26 de julho de 1842. Nos arredores do adro da Matriz de Nossa Senhora da Conceição travou-se a principal batalha do Movimento de 1842 na Província de Minas Gerais, vencida pelos insurgentes liberais contra os legalistas.
A Batalha de Queluz, que fez ontem, dia 26, 176 anos, é um episódio marcante da história política de Minas e do Brasil que continua ainda desconhecido pela maioria da população lafaietense.
Um breve relato histórico
O Movimento de 1842, conhecido pela historiografia como Revolução Liberal, foi uma reação contra o domínio conservador com aprovação de suas leis regressistas, como a restauração do Conselho de Estado e a Reforma do Código de Processo Criminal, juntamente com a dissolução da Câmara dos Deputados eleita em 1840 e teve como polos principais dos revolucionários a Província de Minas e a de São Paulo. Em Minas, após vários combates e batalhas, o movimento foi finalmente sufocado na Batalha de Santa Luzia, em que as tropas imperiais tiveram como comandante o general Barão de Caxias.
Ao lado de Teófilo Otoni, Cônego Marinho foi um dos mentores dessa revolução na província mineira. Queluzianos ilustres fizeram parte deste movimento onde destacamos: Antonio Rodrigues Pereira, Jacob Dornellas, Antão Fernandes, Padre Francisco Pereira de Assis e umas grandes figuras emblemática do movimento de 1842, o Capitão Marciano Pereira Brandão, estrategista da Batalha de Queluz, vencida pelos queluzianos liberais.
O último Alvitre
Queluz, hoje Conselheiro Lafaiete, teve uma presença marcante no Movimento de 1842, dando do ponto de vista militar e econômico (fazendeiros ricos da região custeavam o movimento e colocavam seus escravos,familiares para engrossar as tropas, além das tropas da G.N.) como também pela sua localização estratégica já que a Vila de Queluz ficava a 50 km da capital da Província, a cidade de Ouro Preto.
Nos dias que antecederam a Batalha de Queluz, os insurgentes liberais se encontravam reunidos em um grande Conselho em Santo Amaro (Queluzito) debatendo sobre o assalto ou não a Queluz que estava sobre o poder dos legalistas. É nesse momento que entra a figura do Capitão Marciano Pereira Brandão apresentando sua proposta de ocupação de Queluz descrito no livro do Cônego Marinho desta forma:
“Celebrou-se em Santo Amaro um Conselho, a que assistira Galvão, Alvarenga, Dr. Melo Franco, e Otoni, no qual se tratou do que conviria fazer: se atacar a Vila de Queluz, ou se deixando-a à direita, procurar-se Sabará, ponto que o presidente interino, desde que partira de São João del-Rei, mostrava desejos de ocupar. Foi então que o capitão Marciano Pereira Brandão, chamado a dar o seu parecer como um dos mais conhecedores das localidades, fez ver com admirável tino a facilidade com que se poderia tomar a Vila de Queluz; pois que sendo de presumir que os legalistas, lembrados de que Galvão com cento e cinquenta insurgentes havia, no dia 4 de julho, repelido dessa mesma posição mais de seiscentos legalistas, dirigidos pelo próprio comandante das Armas, julgariam inexpugnável a vila, e nela se encerrariam.Propôs ele, então, que se lhe confiassem duzentos homens, com os quais iria naquela mesma noite, sem que o pressentissem os legalistas, ocupar as estradas de Ouro Preto, Congonhas e Suaçuí; que no dia seguinte (25) fosse uma das colunas acampar defronte à vila, na estrada do Rio de Janeiro, e a outra na de Itaverava, as quais deviam ir sucessivamente apertando o cerco até que os legalistas se concentrassem todos na povoação, caso em que lhes seriam tomadas as fontes, e eles, obrigados pela sede, entregar-se-iam à discrição. Este plano defendido com entusiasmo por Otoni foi unanimemente adotado”!.
Essa estratégia do Capitão Marciano Pereira Brandão foi aplicada e sob o comando do Comandante Galvão Nunes, os liberais de Queluz derrotaram fragorosamente as tropas dos legalistas que possuíam armamentos de artilharia mais pesados que dos insurgentes.
Vale ressaltar, que o próprio Galvão, não confiava no plano do Capitão Marciano e mais uma vez, Teofilo Otoni, principal líder do movimento em Minas, deu a seguinte ordem ao comandante Galvão: “Dada esta ordem, cruzou o venerável velho Galvão os braços, e disse: “V. Exa. quer que se ataque Queluz? Pois ataque-se Queluz; mas eu não respondo pelo resultado”’. Ao que acudiu prontamente Otoni: “Respondo eu, porque o Sr. Galvão vai à frente do exército”.
(História do movimento político que no ano de 1842 teve lugar na Província de Minas Gerais.-1844- Marinho)
Na manhã do dia 27 de julho, o adro da Matriz Nossa Senhora da Conceição estava sobre o controle dos insurgentes liberais, Queluz é retomada. A Batalha de Queluz abria caminho para tomar de assalto a capital, Ouro Preto. A vitória que obtiveram em Queluz em 26 de julho de 1842 acendeu a chama revolucionária.
O Conselho Militar do Movimento se reúne novamente em Queluz para decidir o que fazer. A notícia da vinda das tropas de Caxias para pacificar Minas a qualquer custo faz os revolucionários liberais desistirem de atacar Ouro Preto e a evacuarão Queluz. Divergências começam a dividi-los e começaram a dirigem para o leste e conquistam, com pouca luta, Sabará, em 13 de agosto.
Aí procuram negociar uma rendição condicional que não foi aceita. Inseguros, os revolucionários procuram concentrar-se no arraial de Santa Luzia que proporcionava, por sua posição numa serra, o controle de vistas e tiros sobre os seus acessos, além de apoiar um de seus flancos no rio das Velhas. Em 20 de agosto teve lugar o memorável combate de Santa Luzia vencido com dificuldades pelas forças legais que ali fizeram frente a 3.300 revolucionários, que souberam tirar grande partido tático das excelentes condições defensivas oferecidas pelo terreno.
Com a vitória de Caxias, em Santa Luzia, teve fim a revolta dos liberais que durou dois meses e dez dias, e que causou sérias preocupações à Corte por sua maior consistência militar e os conflitos políticos locais que gerou ódio e violência.
Um exemplo foi o Capitão Marciano Pereira Brandão, após a derrota para as tropas do governo, transferiu-se para a região da nascente do rio Paraíba, primeiramente para a Serra do Salitre, fixando-se depois na fazenda Campo Alegre, em Sant’Ana de Patos. Onde está enterrado.
- João Vicente Gomes-professor e historiador