“Durantes anos foi funcionário da Prefeitura, trabalhava como varredor de rua e exercia suas funções exemplarmente. Um dia um amigo me disse, apontando para ele: – “Um cidadão completo”. E o é, posso afirmar.”
Benedito Franco
O passado mais distante, que tornava a Avenida Santa Matilde uma Rua Encantada, foi a Estalagem das Bananeiras, localizada na Fazenda das Bananeiras.
Há o passado menos longínquo, no século XX, que veremos no próximo artigo, porque neste quero fazer uma homenagem ao Sr.Benedito Franco, que me sugeriu focalizar esta avenida. A ele meus agradecimentos porque me causou muita satisfação o estudo do passado desta via. Também lhe envio o meu abraço.
O Sr. Benedito tem um comércio na Avenida Santa Matilde, no nº 291, o DEPÓSITO SÃO JOÃO – Material de Construção. Ele nasceu em Coronel Fabriciano, Minas Gerais. Concluiu o 2º Grau em Congonhas e formou-se em Química no Rio de Janeiro. Reside em Conselheiro Lafaiete há muitos anos e aqui vive rodeado de amigos e está tão ligado à nossa cidade como se ela fosse também sua terra.
Além das atividades no Comércio, dedica-se à Literatura e já tem uma obra vastíssima com livros de contos inéditos, publicações em jornais, na Internet e em vários volumes da antologia LAFAIETE EM PROSA E VERSO.
Conheço muitas de suas obras e posso garantir: são deliciosas de se ler! O que ele relata, com muito engenho literário, dos seus episódios de vida, em muitos lugares do Brasil, numa vida aventurosa e fascinante enriquecem os leitores com a importância dos fatos relatados. Em seus escrutis oercebe-se claramente a extensão e profundidade da cultura de nosso focalizado Também coisas e pessoas de nossa cidade aparecem na característica de realidade de seus contos. Vou descrever um de seus belos textos:
CALENDÁRIO
Benedito Celso de Araújo Franco
Uma figura folclórica Pessoa simplória, simpática e simples – a simplicidade em pessoa. Humilde. De estatura baixa, barba por fazer, puxa um pouco de uma das pernas e com roupas folgadas.
Cumprimenta a todos e às vezes não é bem aceito ou entendido.
Quando anda pela rua, por sua aparência humilde e o andar não muito normal, alguns rapazes fazem-lhe chacota e gritam apelidos nada prazerosos. Ele fica uma fera e sai aos gritos. Quando vejo, acalmo-o e chamo a atenção dos jovens.
Foi alcoólatra e chegou mesmo a ficar caído pelas ruas. Hoje faz parte dos alcoólatras anônimos e, nas reuniões, quando vai à mesa, surpreende e comove com seu depoimento. Nunca mais bebeu e é um exemplo a ser seguido – um guerreiro, como diz um seu colega de AA.
Durantes anos foi funcionário da Prefeitura, trabalhava como varredor de rua e exercia suas funções exemplarmente. Um dia um amigo me disse, apontando para ele: – “Um cidadão completo”. E o é, posso afirmar.
Em minha loja, compraram alguns sacos de cal, para a demarcação do campo de futebol do time do América. Fui levá-los. Lá estava o pai do Calendário, cuidando de um seu burro. Parece-me que possuía uma carroça. Cumprimentei-o de longe. Demorei um pouco para voltar à loja e, quando cheguei, tive a notícia de seu falecimento – tomou um coice do animal. Calendário perdeu a mãe pouco tempo depois.
Religioso.
Quando andava pela rua, apanhava as garrafas pet de dois litros.
– Pra que tantos litros, Calendário? Vai vender?
– Não, Sô Bené; Vô deixá lá no posto. Tem gente que percisa de apanhá gasolina e num trais vazia (hoje isso é proibido).
Dizendo-lhe o dia, mês e ano de nascimento, bastam alguns segundos, e ele fala o dia da semana dessa data – este o motivo de o chamarem de Calendário.
No fundo, no fundo… uma criança grande…
(Continua)