25 de abril de 2024 18:05

Um artista que preserva a tradição das Violas de Queluz

Ilacir da Silva bisneto de José de Sousa Salgado,que apresentou as violas para D. Pedo II/CORREIO DE MINAS

Conhecida pela terra das “Violas de Queluz”, principal símbolo da cidade, Lafaiete mantém viva a tradição secular através de luthiers. Nos últimos anos as violas ganharam valorização, mas manter esta memória destes instrumentos às futuras gerações é um desafio.

Em uma tarde desta semana, nossa reportagem esteve na casa de Ilacir da Silva, popularmente conhecido como “espigão”. Em sua casa no bairro Fonte Grande ele mantém um acervo de violas, fabricadas como os todos os detalhes e perfeccionismo de um titular da arte.

Nada menos ele é bisneto de José de Sousa Salgado. Na época do império, Dom Pedro II ao visitar a estrada real, acomodou-se em estalagens da cidade de Queluz, hoje Lafaiete, e foi agraciado com uma apresentação da viola de Queluz praticada por José de Souza Salgado, patriarca de uma das famílias que produziam o instrumento. Com o feito de ter encantado o imperador, a viola foi sendo reconhecida em outras regiões, chagando a ganhar prêmios internacionais nos Estados Unidos, no início do século XX, como o mais belo som de instrumentos regionais. A data ficou registrada como 29 de março de 1881 e hoje a cidade comemora anualmente o “Dia das Violas de Queluz”.

Aos 61 anos, Espigão é aposentado como mecânico de precisão, mas preserva uma oficina na qual fabrica as violas. “Faço tudo com material reciclável”, frisa logo quando começamos a entrevista, mostrando que a madeira é nobre como jacarandá. Ao falar de seu bisavô, ele conta que ele era casa com uma negra, Umbelina Souza Salgado.

Espigão começou há menos de 15 anos o dom da fabricação das violas. “É um dom de Deus e quero preservar esta arte para que os nossos filhos saibam da nossa cultura”, afirmou. As técnicas ele aprendeu como autodidata a partir de caixote de maçãs que transformava em caisinhas de bonecas e presenteava as crianças.

Ilacir da Silva mantém uma oficina em sua residência /Reprodução

A exemplo de seu bisavô, uma de suas violas foi adquirida pela prefeitura, em 2008, e presenteada ao então governador Aécio Neves, em sua vista a Lafaiete. “Foi uma honra que me reconheceu como um artista e estamos perpetuando esta arte”, disse.

Um detalhe da fabricação é que Espigão usa canela de boi nas violas. Para limpar ele coloca na natureza para que as formigas retirem os resíduos. O osso é uma de suas matérias primas que aprimora o som das violas. Espigão ressaltou que seu sonho seria que Lafaiete criasse uma oficina para ensinar as técnicas as crianças e jovens e transformar a cidade em um grande centro formador as tradição das violas. “Fico emocionado quando falo das Violas de Queluz que muitas crianças não conhecem. Gostaria que a cidade abraçasse esta causa e criar uma oficina. Seria um marco para preservar esta tradição maior de Lafaiete”, finalizou.

Ontem, dia 7 de setembro, Espigão participou na avenida no desfile de comemoração da Independência do Brasil que retratou as Violas de Queluz.

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