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Obra de Valtinho Salgado lança luzes sobre a a tradição secular das Violas de Queluz e descortina a história do maior símbolo cultural de Lafaiete

O livro “Viola de Queluz – Família Souza/Salgado”, é um resgate histórico e contextualização cultural do instrumento que orgulha Conselheiro Lafaiete; lançamento será neste dia 15 (sábado)

Valtinho viola/Divulgação

“Seus violões tão extraordinários,

Violas que emocionam em cada parte,

Hoje bem raras, como o Stradivarius,

Compradas por mecenas, pais da arte,

Depois de expostas na Pensilvânia

Aqui e ali cresceu a sua venda,

Mas bem guardada está em coletânea

(De Queluz a viola virou lenda!)”

(Alberto Libânio Rodrigues, no livro Queluzíadas)

O escritor lafaietense Valter Braga de Souza irá lançar, no dia 15 de dezembro (sábado), 20 horas, no Solar Barão de Suassuí em Conselheiro Lafaiete, o livro Viola de Queluz – Família Souza/Salgado. Nesta obra o autor narra a história do famoso instrumento brasileiro, a Viola de Queluz, que, no século XIX e meados do século XX foi marca nacional e internacional da cultura brasileira. Duas famílias se destacaram como pioneiras desta produção em Queluz: Os Salgado e os Meireles.

Valter Salgado, como é conhecido, descortina a vida cultural em Queluz (atual Conselheiro Lafaiete) sob a ótica da Família Souza/Salgado, rica em fazedores e tocadores, inclusive na música atual. José de Souza Salgado, o patriarca da família, foi um exímio luthier e violeiros que tornou-se famoso ao tocar numa serenata em homenagem ao Imperador D. Pedro II, em 1881, por ocasião da viagem da família Imperial por Minas Gerais.

Um livro rico em informações, afetivo e reator da memória queluzense. Com participações mais que especiais, o livro reúne ases da Viola em Minas, pesquisadores e ilustradores dedicados, além de uma gama de violeiros que inebriam a cultura mineira. A edição do livro foi organizada pelos poetas Osmir Camilo Gomes e Wagner Vieira, da LESMA EDITORES.

            Venha participar desta festa da cultura mineira. Honra, louvor e glória as Violas de Queluz!

 Serviço

 Lançamento: Livro “Viola de Queluz – Família Souza Salgado”, de Valter Braga de Souza (Lesma Editores, 160 págs.)

Onde: Solar Barão de Suassuí (rua Barão de Suassuí, 106, Centro, Conselheiro Lafaiete)

Quando: dia 15 de dezembro (sábado), às 20 horas.

Informações: (31) 9 9399-2345 e 9 8582-2944

 O AUTOR

Filho de João Salgado e neto de José de Souza Salgado, Valter Braga de Souza, conhecido popularmente como Valtinho Salgado, nasceu em 1947. É músico, carnavalesco e desportista. Como músico integrou grupos de sucesso em Lafaiete como Os bemóis e Conjunto Gota D’água. Carnavalesco, foi presidente da Liga das Entidades Carnavalescas de Conselheiro Lafaiete (LECAL) e da Escola de Samba Unidos do São João. No futebol, além de já ter presidido, destaca-se com seu trabalho e dedicação ao Social Olímpico Ferroviário, um dos tradicionais clubes de futebol de nossa cidade.

Guardião do acervo histórico das Violas de Queluz da família Souza Salgado, Valter Braga de Souza mostra, neste seu primeiro livro, um belo e importante painel da nossa história a partir da mais do que famosa, Viola de Queluz.

