A fruta de tangerina ponkan tem seu doce sabor ainda mais acentuado devido às condições climáticas da região de Belo Vale.
Belo Vale é o maior produtor de tangerina ponkan do estado com cerca de dois milhões de plantas que ocupam 9% da área do município. Com tamanha expressão, a cultura e o negócio da tangerina ponkan tem grande importância e impacto na socioeconomia de Belo Vale, gerando trabalho e renda para os produtores e trabalhadores rurais e impulsionando o comércio. Nunca ouve na história de Belo Vale uma atividade econômica que gerasse tanta riqueza e que fosse tão bem distribuída.
No entanto, esta safra de 2019 tem mostrado uma realidade diferente dos últimos anos.
A produção de frutos sofreu uma queda acentuada e a contaminação com a doença Greening aumentou consideravelmente, deixando os produtores preocupados.
Os motivos para a baixa produção são basicamente dois: alternância de safra – característica da cultura da tangerina ponkan que produz muito em um ano/safra e pouco no ano/safra seguinte, e também condições climáticas desfavoráveis ainda na fase de florescimento, que ocorreu no final de 2018. Esta safra foi de cerca de 40 % de frutos da safra passada e em alguns pomares a produção foi ainda menor. 30% e até 20%.
Os produtores já estavam conscientes desta redução e se adequaram à triste realidade mas esperançosos em aumento do preço de venda. Com o desenvolvimento da colheita e a comercialização para todas as regiões do país, o aumento de preço realmente ocorreu mas longe de compensar a queda da produção. Restou aos produtores “segurar as pontas” e esperar pela safra de 2020.
Outra grande preocupação é a doença Greening, causada por bactéria e que é muito danosa aos pomares. As plantas infectadas ficam com a produção de frutos comprometida e tem que ser eliminadas/cortadas, mesmo estando em plena produção. Os frutos ficam deformados, secos e impróprios para comercialização. O Greening não tem cura e o controle se dá com eliminação do inseto vetor que transmite a doença de uma planta doente para a planta sã, similar à dengue.
O vetor transmissor da doença, psilideo Diaphorina citri é uma pequena cigarrinha, do tamanho de uma pulga. Seu controle/combate deve ser realizado regionalmente, por todos os produtores vizinhos. Assim como na dengue, não basta que um produtor faça a sua parte se os seus vizinhos não fizerem. A única forma de combate a este inseto é com utilização de inseticidas (químicos ou biológico) que devem ser aplicados com adequada indicação e critério nos momentos/fases da cultura mais apropriados, principalmente nas brotações. Vendedores ambulantes de produtos agroquímicos se aproveitam desta condição.
Os produtores de tangerina ponkan de Belo Vale estão assustados com a rápida contaminação e disseminação da doença que já está presente em todas as regiões do município, sendo raro um pomar que ainda não tenha plantas contaminadas. Pomares abandonados são focos de doenças. O inseto vetor e a doença também se desenvolvem na planta ornamental murta, muito comum em Belo Vale. No estado de São Paulo os municípios até eliminam estas árvores da arborização urbana. Também em São Paulo, nos municípios citricultores, existem campanhas de conscientização e apoio ao produtores.
Em Campanha, município do sul de Minas também grande produtor de tangerina ponkan, aconteceu dias 14 e 15 deste mês o 5º Encontro Técnico de Citricultura, promovido pela EPAMIG e Prefeitura Municipal de Campanha, com apoio do Sindicato dos Produtores Rurais. Aconteceram palestras e Painel sobre o Greening e seu controle com presença de técnicos da EPAMIG, EMATER, IMA, Ministério da Agricultura e Instituto Agronômico de Campinas. O evento teve grande participação de produtores de tangerina ponkan. Outros assuntos importantes como Rastreabilidade, tecnologias na aplicação de defensivos, práticas inovadoras, nutrição/adubação também foram tratados. O evento contou também com uma feira de tecnologia e produtos e visitas técnicas a pomares.
Em Belo Vale o produtor de tangerina ponkan não tem algum apoio institucional e muitas vezes não tem informações básicas essenciais sobre a doença do Greening e seu controle. A festa da Mexerica que aconteceu no início de agosto em Belo Vale, não envolveu produtores e não levantou estas questões importantíssimas para debates e ações. Desamparados, produtores se sentem desprezados e frustrados.
Além destes “problemas” existem ainda outros desafios para a sustentabilidade da cultura da tangerina ponkan em Belo Vale como:
- Grande oferta de frutos em época concentrada de auge da colheita com redução de preço – não há beneficiamento industrial das frutas na região para absorver excessos de oferta.
- Necessidade crescente de uso de produtos agroquímicos para proteção de pragas e doenças – aumento no custo de produção e riscos de contaminação e intoxicação.
- Resistencia de pragas como o ácaro da falsa ferrugem que deprecia os frutos para o mercado.
- Necessidade de adequação às leis e exigências trabalhistas – fiscalizações do Ministério do Trabalho tem sido cada vez mais frequentes.
Dentro dessa realidade, e com o nosso reconhecimento, é que os citricultores de Belo Vale vem produzindo os atrativos e saborosos frutos de tangerina ponkan que são destaques em todo o país.
Marcos Virgílio Ferreira de Rezende
Engenheiro agrônomo