24 de abril de 2024 22:52

Garimpando – No arquivo e centro de pesquisa “Jair Noronha”

“Somos vítimas e cúmplices, como todo mundo”

                                                                                                                                                             Jean Paul Sartre

            Lendo nos jornais e revistas, vendo e ouvindo na televisão, conversando com professores e alunos, verifico que a situação do Ensino atual é precária. Graças a Deus, em nossa cidade, o panorama escolar é bom, o que nem sempre acontece em outros lugares. Há, em geral, grande esforço e dedicação dos professores, mas os problemas que eles enfrentam são muitos. Sei o que é porque já fui professora, tive muitas falhas mas tive muito ideal. O que me faltou no desempenho foi compensado pelo amor que tinha à profissão e a quem eu lecionava. Com isso as dificuldades se abrandaram e me sinto plenamente recompensada pelo tempo dedicado ao Magistério, principalmente quando reencontro alunas e alunos, conversamos, são carinhosos e me fazem muito feliz.

            Só que, apesar das modernidades, do caminhar constante da Humanidade à procura de melhorar a qualidade de vida, no Ensino praticamente não houve, nos nosso tempo, muita superação de certas dificuldades. Em 1983 escrevi um texto analisando a problemática educacional. Na época eu ainda lecionava. Creio que poderia datá-lo como se o tivesse escrito hoje.

            Só que há um agravante: nestes últimos tempo, a cada dia que passa fico mais alarmada com os rumos que vão sendo colocados como perspectivas. E penso: POBRES ALUNOS!!! POBRES PROFESSORES!!! O caminho deles está cada vez mais difícil.

Leiam o que escrevi há 35 anos e me digam se o panorama do Ensino mudou para melhor… Ou se as notícias que chegam pela mídia tornam as perspectivas cada vez mais inquietantes!

À MARGEM DO CAMINHO

            Após anos de andanças pelas terras do Ensino, resolvo sentar-me à beira da estrada e parar um pouco para pensar.

Imagem da Internet

                 Meus companheiros de viagem prosseguem seu caminho.

            Uns vão alegres, entusiasmados, fazendo planos; outros, curvados ao peso dos cansaços e das desilusões. Há os entediados, cuja preocupação única é chegar ao fim da estrada; os desorientados, porque perderam a direção exata de seus passos; os visionários – enfrentadores de moinhos; os revoltados, os agressivos, os limitados… Contemplo-os e sou, um pouco, cada um deles.

Imagem da Internet

            Estaremos no rumo certo ou, acaso, trilhamos um atalho duvidoso?

            Sinto uma grande necessidade de meditar… de repensar conceitos, rememorar vivências, enxergar além dos rostos, livros, horários, lições e notas. Diante de mim desfilam hipóteses, perplexidades, indagações… Por que a sensação de fracasso, de insatisfação – mais leves nuns, mais fortes noutros – perturba a maioria dos professores brasileiros?

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Antes de atravessar a fronteira, ao ser desterrado, Sarmiento escreveu na porta de um rancho: “As idéias não se matam.” Comentou alguém: “A primeira tempestade que vier apagará o escrito…” Ao que respondeu o grande estadista: “O que escrevi aqui não se apagará jamais.” Podemos dizer o mesmo do que ensinamos, das idéias que transmitimos?

            Outro grande vulto da história sul-americana, Simón Bolívar, pesando a responsabilidade que a posição de líder lhe acarretava em relação ao Novo Continente assim se expressou: “Tenho em minhas mãos esta bela porção de terra, que não me pertence, que pertence à Humanidade. Que vou fazer dela? Qual será a sentença que seus futuros habitantes lançarão sobre mim?”

Imagem da Internet                        Bolívar

Nós, professores, temos em nossas mãos uma bela porção de gente. Deveríamos, bem freqüentemente, fazer-nos perguntas análogas: estamos contribuindo para esclarecer, orientar e fazer felizes nossos alunos? Ou, ao contrário, confundimos, desorientamos, desajustamos e marcamos dolorosamente? Sairão eles de nossas mãos mais realizados, confiantes e capazes de enfrentar a vida? E quem irá cobrar mais severamente nossos erros e omissões? O futuro adulto, a sociedade ou a nossa própria consciência? Mas acontece que nem sempre conseguimos executar nossa tarefa como planejamos… Quais seriam os obstáculos interiores ou exteriores travando nossas intenções? Seremos os únicos responsáveis pelo fracasso do processo educacional? Precisamos situar, num contexto de causas e conseqüências dos resultados negativos, alunos pais, técnicos, legisladores, comunidade e, principalmente, nós mesmos, antes de tentarmos uma resposta à indagação: SOMOS NÓS OS CULPADOS PELO FRACASSO ESCOLAR?

            Vem-me â lembrança uma frase de Sartre: “SOMOS VÍTIMAS E CÚMPLICES, COMO TODO MUNDO”.

            Na próxima edição continuarei passando as minhas reflexões neste texto do passado escrito quando eu estava atuante na FASCINANTE PROFISSÃO DE ENSINAR

                                                                                          (Continua)

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