 CHEGADA DA VIOLA AO BRASIL

O autor e o colecionador Cláudio Alexandrino/Divulgação

A viola foi um destacado instrumento no Brasil colonial, principalmente pelo seu caráter de “instrumento acompanhador”. Assim, foi sendo utilizada de variadas maneiras, seja ponteando ritmos, acompanhando estilos da cultura popular – que transita entre o sacro e profano – a viola foi se adaptando à vida social do Brasil Colônia.  Além disso, a viola era facilmente transportada e podia ser fabricada em qualquer região, pois seus fabricantes conseguiam fazer o instrumento consoante a disponibilidade de matéria prima oferecida pela natureza, bem como outros materiais do cotidiano. Inicialmente, as cordas eram feitas de tripas de animais, fibras vegetais evoluindo para cordas de arame; estas utilizadas a partir do final do século XVIII. A facilidade de transporte,  deslocamento, escoamento e comercialização da viola, são fatores que ajudaram sobremaneira para tornar o instrumento instrumento cada vez mais popular.

DEPOIMENTO SOBRE A OBRA

 “A cultura da viola em Minas Gerais vive uma época de ouro no seu registro como patrimônio imaterial, sendo tocada pelas mãos de tantos e tantos violeiros que tenho oportunidade de presenciar em meus programas de TV e rádio, e na minha lida de violeiro.

Mas sobretudo estamos num momento primordial e necessário de reconhecer e valorizar o significado das Violas de Queluz – violas que trazem a marca e a alma de Minas para a história musical e cultural de no Estado, o Brasil e com alcance internacional.

Há doze anos vou a Portugal pra encontros, shows e investigações. Este ano participamos do VIII Encontro das Violas D’ARAME e conseguimos trazer por duas vezes a Mostra Internacional das Violas D’ARAME para o Brasil. Nesse contexto o que impressiona é como nas palestras e conversas, a Viola de Queluz é sempre citada.

Seja por mim ou outros estudiosos, como o professor Manuel Moraes, profundo conhecedor dos instrumentos antigos e grande admirador da Viola de Queluz. E não poderia ser diferente! Ela marcou época e inspirou diversos artesãos espalhados por nossas Minas a construírem suas violas, sempre com algo que lembrasse a famosa Viola de Queluz. Tenho raízes de minha família Lobo Leite em Conselheiro Lafaiete, a antiga Queluz de Minas. Para mim é de uma alegria e emoção sem fim poder presenciar este interesse atual em valorizar e divulgar a história desse belíssimo instrumento.

Parabenizo por essa importante publicação, que vem fazer jus à história das Violas de Queluz para a humanidade, sobretudo pelo resgate histórico de nossa cultura violeira. Saúdo Levindo Salgado, parceiro em nossa querida São João del Rei, onde nos encontramos.  E ao escritor Valter Braga de Souza, parabéns por essa obra fundamental para se entender a viola em Minas. Que possamos divulgar esta publicação em nossas viagens mundo afora. Viva a Viola de Queluz! Chora viola!”

Chico Lobo

Violeiro, pesquisador e divulgador da cultura violeira

 DEPOIMENTO SOBRE A VIOLA

Valtinho Salgado e Pereira da Viola/Divulgação

“(…) No momento em que a viola é registrada como patrimônio imaterial da cultura de Minas Gerais, por ato do Conselho Estadual do Patrimônio Cultural, CONEP, e do IEPHA/MG, publica-se o trabalho de Valter Braga de Souza. O lançamento acontece por meio da Lesma Editores, ligada à Liga Ecológica Santa Matilde – Lesma, um dos mais importantes núcleos de ação cultural em Minas Gerais, exatamente a partir da cidade de Conselheiro Lafaiete. É uma obra que enriquece o acervo documental estabelecido pelo IEPHA/MG ao longo do processo de registro das “Violas de Minas” e divulga uma trajetória que merece ser conhecida. Valter Braga de Souza presta admirável contribuição à cultura mineira e à valorização das violas de Minas, tendo à frente aquela que se constitui em verdadeiro ícone da história”.

