. Se tivesse sido feito a cada dois anos não teria chegado ao estágio que chegou. Mas estamos aqui para isso mesmo. Para solucionar os problemas e deixar nossa cidade mais bonita e principalmente conservar nosso Patrimônio”, afirma o Prefeito Municipal, Cláudio Antônio de Souza.

Segundo Hugo Cordeiro, Diretor de Patrimônio Histórico, “o Grupo Oficina de Restauro fará todo o acompanhamento do tratamento para impedir novamente o crescimento e a proliferação destes que são responsáveis pela deterioração pétrea”, explica.
Ressalta-se que o último tratamento realizado nos 12 Profetas foi em 2012. O cronograma de atividades está dentro do previsto e sendo acompanhado pelo Grupo Oficina de Restauro, técnicos do IPHAN, Diretoria de Patrimônio Histórico Municipal, Seplag e Técnicos da empresa Educativo do Museu.
Por Lílian Gonçalves
Fotos: Terezinha Cândida

Prefeitura de Congonhas realiza, após autorização do IPHAN, remoção dos líquens nos 12 Profetas

Cuidar do Patrimônio Histórico é uma das responsabilidades da Prefeitura de Congonhas. Após autorização do IPHAN para tratamento e retirada dos liquens nos 12 Profetas, foi assinado em maio de 2023 o contrato com o Grupo Oficina de Restauro e iniciado o cronograma de atividades para a remoção de colônias de micro-organismos das esculturas dos 12 Profetas de pedra sabão, localizados no adro da Basílica do Senhor Bom Jesus de Matosinhos.

O projeto básico foi apresentado pela Diretoria de Patrimônio Histórico, bem como o estudo da metodologia que está sendo aplicada e sua eficiência através da coleta e análise de equipe técnica de microbiologistas. Em junho a equipe do Grupo Oficina de Restauro iniciou a aplicação do álcool 70% e logo o Biocida, além da coleta de materiais das colônias microbiológicas e descrições das áreas afetadas com registros gráficos e fotográficos.
Com jato d’água e escova de cerdas macias foi feito a retirada de todos os líquens acumulados há mais de 10 anos, durante toda a semana. Turistas, estudantes, visitantes e pesquisadores puderam verificar todo o processo de manuseio realizado em cada parte dos Profetas.

“Esse é um processo que nos deixa muito felizes. Pela primeira vez a Prefeitura realizou um contrato de monitoramento para sabermos de quanto em quanto tempo esse processo de conservação precisará ser feito. Se tivesse sido feito a cada dois anos não teria chegado ao estágio que chegou. Mas estamos aqui para isso mesmo. Para solucionar os problemas e deixar nossa cidade mais bonita e principalmente conservar nosso Patrimônio”, afirma o Prefeito Municipal, Cláudio Antônio de Souza.

Segundo Hugo Cordeiro, Diretor de Patrimônio Histórico, “o Grupo Oficina de Restauro fará todo o acompanhamento do tratamento para impedir novamente o crescimento e a proliferação destes que são responsáveis pela deterioração pétrea”, explica.
Ressalta-se que o último tratamento realizado nos 12 Profetas foi em 2012. O cronograma de atividades está dentro do previsto e sendo acompanhado pelo Grupo Oficina de Restauro, técnicos do IPHAN, Diretoria de Patrimônio Histórico Municipal, Seplag e Técnicos da empresa Educativo do Museu.
Por Lílian Gonçalves
Fotos: Terezinha Cândida

Remoção de colônias de micro-organismos das esculturas dos 12 Profetas Aleijadinho entra na 3ª fase

Em continuidade ao cronograma de atividades para a remoção de colônias de micro-organismos das esculturas dos 12 Profetas de pedra sabão, localizados no adro da Basílica do Senhor Bom Jesus de Matosinhos, de acordo com projeto básico apresentado pela Prefeitura de Congonhas (MG), por meio da Diretoria de Patrimônio Histórico, bem como, o estudo da metodologia que está sendo aplicada e sua eficiência através da coleta e análise de equipe técnica de microbiologistas, o Grupo Oficina de Restauro entra na terceira fase.

