Hoje, dia 8, marca uma data histórica para Piranga e região: 324 anos da descoberta das minas de ouro no “rio da Peste ou Guarapiranga” e 323 anos da fundação da Capela dedicada a Nossa Senhora da Conceição no sítio de Guarapyranga. Todo ano, nessa data, acontece a tradicional festa do Mastro. O ritual religioso marca a cultura de Piranga.
No dia 15 de novembro, o mastro, de madeira eucalipto, é escolhido em um mato e permanece em uma casa da zona rural da localidade da Barra até o dia 8 de Dezembro, quando vários homens da cidade vão até esta casa e o levam às costas, em um trajeto de 3 km, até a praça do Rosário, onde recebe a bandeira de Nossa Senhora do Rosário, e, então, é fincado na praça com auxílio de duas “tesouras”. O mastro permanece em frente à igreja do Rosário até o dia 20 janeiro (data comemorativa de São Sebastião), quando é retirado. No levantamento, a cerimônia, há festas, orações e pedidos.
As origens
A festa de levantamento do Mastro, que ocorre em diversas parte do Brasil e do mundo (Europa), apesar de estar vinculada a uma data religiosa, originalmente é uma manifestação cultural de origem pagã, que simboliza a força e a fertilidade masculina. Em Piranga, a festa do Mastro possui relação direta com a Irmandade de Nossa Senhora do Rosário dos Pretos, padroeira dos escravos, criada no século XVIII para tratar dos interesses culturais, religiosos e financeiros da capela do Rosário.
Por volta de meados do século XVIII (1758), quando a Matriz de Nossa Senhora da Conceição do arraial de Guarapiranga atingiu seu estágio completo, houve grandes festejos na freguesia, inclusive a homenagem por parte da Irmandade de Nossa Senhora do Rosário dos Pretos, ocorrendo, assim, o cortejo do Mastro e sua afixação na frente da capela do Rosário, uma homenagem simbólica dessa irmandade à padroeira do antigo arraial de Guarapiranga, Nossa Senhora da Conceição.
Por volta daquela mesma data, foi criada a Banda de Congado de Nossa Senhora do Rosário, que passou a dar coro musical aos festejos do Mastro, entre outras celebrações. Com o passar dos anos, outras bandas de Congo, provenientes de antigos quilombos da região, foram fundadas, e passaram a fazer parte da festa. O congado é um festejo popular religioso afro-brasileiro, movimento cultural sincrético, cujo ritual envolve danças, cantos, levantamentos de mastros, coroações, expressos particularmente na festa do Rosário. Na música são utilizados instrumentos como cuíca, caixa, pandeiro e reco-reco.
Esse movimento evoca a lenda de Chico Rei (escravo, imperador do Congo, que teria vindo para Minas Gerais com mais de 400 negros escravos). Ele teria alcançado a sua própria libertação (compra de sua alforria) e de súditos da sua nação, posteriormente sendo responsável por organizar a irmandade do Rosário.
A festa do Mastro de Piranga possui cerca de 285 anos, configurando, ao lado do jubileu do Bom Jesus do Bacalhau e da Folia de Reis, como uma das manifestações culturais populares mais antigas do município. Os componentes da Banda de Congo de Nossa Senhora do Rosário eram originalmente da Vila do Carmo, do Quebra e da Barra.
Fonte do Texto: Pesquisa Própria, Marcus de Nilo e Dicionário do Brasil Colonial. Parte das fotos: Maurício Romualdo