Angelo Osvaldo de Araújo Santos

Secretário Estadual de Cultura. Escreveu a apresentação da obra

DEPOIMENTO SOBRE A VIOLA

 “A viola é o primeiro instrumento de cordas que, digamos, ‘pegou’ no Brasil ao substituir instrumentos de sopro, mais sofisticados e elitizados. Apesar de não ser um instrumento fácil de tocar, possuindo inúmeras afinações (há pesquisadores que asseguram haver até 54 afinações distintas), a viola era relativamente fácil de ser confeccionada, pois os fabricantes utilizavam todo tipo de material disponível: a madeira do lugar para fazer o corpo do instrumento, por exemplo. Para o acordoamento utilizava-se desde tripas de animais até arame.

A viola apresenta, assim, uma impressionante diversidade no país pois temos violas em todo o Brasil e cada uma com características próprias, mediante a cultura musical e os recursos materiais disponíveis para sua fabricação. Temos, por exemplo, no Nordeste, violas feitas com madeiras mais leves, típicas daquela região; a ‘Viola de Cocho’, a ‘Pantaneira’ (da região Central do País) bem como as do Sul e Sudeste do Brasil, com destaque para São Paulo e Minas Gerais. Não dá para dizer qual a melhor madeira. Cada região produz o instrumento com características próprias.”

Carlos Felipe Horta

Professor, historiador e pesquisador cultural

QUEM FOI JOSÉ DE SOUZA SALGADO

José de Souza Salgado, o Salgado Velho/Divulgação

José de Souza Dias nasceu no dia 5 de novembro de 1858, em Queluz de Minas. Era filho de João José de Souza, nascido em 1826, e Martinha Maria de Jesus, nascida em 1833. José teve três irmãos: João, Pedro e Manoel.

Em 1875 José de Souza Salgado casou-se com Umbelina Braga. Dessa união nasceram seis filhos: Sílvia Braga de Souza (1904); Alberto Braga de Souza (1906); Maria Braga de Souza, a “Malica”, (1910); João Braga de Souza, o “João Salgado”, em 1917; Eduardo Braga de Souza, o “Eduardo Salgado”, em 1919 e José Braga de Souza (1924).

O “Salgado Velho”, como era conhecido, tornou-se o mais famoso fabricante das violas na cidade. Residia na Rua do Rosário (hoje Rua Assis Andrade) nº 476, esquina com a Rua Horácio de Queiróz, no bairro Rosário. O local é próximo do cruzamento chamado “Quatro Cantos”.

Era uma casa baixa, com três portas à frente; a primeira dava entrada para a sala da residência, a segunda era a sua oficina e a terceira dava acesso a um pequeno cômodo, onde trabalhava um preto velho, também violeiro antigo. Seu maior feito, e que marcou historicamente as Violas de Queluz foi quando tocou viola para o Imperador D. Pedro II, em 1881.

            Segundo João Dornas Filho (1902-1962), em seu livro Aspectos da Economia Colonial, a cidade de Queluz chegou a possuir 15 fábricas de violas, o instrumento preferido dos tropeiros, que as conduziam em suas viagens pelos longos serões onde enchiam a solidão com seus plangentes ponteados. Assim, fica patente a fama das “Violas de Queluz”, conhecidas em toda província e fora dela.

CARACTERÍSTICAS DA VIOLA DE QUELUZ

            Um dos principais estudiosos de violas no Brasil e um dos maiores colecionadores do instrumento, sendo boa parte desta coleção as Violas de Queluz, Cláudio Alexandrino apresenta, em seu livro Viola de Minas, as principais características da Viola de Queluz:

“(…) A viola artesanal no Brasil e, especificamente, as violas da família Souza Salgado, em Queluz, mantiveram quase inalteradas as principais características dos instrumentos portugueses, especificamente a viola toeira coimbrã preservando seu caráter popular, apenas com um toque de imaginacão cultural brasileiro numa época em que refletiam ares do barroco mineiro em sua fase mais rebuscada, o Rococó. Através de pesquisas e relatos pode-se afirmar que a viola de Queluz seguiu as mesmas características da viola toeira coimbrã.

