28 de março de 2024 11:37

Garimpando – Folclore sobre Quaresma e Semana Santa na Antiga Queluz

            Avelina Maria Noronha de Almeida

                                                      [email protected]

Eram várias, também, as superstições relacionadas com a Quaresma: quem dançasse, cantasse música de carnaval, fizesse festa corria o risco de ver ou virar mula-sem-cabeça ou lobisomem. Casar na Quaresma, nem pensar!

 

          Sexta-Feira da Paixão. Eu era menina bem pequena. Peguei a vassourinha que me deram e fui varrer o jardim. Pra quê!…

            – Menina, pára de varrer!!! – era a voz aflita da moça que tomava conta de mim.

            E explicou muito brava:

            – Você está varrendo Nosso Senhor Jesus Cristo!

            Larguei a vassoura, peguei um martelinho e fui quebrar os coquinhos que meu bisavô me trouxera. Novo desespero da moça:

            – Larga isso! Você está martelando Nosso Senhor…

            Até porque fui pentear cabelo ela implicou. Desisti. Sentei-me no degrau da varanda e fiquei imóvel, com medo até de me mexer e magoar o nosso Salvador.

            Era assim em tempos passados. Quem vendesse alguma coisa na Sexta-Feira da Paixão, estava vendendo Nosso Senhor Jesus Cristo; se moesse milho, em vez de sair fubá podia sair sangue. Não se devia dar roupas, porque podiam fazer feitiço com elas. O leite deveria ser  distribuído gratuitamente, senão a vaca deixaria de produzi-lo.

 Eram várias, também, as superstições relacionadas com a Quaresma: quem dançasse, cantasse música de carnaval, fizesse festa corria o risco de ver ou virar mula-sem-cabeça ou lobisomem. Casar na Quaresma, nem pensar!

            Simpatias, muitas, como, para curar coqueluche:  Na Sexta-Feira da Paixão enterrar 3 pedrinhas de sal, ou pedir 3 pratinhas pelo amor de Deus e enterrá-las como se fosse a tosse. Para quebradura, naquela mesma data, colocar o pé da pessoa numa gameleira, tirar a marca na casca, cortá-la e pendurar na fumaça para secar; medir um prego na hérnia e depois enterrar até a marca no pé da gameleira.

            Também na noite da morte de Cristo: cortar as unhas das mãos e dos pés cruzando (primeiro uma unha da mão direita, depois uma da mão esquerda e, assim, ir alternando) não deixava dar dor de dente; cortar o cabelo em cruz e enterrar na bananeira fazia o cabelo crescer muito; cortar um pedacinho da orelha dos animais domésticos fazia com que eles nunca se zangassem; a pessoa que fosse gorda devia vender quantos quilos  quisesse emagrecer para quem quisesse engordar e depois passar o dinheiro para o primeiro pobre que encontrasse na rua; dar três piques no tronco de qualquer árvore frutífera faria com que ela produzisse em abundância; comer o ovo que tivesse sido botado naquele dia daria proteção…

            Mas, por favor!!! Entendam bem. Eu não estou aqui ensinando simpatias… e sim passando o resultado de pesquisas folclóricas.

            Duas curiosidades: a primeira é que, antigamente, as pessoas que vinham da roça e não tinham casa na cidade, ao passar num córrego que havia logo após a descida íngreme da Rua Francisco Lobo, ali lavavam os pés, por isso o local passou a ser chamado de Lava-Pés; a segunda: para cada procissão,  as senhoras e moças faziam um vestido novo. Minha mãe, nessa época, era costureira e passava mal para dar conta.

            Hoje as superstições esmaeceram na distância do tempo (embora aqui e ali ainda haja resquícios), porém, em seu lugar, encontramos outras atitudes que, graças a Deus, não estão em todas as pessoas: a descrença, a indiferença, o desrespeito.

            Não podemos negar que havia um encanto especial nos tempos de outrora!

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