Segundo Hugo Cordeiro, Diretor de Patrimônio Histórico, “nesta fase está sendo realizado o monitoramento das aplicações feitas anteriormente e já houve a constatação, comprovada por relatórios, que vários líquens já morreram. Então os técnicos e especialistas começam a retirar com água os líquens. Visivelmente já se nota a diferença, porque os profetas já estão mais limpos, mais bonitos”, ressalta.

Em junho a equipe do Grupo Oficina de Restauro iniciou a aplicação do álcool 70% e logo o Biocida, além da coleta de materiais das colônias microbiológicas e descrições das áreas afetadas com registros gráficos e/ou fotográficos.

Segundo Adriano Ramos, do Grupo Oficina de Restauro, “a aplicação do Biocida teve como objetivo a remoção de colônias de micro-organismos das esculturas dos 12 Profetas de pedra sabão e é importante para impedir o crescimento e a proliferação destes que são responsáveis pela deterioração pétrea. Fatores químicos e físicos associados à ação biológica dos micro-organismos comprometem a integridade estrutural e estética das esculturas através da excreção de ácidos orgânicos pelos fungos liquenizados. Hoje estamos iniciando a remoção dos líquens no profeta Amos como teste e faremos em todos nas próximas semanas”, explica.

Ressalta-se que o último tratamento realizado nos 12 Profetas foi em 2012. O cronograma de atividades está dentro do previsto e sendo acompanhado pelo Grupo Oficina de Restauro, técnicos do IPHAN, Diretoria de Patrimônio Histórico Municipal, Seplag e Técnicos da empresa Educativo do Museu.

Por Lílian Gonçalves

Fotos: Jean Med

Remoção de colônias de micro-organismos das esculturas dos 12 Profetas Aleijadinho entra na 3ª fase

Em continuidade ao cronograma de atividades para a remoção de colônias de micro-organismos das esculturas dos 12 Profetas de pedra sabão, localizados no adro da Basílica do Senhor Bom Jesus de Matosinhos, de acordo com projeto básico apresentado pela Prefeitura de Congonhas (MG), por meio da Diretoria de Patrimônio Histórico, bem como, o estudo da metodologia que está sendo aplicada e sua eficiência através da coleta e análise de equipe técnica de microbiologistas, o Grupo Oficina de Restauro entra na terceira fase.

Segundo Hugo Cordeiro, Diretor de Patrimônio Histórico, “nesta fase está sendo realizado o monitoramento das aplicações feitas anteriormente e já houve a constatação, comprovada por relatórios, que vários líquens já morreram. Então os técnicos e especialistas começam a retirar com água os líquens. Visivelmente já se nota a diferença, porque os profetas já estão mais limpos, mais bonitos”, ressalta.

Em junho a equipe do Grupo Oficina de Restauro iniciou a aplicação do álcool 70% e logo o Biocida, além da coleta de materiais das colônias microbiológicas e descrições das áreas afetadas com registros gráficos e/ou fotográficos.

Segundo Adriano Ramos, do Grupo Oficina de Restauro, “a aplicação do Biocida teve como objetivo a remoção de colônias de micro-organismos das esculturas dos 12 Profetas de pedra sabão e é importante para impedir o crescimento e a proliferação destes que são responsáveis pela deterioração pétrea. Fatores químicos e físicos associados à ação biológica dos micro-organismos comprometem a integridade estrutural e estética das esculturas através da excreção de ácidos orgânicos pelos fungos liquenizados. Hoje estamos iniciando a remoção dos líquens no profeta Amos como teste e faremos em todos nas próximas semanas”, explica.

Ressalta-se que o último tratamento realizado nos 12 Profetas foi em 2012. O cronograma de atividades está dentro do previsto e sendo acompanhado pelo Grupo Oficina de Restauro, técnicos do IPHAN, Diretoria de Patrimônio Histórico Municipal, Seplag e Técnicos da empresa Educativo do Museu.

Por Lílian Gonçalves

Fotos: Jean Med

about

Be informed with the hottest news from all over the world! We monitor what is happenning every day and every minute. Read and enjoy our articles and news and explore this world with Powedris!

Instagram
© 2019 – Powedris. Made by Crocoblock.