A madeira preferencial utilizada no tampo e, algumas vezes, no fundo e lateral (costilhas) era o pinho europeu, mais resistente que o brasileiro devido ao clima frio da Europa, em contraste com o clima tropical brasileiro. O cedro era utilizado no braço (trasteira) e o jacarandá da Bahia, ou cabiúna, era utilizado na escala, no cavalete, nas cravelhas, além das marchetarias.

O corpo, ou caixa de ressonância em formato de oito com a parte de cima menor e a parte de baixo maior, era bastante acinturado (cintura estreita) e pela técnica de marchetaria eram feitas incrustações no tampo, com extrema perfeição, de lâminas de madeiras (jacarandá) que eram aplicadas em conjunto em forma de folhas, ramos, gotas, sinos, setas, losangos, círculos e outras formas num trabalho de habilidade e paciência nascido da fértil imaginação dos fabricantes.”

A “TENDA”

A oficina de José de Souza Salgado funcionava no nº 476, próximo à esquina da Rua Horácio de Queiróz. Casa baixa, com três portas à frente e um cômodo nos fundos onde o segredo da fabricação era guardado. Para completar o sustento da família, também fabricava-se caixões.

                 Com a família crescendo, a necessidade de recursos aumentava e, juntamente, com os filhos menores, José de Souza Salgado continuava com afinco a fabricação de violas (muitas por encomenda), violões, cavaquinhos e bandolins. Todo ano fazia estoque para vender no Jubileu do Senhor Bom Jesus em Congonhas do Campo; na época Congonhas era distrito de Queluz. O Jubileu acontecia na primeira quinzena de setembro e oferecia grande oportunidade de escoamento de mercadorias. Assim, as violas fabricadas em Queluz ganharam Minas e o Brasil.

FAMÍLIA SOUZA SALGADO

Descendência de Jose de Souza Salgado e Umbelina Braga

       Conselheiro Lafaiete tem uma grande tradição de famílias pioneiras e de destaque na formação e desenvolvimento da cidade. A família Souza Salgado é um desses pilares tradicionais. Família consagrada do bairro Rosário, seus membros sempre foram ligados aos ritos da Igreja Católica e à musica, principalmente de instrumentos de corda.

Em 1875, já quarentão, Jose de Souza Salgado casou-se com Umbelina Braga. No início do seculo XX nasceram os seis filhos do casal, sendo duas mulheres e quatro homens. A primogênita, Sílvia Braga de Souza, nasceu em 1904; Alberto Braga de Souza nasceu em 1906; Maria Braga de Souza, conhecida como “Malica”, nasceu em 1910; João Braga de Souza, o popular “João Salgado”, veio ao mundo em 1917; Eduardo Braga de Souza, o também famoso “Eduardo Salgado”, em 1919. Em 1924 nasceu o caçula da família Jose Braga de Souza, o “Zé Salgado”.

ANTÔNIO PERDIGÃO: O GUARDIÃO DA MEMÓRIA

Um dos grandes entusiastas e, possivelmente, o primeiro pesquisador a dar ao ciclo daS Violas de Queluz a merecida atenção em sua própria terra natal, foi o museólogo e historiador Antônio Luiz Perdigão Batista (1918-2010). Em sua coluna Panorama do Passado, que mantinha semanalmente no Jornal Panorama, de Conselheiro Lafaiete, ele narrava fatos e situações de destaque e interesse sociocultural da antiga Queluz e atual município de Conselheiro Lafaiete.

Pensador e catalizador das tendências históricas, Antônio Perdigão sempre foi enfático ao difundir e exaltar a relevância das Violas de Queluz como símbolo cultural da cidade. Sobre a origem do mito das Violas em Queluz, o museólogo coletava documentação, sistematizava informações, colecionava exemplares do instrumento construindo um autêntico arquivo regional. Seu trabalho constituiu um elo entre passado e presente.

 

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